Cinema com Rapadura

Colunas   quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Halloween: a longa jornada de Michael Myers

Com a estreia do novo "Halloween", saiba mais sobre os filmes que fizeram de Michael Myers um dos maiores ícones do cinema de horror.

Se há algo que Hollywood nunca negou foi seu fetiche por franquias. Nunca faltou interesse por repetir personagens ou conceitos por anos, enquanto algo puder ser lucrativo. Desse panteão temos ótimos conteúdos, como o divertido Carlito, personagem interpretado por Charles Chaplin em diversos longas e os terríveis assassinos da geração de filmes slasher. Além, é claro, dos clássicos como “Máquina Mortífera”, “Loucademia de Polícia”, “007” e os várias obras de heróis. São tantas opções, que podem agradar os mais variados públicos, que de fato seria um desperdício de conteúdo olhar para uma obra e não pensar em diversas sequências.

O final dos anos 1970 deram início à uma geração de personagens que se tornariam adorados e temidos pelo fãs. Os filmes slasher, que apresentavam um assassino, normalmente atormentado, que atacavam suas vítimas com armas brancas e que pareciam ter uma essência puritana, seriam muito populares nas duas décadas seguintes, oferecendo os mais diversos vilões. Tivemos, desde então, palhaços, brinquedos, pessoas atormentadas e um homem que ataca as pessoas enquanto dormem.

E, embora tenham acontecido experiências anteriores, é um discreto projeto de baixo orçamento, lançado em 1978 que consolida o slasher. “Halloween: A Noite do Terror”, dirigido por John Carpenter (“Fuga de Nova York”), foi o filme que utilizou alguns conceitos que o cinema já havia determinado para longas de assassinos (de “Psicose” ao “Massacre da Serra Elétrica”), além de consolidar todos os demais clichês que passariam a ser recorrentes nessas obras: o assassino que nunca morre, nunca corre e está presente em todos os lugares sem muita explicação, as vítimas, normalmente jovens que estão ocupados demais fazendo sexo para se preocupar com um psicopata, a final girl, personagem feminina que sobrevive aos ataques até o final do filme e as autoridades que pareciam nunca acreditar no perigo que ameaçava a cidade.

Ao longo de quatro décadas, a franquia “Halloween” se utilizou desses recursos até o desgaste, tentando se renovar a cada novo capítulo – o que nem sempre aconteceu. Nesse período tivemos quatro linhas temporais, nove diretores e 19 atores no papel do vilão. O projeto inicial tinha uma máscara de palhaço (referenciada no início do primeiro filme), porém como a ideia era dar um rosto menos expressivo, a equipe optou pela famosa máscara branca (criada a partir de uma máscara do capitão Kirk de “Jornada nas Estrelas”).

Aproveitando o lançamento de “Halloween” (décimo primeiro capítulo, que irá abrir uma nova linha do tempo), o Cinema com Rapadura traz um pouco da história dos filmes que fizeram de Michael Myers – ou Bicho Papão como ficou conhecido – um dos maiores ícones do cinema de horror.

Primeira linha do tempo: Dr. Loomis vs Michael Myers

“Halloween: A Noite do Terror” inicia no ponto de vista do jovem Michael Myers, então com seis anos, quando, sem qualquer motivo aparente, ele decide assassinar a irmã mais velha com uma faca de cozinha. Quinze anos mais tarde, ele escapa do hospital psiquiátrico onde esteve preso desde o crime, em busca de novas vítimas. É assim que ele encontra a jovem Laurie (Jamie Lee Curtis) e fará da sua noite de Dia das Bruxas um verdadeira inferno.

O psiquiatra Samuel Loomis (Donald Pleasence) – responsável pelo jovem Myers ao longo dos anos em que ficou preso -, sabendo da ameaça que ele (no filme, o médico se refere ao seu paciente como “isso” para reforçar a ausência de humanidade do vilão) representa, decide ajudar a polícia local a prender o assassino.

Embora não assuma o protagonismo, Pleasence é a figura que se opõe ao vilão nesta primeira linha do tempo, algo que acabou acontecendo mais por acaso do que como algo planejado desde o início. Isso porque Jamie Lee Curtis iria se ausentar da franquia depois do segundo filme, retornando somente na década de 1990. O papel de Loomis é fundamental para entender a figura do vilão. O roteiro joga para ele o papel de explicar o pouco que sabemos sobre Myers. O que, convenhamos, não é muita coisa e nem teria porque ser. Ele simplesmente mata porque sente necessidade disso. Não há ao menos um fragmento de sentimento dentro dele, e matar é algo puramente instintivo.

