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Colunas   quinta-feira, 01 de março de 2018

Especial Oscar 2018: entendendo melhor as categorias técnicas – Imagem

Efeitos visuais não são só computadorizados, montagem não se refere a cenários e curtas têm no máximo 40 minutos de duração. Sabia? Nós te ajudamos a entender melhor!

Continuando este material dedicado a explicar melhor como funcionam as categorias técnicas do Oscar (se você não viu a coluna sobre Som, pode clicar aqui), vamos agora nos focar nos aspectos visuais das produções. Não se deixe enganar achando que um longa é uma simples câmera gravando, pois há muita coisa acontecendo tanto antes quanto durante, ou ainda após as filmagens, e tudo isso é avaliado e premiado pela Academia. Dá uma olhada:

Melhor Fotografia

Indicados: “A Forma da Água“, “Dunkirk“, “Blade Runner 2049“, “O Destino de uma Nação“, “Mudbound – Lágrimas Sobre o Mississippi“.

Desde a origem deste meio, as obras cinematográficas são gravadas em filme, assim como fotografias. A junção de diversos “frames” (figura contida dentro de um pedaço da película) faz com que as imagens se movam de forma coordenada, de acordo com a ordem que foram gravadas – tornando-se algo chamado “plano”. Atualmente, é comum que gravações ocorram também em câmeras digitais, sem a necessidade de filme ou película. A captura do plano, no entanto, continua sob responsabilidade da mesma pessoa, o diretor de fotografia. Cabe a ele escolher câmera, lente, filtros, película de filme (se for o caso) e iluminação, entre outras ferramentas, para que a cena seja gravada de acordo com o que determina o diretor. A relação entre ambos, portanto, é essencial para a produção.

Há casos em que o diretor de fotografia tem mais liberdade para compor imagens e cenas, enquanto existem situações em que o diretor do filme dita para ele até mesmo onde a câmera deve estar e quais lentes usar. Neste ano, dois casos têm destaque particular: a fotografia de Roger Deakins em “Blade Runner 2049“, com o diretor Denis Villeneuve tendo lhe garantido liberdade para criar, compor e gravar cenas; e a fotografia de “Trama Fantasma“, com o próprio Paul Thomas Anderson assumindo as câmeras por não ter podido contar com os diretores de fotografia com quem normalmente trabalha – ainda que não tenha sido indicado.

Deakins concorre ao Oscar da categoria pela 14ª vez, tendo perdido todas as anteriores. Ele é o grande favorito do ano, e vem angariando muita torcida tanto de fãs quanto de críticos por este prêmio que há muito lhe é devido. Ainda assim, há de se destacar também o trabalho de Hoyte van Hoytema em “Dunkirk“, sabendo trabalhar bem a relação entre os planos e os movimentos de câmera acompanhando os personagens ao longo de todo o filme. De espaços amplos sobre o Canal da Mancha até o confinamento do casco de um navio abandonado, nos sentimos junto aos soldados durante todo o filme. Outro ponto de destaque na categoria vai para Rachel Morrison, primeira mulher a concorrer ao prêmio de fotografia. Ainda que corra por fora, seu trabalho em “Mudbound – Lágrimas Sobre o Mississippi” não deve nada a seus concorrentes.

Melhor Maquiagem e Penteado

Indicados: “Extraordinário“, “O Destino de uma Nação“, “Victoria e Abdul – O Confidente da Rainha“.

Costumeiramente a categoria com menos indicações, ainda que isso não seja uma regra. O Oscar é entregue àquele responsável pelo melhor trabalho em maquiagem e penteado para cinema. A categoria foi criada apenas em 1981, após a Academia ter sofrido diversas críticas devido à maquiagem de “O Homem Elefante” (1980), de David Lynch, não ter sido contemplada em nenhuma categoria. Antes, artistas de maquiagem poderiam receber apenas prêmios especiais ou honorários por seu trabalho.

Em 2018, o grande favorito é O Destino de uma Nação, principalmente por consequência da incrível transformação do ator Gary Oldman em uma versão quase perfeita do estadista britânico Winston Churchill. Ademais, o longa foi o principal vencedor do prêmio do sindicato dos maquiadores de Hollywood, o que lhe dá grandes credenciais para o Oscar. No entanto, uma potencial surpresa ficaria por conta de “Extraordinário“, apostando na incrível transformação do ator mirim Jacob Tremblay em Auggie Pullman, garoto portador da síndrome de Treacher-Collins. Já “Victoria e Abdul – O Confidente da Rainha” apresenta um trabalho mais sutil, sem grandes transformações.

 Melhor Figurino

Indicados: “A Bela e a Fera“, “O Destino de uma Nação“, “Trama Fantasma“, “A Forma da Água“, “Victoria e Abdul – O Confidente da Rainha“.

A Academia concede este prêmio ao melhor figurino e fantasia cinematográfica da temporada. Para que possam ser indicados, os filmes devem atender a uma série de requisitos, como, por exemplo, ter sido concebido obrigatoriamente por um figurinista (ou “designer de figurino”), que é o responsável pela área na produção de um filme. Cada candidatura é então revisada por seus colegas do setor de Direção de Arte da Academia antes do processo de votação.

