Cinema com Rapadura

Colunas   sábado, 03 de março de 2018

Especial Oscar 2018: conheça mais sobre os indicados à direção e roteiro

Saiba mais sobre os concorrentes às categorias de Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original e Melhor Roteiro Adaptado.

Finalizando nossa cobertura especialíssima sobre o Oscar 2018, chegamos às vésperas da premiação para falar sobre a espinha dorsal de qualquer filme. Já explicamos como funcionam as categorias técnicas, tanto voltadas para o Som quanto para a Imagem, e já sabemos que sem elas os longas não teriam a qualidade que apresentam hoje. Também já discutimos sobre os indicados a Melhor Filme, categoria bem mais subjetiva que as demais, pois é embasada puramente no gosto e na opinião pessoal dos votantes. E ainda, claro, falamos sobre os atores e atrizes, sem os quais seria impossível transmitir as histórias ao público.

Agora chegamos ao meio-termo da construção de um filme, onde são premiados dois elementos absolutamente fundamentais tanto para a obra existir quanto para aferir sua qualidade: Roteiro e Direção. Para deixar você por dentro dessas categorias tão importantes e tão aguardadas na cerimônia quanto a de Melhor Filme, o Cinema Com Rapadura analisou todos os indicados neste que é talvez o Oscar mais disputado dos últimos anos. Dá uma olhada:

Melhor Diretor

Christopher Nolan – “Dunkirk”

Tido por muitos como um dos maiores nomes de sua geração, o britânico Christopher Nolan (“Interestelar“) é um dos diretores mais reverenciados da atualidade. Seja transpondo para os cinemas um dos personagens mais icônicos do mundo dos quadrinhos na trilogia “O Cavaleiro das Trevas“, ou construindo uma verdadeira epopeia espacial em “Interestelar“, o certo é que Nolan é dono de um estilo único que aposta na verossimilhança para contar histórias que, por mais fantasiosas que sejam, acabem sendo críveis para o público.

Muitos enxergam em “Dunkirk” o seu maior trabalho, ao menos no que diz respeito estritamente à direção. Cada plano do longa é dotado de uma precisão e cuidado muito acima do comum, fator que contribui para que a obra seja uma das mais imersivas não apenas da carreira do cineasta, mas do cinema contemporâneo como um todo.

Greta Gerwig – “Lady Bird – A Hora de Voar”

Por trás da pouca idade, a jovem atriz, roteirista e diretora Greta Gerwig (“Frances Ha”) esconde um grande talento. Ela não precisou de muito tempo na indústria do entretenimento para mostrar a que veio, tornando-se rapidamente um dos principais nomes do Mumblecore, movimento artístico do cinema independente nova-iorquino, e desde então só alçou voos cada vez mais altos, alcançando um notável grau de reconhecimento por seu trabalho.

Em “Lady Bird – A Hora de Voar”, a estreia de Gerwig como diretora, a jovem cineasta demonstrou muita segurança e delicadeza ao contar uma belíssima história de transição da adolescência para a vida adulta. Muitos acreditam que seu trabalho na direção do filme foi injustamente esnobado pelo Globo de Ouro, mas sua indicação ao Oscar não deixa dúvidas de que Gerwig iniciou com o pé direito sua jornada nessa nobre e difícil função. Não há dúvidas de que ela é um verdadeiro exemplo de perseverança e sucesso em uma indústria que, infelizmente, ainda se mostra excessivamente machista em determinados aspectos, fato que torna o êxito de Gerwig ainda mais digno de admiração.

Guillermo del Toro – “A Forma da Água”

O mexicano Guillermo del Toro (“Círculo de Fogo“) é um dos diretores mais versáteis da atualidade, e se tem um aspecto que é praticamente uma unanimidade entre os amantes da sétima arte é o fato de que a paixão do cineasta por aquilo que faz é nítida em todas as suas obras.

Conhecido por criar como poucos fantasias e fábulas inesquecíveis, o sempre carismático del Toro enfim criou sua obra-prima com “A Forma da Água”, uma verdadeira carta de amor aos clássicos filmes de monstros como “O Monstro da Lagoa Negra”, ao mesmo tempo em que deu vida a um dos romances mais belos e improváveis da história do cinema. Esse trabalho sensacional já lhe rendeu o Globo de Ouro de Melhor Diretor, posicionando-o como um dos favoritos a ganhar o Oscar.