O filme termina com um embate entre Laurie e Loomis contra Myers, o que nos leva ao segundo capítulo: “Halloween 2: O Pesadelo Continua!”, de 1981. Desta vez Rick Rosenthal (da série “Smallville”) assina a direção. A história tem início exatamente onde acaba o primeiro filme. A verdade é que seria possível assistir aos dois em sequência, como se fossem um único longa de três horas.

Enquanto a polícia tenta localizar Michael Myers, que escapou no final do filme anterior, Laurie é levada ao hospital da cidade para se recuperar dos ataques sofridos. Vemos aqui uma luta que se concentra no hospital (guarde este momento, ele será importante mais para frente), com Myers deixando uma coleção de cadáveres espalhados pelo local. Quando Loomis finalmente consegue encontrar o vilão, ele decide se matar e levar seu paciente junto, para tentar pôr um fim no terror que se tornou a noite de Dia das Bruxas.

O grande legado deste filme foi conseguir construir uma relação com o anterior de maneira direta, tendo a segundo parte mantido bem o tom da primeira, além de tentar encerrar a participação de Myers na franquia para que os filmes pudessem seguir outros caminhos. Naturalmente isto não deu certo, o que nos leva ao “Halloween 4: O Retorno de Michael Myers”. Descobrimos aqui que Myers sobreviveu à explosão do segundo longa e agora irá atacar a sua sobrinha, que, assim como Laurie, sofre com o terror vivido, incorporando para si a essência do vilão, em uma conexão direta com o primeiro filme.

A árvore genealógica do vilão começa a assumir uma relação complicada com as personagens. Primeiro, descobrimos que Laurie e Michael Myers são irmão, e a sobrinha que ele vai caçar nasceu antes de um acidente de carro que matou a protagonista dos primeiros filmes. A garota, Jamie Lloyd (Danielle Harris), estabelece uma conexão com o próximo longa, Halloween 5: A Vingaça de Michael Myers“, quando o vilão retorna para tentar assassiná-la novamente. Aqui, a trama da franquia começa a se embolar, porque uma estranha figura aparece, mas só terá relevância no próximo filme “Halloween 6: A Última Vingança”.

A figura estranha mencionada anteriormente, um homem que se veste inteiramente de preto, capturou Jamie seis anos após os eventos do último filme para roubar seu filho e utilizá-lo como parte do ritual de uma antiga seita. O longa, aqui, segue essencialmente a linha de um thriller conspiratório, tendo Myers como um mero instrumento de vilões que estão acima dele. O resultado foi o pior filme de toda a franquia (e coisas muito ruins ainda estavam por ser lançadas).

Segunda linha do tempo: Um capítulo à parte

Como deve ter sido notado, a primeira linha do tempo não contempla a terceira parte da franquia. “Halloween 3: A Noite das Bruxas”, de 1982, e com a direção de Tommy Lee Wallace (“It: Uma Obra Prima do Medo”), pretendia tornar a série episódica, com filmes que seriam contos de terror sobre o Dia das Bruxas. O resultado porém foi tão negativo que a ideia foi ignorada e a série retorna ao Michael Myers no quarto capítulo.

Neste filme, que possui mais ares de ficção científica do que de terror, acompanhamos uma seita (sim, essa ideia já havia surgido aqui) que tenta acabar com a humanidade, matando as pessoas e as transformando em robôs.

A mudança na linha que a série vinha seguido não agradou muito aos fãs, que viam a franquia rival, “Sexta-Feira 13”, chegar também ao terceiro capítulo, seguindo a trajetória da família Voorhhes. Soma-se a isso o fato deste capítulo não ser tão impactante quanto seus antecessores. A frustração de quem foi ao cinema ver um filme sobre um assassino e se deparou com uma obra de ficção científica barata foi o suficiente para que a franquia retornasse à sua essência na parte quatro.

Terceira linha do tempo: Laurie Strode vs Michael Myers

Passados vinte anos do lançamento de “Halloween: A Noite do Terror” e seis filmes que nem sempre acertavam na proposta, Steve Miner (“Pânico no Lago”) fica responsável por trazer de volta uma personagem querida dos fãs. Com a morte do ator Donald Pleasence, foi necessário que Jamie Lee Curtis voltasse, dada a sua importância no início da franquia. Sem Loomis, era necessário uma protagonista forte para ajudar a carregar o peso que a série já acumulava.