Neste ano, a corrida é acirrada. Trama Fantasma é um filme que tem no figurino e na confecção seu tema central, impressionando no visual das roupas criadas. No entanto, ao longo da temporada de premiações o grande destaque vem sendoA Forma da Água, que inclusive foi o vencedor do prêmio do sindicato dos figurinistas de Hollywood, ganhando dos adversários diretos “Victoria e Abdul – O Confidente da Rainha” e “O Destino de uma Nação” como figurinos de época. Em “A Bela e a Fera“, um dos grandes desafios para a equipe foi compor figurinos para personagens gerados através de computação gráfica, que não viriam a ser necessariamente confeccionados ou trajados em cena.

Melhor Design de Produção

Indicados: “Blade Runner 2049“, “A Bela e a Fera“, “A Forma da Água“, “Dunkirk“, “O Destino de uma Nação“.

Design de produção e direção de arte costumam gerar muita confusão – até 2012 o nome do prêmio entregue pela Academia era “Melhor Direção de Arte”, o que dificultava ainda mais o entendimento. O designer de produção é o responsável por conceber e viabilizar todo o aspecto visual de um filme. Trabalhando junto com diretor, diretor de fotografia e produtor, cabe a ele selecionar os cenários, iluminação, objetos decorativos, estilo e tudo mais que for necessário para contar uma história visualmente. A função do diretor de arte, por sua vez, se relaciona muito mais com a coordenação das diversas partes relacionadas à arte de um filme, como construção e decoração de cenários, efeitos visuais, entre outros, para garantir que a visão do designer de produção se materialize.

Aqui, a concorrência é acirrada, sem que um favorito consiga despontar. Enquanto produções como Blade Runner 2049 e “A Bela e a Fera” contem com visuais mais característicos e destoantes – muito por conta dos respectivos gêneros, ficção científica e fantasia -, é importante notar que não são apenas estes fatores que denotam um bom design de produção. Para filmes de época, como é o caso deDunkirk e “O Destino de uma Nação“, ela é tão importante quanto, sendo elemento essencial para proporcionar ao público a sensação de imersão em um momento histórico diferente. E em casos como A Forma da Água, que combinam a sutileza dos filmes de época com a atmosfera de fantasia, o design de produção torna-se ainda mais importante. A construção de cenários baseados em um tempo antigo com estilo tão característico quanto os anos 1960 combinada à estética fantasiosa, com a predominância de nuances de verde e azul, ajuda a dar o tom da obra tanto quanto roteiro e direção.

 Melhor Montagem e Edição

Indicados: “A Forma da Água“, “Dunkirk“, “Em Ritmo de Fuga“, “Eu, Tonya“, “Três Anúncios Para Um Crime“.

O termo “montagem”, à primeira vista, pode causar um pouco de confusão ao palpiteiro desavisado. Aqui, ele é sinônimo de “edição”, e se refere ao processo de seleção, ordenamento e ajuste dos planos que virão a compor o resultado final que veremos em um filme. Este é um processo da etapa de pós-produção, sendo conduzido pelo editor com supervisão do próprio diretor. Apesar de parecer simples, o editor tem que levar em consideração praticamente todos os aspectos da produção que vieram antes desta etapa final. Narrativa, diálogo, ritmo, música, camadas de imagem, tudo isso terá de ser montado de forma a gerar um resultado coeso. Muitos consideram este um processo tão autoral quanto roteiro ou direção, sendo por vezes chamado de “arte invisível”. Se bem conduzido, o resultado final pode envolver o espectador a tal ponto que ele não conseguirá perceber o trabalho de edição. Cineastas como Akira Kurosawa e os irmãos Coen são famosos por fazerem eles mesmos o trabalho de montagem de seus filmes.

Além de cartas marcadas como “A Forma da Água“, “Dunkirk” e “Três Anúncios Para Um Crime“, que fazem trabalhos dignos de suas indicações e que compõem as obras de arte que cada um deles é, temos dois filmes que não vêm recebendo tanta atenção. Apesar de terem edições primorosas, “Em Ritmo de Fuga” e “Eu, Tonya” tendem a ser vistos por parte do público e crítica como zebras na categoria. No entanto, ao analisar ambos os filmes, é preciso levar em conta muito mais do que narrativa e coesão, dado que são obras dotadas de estilos próprios e muito característicos, com forte peso da direção. Os editores Paul Machliss e Jonathan Amos levaram boa parte do equipamento necessário para o próprio set de filmagens de “Em Ritmo de Fuga“, editando sequências de ação e perseguição imediatamente após as filmagens, tendo que atentar também ao uso das canções escolhidas pelo diretor Edgar Wright. Já em “Eu, Tonya“, Tatiana Riegel tinha o fator das constantes quebras da quarta parede e inserções de entrevistas para combinar de forma harmoniosa com o restante do material.

Melhores Efeitos Visuais

Indicados: “Blade Runner 2049“, “Planeta dos Macacos: A Guerra“, “Star Wars: Os Últimos Jedi“, “Kong: A Ilha da Caveira“, “Guardiões da Galáxia, Vol. 2“.

