Cinema com Rapadura

Colunas   quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Especial Oscar 2019: uma breve história da categoria de Melhor Filme de Animação no Oscar

Saiba mais sobre a mais recente categoria criada para o Oscar e conheça os indicados da edição de 2019.

A categoria de Melhor Filme de Animação é a mais recente criada pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, órgão responsável pela entrega do Oscar, e foi idealizada em 2001, com seu primeiro prêmio entregue em 2002. Na oportunidade, o grande vencedor foi “Shrek“, que competiu com “Jimmy Neutron: O Menino Gênio” e “Monstros S.A.”. Em 2019, os indicados ao prêmio são: “Wifi Ralph – Quebrando a Internet”, da Disney; “Os Incríveis 2”, da Pixar; “Mirai”, do Estúdio Chizu; “Ilha dos Cachorros”,  de Wes Anderson; e o grande favorito, “Homem-Aranha: No Aranhaverso”, da Sony Pictures Animation.

Definidos atualmente pela Academia como “um filme com duração maior do que 40 minutos, no qual a maioria dos personagens são animados, e com pelo menos 75 por cento da duração do filme incluindo animações”, os filmes de animação foram por muito tempo ignorados e tratados como obras voltadas para o público infantil. Com exceção de alguns poucos longas, tais como “A Bela e a Fera“, indicado na categoria Melhor Filme em 1992, e “Toy Story“, ganhador do Special Achievement Award (Prêmio de Realização Especial) em 1996.

Até então, a alegação da Academia para não criação da categoria era de que existiam poucas animações sendo lançadas, de modo que não se justificaria um prêmio próprio, além do pretexto de que não havia regra que impedia essas obras de serem indicadas na categoria Melhor Filme e que ocasionalmente eram distribuídos Oscars especiais para filmes de animação que se destacavam. Fato esse ocorrido em 1939, com “Branca de Neve e os Sete Anões”, que recebeu um Oscar Honorário e também foi indicado para Melhor Trilha Sonora.

Foi somente com a popularização das animações feitas em computação gráfica e o surgimento de novos estúdios, como a Dreamworks Animation e a Blue Sky – com o consequente aumento no número de lançamentos anuais – que a pressão se tornou insustentável, e a Academia finalmente cedeu. Ainda assim, a existência do prêmio em uma determinada edição seria condicionada ao lançamento nos cinemas de, pelo menos, oito filmes de animação no ano anterior. Caso contrário, o prêmio não seria entregue.

A despeito da criação da categoria, alguns membros da indústria do cinema e parte do público têm sido bastante críticos com o prêmio, sob o argumento de que sua existência inibe os votantes do Oscar de indicarem uma animação na categoria Melhor Filme, reduzindo, assim, as chances desse tipo de longa vencê-la um dia. Essa situação atingiu seu ápice em 2008, com o aclamado “Wall-E” sequer figurando entre os nominados para Melhor Filme, mesmo sendo considerado de forma quase unânime um dos melhores filmes do ano.

E, realmente, salvo uma grande exceção – o já mencionado “A Bela e a Fera” em 1992 – um filme de animação somente figurou novamente entre os indicados à Melhor Filme em 2009, com “Up – Altas Aventuras“, da Pixar. Apesar disso, se mostra bastante provável que essa nomeação somente ocorreu em razão da mudança ocorrida naquela edição do Oscar, no qual os indicados a Melhor Filme passaram de cinco para um máximo de dez. Desde então, somente “Toy Story 3″ repetiu o feito, em 2010.

Em anos mais recentes, a categoria de Melhor Filme de Animação tem sido alvo de muitas críticas, em razão de suas escolhas e desprezos nas listas de indicados, com os votantes da Academia sendo frequentemente acusados de ignorantes acerca do assunto de animação.

