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Colunas   quarta-feira, 05 de janeiro de 2022

O Livro de Boba Fett | Segundo episódio mergulha nas diferentes tribos de Tatooine

Sob os sóis cruéis de Tatooine, Boba Fett começa a entender que terá que lutar com mais de um oponente para se consolidar como novo daimyo.

Atenção: este texto contém spoilers até o segundo episódio de “O Livro de Boba Fett”. Siga por sua conta e risco.

“Por favor, fale livremente.”

O segundo capítulo de “O Livro de Boba Fett” já chegou ao Disney Plus e, como sempre, segue a nossa cobertura de “Star Wars“. As Tribos de Tatooine começa a dar um contorno mais definido à postura e pensamento de Boba Fett (Temuera Morrison) após sua queda em “O Retorno de Jedi” — principalmente o trauma que ele carrega por ter sido engolido pelo sarlacc e seu subsequente respeito pelos Tusken como seus salvadores e legítimos donos de Tatooine.

Mas o nome do episódio não fala apenas dos Tusken. Tatooine é uma terra sem lei e, mesmo durante o reinado de Jabba the Hutt, sempre foi um lugar difícil de se controlar. O Mar de Dunas e o deserto cruel que cobre o planeta inteiro torna a sobrevivência motivo de luta diária, e a melhor forma de fazer isso é em grupos — ou tribos. No deserto, novos grupos de criminosos começam a expandir sua influência nesse vácuo, enquanto as cidades também têm suas próprias, além de quadrilhas e sindicatos. Falta um líder que una todas as tribos, como foi Jabba the Hutt, e As Tribos de Tatooine deixa clara a intenção de Boba Fett de ocupar esse posto.

Aliado ao mote do capítulo, o nome, aliás, dá sequência às comparações entre Fett e Moisés: se no primeiro ele era um estranho em uma terra estranha vivendo em exílio junto a seu novo povo, o segundo indica o desafio de unir as diversas tribos de Tatooine – tal qual as doze tribos de Israel.

Presente

“Quem é esse que entram sem ser anunciados?”

De volta ao antigo palácio de Jabba (com enquadramentos idênticos aos de “O Retorno de Jedi” por parte do cinegrafista Dean Cundey), Fennec Shand (Ming-Na Wen) entrega um dos assassinos que tentou matar Boba Fett no episódio anterior. 8D-8 (Matt Berry) revela que faz parte da Ordem do Vento Noturno, conhecidos por sua lealdade a quem os contrata. O jeito é entregá-lo ao rancor, monstro que vive no poço embaixo da sala do trono, para convencê-lo a falar. E funciona, já que o assassino entrega que fora contratado pelo prefeito de Mos Espa… mesmo sem um rancor para castigá-lo, já que o do palácio fora morto por Luke Skywalker no último filme da trilogia original de “Star Wars”.

Fett não é do tipo que deixa barato e, para tentar afirmar seu status como novo daimyo de Tatooine, vai tirar satisfação com o prefeito Mok Shaiz (interpretado pelo próprio showrunner Robert Rodriguez). Logo se vê que seu tino para politicagem ainda precisa ser aperfeiçoado, pois Shaiz afirma que não contratou o Vento Noturno e o manda visitar Madame Garsa (Jennifer Beals) no Santuário (e segue vivo para contar a história).

No Santuário, Fett descobre que quem comanda o crime em Mos Espa são os Gêmeos, hutts sobrinhos de Jabba e seus herdeiros. Eles, inclusive, aparecem para tentar intimidá-lo com a ajuda do wookiee Krrsantan Negro, sem sucesso. Como derramamento de sangue, ainda mais no meio de Mos Espa, é ruim para os negócios, todos seguem suas vidas prometendo resolver esse impasse em breve. De volta ao palácio, ele retorna ao tanque de bacta e às suas memórias.