“Efeitos visuais” são o processo através do qual imagens são criadas ou manipuladas fora do contexto da gravação de um filme em live-action. Eles envolvem a integração de efeitos especiais (práticos) e efeitos digitais (gerados via computador) para criar ambientes que pareçam reais, mas que seriam perigosos, caros, não práticos, demorados de criar ou ainda impossíveis de capturar. Este tipo de resultado costuma ser essencial para a história de um filme. Por mais que a maioria dos efeitos visuais sejam completados durante a etapa de pós-produção, é preciso um planejamento cuidadoso e uma coreografia muito bem pensada nas etapas anteriores para que o produto final tenha coesão. Algumas das formas de efeitos digitais incluem design gráfico, modelagem e animação, enquanto efeitos especiais são feitos diretamente no set, como explosões e perseguições. O responsável por estes processos é o supervisor de efeitos especiais, que trabalha próximo à produção e ao diretor.

Dentre os indicados, temos uma das melhores disputas do Oscar deste ano. Ainda que Planeta dos Macacos: A Guerra tenha sido o principal vencedor das premiações do sindicato de efeitos especiais, em uma categoria dependente do poder aquisitivo e da infraestrutura dos grandes estúdios, não há como desconsiderar o poder de produções como Blade Runner 2049, “Os Últimos Jedi” e “Guardiões da Galáxia, Vol. 2“, com cidades e planetas inteiros sendo construídos através de computação gráfica, veículos combinando design digital e atores, entre outros.

Melhor Documentário

Indicados: “Ícaro“, “Last Man in Aleppo“, “Strong Island“, “Faces Places“, “Abacus – Small Enough to Jail“.

Apesar de não serem exatamente técnicas, não há como deixar de lado as categorias que envolvem produções únicas, sintetizando todos os aspectos citados anteriormente de formas diferentes dos longas indicados a Melhor Filme. E dentre estas categorias, a de maior reconhecimento do público é a de Melhor Documentário.

Documentários são obras de não-ficção, cujo objetivo é registrar/documentar algum episódio, situação ou aspecto da vida e realidade. O Oscar desta categoria é entregue anualmente desde 1942, com exceção para 1946. No que vem sendo considerado pela mídia como a melhor disputa em muitos anos, o principal destaque vai para Faces Places, co-dirigido pelo fotógrafo JR junto à cineasta Agnés Varda. Apesar da vasta carreira e de sua notável influência no meio cinematográfico, esta é apenas a primeira indicação de Varda a um prêmio da Academia.

Melhor Curta-Metragem

Indicados: “DeKalb Elementary“, “My Nephew Emmett“, “The Eleven O’Clock“, “The Silent Child“, “Watu Wote/All of Us“.

Um curta-metragem, como diz o próprio nome, é um filme com duração reduzida. O tempo máximo para que uma obra possa concorrer na categoria é de 40min. No Brasil, há quem se refira a este tipo de filme como “curta dramático”, ou “curta ao vivo”, para separá-lo dos curtas-metragens de animação. O Oscar da categoria é entregue desde 1957.

Melhor Documentário-Curta

Indicados: “Edith + Eddie“, “Heroin(e)“, “Heaven is a Traffic Jam in the 405“, “Knife Skills“, “Traffic Stop“.

Com seu prêmio sendo concedido desde 1941, se enquadram nesta categoria os filmes que “lidam de forma criativa com temas culturais, artísticos, históricos, sociais, científicos, econômicos ou outros”. Aqui, eles podem até ter uma ou mais partes gravadas como reprodução de acontecimentos, desde que não sejam feitos dessa forma em sua totalidade e que o foco da obra permaneça com foco na realidade, e não na ficção. A duração também não pode ser superior a 40 minutos.

Melhor Curta-Metragem de Animação

Indicados: “Garden Party“, “Dear Basketball“, “Revolting Rhymes“, “Lou“, “Negative Space“.

Concedido desde 1932, apenas com algumas variações no nome da categoria. A Pixar novamente marca presença entre as indicações com “Lou“, exibido antes do longa-metragem “Viva – A Vida é uma Festa“, mas o grande favorito da crítica neste ano é “Dear Basketball“, parceria entre o animador da Disney Glen Keane e a lenda do basquete Kobe Bryant.

Agora que já conhecemos melhor estas categorias, já tem seus palpites montados? Apesar de alguns filmes terem o apreço da mídia especializada ou grande apoio popular, o Oscar sempre consegue surpreender a todos, seja premiando obras inesperadas ou ignorando quem já era tido como vencedor certo. Neste ano, muita coisa ainda pode acontecer na cerimônia que ocorrerá no próximo domingo, por isso, não deixe de acompanhar o Cinema Com Rapadura, que trará conteúdo especial inédito todos os dias, além da grande #RapaduraLive que ocorrerá no dia da premiação. Não fique de fora!

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O Rapadura no Youtube também fez um vídeo explicando as categorias do Oscar, entre elas as citadas nesta coluna!

Julio Bardini
@juliob09

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