Cinema com Rapadura

Colunas   segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Disney Gallery: The Mandalorian – Especial mostra a magia por trás da segunda temporada

Retorno de personagens icônicos, dinâmicas do set de filmagem e efeitos visuais são o foco dos bastidores da série de Jon Favreau.

É difícil encontrar alguém pela internet que não tenha se emocionado com o final da segunda temporada de “The Mandalorian“. Seja pela emocionante despedida do mandaloriano Din Djarin (Pedro Pascal) e seu filho adotivo Grogu ou pelas participações de personagens adorados de “Star Wars“, a série vem demonstrando ter conteúdo para todas as diferentes alas entres os fãs da franquia. Felizmente, o público não ficou órfão da série logo de imediato com o lançamento do especial “Disney Gallery” sobre a segunda temporada da série.

Já uma tradição, a Disney lançou a série “Disney Gallery” com a ideia de proporcionais aos fãs um olhar sobre os bastidores das séries para seu streaming Disney Plus. Com seu catálogo ainda crescendo, apenas “The Mandalorian” foi contemplada até agora. Mas enquanto o primeiro ano da série de Jon Favreau e Dave Filoni ganhou uma temporada inteira com oito episódios focando os mais diversos aspectos de uma produção desse porte, a segunda temporada ganhou apenas um especial de uma hora de duração, com escopo consideravelmente reduzido, mas não menos envolvente. Vamos aos pontos principais:

Retornos de personagens icônicos

Um dos pontos altos da temporada foi, sem dúvida, a utilização da história de Din Djarin e Grogu como forma de introduzir personagens novos a essa nova era da galáxia de “Star Wars”, ainda em construção. Personagens como Peli Motto (Amy Sedaris) e Fennec Shand (Ming-Na Wen) fizeram sucesso na primeira temporada, ainda que com participações breves no episódio O Pistoleiro, e retornaram, além de novos favoritos surgirem, como a Senhora Sapo. Mas o grande destaque fica pelo retorno de personagens icônicos de “Star Wars” ao cânone da saga, como Bo-Katan Kryze (Katee Sackhoff), Ahsoka Tano (Rosario Dawson) e Boba Fett (Temuera Morrison).

Katee Sackhoff já tinha larga história com os fãs de ficção científica por interpretar Starbuck em “Battlestar Gallactica” quando começou a dar voz a Bo-Katan na animação “The Clone Wars” e, em seguida, em “Star Wars Rebels“. Quando ela começou, Dave Filoni chegou a mencionar que, no futuro, se algo em live-action fosse feito, ela poderia retornar como Bo-Katan. Seu cuidado em recriar a personagem transparece em seu trabalho, assim como a gratidão pela oportunidade de compor esse universo.

O retorno de Ahsoka significou também sua estreia no formato live-action, dado que antes ela havia aparecido apenas nas séries “The Clone Wars” e “Star Wars Rebels“. Para sua participação em “The Mandalorian”, Dave Filoni fez de A Jedi um episódio que justificasse a aparição de Ahsoka usando o fato de ela ter domínio da Força para se comunicar com Grogu. “Eu intencionalmente não quis fazer nada com ela na primeira temporada porque não queria errar“, diz o cineasta, que quis honrar o legado da personagem que criou na década de 2000 junto ao próprio George Lucas, que esteve presente nas gravações.

Boba Fett, por sua vez, causou uma impressão marcante em todo elenco e equipe. Segundo a figurinista Shawna Trpcic, a própria postura de Temuera Morrison mudou ao vestir a armadura do caçador de recompensas. “É uma sensação bem dinâmica. Ele é o chefe do crime na galáxia, você não quer mexer com esse cara“, complementa Morrison, indicando um pouco da mentalidade que tentou imprimir em Fett. Outro fator marcante dessa nova iteração do personagem é a presença de elementos do haka, tradicional dança maori, na coreografia de luta. Morrison é neozelandês, e a utilização de elementos de sua cultura deu vida nova a Fett, do combate mano-a-mano até a utilização de seu pesado arsenal.

Além de Ahsoka e Fett, outros dois personagens retornaram de outros meios para aparecer em “The Mandalorian”. O primeiro é Cobb Vanth, da série literária “Marcas da Guerra“, interpretado por Timothy Olyphant no episódio O Xerife, que tem inspiração pesada dos spaghetti westerns de Sergio Leone. O segundo é, claro, Luke Skywalker (Mark Hamill) no episódio O Resgate. Infelizmente, “Disney Gallery” não trata de suas participações, focando mais na parte técnica dos episódios e optando por deixar de lado aspectos de narrativa, tão importantes para compreender as participações de ambos em “The Mandalorian”.

Desafio dos diretores

“Aqui está um presente de Natal para todos aqueles que me perguntaram como é estar com o Bebê Yoda no set de ‘The Mandalorian’, A Tragédia. Deem uma olhada em ‘Disney Gallery’ para mais bastidores!”

