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Colunas   quarta-feira, 22 de junho de 2022

Obi-Wan Kenobi | Final da temporada conclui uma história com toques de fanfic

Bem longe da "revanche do século" prometida, final ficou devendo aos fãs uma história que valesse a pena ser contada.

(Imagens: divulgação/Disney)

[ATENÇÃO! Este texto contém spoilers do final de temporada de ‘Obi-Wan Kenobi’. Siga por sua conta e risco.]

Seria difícil fazer um final para a série (ou para a temporada, difícil de ver, sempre em movimento o futuro está) que desse um desfecho relevante para toda sua história, mas “Obi-Wan Kenobi” se superou – em todos os aspectos negativos, infelizmente. O capítulo 6 da série escrita por Joby Harold falhou em despertar qualquer sensação de envolvimento, amparando-se demais em um fan service irrelevante, chegando ao ponto de haver fanfics melhores pela internet. Ainda assim, há pontos interessantes e dignos de nota.

Jabiim

O episódio começa abordo da nave rebelde na órbita de Jabiim. Sem um motor hyperdrive funcionando, o jeito é tentar sobreviver o máximo possível para ganhar tempo e consertar o motor. A tarefa, no entanto, parece impossível, e logo Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor) decide se entregar a Darth Vader (Hayden Christensen) para dar uma chance aos refugiados rebeldes. Ele confia a Haja Estree (Kumail Nanjiani) e Kawland Roken (O’Shea Jackson Jr.) a tarefa de salvar o grupo e entregar a pequena Leia Organa (Vivien Lyra Blair) a salvo em Alderaan. Antes, ele dá à menina um coldre que pertencera a Tala (Indira Varma), que se sacrificou no episódio anterior sem cumprir a promessa de ensinar a menina a atirar.

Vader morde a isca e ordena que a perseguição continue apenas com Kenobi, e deixa os rebeldes escaparem. Eles seguem de volta a Jabiim e se encontram na superfície, em uma área inóspita (ao melhor estilo “Dragon Ball Z” de lutar em lugares vazios). O duelo que segue é carregado de drama e emoção, combinando uma coreografia muito bem trabalhada com referências ao passado de Kenobi e Vader (ou melhor, Anakin Skywalker) como mestre e aprendiz. Ao final, no entanto, Vader provoca Obi-Wan afirmando que ele não é “o fracasso” do Jedi, e sim que ele próprio (Vader) matou Anakin Skywalker. Por mais sentido que essa fala faça no contexto geral da saga, ela contradiz o que Vader diz no terceiro episódio sobre “ser o que Kenobi fez dele”.

Tatooine

Após ser largada para morrer por Vader e o Grande Inquisidor (Rupert Friend) em Jabiim, Reva (Moses Ingram) segue para Tatooine para se vingar de Obi-Wan. Ela localiza a fazenda de Owen Lars (Joel Edgerton) ao arrancar a informação de um vendedor conhecido da família, que, por sua vez, avisa Owen da chegada da vilã. Owen e Beru (Bonnie Piesse) escondem o jovem Luke Skywalker (Grant Feely), falando ser apenas um ataque dos Tusken, para não assustar o garoto. O plano é os adultos segurarem Reva na residência, ganhando tempo para o menino fugir para o mais longe possível.

Durante o embate de Owen e Beru contra Reva, um momento tocante: Reva provoca o fazendeiro perguntando o porquê de ele cuidar de Luke “como se fosse seu”. A resposta de Owen vem sem nem pestanejar, afirmando que Luke é seu. Apesar de, na teoria, o menino ser filho biológico de Anakin Skywalker e Padmé Amidala (Natalie Portman), quem o criou foram seus tios. Os fãs podem ter o apego emocional que for em relação a Anakin e Padmé, mas nada altera o fato de que os gêmeos Skywalker se tornaram os adultos que são graças a criação que lhes foi dada por Owen e Beru, no caso de Luke, e Bail e Breha Organa, no caso de Leia.

Voltando à trama, Reva consegue se desvencilhar dos Lars e vai atrás de Luke com a intenção de matar o garoto tal qual Anakin matara os aprendizes de Jedi na noite da Ordem 66 em Coruscant. Ela tenta, mas não consegue. Ela pode ter sido uma Inquisidora e assassina, mas, agora, não é mais.