Em 2014, o The Hollywood Reporter publicou uma matéria com entrevistas realizadas com membros votantes da Academia, sendo que todas as respostas eram anônimas. Quando questionado do porquê de ter votado em “Frozen – Uma Aventura Congelante” para Melhor Animação, um dos entrevistados respondeu que “Eu não vi nenhum dos indicados. Não tenho qualquer tipo de interesse nisso. Esse tipo de coisa acabou quando eu tinha seis anos. Meu filho me arrastou para alguns desses filmes quando ele tinha seis anos, eu deixava ele assistindo enquanto fazia ligações do lado de fora”. Por sua vez, outro votante reclamou das indicações do japonês “O Conto da Princesa Kaguya” e do irlândes “A Canção do Oceano“, se referindo a ambos como “aqueles duas coisas chinesas obscuras e bizarras que ninguém nunca assistiu”.

Em resposta a rejeição sofrida pela categoria, a Academia modificou em 2017 as regras para votação. Até então, só estavam aptos para votar para Melhor Filme Animação os membros com alguma ligação ou histórico com esse tipo de filme, porém, com a nova norma, todos os membros aptos a votar também passaram a ser parte do sufrágio da categoria. No entanto, essa atitude se mostrou contraproducente, com longas mais infantis e de pouco conteúdo sendo indicados naquele ano, como “O Touro Ferdinando” e “O Poderoso Chefinho“.

O prêmio também é criticada pelo grande domínio de alguns poucos estúdios, dando pouca ou nenhuma atenção a longas animados estrangeiros e de produção menor. Até a presente data, a Pixar é o estúdio com mais prêmios e nomeações, tendo vencido em nove oportunidades e indicada em doze, seguido pela Disney (três prêmios em onze nomeações), Dreamworks (um prêmio e onze indicações), Studio Ghibli (um prêmio e seis nomeações), Aardman (um prêmio e três indicações) e Nickelodeon (um prêmio e duas nomeações). Outros estúdios, como Laika, Blue Sky, e Les Armateurs já foram indicados em mais de uma ocasião, contudo, nunca ganharam a estatueta.

Em relação aos indicados para Melhor Filme de Animação do Oscar 2019, o grande favorito a levar a estatueta para casa é “Homem-Aranha: No Aranhaverso”.

O longa estrelado por Miles Morales já levou o principal prêmio no Globo de Ouro, no Critic’s Choice Awards, no Prêmio do Sindicato de Produtores da América, no Prêmio da Sociedade de Efeitos Visuais, e no Annie Awards, considerado o Oscar da animação e no qual ganhou todas as sete categorias que disputava. Todas essas premiações são consideradas um “termômetro” para o Oscar, uma vez que vários votantes da Academia também votam nesses prêmios. Leia a nossa crítica do filme aqui.

“Ilha de Cachorros”, a mais nova obra do diretor Wes Anderson (“O Grande Hotel Budapeste”), corre por fora após ter sido premiada no Sindicato de Diretores de Arte, no Festival Internacional de Cinema de Berlim, no Satellite Awards e no South by Southwest Film Festival. Você pode ler a nossa crítica do longa aqui.

Dirigido por Brad Bird, “Os Incríveis 2” é a aguardada continuação do vencedor do prêmio de 2004 e mantém a tradição da Pixar de ter seu filme indicado. Considerando a força do estúdio, uma vitória sua não pode nunca ser descartada, porém o longa pouco se destacou nas premiações até aqui, vencendo o pouco relevante Teen Choice Awards e algumas categorias menores do Annie Awards. A nossa crítica do longa pode ser lida aqui.

A Disney possui poucas chances com seu representante, “Wifi Ralph – Quebrando a Internet”, sendo pouco provável que a continuação do filme de 2012 surpreenda na noite da premiação. Leia nossa crítica aqui.

Por fim, “Mirai” é o representante do Japão, papel este que costumava ser do Studio Ghibli, e dessa vez é do Studio Chizu. O filme dificilmente sairá vencedor, pois é pouco provável que a maioria dos votantes o tenham assistido. Ele venceu o prêmio de Melhor Filme de Animação Independente no Annie Awards.

Qual a sua aposta para este ano na categoria Melhor Filme de Animação? Deixe um comentário para nós!

Giovanni Mosena
@giovannimosena

Compartilhe


Conteúdos Relacionados