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Colunas   sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

The Mandalorian | Oitavo episódio é uma aventura digna do Star Wars de George Lucas

Jon Favreau resgata definitivamente a fé dos fãs de "Star Wars", e Peyton Reed dirige uma aventura que promete encher o coração dos espectadores.

Atenção: este texto contém spoilers do último episódio da segunda temporada de “The Mandalorian”. Siga por sua conta e risco.

Espetacular. Essa é a palavra que descreve o último episódio da segunda temporada de “The Mandalorian“. Um episódio carregado de ação, retornos e emoções para todos os fãs. Dos mais novos, que apegaram-se ao pistoleiro interpretado por Pedro Pascal e à criança Grogu, aos mais antigos, que estão nessa desde os seis anos de idade. A série do Disney Plus encerra sua segunda temporada realizando sonhos de todas as idades e credos.

O Resgate tem roteiro de Jon Favreau e direção de Peyton Reed, conforme havia sido adiantado por Pascal. Para quem acompanha a temporada desde o começo, Reed, mais conhecido por dirigir os filmes do Homem-Formiga para a Marvel Studios, já havia dirigido o segundo episódio, A Passageira, que, apesar de não ser algo diretamente relacionado à trama central, trouxe suspense com as aranhas de Maldo Kreis e ternura com a Passageira. Agora, ele e Favreau trazem de volta uma série de personagens essenciais ao esforço do Mandaloriano. De Bo-Katan Kryze (Katee Sackhoff) e Koska Reeves (Sasha Banks) até o maior herói de “Star Wars“: Luke Skywalker (Mark Hamill).

Começamos com a trupe do episódio anterior abordo da Slave I, em perseguição a um transporte imperial classe Lambda. Os Lambda são notórios por sua capacidade de manobra pífia e velocidade baixa, tornando-o um alvo fácil. Abordo está o doutor Pershing (Omid Abtahi), e é revelado que ele é um cientista especialista em clonagem. Tendo em mente os acontecimentos do quarto capítulo, O Cerco, e de “A Ascensão Skywalker“, o elo com Snoke e a revitalização de Palpatine começa a ficar mais forte.

Durante o impasse armado entre os pilotos do transporte e Cara Dune (Gina Carano) e Mando, um dos pilotos (Thomas E. Sullivan) provoca Dune, afirmando que a destruição de Alderaan, planeta natal da guerreira, foi “um preço pequeno a pagar para conter o terrorismo”. O “terrorismo”, no caso, era a Aliança Rebelde, que derrotou o regime fascista do Império e transformou-se na Nova República. A cena é assustadora, transmitindo no olhar fanático do co-piloto e em sua fala psicótica algo cada vez comum em nosso próprio mundo: um discurso fascista travestido de uma necessidade por lei e ordem em meio a um caos que só existe em cérebros lavados.

Só que o poder de fogo do grupo continua baixo para infiltrar um cruzador Aquitens imperial carregado de dark troopers. Para isso, Din Djarin e Boba Fett recrutam Bo-Katan e Koska Reeves, em mais uma cena tensa e com troca de farpas ampla e irrestrita entre a herdeira mandaloriana e o caçador de recompensas já que, oficialmente, Fett é um clone e não é mandaloriano, ainda que seu pai tenha sido e ele tenha herdado a armadura. Bo-Katan faz chover insultos sobre o caçador de recompensas, desde chamar Jango Fett de “doador” até falar que ouvira “sua voz milhares de vezes“, em referência às Guerras Clônicas e ao Cerco de Mandalore. Pesado. Mesmo assim, quando Fett e Koska partem para as vias de fato, ela é quem aparta a briga. Fett é um problema, mas há um alvo maior e mais importante em mente: moff Gideon (Giancarlo Esposito).

O plano para infiltrar o cruzador do Império dá certo, com Boba Fett atraindo os TIE Fighters e um grupo formado por Cara Dune, Fennec Shand (Ming-Na Wen), Bo-Katan e Koska indo direto para o comando da nave após inviabilizar o lançamento de mais caças no hangar. Enquanto isso, Djarin segue para a prisão, onde espera encontrar Grogu. No caminho: um destacamento completo de dark troopers, que Mando consegue ejetar da nave. Um deles acaba permanecendo abordo, e faz nosso protagonista sofrer horrores. Os droides têm acabamento ultrarresistente, mas não resistem a uma lança de beskar (ou um sabre de luz). É o que os acaba derrotando.

Enquanto as mulheres assumem comando da nave com facilidade, Mando é surpreendido por Gideon, que guarda a criança em sua cela. O vilão de novo demonstra saber tudo sobre o protagonista, levantando dúvidas mais uma vez sobre como, com capacidade de inteligência e militar tão limitada, ele consegue tantas informações – já havíamos especulado sobre um possível elo entre ele e o grande almirante Thrawn. Segue um duelo entre Djarin e Gideon, no qual o mandaloriano desarma o moff imperial e obtém o darksaber.

A história do darksaber é interessante. Os mandalorianos são um povo (e um credo) extremamente belicoso, valorizando poder e vitórias em combate acima de tudo. Para governar Mandalore, ter o sangue correto não é o bastante, é preciso ter força. E a maior demonstração de força possível dentro dessa comunidade é portar o darksaber. O sabre não pode ser herdado, nem dado, apenas conquistado. E Din Djarin, o nosso protagonista mandaloriano, acaba de desarmar Gideo e conquistá-lo. Diferente da Varinha das Varinhas de “Harry Potter“, por exemplo, o sabre não tem seu poder diminuído nas mãos erradas. Seu poder está na história e mitologia mandaloriana – que também explicamos em uma coluna sobre.

