Cinema com Rapadura

Colunas   sexta-feira, 01 de novembro de 2019

O Exterminador do Futuro: entre viagens no tempo e furos de roteiro

Com filmes que oscilam entre sucesso e fracasso, a franquia do Exterminador do Futuro retorna aos cinemas, tentando honrar o que há de melhor no seu passado e ignorando boa parte dos acontecimentos já apresentados.

A franquia “Exterminador do Futuro” nasceu como um marco na história do cinema. Tendo origem de um projeto que quase nenhum estúdio teve interesse em financiar e vindo de James Cameron, um diretor que ninguém conhecia, o primeiro filme conseguiu se tornar sucesso de crítica e público, dando origem a uma sequência ainda mais popular. A exemplo de “Alien: O Oitavo Passageiro”, que conseguiu misturar ficção científica com terror, como nenhum outro filme fez antes, “O Exterminador do Futuro” e suas sequências mostraram como fazer um sci-fi com excelentes cenas de ação.

Não por acaso a franquia chega ao seu sexto título, buscando sempre avançar a história, mesmo com um final irretocável em “O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final”. O novo filme marca o retorno de James Cameron à sua franquia – embora apenas como produtor – e ignora todas as continuações a partir do terceiro longa. E isso tem um bom motivo: furos de roteiro. Não que eles tenham surgido apenas em “O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas”, porque eles sempre estiveram ali, desde o primeiro. O objetivo é mostrar o que aconteceu com o mundo depois que Sarah Connor (Linda Hamilton) salvou o mundo.

Aproveitando o lançamento de “O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio”, o Cinema com Rapadura preparou uma retrospectiva da franquia, para que você saiba o que é levado em consideração no sexto filme, e porque três deles foram ignorados.

O Exterminador do Futuro (1984)

Com um orçamento baixíssimo e um roteiro promissor, James Cameron conseguiu que seu projeto fosse financiado pela Hemdale. Para conseguir colocar em tela tudo o que pretendia, Cameron precisou improvisar, gravando sem autorização e utilizando muitos efeitos práticos.

Em 2029, a humanidade está em guerra contra as máquinas, graças a uma inteligência artificial, a Skynet, que desenvolveu consciência e se rebelou contra seus criadores. Para garantir que John Connor nasça e se torne o líder da rebelião contra as máquinas, Kyle Reese (Michael Biehn) é enviado ao passado para proteger Sarah Connor. Porém, um androide exterminador (Arnold Schwarzenegger) também viaja no tempo com a missão de matá-la e assim por fim à resistência humana.

Kyle Reese consegue salvar Sarah de um ataque do exterminador e explica para ela toda a história. Ele apenas não revela ser o pai de John Connor e que foi mandado do futuro pelo próprio filho.

A perseguição termina com Kyle Reese morto após o combate contra o exterminador. Este, também debilitado morre em uma prensa sem conseguir cumprir sua missão. E Sarah engravidou de Kyle, dando origem a um paradoxo temporal que se tornaria marca registrada da franquia.

O longa teve uma excelente recepção tanto do público quanto da crítica. Com isso, uma sequência era inevitável. Mas Cameron achou que os efeitos especiais ainda tinham muito que melhorar para que ele pudesse fazer o filme que realmente queria.

O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final (1991)

Aqui, as máquinas encaminham um novo exterminador, o modelo T-1000 (Robert Patrick), para 1995. A missão agora é matar o próprio John Connor (Edward Furlong) enquanto ele ainda é uma criança. Sabendo deste plano, o próprio John no futuro manda um outro exterminador, o T-800, para protegê-lo. Nessa época, o jovem John vive com pais adotivos, pois sua mãe está presa em um manicômio. Ela havia destruído os restos do exterminador que a atacou, foi presa, mas ninguém acreditou na sua versão da história.

Desta vez, é John Connor que se vê entre os dois exterminadores, mas o T-800 consegue salvá-lo e após uma fuga (em uma das melhores cenas de perseguição do cinema), ambos vão até o manicômio onde Sarah está presa para tirá-la de lá. Ao chegar no local eles percebem que ela mesma conseguiu escapar sozinha e, ao se encontrarem em um dos corredores, Sarah vê o T-800 e acredita que é ele quem quer matá-la.