Quando ela retorna para a fazenda Lars trazendo Luke intacto no colo, Obi-Wan já está lá. Os dois conversam e se acertam, com o Jedi afirmando a Reva que ela “fez sua escolha” de não ser como Vader, e que agora está livre para ser quem ela é de verdade.

Na última cena da temporada, Ben deixa a caverna onde morava para dar mais distância para a família Lars. Ele passa na fazenda e conversa com Owen, afirmando que não irá mais tentar interferir na criação de Luke. Owen fica grato e demonstra de seu jeito meio bruto, perguntando se Ben gostaria de conhecer o garoto. É quando o Jedi dá a Luke o brinquedo de uma T-16 Skyhopper com a qual ele brinca em “Uma Nova Esperança”.

Em seguida, Ben parte para Jundland, onde ele irá construir sua própria casa. No caminho, uma surpresa: um espírito conhecido o aguarda. Seu velho mestre, Qui-Gon Jinn (Liam Neeson). O mestre diz ao aprendiz que ele finalmente está pronto, apesar de ter demorado muito. E os dois seguem juntos pelo caminho rochoso.

Curiosidades

– A trilha sonora de Natalie Holt para a perseguição no espaço na cena inicial do episódio é inspirada em “O Império Contra-Ataca” (1980), na cena em que a Millennium Falcon finalmente consegue fugir de Bespin depois de resgatar Luke Skywalker. Ali, a Falcon também tinha problemas no motor hyperdrive, sendo perseguida pelo Super Star Destroyer de Darth Vader.

– O duelo entre Obi-Wan e Vader é uma reprodução fiel do duelo entre Vader e sua antiga aprendiz Ahsoka Tano (Ashley Eckstein) em “Star Wars Rebels“. Até a fala “então você morrerá” de Vader e o capacete danificado mostrando seu rosto deformado estão presentes. Ele também afirma que matou Anakin. Sim, “Star Wars” é como poesia, tem rimas e etc.

– A fala de Vader sobre ter “matado Anakin Skywalker” finalmente dá um sentido novo para o que Ben fala para Luke Skywalker em “Uma Nova Esperança“, sobre “um jovem Jedi chamado Darth Vader ter traído e matado” Anakin. O que Ben disse está correto, sob um certo ponto de vista.

– Durante o duelo, há um momento em que Obi-Wan abre seus braços e ergue pedras a seu redor para jogá-las em Vader. Esse quadro é baseado em uma arte de fãs que circula há anos pela internet, que imagina o velho Ben fazendo a mesma coisa abordo da Estrela da Morte em “Uma Nova Esperança” (1977), só que com blasters e contra um pelotão de Stormtroopers – algo que, francamente, nunca nenhum Jedi faria apenas pela quantidade de vidas tiradas, mas, pelo jeito, a produção da série gosta da imagem.

– O visual de Obi-Wan na cena final em Tatooine é uma reprodução quase idêntica da estátua Mythos Obi-Wan Kenobi, produzida pela Sideshow Collectibles. A figura é célebre por trazer uma iteração de Kenobi que combina quase que perfeitamente os semblantes de Ewan McGregor e Alec Guinness, além de traduzir visualmente como muitos fãs imaginavam o personagem em seus anos perambulando por Tatooine.

– As primeiras palavras que Luke Skywalker ouve de Obi-Wan Kenobi são as mesmas de “Uma Nova Esperança”: “hello, there!” A frase virou meme na internet após “A Vingança dos Sith” (2005), sendo como Kenobi se apresenta ao encurralar o General Grievous (Matthew Wood) no planeta Utapau. Por que virou meme? Pois, quando quer, o fandom de “Star Wars” consegue ser bem humorado com coisas pequenas.

– No romance “Ahsoka“, de E.K. Johnson, um interlúdio mostra o que seria o primeiro contato de Obi-Wan com o espírito de seu mestre, Qui-Gon Jinn. Durante uma meditação profunda, Kenobi entra em transe e tenta sentir Qui-Gon, sem sucesso. Ele consegue apenas ouvir uma voz distante dizendo: “Obi-Wan, desapegue”. Fica subentendido que a voz é de Qui-Gon, mas, agora, esse capítulo não seria mais cânone.

Julio Bardini
@juliob09

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