Ao ver Din Djarin chegar ao comando do cruzador com Grogu no colo, Gideon algemado e o darksaber em mãos, Bo-Katan Kryze, principal candidata ao trono de Mandalore, fica paralisada. A menos que ela derrote Djarin em combate, ela não pode mais ter a arma. Nosso protagonista até a oferece o sabre, ele não está preocupado com isso. Sua prioridade era resgatar Grogu, seu enjeitado, e ele conseguiu. Gideon aproveita a oportunidade para tentar manipular a todos, mas acaba interrompido quando os dark troopers que Mando ejetara anteriormente retornam à nave e logo cercam a sala de comando. Agora, apenas um milagre pode salvar o grupo.

Mas em “Star Wars” não existem milagres, existe a vontade da Força. Dois episódios antes, em A Tragédia, o pequeno Grogu havia meditado no planeta Tython e feito sua presença ser sentida pela Força através da galáxia. E alguém ouviu. Uma única X-Wing pousa no cruzador. Uma só. Uma basta. A era dos heróis pode estar acabando, mas guardou o melhor para o final.

Todos os dark troopers voltam sua atenção, quase que em um passe de mágica, à figura encapuzada que desembarca. Nesse momento, a trilha sonora de Ludwig Göransson se equipara tranquilamente à de John Williams, enquanto uma silhueta trajada de preto e brandindo um sabre de luz verde destroi cada um dos droides do Império com notas heroicas tocando ao fundo – a música e o Jedi são o suficiente para encher o coração de qualquer fã. Na sala de comando, Grogu e Mando assistem ao espetáculo, tendo certeza que o chamado da criança fora atendido. Gideon, sabendo que um Jedi pode significar seu fim, tenta atirar em Grogu sem sucesso, e depois tenta o suicídio, também sem sucesso. É o fim de sua linha.

Quando chega à sala de comando, Luke Skywalker, cavaleiro Jedi e herói da Rebelião, se apresenta de forma humilde. Ele sente a apreensão de Grogu e Mando, mas tranquiliza a dupla. Talento não é nada sem treino, e ele promete dar a vida para proteger a criança. É tudo que Din Djarin precisava ouvir. Ao despedir-se, Din finalmente deixa que seu enjeitado veja seu rosto pela primeira vez e promete que eles irão se ver de novo. Ainda apreensiva, a criança vai devagar em direção a Skywalker e começa a fazer amizade com seu droide, R2-D2. Grogu estará a salvo com Skywalker.

Muitos fãs fizeram campanha para Sebastian Stan interpretar um jovem Luke Skywalker, mas aqui os créditos dão o personagem como interpretado por Mark Hamill. Sua aparência a voz são idênticas às que vemos em “O Retorno de Jedi“, assim como o personagem. Enquanto o dublê Max Lloyd Jones dá corpo ao Jedi, seu rosto é construído digitalmente – mesma técnica que permitiu a uma jovem Carrie Fisher aparecer em “Rogue One: Uma História Star Wars” como Leia Organa e aos gêmeos Skywalker aparecerem em “A Ascensão Skywalker“. Luke, a esse ponto, viaja pela galáxia em busca de conhecimento sobre a Força e as religiões que acreditam nela. Grogu é provavelmente seu primeiro aluno.

E como “The Mandalorian” vem quebrando barreiras em “Star Wars” nos últimos dois anos, em O Resgate a série quebra mais uma. Pela primeira vez, vemos uma cena pós-créditos em uma obra da franquia, e somos levados de volta ao antigo palácio de Jabba the Hutt em Tatooine. O lugar foi tomado pelo antigo mordomo do gângster, o twi’lek Bib Fortuna (Matthew Wood), que aparentemente viveu na bonança os últimos cinco anos, cercado de benesses e guarda-costas gamorreanos. Todos os presentes são logo exterminados quando Fennec Shand e Boba Fett retornam ao palácio depois de muito tempo, e Fett toma para si tudo que outrora fora do hutt. Se ele irá manter o lugar como um centro de escória e vilania, iremos descobrir em dezembro de 2021, quando “The Book of Boba Fett“, série do caçador de recompensas, chegar ao Disney Plus.

Curiosidades

– A nave de Bo-Katan vista no início do episódio é um combatente Gauntlet mandaloriano, a versão mandaloriana de um caça, mas não tão ágil e com mais poder de fogo (como é de se esperar).

– O darksaber precisa ser conquistado. No entanto, a própria Bo-Katan já aceitara a arma dada a ela por outra mandaloriana, Sabine Wren, na série “Star Wars Rebels“.

– Os quadrinhos The Rise of Kylo Ren, de Charles Soule publicados pela Marvel, mostram um pouco do templo Jedi de Luke Skywalker e seus alunos. Mostram também a destruição do lugar pelas mãos de Ben Solo e Snoke. Grogu, entretanto, não aparece em momento algum.

– Na cena pós-créditos, Bib Fortuna grita “McLunkey!” para seus guardas prenderem Fennec Shand. Como tudo em “Star Wars”, até essa palavra tem uma história controversa, e surgiu em uma das diversas alterações de “Uma Nova Esperança“, na cena entre Han Solo (Harrison Ford) e Greedo em Tatooine.

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Em 25 de dezembro, o especial de “Disney Gallery: The Mandalorian” sobre a segunda temporada chega ao Disney Plus, mostrando mais dos bastidores de “The Mandalorian”. Leia nosso texto sobre a primeira temporada de “Disney Gallery“.

Julio Bardini
@juliob09

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