Quando Sarah vê o T-1000 partindo para cima dela e o T-800 o ataca, ela percebe que ele foi reprogramado e que sua missão agora não é mais destruí-la. Os três então fogem e o T-800 explica que Miles Dyson (Joe Morton) encontrou vestígios do exterminador que tentou matar Sarah em 1984 (era o modelo T-800, mas isso não é dito no filme). A partir disso ele desenvolve a Skynet que começa a evoluir muito rápido, adquirindo um início de consciência em 1997. Quando o governo tenta desativá-la, a Skynet assume o controle de segurança dos Estados Unidos e programa um ataque contra a Rússia, que revida e dá origem a uma Guerra Mundial, permitindo que as máquinas consigam se libertar e iniciar a sua própria revolução.

Sarah Connor decide matar Miles Dyson para impedir que ele crie a Skynet, mas desiste na última hora. John Connor e o T-800 chegam logo em seguida e o androide do futuro mostra para Dyson que ele é uma máquina para provar a história de Sarah. Com isso, ele se convence a destruir todo o projeto que já está desenvolvendo.

Ao chegar na empresa, eles são atacados pela polícia e, antes de morrer, Dyson destrói o local. Com isso, tecnicamente ele impede a criação da Skynet e o futuro já estaria salvo, mas a história continua para o seu ato final, quando Sarah Connor e o T-800 conseguem destruir o T-1000, sem deixar vestígios dele desta vez. Como o T-800 não tem como voltar para o futuro, ele também precisa ser destruído para garantir que a humanidade não fique em perigo.

Desta vez, o filme fez ainda mais sucesso que o anterior, se tornou a terceira maior bilheteria da época e levou quatro prêmios no Oscar de 1992. O longa também conseguiu encerrar a franquia de maneira coesa, seguindo suas próprias regras de viagem no tempo. Porém, como é comum em Hollywood após grandes sucessos de bilheteria, ainda havia mais vindo por aí.

Antes de continuar, vale ressaltar que tudo o que é necessário saber antes de ver “O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio” termina aqui. Os próximos filmes não terão qualquer relação com o novo longa. Fica a título de curiosidade saber o que foi ignorado e o que pode ter sido usado como referência.

O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas (2003)

Com o futuro salvo, John Connor (Nick Stahl) decide viver escondido para garantir que não será encontrado, para caso aconteça alguma rebelião das máquinas e ele precise liderar a humanidade. Isso se comprova, e outros dois exterminadores são enviados do futuro, mas desta vez ele não será o alvo. Agora, a T-X (Kristanna Loken) foi enviada para matar Kate Brewster (Claire Danes), e o T-850 (Arnold Schwarzenegger), uma versão mais atualizada do modelo T-800, irá tentar salvá-la.

Enquanto os três fogem, o T-850 conta que Sarah Connor morreu de leucemia em 1997 – ano que teria início o julgamento final. Kate, que no futuro terá filhos com John, descobre que tudo o que estão contando é verdade quando vê seu suposto noivo se transformar na T-X. Eles conseguem escapar dela e o trio decide fugir para convencer Robert Brewster (David Andrews), pai de Kate, a impedir que o novo sistema de defesa deles (sim, eles criaram a Skynet mesmo sem os vestígios do filme anterior) dê início a uma nova guerra mundial.

Ao chegar no prédio de pesquisas cibernéticas, um vírus já está tentando controlar o sistema de defesa dos Estados Unidos. Ao ativar a Skynet para tentar combater a ameaça, eles dão início ao dia do julgamento final. Robert é atacado e antes de morrer diz para Kate e John irem até um local onde podem desativar a Skynet, mas ao chegar no local descobrem ser apenas um bunker, onde eles podem sobreviver dos ataques nucleares iniciais. O filme termina com os mísseis sendo lançados e uma expectativa de caos mundial.

Embora tenha feito bastante sucesso, o filme ignora muitos detalhes dos anteriores, além de apresentar elementos que criam furos de roteiro na franquia. Apesar de contar com boas cenas de ação, esta sequência não conseguiu se manter muito relevante como seus antecessores, mas serviu para dar origem a um novo filme.

