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Colunas   terça-feira, 10 de dezembro de 2019

The Mandalorian – Fan service é o nome do jogo no quinto episódio da série

O retorno de Dave Filoni à direção acabou não sendo tão bom quanto se esperava e fez uso exaustivo de fan service para mascarar um episódio fraco.

Atenção: este texto contém spoilers do quinto episódio de “The Mandalorian”. Siga por sua conta e risco.

Desde que o primeiro trailer de “The Mandalorian” foi divulgado, toda visão de um planeta desértico gerava inquietação nos fãs de “Star Wars“. Seria Tatooine? Há algo lá que desperta um fascínio em quem acompanha a franquia. Talvez seja a nostalgia (é o primeiro planeta que aparece, onde conhecemos o grande herói da saga, e onde toda a aventura começa), talvez seja a atmosfera de escória e vilania… Mas, apesar de amado pelos fãs, Tatooine demorou a aparecer na série do Disney Plus. Até o quinto episódio ir ao ar.

The Gunslinger” (“O Pistoleiro“, em tradução literal) marca o retorno de Dave Filoni à direção e roteiro da série – ele já havia dirigido o episódio piloto. Talvez o maior nome de “Star Wars” a trabalhar com a saga desde o próprio George Lucas, ele tem o respeito de toda a comunidade de fãs, algo raro nos tempos atuais. Mas mesmo com estes dois retornos importantes, de Filoni e Tatooine, o quinto capítulo demora a engrenar e tem no fan service seu principal artifício para segurar a atenção do espectador.

O episódio começa com a Razor Crest sendo atacada por um caçador de recompensas atrás da Criança em pleno espaço sideral. Inicialmente em desvantagem, o Mandaloriano (Pedro Pascal) consegue reverter a situação e destrói seu perseguidor, mas não sem sofrer seus próprios danos, o maior deles sendo um vazamento de combustível. Precisando de um lugar para consertar sua nave e deixar a poeira baixar, ele vai para o planeta mais próximo, que é justamente Tatooine.

O que segue é a recriação praticamente perfeita de tomadas e cenários vistos em “Star Wars: Uma Nova Esperança” (1977). A chegada da Razor Crest ao planeta ocorre pelo mesmo ângulo que a Tantive IV é atacada pelo Star Destroyer de Darth Vader; Mos Eisley é vista do mesmo vale em que Ben Kenobi faz sua famosa descrição do local; e o porto espacial também continua o mesmo. Há até o mesmo numeral estilizado na entrada dos hangares (35 em “The Mandalorian”, 94 em “Uma Nova Esperança“). Sabendo que os reparos de sua nave não serão baratos, o Mandaloriano parte em busca de serviço, deixando sua nave (dentro da qual está a Criança) aberta aos cuidados da administradora do hangar, Peli Motto (Amy Sedaris).

Outro lugar recriado de forma quase idêntica é a Cantina Chalmun em Mos Eisley, local para onde o Mandaloriano se dirige e onde Luke e Ben contratam os serviços de Han Solo em “Uma Nova Esperança“. Mas aqui há uma mudança drástica: a cantina está mais vazia, não há banda tocando e agora é operada por droides, que antes sequer tinham entrada permitida. O atendente, que é do mesmo modelo que o robô que administrava o palácio de Jabba the Hutt em “O Retorno de Jedi“, avisa o Mando que a Guilda de Caçadores de Recompensa não funciona mais em Tatooine, e o serviço agora é algo escasso para essa profissão.

É quando o Mandaloriano é chamado pelo jovem Toro Calican (Jake Cannavale). Sentado na mesma mesa onde Han Solo e Greedo têm sua desavença fatal, o rapaz fala que quer ser aceito pela Guilda, mas que para isso, precisa ter um serviço concluído. O mais próximo consiste em capturar uma assassina perigosíssima, Fennec Shand (Ming-Na Wen). A proposta é que a dupla a capture, com o Mando ficando com a recompensa e Calican com o crédito pelo serviço. Após uma negociação breve, o protagonista aceita a proposta, Calican o encontra no hangar 35 com duas speeder bikes (antes dando uma boa olhada na Criança e achando tudo muito estranho) e ambos partem para o Mar de Dunas em busca de Shand.

