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Colunas   quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

O Livro de Boba Fett | Primeiro episódio começa a entregar respostas para grandes perguntas

Após quase três décadas de espera, Jon Favreau, Dave Filoni e Robert Rodriguez começam a montar o quebra-cabeça de Boba Fett.

Atenção: este texto contém spoilers do primeiro episódio de “O Livro de Boba Fett”. Siga por sua conta e risco.

“Por favor, fale livremente.”

Depois de um ano de espera, “O Livro de Boba Fett” enfim chegou ao Disney Plus. Mas é importante destacar que, apesar da série ter sido anunciada com o fim da segunda temporada de “The Mandalorian“, os fãs de “Star Wars” aguardavam o reencontro com Boba Fett, na verdade, há bem mais tempo. Desde 1983, mais precisamente, quando ele foi visto pela última vez sendo engolido pelo sarlacc em “O Retorno de Jedi“. Ou seja, quase trinta anos.

Desde que o infame caçador de recompensas apareceu pela última vez em “Star Wars”, muita coisa mudou – dentro e fora do universo da franquia. Se antes era George Lucas, e apenas ele, quem ditava os rumos da história, agora a Disney é a dona da galáxia muito distante. Para sorte dos fãs, quem está por trás de “O Livro de Boba Fett” é a tríade Jon Favreau, Dave Filoni e Robert Rodriguez, com o último sendo também o diretor da temporada.

Para começar a entregar respostas para as grandes perguntas dos fãs sobre o destino de Boba Fett (falamos sobre todas com mais detalhes em nossa coluna sobre o personagem), o primeiro episódio, Um Estranho Numa Terra Estranha, se divide em duas linhas do tempo: uma logo após Fett escapar da garganta do sarlacc e dos destroços deixados por Luke Skywalker e companhia em “O Retorno de Jedi“, e outra no que seria o momento presente da série, com o protagonista (Temuera Morrison) já no comando do antigo império do crime de Jabba the Hutt — agora em uma decadência de dar dó. Mas vamos por partes.

Passado

Fett escapa do sarlacc ateando fogo no estômago da criatura. Como estamos em Tatooine, nada é de ninguém a menos que seja possível manter à força, e Fett, bastante debilitado, ainda não consegue. Logo um grupo de Jawas aparece e leva embora sua armadura (que seria encontrada pelo Cobb Vanth de Timothy Olyphant pouco tempo depois). Ele sobrevive até ser encontrado por uma tribo de nômades Tusken, que o mantém vivo junto a outro prisioneiro, um Rodiano.

Como escravos da tribo, a dupla fica sob a guarda de um jovem Tusken ansioso para provar seu valor aos anciãos – o líder, aliás, aparenta ser mais do que apenas um nômade, mas isso fica para ser descoberto nos próximos capítulos. Sob olhar do jovem Tusken, Fett e o Rodiano são levados a buscar melões pretos pelo deserto, perto de uma casa que parece muito com a residência Lars, onde Luke Skywalker foi criado em “Star Wars: Uma Nova Esperança“. O lugar está ocupado e acaba atacado por um grupo de criminosos, que deixam seus símbolos pelas paredes. Fett já tem sua concorrência estabelecida como senhor do crime.

Antes de retornar à tribo, o trio é atacado por um monstro de areia, que mata o Rodiano e é claramente superior às capacidades guerreiras do Tusken. Mas não a Fett, que enforca o bicho e entrega sua cabeça ao jovem, que retorna à tribo com os louros de uma vitória improvável. O líder, aliás, reconhece isso, e agradece Fett oferencendo água — em Tatooine trata-se de um gesto importante, por se tratar do mais escasso dos bens.

Presente

Toda a linha do tempo do passado ocorre como lembranças dos traumas de Boba Fett durante seu tratamento em bacta no antigo palácio de Jabba. Ele se lembra das tempestades de seu planeta natal, Kamino (lembrando que ele é um clone de seu pai, Jango, e tem milhares de irmãos fabricados no planeta em “O Ataque dos Clones“), da morte de seu pai nas arenas de Geonosis na batalha inicial das Guerras Clônicas, e de sua odisseia até o retorno em “The Mandalorian“. Essa última parte, aliás, é a responsável pelo tratamento em bacta.