O Exterminador do Futuro: A Salvação (2009)

O único filme da franquia a não contar com a participação de Arnold Schwarzenegger se passa durante a guerra contra as máquinas. O longa começa com John Connor (Christian Bale) sendo resgatado após uma emboscada das máquinas. Ele vai até um submarino da resistência e descobre que seus companheiros conseguiram uma lista com os alvos da Skynet. Ele é um dos nomes, mas ali também está seu pai, Kyle Reese (Anton Yelchin), que em 2018, ano em que a história se passa, ainda é um jovem.

Antes de John chegar até seu pai, Kyle ajuda um homem chamado Marcus Wright (Sam Worthington), que no passado decidiu doar seus órgãos a pesquisas científicas e que neste futuro se tornou um ciborgue com diversas melhorias tecnológicas no corpo. Kyle é capturado pelas máquinas e Marcus tenta encontrá-lo, mas é atacado e prestes a morrer é salvo por Kate Connor (Bryce Dallas Howard).

John acredita que Marcus foi mandado pela Skynet para matá-lo, algo que mais tarde se mostrará verdade, mas ele acaba ajudando John a fugir de um ataque. Os dois vão até à base da Skynet para libertar Kyle, John luta com um protótipo do T-800 (que usou CGI para usar o rosto do Arnold Schwarzenegger jovem) e é ferido mortalmente. Para salvá-lo definitivamente, Marcus se sacrifica e doa seu coração para que John possa ser salvo.

O filme foi um fracasso de bilheteria, dando fim ao que deveria ser uma nova trilogia que iria se passar apenas no futuro. A produção possui inúmeros furos de roteiro e uma história confusa e pouco interessante. A obra quase significou o fim da franquia, mas a produtora Megan Ellison adquiriu os direitos para lançar um novo longa.

O Exterminador do Futuro: Gênesis (2015)

Para tentar corrigir os furos de roteiro e convencer os fãs a assistirem um novo filme de “O Exterminador do Futuro”, esta sequência iria ignorar os dois longas anteriores e ser uma continuação do segundo, ao mesmo tempo que deveria funcionar como um reboot.

Neste filme, o T-800 é enviado para 1984 para matar Sarah (Emilia Clarke), mas ao chegar no passado, ele se depara com outra versão mais velha dele mesmo. Isso porque em 1973, a Skynet enviou um exterminador para matá-la ainda criança, ao mesmo tempo em que a Resistência enviou um modelo T-800 reprogramado para proteger Sarah. Assim, o Guardião, como é chamado o T-800 protetor, salva a jovem e a treina, e quando o T-800 do futuro chega em 1984, ambos o destroem. Nesta versão, Kyle Reese (Jai Courtney) descobre que Sarah está construindo uma máquina do tempo para ir até 1997 e impedir o juízo final. Mas Kyle a convence de que, como toda a cronologia já está alterada, eles devem ir até 2017 para impedir que um sistema conhecido como Gênesis.

Ao chegar no futuro, os dois são presos por John Connor (Jason Clarke) – embora tenha viajado no tempo antes dele ter nascido -, que logo é atacado pelo T-800. Ele conseguiu viajar no tempo apesar de ter uma parte mecânica do braço exposta (o primeiro filme estabelece que somente matéria orgânica consegue viajar no tempo, por isso os exterminadores tem a aparência humana) e descobre que o John Connor que os salvou é, na verdade, uma cópia robótica criada para ajudar no desenvolvimento da Skynet em 2017.

Após uma perseguição, Sarah e Kyle vão parar no prédio onde a Skynet está sendo desenvolvida. Eles tentam destruir o local, mas são atacados novamente pelo John exterminador. A Skynet é, supostamente, destruída, mas o filme termina com a máquina do tempo, que estava no mesmo local, ainda inteira, deixando uma porta aberta para uma sequência que nunca existirá.

A exemplo de “O Exterminador do Futuro: A Salvação”, o quinto título é um filme com poucos momentos memoráveis, uma história nada interessante e incontáveis furos de roteiro. Após o seu fracasso de bilheteria, outra trilogia que deveria começar a partir deste filme também foi abandonada. Assim, os direitos autorais retornaram às mãos de James Cameron, que assina o roteiro, a produção e também trabalhou na edição de “O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio”, que tem Tim Miller, de “Deadpool”, como diretor.

O novo filme chegou aos cinemas no dia 31 de outubro, para continuar a história apresentada em 1991. Leia nossa crítica.

Robinson Samulak Alves
@rsamulakalves

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