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Colunas   quinta-feira, 06 de outubro de 2022

Andor | Motivação é a palavra chave no ótimo quinto episódio

Roteiro de Dan Gilroy mergulha fundo nas motivações de todos os personagens, em todos os núcleos, para fazer o que fazem.

(Imagens: divulgação/Disney)

Atenção: este texto contém spoilers do quarto capítulo de “Andor”. Siga por sua conta e risco.

Semana após semana, “Andor” segue provando que é o melhor que “Star Wars” tem a oferecer desde “Os Últimos Jedi“, o que não é pouca coisa. O quinto episódio da nova série chegou ao Disney Plus com tensão e intriga, aprofundando ainda mais o conflito entre o Império e a ainda emergente Rebelião.

Seguindo a estrutura de arcos compostos por três episódios, o novo capítulo prepara o terreno para rupturas, decisões, descobertas e, claro, a ação que está por vir no próximo. Mas nem por isso trata-se de um episódio chato, muito pelo contrário. O roteiro de Dan Gilroy mergulha fundo nas motivações de todos os personagens, em todos os núcleos, para fazer o que fazem, e dá continuidade à trama madura estabelecida pela série no arco anterior.

Aldhani

Em Aldhani, Cassian – ou melhor, Clem – continua sua preparação para o ataque à base do Império no planeta. O grupo liderado por Vel Sartha (Faye Marsay) segue desconfortável com sua presença, e os ânimos começam a se exaltar aos poucos conforme Cassian conhece melhor seus companheiros.

Nemik (Alex Lawther) é um idealista, e está escrevendo até um manifesto contra o Império. Skeen (Ebon Moss-Bachrach) era uma criança que cresceu em reformatórios (como indicam suas tatuagens) e teve seu irmão morto pelo Império, e agora busca vingança. Cada um ali tem um bom motivo para estar lá, menos Cassian. Ainda que ele afirme que luta para não precisar fugir mais, ele também é o único que está recebendo para participar da missão.

Cassian também começa a invocar a ira dos colegas quando fica claro que ele é o mais experiente do grupo. Ele dá sugestões de formação, observa traços pessoais de cada um e deixa todos desconfortáveis, mas uma missão é uma missão e ele quer sair vivo dessa.

O episódio termina à noite, na loja de antiguidades de Luthen Rael (Stellan Skarsgard). Preocupado com a missão em Aldhani, ele tenta obter algum sinal que o informe sobre o andamento da operação, sem sucesso. Ele é acalmado por sua assistente, que também demonstra estar a par da rebelião e de todos os segredos do chefe. Um pouco mais calmos, a dupla se retira para lidar com os clientes do dia seguinte e aguardar as notícias.

Ferrix

Após todo o arco dos três primeiros capítulos, “Andor” enfim retorna a Ferrix. O planeta agora está sob autoridade do Império, com as operações todas sob o comando do tenente supervisor Blevin (Ben Bailey Smith). Stormtroopers passam por todos os lados, com a cidade principal parecendo um grande canteiro de obras. Sem paciência e acreditando estar acima de questões pequenas como essa, Blevin logo delega a administração do lugar a um subordinado, sem se importar muito com o que irá acontecer ali.

Syril Karn (Coruscant)

O episódio começa na casa da família Karn em Coruscant. Syril (Kyle Soller) voltou para a casa da mãe, Eedy (Kathryn Hunter) após perder seu emprego como inspetor da força policial da empresa Preox-Morlana por conta do ocorrido nos três primeiros episódios. Ele parece ter apostado todas as suas fichas neste emprego como forma de sair da sombra de uma mãe extremamente rígida e exigente.

Toda a sequência ocorre durante o café da manhã de Syril em dois dias diferentes. Logo de início fica clara a implicância e o descontentamento de Eedy com o filho, cobrando até que ele sente direito. Ela também o informa que irá falar com o tio de Syril, para que ele arrume um emprego para o rapaz. Syril não gosta da ideia, mas sabe que não tem como impedi-la. No dia seguinte, Ela afirma que o tio sabia que polícia não era o trabalho ideal para Syril, e que irá pensar em onde colocar o rapaz em seguida.

