Cinema com Rapadura

Colunas   segunda-feira, 23 de março de 2020

[LISTA] Cinema em quarentena: oito filmes na Netflix para fugir do tédio

Serviço da locadora vermelha tem bons títulos que podem ajudar você a ficar menos entediado durante período de quarentena.

Com a pandemia da COVID-19 se espalhando no Brasil nas últimas semanas, a recomendação da OMS para impedir que o vírus se propague ainda mais é que as pessoas fiquem em casa, não transitem para outros lugares e lavem as mãos constantemente. Nesse cenário de quarentena, as opções de lazer estão restritas à sua residência. Para que você não fique entediado durante esse período, o Cinema com Rapadura selecionou uma lista de filmes variados, de animações fantásticas até ficção científica com alienígenas, que você encontra na Netflix para passar o tempo.

Lave bem as mãos, prepare sua pipoca e escolha uma das produções abaixo!

Meu Amigo Totoro (1988)

Desde 1º de fevereiro, a Netflix vem adicionando, progressivamente, os títulos do Studio Ghibli em sua plataforma. A última leva estreia no serviço de streaming em 1º de abril, mas você já pode assistir várias das maravilhas criadas pelo mestre Hayao Miyazaki desde agora. Uma de suas melhores obras é “Meu Amigo Totoro”, que conta a história de duas irmãs que se mudam com o pai para o interior enquanto a mãe se recupera de uma grave doença. Na nova moradia, elas devem se adaptar a um novo estilo de vida e acabam conhecendo os espíritos – e os fascínios – que residem na floresta próxima.

Em tempos tão difíceis, “Meu Amigo Totoro” é um filme que aquece o coração e que faz com que, ao menos por 1h30min, possamos esquecer os problemas enfrentados pela sociedade hoje. A produção tem um excelente desenvolvimento, que sabe apresentar perfeitamente a fantasia daquele universo, ao mesmo tempo que encontra espaço para desenvolver suas duas principais protagonistas, focando, principalmente, nas diferenças de suas personalidades.

Esse cuidado faz com que o espectador sinta-se mais ligado à Satsuki e Mei, de modo que a jornada das irmãs torna-se mais íntima e imersiva. O pequeno detalhe do roteiro, de mostrar práticas do dia-a-dia das garotas, de seus pequenos costumes e hábitos, tornam as personagens mais profundas e reais. Bem estabelecidas, o contato delas com o mundo fantástico fica ainda mais agradável. A arte da produção é deslumbrante (como é de praxe nos filmes de Miyazaki e da Ghibli, sendo sempre um ponto alto), mas é fundamental destacar o design do personagem título: Totoro, provavelmente dono do sorriso mais reconfortante da história do cinema, é um daqueles personagens que gostaríamos que fossem reais, sendo que seu visual consegue ser uma tradução perfeita de sua personalidade.

Todo Mundo Quase Morto (2004)

Quem disse que o fim do mundo não pode ser algo divertido? Essa é a premissa de “Todo Mundo Quase Morto” (“Shaun of the Dead” no original), longa-metragem de Edgar Wright (“Em Ritmo de Fuga“) estrelado por Simon Pegg e Nick Frost e que acompanha a dupla no estopim de um apocalipse zumbi. Diante do cenário desesperador, eles contam com o plano perfeito: pegar um carro, resgatar as pessoas que eles amam, ir para o pub Winchester, tomar um chopp e esperar que tudo isso termine.

Ao trazer humor para o fim do mundo, Wright consegue trazer algo de novo para o gênero de zumbis, o que faz com que a obra imediatamente se destaque das demais. O diretor tem muitos méritos em sua capacidade de contar a história por meio de detalhes, de forma que ele constrói a narrativa no plano de fundo das cenas, enquanto aspectos menos importantes acontecem em primeiro plano. Ele também cria uma sensação curiosa ao mesclar zoom ins e cortes rápidos em pequenos objetos, dando um senso de urgência, com um diálogo que não transmite o mesmo ritmo. Uma contraposição incomum, mas que funciona.

A excelente química entre Pegg e Frost é outro fator determinante para o êxito do filme. Com um bom roteiro em mãos, a dupla consegue tornar as piadas do texto ainda melhores. A iniciativa dos três foi tão boa que ainda rendeu mais dois filmes, “Chumbo Grosso” e “Heróis de Ressaca“, formando assim a “trilogia do Cornetto” – uma ótima pedida, por sinal. Pegg e Frost recriaram, recentemente, um dos melhores diálogos do filme, no contexto da pandemia do coronavírus. Assista a esse novo diálogo aqui.