Passado

Após ajudar o Jovem Tusken no capítulo anterior, Boba Fett agora é tratado com respeito pela tribo, que lhe ensina até a lutar com um gaderffii (como vimos em “O Mandaloriano“), arma típica do Povo da Areia. Seu treinamento acaba interrompido por um trem que atravessa a terra dos Tusken e deixa um rastro de morte e destruição, mas que a tribo não consegue parar.

Durante a noite, Fett resolve seguir um grupo de speeder bikes que vê no deserto, prometendo ao Líder Tusken que irá resolver a questão do trem. O que segue é um prato cheio em termos de easter eggs: Fett segue as speeders até a Estação Tosche, onde Luke Skywalker queria ir para buscar conversores de energia em “Uma Nova Esperança” (e piada recorrente de Mark Hamill nas redes sociais). Lá, um grupo de criminosos segue aterrorizando os locais, incluindo dois amigos de infância de Luke, Fixer (Skyler Bible) e Camie (Mandy Kowalski). A dupla não chegou a aparecer na versão final do “Star Wars” original, mas está em uma cena deletada do filme. De qualquer forma, Fett derrota todos os criminosos do local e pega suas speeders para si.

De volta à tribo, o plano agora é utilizar as speeders para destruir o trem. Ensinar os Tusken, tão avessos a tecnologia, a pilotar speeder bikes não é fácil, mas acaba dando certo, e o grupo segue para enfrentar os criminosos. A cena do roubo ao trem remete de imediato aos antigos faroestes em que grupos de criminosos assaltavam esse meio em busca de dinheiro e depois atacavam tribos indígenas. Aqui, no entanto, a lógica é subvertida: os Tusken (que seriam os índios) atacando o transporte comandado por criminosos para sobreviver. Quem comanda o trem, no caso, é o Sindicato Pyke de Kessel, para traficar especiarias (como visto em “Han Solo: Uma História Star Wars“). Fett deixa os Pykes sobreviverem e lhes promete passagem segura pelo Mar de Dunas, desde que passem a pagar pedágio aos Tusken dali para frente. Ninguém precisa morrer.

Com o sucesso da empreitada, Boba Fett conquista definitivamente o respeito dos Tusken, que o aceitam como membro da tribo. Como parte do ritual, ele inala um lagarto do deserto, que o guia até uma árvore sagrada em Tatooine. Durante suas alucinações, Fett quebra um dos galho dessa árvore, que os Tusken usam para confeccionar seus gaderffiis. Eles lhe ensinam o processo, que ele aprende com sucesso, e dão roupas típicas da tribo. Agora, Fett é um Tusken, e as areias de Tatooine estão sob sua proteção.

Curiosidades

– Continuando com a lista de xingamentos tradicionais de “Star Wars”, o da vez é echuta, proferido pelo assassino do Vento Noturno. É utilizado como interjeição para alguma situação ruim ou para ofender alguém.

– Mok Shaiz é um alien Ithoriano, também conhecidos como “cabeça de martelo”. Eles têm duas gargantas e precisam se controlar, pois elas são poderosas. Outro Ithoriano célebre é Dok Ondar, que comanda uma loja de antiguidades em Batuu (e pode ser visitado no Galaxy’s Edge, setor de “Star Wars” nos parques da Disney)

– Krrsantan Negro é um caçador de recompensas que apareceu pela primeira vez nos quadrinhos Star Wars de 2015, escritos por Kieron Gillen. Como todo Wookiee, no entanto, Krrsantan tem um coração de ouro, que tenta disfarçar por causa de sua profissão.

– Durante sua alucinação, Boba vê seu rosto refletido no capacete de seu pai, Jango. Isso se dá, obviamente, por Boba ser um clone de Jango, mas também é uma referência à visão de Luke Skywalker em Dagobah em “O Império Contra-Ataca“. A mensagem é clara: continue no caminho que seu pai trilhou e terá o mesmo destino sombrio.

– A dança dos Tusken ao final do episódio é inspirada no haka, típica do povo maori que habita a Nova Zelândia e as ilhas do Pacífico. Quem assiste rúgbi e acompanha os All Blacks conhece o ritual.

Julio Bardini
@juliob09

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