Ao final da sequência, Syril abre um holograma com a imagem de Cassian, parecendo ter tomado a decisão de ir atrás de quem ele considera o responsável pelo seu infortúnio.

Mon Mothma (Coruscant)

Na casa de Mon Mothma (Genevieve O’Reilly), as coisas não vão bem. A futura líder da Aliança Rebelde continua tendo desentendimentos com seu marido, Perrin (Alastair Mackenzie), e agora entra também em desacordo com sua filha, Leida (Bronte Carmichael).

Mais tarde, ela e o marido voltam de um evento beneficente para o lançamento de uma fundação para caridade criada por Mon, mas Perrin não parece se importar. A dupla troca alfinetadas, até que Perrin pede para o piloto pegar o caminho mais rápido para chegar em casa e acabar logo com a discussão.

A sequência parece ter como objetivo mostrar a solidão de Mon Mothma e suas razões para largar tudo e liderar a Rebelião. A vida de senadora fez com que sua própria família se alinhasse mais ao Império e à boa situação em que vivem do que com os princípios democráticos que Mon tanto preza.

Dedra Meero (Bureau de Segurança Imperial, Coruscant)

Apesar do pouco tempo de tela, Dedra Meero (Denise Gough) também tem uma participação importante. Ela cruza brevemente com o tenente supervisor Blevin nos corredores do BSI. No episódio anterior, ela teve um entrevero com Blevin por conta da unidade Starpath que ela procura, resultando em uma bronca por parte do supervisor, com Dedra resolvendo reaver o Starpath por conta própria.

Agora, ela segue sua busca, ainda não estando tão clara exatamente a importância do Starpath para ela. O importante, no entanto, é dito. Enquanto ela e seu assistente seguem suas pesquisas, eles encontram indícios de atividades semelhantes sendo conduzidas em diversas bases imperiais, sem qualquer indício de interligação ou cooperação entre elas. Isso chama a atenção da dupla, que, especializada em inteligência, começa a identificar um padrão nas atividades, como se cada base estivesse também tentando cobrir indícios que as liguem às demais.

O que Dedra e seu assistente identificaram pode facilmente custar a vida de ambos futuramente, havendo duas possibilidades quanto ao projeto em si. A primeira é o próprio projeto de construção da Estrela da Morte, conduzido desde seu início de forma ultrassecreta e exatamente de acordo com o que a dupla encontrou, sem que qualquer indício fosse deixado para trás. O compliance imperial é tão eficaz que resultou, inclusive, no genocídio da população do planeta Geonosis, envolvido no projeto. Como este plano é revelado para a Rebelião apenas em “Rogue One“, caso seja isso mesmo, Dedra não deve chegar viva ao final da série.

A outra possibilidade é a dupla ter descoberto o plano de Contingência, que também é revelado apenas a morte do Imperador Palpatine (Ian McDiarmid). Esse consiste em destruir sistemas planetários onde o Império mantinha bases e instalações de caráter secreto, visando “purgar toda a fraqueza” que havia no antigo regime ao falhar em proteger o Imperador. Se for este o caso, a trilha encontrada por Dedra é ainda mais séria, e também não deve assegurar sua sobrevivência até o fim da série, infelizmente.

Curiosidades

– “Andor” dá continuidade à tradição de apresentar comidas novas. Syril come cereais em sua casa em Coruscant, com leite azul (de bantha) e uma travessa de frutas. Uma delas, a que tem espinhos, é um meiloorun, tradicional do planeta Lothal. Pelo jeito, a dica é: laticínios em geral costumam vir de bantha, os mamíferos que vivem em Tatooine.

– A loja de Luthen de novo traz referências ao lore de “Star Wars”. Dois grandes objetos são vistos na prateleiras: um cubo e uma pirâmide. O primeiro é o holocron Jedi, um dispositivo que guarda informação sobre a Ordem Jedi e o Lado da Luz da Força. O segundo é um holocron Sith, que faz a mesma coisa, só que voltado para o Lado Sombrio.

– Ao falar das descobertas no BSI, Dedra menciona Jakku, planeta desértico onde Rey cresceu. Isso favorece a teoria da Contingência, pois o planeta era o local onde Palpatine mantinha uma base secreta voltada para pesquisas sobre o Lado Sombrio da Força.

Julio Bardini
@juliob09

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