Jordan Peele – “Corra!”

Mais conhecido do grande público por seus sketches humorísticos em parceria com ator Kegan-Michael Key (“Tinha Que Ser Ele?“), o comediante Jordan Peele (“Keanu“) enfim fez sua estreia como diretor com o filme “Corra!”, e seu início nessa nova função não poderia ser mais promissor.

Peele acertou em cheio ao criar uma incrível ambientação de terror e suspense para o longa, conseguindo mesclar elementos cômicos e dramáticos de uma forma que muitos cineastas com anos de estrada são incapazes de fazer. E tudo isso somado a um trabalho extremamente competente na direção dos atores, mostrando que Peele ainda deve  dar muitas alegrias para os cinéfilos de plantão e ter um futuro brilhante pela frente.

Paul Thomas Anderson – “Trama Fantasma

Paul Thomas Anderson (“Vício Inerente”) é dono de uma das filmografias mais complexas da atualidade. O diretor que alcançou o estrelato com filmes como “Boogie Nights – Prazer sem Limites” e “Magnólia” se distingue de muitos dos grandes nomes de Hollywood por apostar em filmes que privilegiam a inteligência de um público que não está à procura de uma simples diversão de fim de semana, e sim de intrincados trabalhos artísticos.

Em “Trama Fantasma”, o cineasta mais uma vez optou por fugir do tradicional e criou uma obra de arte que demanda o máximo de atenção possível por parte do espectador para ser devidamente apreciada, resultando em um dos melhores estudos de personagem da história do cinema.

Melhor Roteiro Original

A Forma da Água

 

O roteiro escrito à quatro mãos pela dupla Guillermo del Toro e Vanessa Taylor (“Um Divã Para Dois“) é um dos trunfos que fez com que “A Forma da Água” alcançasse rapidamente o status de clássico contemporâneo. Em que pesem as recentes alegações de plágio, o roteiro do longa, que é repleto de momentos subversivos, é verdadeiramente digno de elogios por não apenas ser uma bela homenagem aos clássicos filmes de monstro e conter um inusitado porém lindo romance, mas também por ser uma verdadeira ode às minorias.

“Corra!”

Corra!” é um filme sensacional em grade parte graças ao seu excelente roteiro, escrito pelo diretor Jordan Peele. Alternando momentos de drama e comédia de modo extremamente bem sucedido, o roteiro do filme tem como grande mérito o fato de que seu alicerce reside em uma importante crítica social, abordando de forma exemplar e corajosa a complexa questão do racismo velado.

“Doentes de Amor”

A escritora Emily V. Gordon e o ator Kumail Nanjiani (da série “Silicon Valley“) criaram uma bela história de amor em “Doentes de Amor“, baseado no início do romance dos dois na vida real e nas dificuldades que encontraram em virtude de pertencerem à etnias distintas. O roteiro toma o cuidado essencial de não idealizar o romance apresentado em tela, optando por oferecer uma abordagem simples e honesta a uma história que, mesmo sendo como tantas outras, consegue ser única à sua própria maneira. Além disso, as barreiras culturais que surgem como obstáculos ao relacionamento sendo abordadas com muita sensibilidade ao longo do filme.

“Lady Bird – A Hora de Voar”

O roteiro envolvente escrito por Greta Gerwig é um dos pontos altos de “Lady Bird – A Hora de Voar”. Ela se valeu de uma boa dose de simbolismo para desenvolver a narrativa do longa, e muito embora essa habilidosa roteirista não tenha demonstrado uma grande preocupação em inovar com seu trabalho, esta acaba se mostrando uma das decisões mais acertadas do filme, com Gerwig voltando todos os seus esforços para contar uma simples porém irresistivelmente charmosa história de amadurecimento.

“Três Anúncios Para um Crime”

Três Anúncios Para um Crime tem um dos roteiros mais poderosos dentro os indicados à essa edição do Oscar. Ao criar a história de uma mãe em busca de justiça pelo assassinato brutal de sua filha, o diretor e roteirista Martin McDonagh (“Sete Psicopatas e um Shih Tzu“) acabou desenvolvendo um verdadeiro estudo acerca da ambiguidade humana, baseando-se na dura realidade para abordar conceitos delicados como a incerteza e a insegurança inerentes aos seres-humanos.