O Grande Truque (2006)

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O diretor Christopher Nolan é um dos mais prestigiados cineastas da atualidade, tendo milhões de fãs no mundo todo após sucessos como a sua trilogia do Cavaleiro das Trevas, que deu uma nova roupagem ao Batman nos anos 2000, “A Origem” e “Interestelar“. Mas diante de tantos filmes bons, é até surpreendente como o ótimo “O Grande Truque” não é lembrado, de uma maneira geral, pelo grande público. A história narra a rivalidade entre os mágicos e ilusionistas Robert Angier (Hugh Jackman) e Alfred Borden (Christian Bale), levada às últimas consequências em uma trama marcada por ótima edição, grandes atuações e, claro, reviravoltas dignas das profissões dos protagonistas.

A supracitada edição é uma das melhores qualidades que Nolan empregou ao longo de sua filmografia (basta lembrar de “Amnésia“, lançado anos antes), sendo que aqui ela é uma peça importante para desenvolver os dois protagonistas. O trabalho no roteiro é fantástico ao criar personagens sólidos, com visões muito diferentes, mas de forma que permite que o espectador consiga criar uma ligação emocional com ambos, fazendo com que a história tenha mais peso e seja mais imersiva.

As grandes atuações de Jackman e Bale, duas das melhores que já ocorreram em algum filme de Nolan, deixam não apenas a rivalidade de seus personagens mais poderosa como também elevam o filme a um novo patamar. As reviravoltas da trama se desenrolam como um truque de mágica, coroando um excelente trabalho do diretor.

Hoje Quero Voltar Sozinho (2014)

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Baseado em um curta, a produção brasileira conta a história de Léo (Guilherme Lobo), um adolescente cego e estudante do ensino médio em São Paulo. Sua única amiga, Giovanna (Tess Amorim), é o único reconforto do jovem em meio às piadinhas que ele sofre por parte da classe de aula e às dificuldades que encontra em estudar em uma classe comum, não voltada especificamente para a sua condição. A chegada do novato Gabriel (Fabio Audi), no entanto, muda a vida dos dois amigos para sempre.

Dirigido e roteirizado por Daniel Ribeiro, a produção tem muito mérito em desenvolver o drama do protagonista em seu cotidiano, mostrando as dificuldades enfrentadas por Léo no dia a dia, assim como os relacionamentos (às vezes, conflituosos) com pais, amigos e colegas. O fato de ele ser cego influencia essas relações, mostrando como muita gente não sabe lidar com a cegueira e acaba cometendo várias gafes ao interagir com ele. O roteiro também consegue desenvolver muito bem as interações do trio principal, que tem uma ótima química e boa dinâmica, equilibrando bem humor e drama.

A atuação de Guilherme Lobo é um grande destaque por ele conseguir vender para o público que ele é uma pessoa cega de verdade, com muito cuidado para recriar ações e reações que uma pessoa sem visão teriam. Um dos melhores longas brasileiros da última década que, se você ainda não conhece, não deve perder a chance de conhecer agora.

A Chegada (2016)

Enquanto o novo trabalho do diretor canadense Denis Villeneuve (“Blade Runner 2049“), “Duna“, não chega aos cinemas, você tem a oportunidade de conhecer um de seus melhores trabalhos com a ficção científica “A Chegada”. Na trama, o mundo é abalado quando doze misteriosas naves aparecem ao redor do mundo, comprovando que, de fato, não estamos sozinhos no Universo. A comunidade científica é convocada para ajudar a estabelecer o primeiro contato com os visitantes, entre eles a linguista Louise Banks (Amy Adams). Com a ajuda do matemático Ian Donnelly (Jeremy Renner), Louise procura concentrar sua pesquisa em responder uma simples, mas crucial, questão: afinal, o que querem os alienígenas?

Muitas são as qualidades que Villeneuve acumulou ao longo de sua filmografia. Uma das melhores delas é o seu poder de imersão, por meio da construção de uma atmosfera imersiva, que prende o espectador do começo ao fim. Cenas mais longas e planos panorâmicos são algumas das estratégias utilizadas para obter essa imersão, que é aliada a escolha de Villeneuve e do diretor de fotografia, Bradford Young, pela predominância de uma paleta de cores mais acinzentada, quase claustrofóbica. A criação de sentido de cores mais vívidas ao contar os flashbacks da protagonista reforçam a inteligência do uso nas cores na obra, pavimentando o acerto da dupla.

Para além do roteiro, muito bem amarrado e que trabalha de forma sólida não só o drama pessoal de Louise mas também todo o mistério envolvendo os visitantes interplanetários (e que conta com uma ótima ajuda da edição para ficar ainda mais poderoso), há ainda dois méritos que marcam a produção: uma delas é a trilha de Jóhann Jóhannson, fator decisivo na imersão do filme e que transmite o fascínio do contato com os extraterrestres; e a excelente atuação de Amy Adams no longa. Não apenas uma das melhores de sua carreira, mas uma das mais marcantes e palpáveis da última década. Um verdadeiro pecado nem ter sido considerada para o Oscar daquele ano.

Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016)

O vencedor do Oscar de Melhor Filme de 2017 adapta a história de Tarell Alvin McCraney e narra a história de Chiron em três momentos distintos de sua vida: infância, adolescência e vida adulta. A jornada do protagonista é trilhada em meio ao preconceito e à descoberta de sua sexualidade, na qual sua vida será marcada tanto por momentos cruéis e de violência, como de compaixão e aceitação.

A direção de Barry Jenkins (“Se a Rua Beale Falasse“) tem como preocupação tornar essa história o mais íntima possível, o que potencializa a narrativa e as atuações da produção. A câmara sempre está próxima do rosto dos atores, captando todas as suas emoções, mas é uma aproximação que não é invasiva nem causa desconforto. A curva do roteiro é feita com maestria, com os três atos da história bem definidos, que de certa forma são independentes, mas se complementam. Cada um desses momentos destaca um drama vivido pelo protagonista, o que permite um desenvolvimento mais agradável e poderoso de sua caminhada.

A trilha de Nicholas Britell é excelente, mesclando perfeitamente a parte instrumental com músicas que dialogam com o o filme (tem até Caetano Veloso cantando em espanhol). O último grande mérito da produção reside em suas atuações. Mesmo com uma participação curta, Mahershala Ali entrega uma atuação poderosa e marcante, que justifica sua vitória no Oscar daquele ano como Ator Coadjuvante. Os três intérpretes de Chiron – Alex R. Hibbert, Ashton Sanders e Trevante Rhodes – também têm ótimos trabalhos, assim como Naomie Harris.

LEGO Batman: O Filme (2017)

“Não, isso aí é só estranho!”

De todas as interpretações que o Homem-Morcego já teve nos cinemas, nenhuma se compara ao humor de “LEGO Batman: O Filme”. Com um visual embasado no clássico brinquedo, a produção procura fugir da ótica “sombria e realista” que cerca o herói, optando por mostrar um universo do Cavaleiro das Trevas que consegue, ao mesmo tempo, priorizar a diversão sem deixar de pontuar a narrativa por momentos mais soturnos, que dizem muito sobre o protagonista.

Um bom exemplo disso é a relação entre o herói e o Coringa, na qual o Batman, de certa forma, torna o vilão “a vítima” da relação entre eles, o que faz com que o Palhaço do Crime crie todo o plano que move a narrativa adiante. Ao mesmo tempo, o roteiro também mostra a importância da relação do herói com o restante da Batfamília, destacando como a personalidade mais fechada do herói atrapalha no seu relacionamento com os outros e de como ele precisa superar isso para ser alguém melhor – um esforço pessoal que o torna muito mais palpável e próximo do espectador.

Outro ponto positivo é a animação da obra, que em alguns momentos lembra a dinâmica de uma obra stop motion, mas que a apresenta com mais fluidez. A diversão é garantida pelas piadas, reforçadas pelas boas referências a cultura pop e a mitologia do Homem-Morcego. Uma abordagem que, sem dúvidas, poderia ser colocada em mais filmes do personagem.

Roma (2018)

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Cidade do México, anos 70. Cleo (Yalitza Aparicio) é a babá e empregada doméstica de um família de classe média alta mexicana. Ao decorrer de um ano, uma série de mudanças, coletivas e pessoais, afetam diretamente a vida de Cleo, desencadeando uma série de mudanças para ela e a família que ela cuida.

Um ano antes de “Parasita“, “Roma” era considerado um dos grandes favoritos a quebrar o tabu de nenhum filme internacional ter ganho a estatueta de Melhor Filme no Oscar. A vitória da produção não se concretizou, mas a obra, um trabalho pessoal do diretor Alfonso Cuáron (“Gravidade“), rendeu ao cineasta três vitórias: Melhor Filme Internacional, Melhor Diretor e Melhor Fotografia. O longa é uma pedida incomum para muitas pessoas, uma vez que é filmado em preto-e-branco e falado, majoritariamente, em espanhol. Mas a assistida ainda vale a pena. É possível sentir o toque pessoal que Cuáron quer imprimir na obra, e por isso, momentos pequenos, em que os diálogos são substituídos pelo silêncio entre dois personagens, ganham mais significado. O próprio fato de ser uma história mais comum, sem elementos fantásticos, permite que se possa, de alguma forma, relacionar-se com a protagonista.

Visualmente, a escolha pelo preto-e-branco faz muito bem para ambientar a história. O diretor repete algumas de suas principais características, como o uso de planos sequências, que conferem fluidez à narrativa e criam cenas que são bonitas e impactantes ao mesmo tempo. A atuação de Yalitza Aparicio é grandiosa e consegue elevar o filme para um novo patamar.

Luís Gustavo
@louisgustavo_

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