Ele é acordado por Fennec Shand (Ming-Na Wen), seu braço direito na empreitada atual de se tornar o grande senhor do crime em Tatooine. Logo as diferenças de abordagem entre Fett e Shand ficam claras, com ela recomendando constantemente o derramamento de sangue, enquanto ele prefere diplomacia e misericórdia. Apesar da trilha sonora de Joseph Shirley destacar traços mais brutos e bárbaros na personalidade do antigo caçador de recompensas, ela também dá os tons de uma jornada de transformação, que o protagonista parece estar bem disposto a trilhar.

Para se consolidar como chefe do crime em Tatooine, no entanto, Fett precisa fazer o corpo a corpo com quem pretende governar. Mas cinco anos se passaram desde a morte de Jabba the Hutt, e esse vácuo de poder já começou a ser fragmentado e preenchido. Em Mos Espa, Fett e Shand se reúnem com a madame Garsa Fwip (Jennifer Beals), uma twi’lek que comanda um estabelecimento chamado Santuário. Ela logo concorda com o protagonista em tudo, entregando até algum dinheiro para ele. Isso, no entanto, parece mais uma forma de mandá-lo embora rapidamente do que jurar lealdade.

Do lado de fora do estabelecimento, a dupla é atacada por um grupo de assassinos, que são rapidamente derrotados. Dois conseguem fugir, no entanto, e Fennec parte em perseguição realizando um grande sonho de parte dos fãs de “Star Wars”: parkour pelos prédios de Tatooine. O episódio termina com Fett sendo carregado de volta ao tanque de bacta pelos guardas gamorreanos cuja vida ele poupara mais cedo, e Shand levando um dos assassinos vivos de volta ao palácio.

Curiosidades

– O nome do episódio faz referência a uma passagem da Bíblia sobre Moisés, criado na corte do faraó do Egito para mais tarde ser exilado ao descobrir-se que era hebreu. Boba Fett também fazia parte da corte de Jabba, passou por um exílio e agora busca retomar seu lugar.

– Bacta é um tratamento milagroso que sara todas as feridas de um ser vivo no universo “Star Wars”. Em “O Império Contra-Ataca“, Luke Skywalker é imerso em um tanque de bacta após ser atacado por um wampa em Hoth.

– Os “cães” dos Tusken são conhecidos como massifs, e já apareceram em “Star Wars: Ataque dos Clones” e no primeiro capítulo da segunda temporada de “The Mandalorian“. Mas são, essencialmente, cachorros.

– Os melões negros que Fett e o Rodiano buscam pela areia apareceram pela primeira vez nos quadrinhos Star Wars #7 (2015), e, segundo Obi-Wan Kenobi, “têm um gosto horrível, mas são seguros de beber“. Ele ainda dá a entender que apenas os Tusken se aproveitam da iguaria.

– O monstro de areia que ataca Fett e seu grupo é uma influência do trabalho de Ray Harryhausen, ícone da animação em stop motion que também influenciou a trilogia original de “Star Wars”.

– Mos Espa é a cidade onde ocorre o Boonta Eve Classic, tradicional corrida de podracers que o jovem Anakin Skywalker vence em “Star Wars: A Ameaça Fantasma“.

– Apesar de ser quase inteligível, as falas do Rodiano que acompanha Fett no acampamento dos Tusken deixa escapar o mais tradicional xingamento de “Star Wars”: sleemo (pronunciando-se “slímo”). Chamar alguém disso, bom… É melhor não.

– O simpático alien azul que toca música no Santuário é o grande Max Rebo, líder da Max Rebo Band. Em “O Retorno de Jedi“, o grupo toca a canção Jedi Rocks no palácio de Jabba the Hutt.

– Fett é tratado pelo droide 8-D8 (Matt Berry) do palácio como Daimyo, que parece ser o título do senhor do crime local. É tambem uma designacao de lideres regionais no Japão feudal. Os daimyos, no entanto, ainda respondiam e estavam sujeitos ao poder do Shogun.

– 8-D8 também se refere aos súditos como “dons”, que tenta atribuir à operação toda uma aura ainda mais similar à de “O Poderoso Chefão“.

– Antes da estreia, Robert Rodriguez afirmou que toda a campanha de marketing da produção utilizou apenas os 15 minutos iniciais do primeiro episódio da série. Obviamente era uma mentira para despistar os fãs.

Julio Bardini
@juliob09

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