Melhor Roteiro Adaptado

“A Grande Jogada”

Baseado na história da ex-esquiadora olímpica Molly Bloom, que se afastou do esporte após sofrer um acidente e acabou se tornando uma bem sucedida jogadora de pôquer, o roteiro do também diretor Aaron Sorkin (“A Rede Social”) adapta de forma muito competente o livro escrito pela própria ex-atleta à respeito de sua vida. O texto de “A Grande Jogada” é muito feliz ao se valer da dinamicidade para explicar terminologias próprias do mundo do pôquer, transformando algo que nas mãos de um roteirista menos hábil poderia ter sido uma experiência maçante para o público em uma coisa deveras interessante.

“Logan”

Se adaptar um livro já é uma tarefa extremamente complicada, o que dizer de uma adaptação de histórias em quadrinhos, em que legiões de fãs estão sempre prontas para criticar até mesmo a mais insignificante das mudanças? Mesmo diante de tamanha pressão, o diretor e roteirista James Mangold (“Wolverine: Imortal”), juntamente com os roteiristas Michael Green (“Lanterna Verde”) e Scott Frank (“Marley e Eu”), conseguiram entregar aquela que para muitos já é a versão definitiva do Wolverine (Hugh Jackman, de “O Rei do Show“) nas telonas. “Logan” se aproveita da classificação etária Rated R para contar uma história adulta e violenta, diferente do que o público está acostumado em filmes do gênero, resultando em uma mescla de road movie com western moderno que finalmente retratou com sucesso o lado animalesco que os fãs do personagem sempre quiseram ver nos cinemas.

“Me Chame pelo Seu Nome”

O roteirista veterano James Ivory (“Vestígios do Dia“) adaptou com nítido cuidado a bela obra homônima do escritor André Aciman, com o roteiro de “Me Chame pelo Seu Nome” alcançando o importante objetivo de ser fiel em espírito ao livro que lhe deu origem, ao mesmo tempo em que opta por fazer algumas mudanças. O resultado é um filme que, apesar de respeitar a obra original, consegue se consolidar como um trabalho próprio, apresentando uma das histórias de autodescoberta mais apaixonantes dos últimos anos.

“Mudbound – Lágrimas Sobre o Mississipi”

O roteiro de “Mudbound – Lágrimas Sobre o Mississipi”, escrito pela diretora Dee Rees (“Bessie”) juntamente com o roteirista Virgil Williams (da série “Criminal Minds“), é uma adaptação do romance de mesmo nome da escritora Hillary Jordan, que retrata o convívio entre as famílias McAllan e Jackson nos anos 1940, em uma região campestre no delta do Rio Mississippi. Embora acabe pecando um pouco pela falta de originalidade e por tratar de muitas questões sem ter tempo suficiente para abordar cada uma com a devida profundidade, o texto utiliza magistralmente o recurso da narração voice over, uma ferramenta que muitas vezes é vista como um sinal de ociosidade por parte do roteirista, mas que aqui se mostra uma maneira de enriquecer e diversificar a trama do longa, na medida em que opta por colocar não um, e sim vários personagens na posição de narradores da história.

Artista do Desastre”

Escrito pela dupla Scott Neustadter (“Cidades de Papel“) e Michael H. Weber (“A Culpa é das Estrelas“), o roteiro de “Artista do Desastre”, baseado no livro homônimo de Greg Sestero e Tom Bissell, retrata a história real do conturbado desenvolvimento do filme independente “The Room“, estrelado, escrito, produzido e dirigido por Tommy Wiseau (“Best F(r)iends“), que é considerado um dos piores filmes de todos os tempos. Além de revelar os detalhes da produção do malfadado filme, o texto de “Artista do Desastre” tem como grande mérito humanizar a figura de Wiseau, aprofundando-se na psiquê de um homem que, apesar de todas as suas falhas como profissional, deve ser reconhecido por sua determinação e coragem em tentar fazer seus sonhos virarem realidade.

Após conhecer um pouco melhor os diretores e os roteiros indicados ao Oscar 2018, nós queremos saber a sua opinião. Qual diretor(a) você acha que merece vencer o Oscar? Qual dos roteiros indicados é o seu favorito? Deixe o seu comentário e não se esqueça de continuar acompanhando o Cinema com Rapadura, principalmente durante a especialíssima #RapaduraLive, que será sua segunda tela ao longo da premiação da noite de domingo, 04 de março.

João Antônio
@rapadura

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