O post acima, feito por Robert Rodriguez no Twitter, é a evidência perfeita do clima nos bastidores de “The Mandalorian”. Não é sempre que um cineasta pode trabalhar com algo tão grande como “Star Wars”, e a equipe montada por Jon Favreau para a segunda temporada soube aproveitar a oportunidade para criar cenas memoráveis e, claro, vivenciar essa galáxia tão, tão distante em primeira mão.

Cada diretor imprimiu em seus respectivos episódios características próprias, além de criar um convívio e ambiente leves no set, com liberdade para gravar seus respectivos capítulos. A Tragédia, de Robert Rodriguez, por exemplo, estendeu uma cena de luta de três páginas de roteiro para uma sequência de nove minutos (cuja pré-visualização ele fez com bonecos e seus filhos fantasiados no quintal de casa) para poder dar novos tons a Boba Fett e diferenciá-lo do Mandaloriano: “estava animado por trazer Boba de volta. Eu queria que ele fizesse jus a seu nome, que sussurrávamos desde que éramos crianças. Se o Mando é um pistoleiro, Boba precisa ser um bárbaro.

Apesar de não ser tão diversa quanto a equipe da primeira, a nova equipe tem o estreante Carl Weathers, membros com experiência prévia na série – como os retornos de Bryce Dallas Howard, Dave Filoni e Rick Famuyiwa – e com grandes universos – caso de Rodriguez e Peyton Reed. Somados a esses nomes, a produção decidiu, pela primeira vez, filmar em duas unidades simultaneamente com o auxílio do dublê e diretor de segunda unidade Sam Hargreave.

Efeitos visuais: prático x digital

Como sempre, um dos pontos altos do “Disney Gallery” é o olhar sobre os efeitos visuais utilizados. A cada novo “Star Wars” que é lançado, uma nova leva de inovações em efeitos acompanha, e “The Mandalorian” não foi diferente. Supervisionando a série toda, Jon Favreau fez questão de manter a tradição iniciada por George Lucas de combinar efeitos práticos e digitais, e a Industrial Light and Magic não decepcionou.

Para a segunda temporada, um dos principais ativos da Lucasfilm, o Volume, foi ampliado e aprimorado. Mais alto e mais largo, esse mecanismo cumpriu novas funções, com a produção ainda se propondo a descobrir novos usos para ele. Além das cenas em ambientes externos, o Volume passou também a compor ambientes internos, como o ringue de luta do primeiro capítulo – um ambiente fechado e claustrofóbico, criado quase que inteiramente de forma digital. Também foram incorporadas novas possibilidades em termos de cores para composição de paisagem. Em episódios como A Jedi, o cinegrafista Baz Idoine usou os novos parâmetros para criar a atmosfera sombria e deteriorada do planeta Corvus, combinando-a com a luz dos sabres de luz de Ahsoka Tano para iluminar os rostos dos personagens.

Mas nem tudo se resumiu ao Volume. Pela primeira vez, “The Mandalorian” gravou cenas em um set externo no capítulo A Tragédia. O sul da Califórnia foi escolhido como cenário para o planeta Tython, um novo desafio para uma produção acostumada à segurança de seu estúdio digital. Para garantir maior controle sobre as condições da locação, as rochas de Tython foram todas esculpidas de acordo com o que as cenas exigiam, e as explosões foram, em sua maioria, criadas digitalmente na pós-produção, à exceção de uma.

Um dos pontos que mais chamaram atenção, a nave Slave I foi incorporada à série por ser o veículo de Boba Fett. Desde sua primeira aparição em “O Império Contra-Ataca” (1980), a nave se tornou uma favorita do público por seu design único, girando durante pouso e aterrisagem. Isso instigou a imaginação dos fãs desde então, que foram ver seu cockpit deitado apenas em “O Ataque dos Clones” (2002), mesmo sabendo que havia mais a explorar. “The Mandalorian” mostrou sua câmara de carga em O Que Acredita e fez a espera valer a pena, criando um ambiente que fica nivelado corretamente em todos os momentos, esteja a nave voando ou no chão.

Outros efeitos práticos incluem o cruzador Aquitens de Moff Gideon, construído em miniatura e filmado da mesma forma que os Star Destroyers da Trilogia Original, e os dark troopers imperiais. Dentro de cada um dos dark troopers havia um dublê versado em movimentação segmentada (técnica desenvolvida a fundo por Anthony Daniels, intérprete de C-3PO), com as articulações dos droides sendo retocadas na pós-produção para eliminar possíveis resquícios e traços humanos.

==

Com essa mudança de estrutura e escopo da primeira temporada para esse especial, “Disney Gallery”, pelo menos em seus segmentos sobre “The Mandalorian”, tornou-se uma série em si, com os conceitos essenciais dos bastidores desenvolvidos na primeira temporada e, agora, com o público tendo a bagagem necessária, assumiu seu novo formato.

Ainda não há informações sobre eventuais temporadas de “Disney Gallery” sobre os próximos lançamentos do Disney Plus.

Julio Bardini
@juliob09

Compartilhe


Conteúdos Relacionados