No caminho, mais fan service com a aparição do Povo da Areia exigindo pagamento por passagem através de suas terras. Pela primeira vez alguém utiliza linguagem de sinais em “Star Wars”, com o Mandaloriano negociando com os Tusken em uma sequência que revela um pouco de sua simpatia pela espécie. Ele próprio vindo de um povo organizado de forma majoritariamente tribal, ele explica para Calican que Tatooine é a terra dos Tusken e que o outros é que são os invasores. Nessa brincadeira, o rapaz perde um binóculo, e apesar da importância simbólica, a cena também não faz muito para avançar a narrativa.

Chegando a um morro de onde vem o sinal emitido pelo rastreador de recompensas, o Mandaloriano e Calican param para avaliar a situação e decidem que o melhor a fazer é atacar à noite, já que Shand está em um lugar alto e, portanto, em vantagem (uma clara piada com a forma que Obi-Wan Kenobi derrotou Darth Vader/Anakin Skywalker em “A Vingança dos Sith“). Após esperarem, a dupla faz seu ataque e, em uma cena de luta bem aquém das vistas nos episódios anteriores, derrota a assassina. O Mando deixa Calican tomando conta de Shand para que ela não escape e vai buscar um dewback (grandes lagartos que servem de transporte pelas dunas) para poderem transportá-la.

Nesse meio tempo, Fennec Shand percebe que seu vigia não tem muita experiência e passa a manipulá-lo. Afinal, todos já ouviram sobre o que aconteceu no planeta Nevarro, onde se passam os três primeiros capítulos da série. Calican não parece saber do caso, mas liga os pontos rapidamente quando a assassina conta que, depois da revolta e dos mandalorianos no planeta citado, um mandaloriano em especial está sendo procurado junto com uma criança alienígena. Sem pensar duas vezes, o rapaz rapidamente atira e aparentemente mata Shand, e parte de volta para Mos Eisley para cercar o hangar 35, onde o Mandaloriano deixara sua nave e a Criança. Quando o protagonista retorna ao local e vê assassina morta, ele também liga os pontos e parte rapidamente de volta.

No hangar 35, Toro Calican fez reféns Peli Motto, seus droides mecânicos e a Criança. Há um confronto e, no final, o Mandaloriano sai vitorioso, com Calican morto e sem que ninguém mais se ferisse. Ele paga Motto por seu trabalho e deixa Tatooine com a Criança abordo de uma Razor Crest devidamente consertada.

O episódio corta então para o que é quase uma cena pós-créditos. Largado no deserto pelo Mandaloriano e Toro Calican, o corpo de Fennec Shand é encontrado por alguém não identificado. Mesmo curto, esse momento foi suficiente para lançar os fãs em uma nova espiral de especulação sobre quem seria a pessoa em questão. O efeito sonoro de seus passos é igual aos passos de Boba Fett em “O Império Contra-Ataca” e, tendo ele sido visto pela última vez em Tatooine, este não seria um palpite tão descabido. Dado o trato da questão mandaloriana na série, poderia ser também um membro de alguma tribo procurando pelo protagonista. A resposta, pelo jeito, deverá vir nos próximos capítulos.

Se no episódio piloto Dave Filoni fez um excelente trabalho na direção (sua estreia na modalidade live action), em “The Gunslinger“, ele parece ter se perdido na narrativa da temporada e no pequeno capítulo que queria contar. O fan service constante pode ser algo legal de se assistir, mas ao final a impressão que fica é que tratava-se de uma forma de distrair o público de um episódio fraco e que fez uso pobre dos recursos que tinha – como relegar uma atriz como Ming-Na Wen a um lugar de coadjuvante desimportante. Mesmo assim, Filoni encerra sua participação como diretor com mais força dentro da Lucasfilm e a possibilidade de vôos mais altos no futuro de “Star Wars”.

Com três episódios para o final da temporada, “The Mandalorian” terá na próxima sexta-feira (13) o retorno de Rick Famuyiwa, que já dirigiu o segundo capítulo da série, “The Child“. O sexto episódio vai ao ar via Disney Plus.

Julio Bardini
@juliob09

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