Como a personagem havia sido morta, e não havia a intenção de trazê-la de volta, este filme abre uma nova linha do tempo, se utilizando de alguns conceitos que foram apresentados anteriormente para oferecer uma conexão mínima entre os capítulos. O recurso utilizado foi assumir que, após os acontecimentos de “Halloween 2: O Pesadelo Continua!”, Laurie simulou a própria morte em um acidente de carro e decidiu se esconder na cidade de Summer Glen, na Califórnia.

Este é um filme que consegue oferecer alguma renovação à fórmula que os demais insistiam em seguir, porém em 1998, o formato slasher já estava esgotado, dando pouco destaque ao longa. Não que ele seja ruim, apenas pareceu como “mais do mesmo”, e com tantas opções no mercado, a franquia “Halloween” precisava se atualizar depressa. E a resposta veio em 2002 com “Halloween: Ressurreição”.

Rick Rosenthal retorna à franquia para tentar criar uma sequência que resgatasse o espírito que a série estava perdendo, e ao mesmo tempo criar algo novo. O filme anterior termina, mais uma vez, com o que deveria ter sido o fim definitivo de Myers, algo que descobrimos não ser verdade. Laurie, agora internada num hospital psiquiátrico, é encontrada pelo seu irmão e morre logo no início. O que segue são aproximadamente 60 minutos de pouca criatividade.

O longa passa a narrar um reality show que se passa na casa onde Myers assassinou a irmã (no começo do primeiro filme). O que ninguém sabe é que junto com os participantes está o assassino que sobreviveu a três décadas de tiros, fogo, quedas e diversos outros golpes. E ele quer matar mais pessoas.

O que este filme oferece de novidade é colocar câmeras que acompanham os participantes do reality show que são assassinados ao vivo, enquanto o público se diverte achando que faz parte do espetáculo, em uma crítica ao formato dos programas que se tornavam cada vez mais populares na época. Ignorando isso (que não consegue sustentar o longa), este é mais um passo para trás em uma franquia que ainda iria ter capítulos tão ruins quanto.

Quarta linha do tempo: Rob Zombie vs A franquia (ou Rob Zombie, por que fizeste isso?)

Em 2007, o diretor e músico, Rob Zombie (“A Casa dos 1000 Corpos”) decide recontar as origens de Michael Myers e lança “Halloween: O Início”. Utilizando todos os clichês possíveis, ele faz aquilo que poucos fãs queriam ver: um filme mostrando o jovem Myers sofrendo bullying, com um pai bêbado e uma mãe stripper e que já demonstrava indícios de sadismo.

Esse prólogo é seguido por alguns planos que mostram o relacionamento com Loomis (desta vez interpretado por Malcolm McDowell), o que realmente faz a trama avançar e entrega uma interação ausente nos demais longas, e que oferece uma nova ótica às duas personagens. E, a partir de então, Zombie opta por refilmar cada uma das sequências do primeiro filme. O resultado é um trabalho que não cria nada de novo, além do prólogo do jovem Myers e do envolvimento dele com Loomis.

O que nos leva ao décimo longa da franquia. “H2: Halloween 2” é uma sequência direta do anterior, e novamente vai tentar oferecer explicações que poucos fãs gostaria de ter. Assim como o segundo filme, aqui vamos direto do final do anterior para uma sequência de pouco mais de vinte minutos no hospital, onde Laurie (Scout Taylor-Compton) precisa escapar do vilão novamente. Mas antes de assistirmos a mais uma tentativa de contar a mesma história, Laurie acorda e descobrimos que tudo o que vimos era um pesadelo.

Daí em diante, o longa narra a famosa jornada de Myers, alguns assassinatos e nos revela como o assassino é guiado sempre para o local onde suas vítimas estão. O resultado desagradou tanto o público quanto a crítica, sendo necessários quase uma década de espera até o novo capítulo, que chega aos cinemas para criar uma nova linha do tempo.

“Halloween” (2018) é uma sequência direta do primeiro filme e irá nos mostrar o que aconteceu depois dos crimes de Michael Myers em 1978. O longa conta com John Carpenter na trilha sonora, com um trabalho feito inteiramente a partir da original (que também foi composta por ele). Como está sua expectativa para o esta nova versão? E qual seu capítulo favorito? Escreva nos comentários!

Robinson Samulak Alves
@rsamulakalves

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