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Colunas   sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

The Mandalorian – Ação, humor e revelações bombásticas fazem um último episódio eletrizante

Com direção de Taika Waititi, a mitologia mandaloriana é largamente expandida no último episódio da temporada.

Atenção: este texto contém spoilers do season finale de “The Mandalorian”. Siga por sua conta e risco.

Sejamos diretos: o último episódio da primeira temporada de “The Mandalorian” é o melhor da série até agora. Simples assim. Muito aguardado não apenas pelo desfecho da história do protagonista sem nome e da Criança alienígena (conhecido pela internet como “Baby Yoda”), o episódio ainda gerava expectativa por conta da direção de Taika Waititi (diretor de “Thor: Ragnarok”), que não decepcionou em nada.

Maior nome a ocupar o cargo na série até o momento, o cineasta neozelandês é conhecido principalmente por conseguir aliar momentos de humor inocente e drama profundo e obter um resultado leve e cativante, capaz de desarmar até os espectadores mais sisudos. E foi exatamente isso que ele fez em “Redemption (“Redenção“, em tradução livre). Teve de tudo: de uma dupla de troopers batedores conversando sobre seus chefes, passando pela Criança se divertindo a bordo de uma speederbike até, bem, uma unidade R2 com braços e pernas. Pois é. Claro, isso sem negligenciar a carga dramática da narrativa, as sequências de ação e algumas das revelações que os espectadores queriam desde o primeiro episódio.

O episódio começa com a dupla de troopers batedores mencionada anteriormente, interpretados pelos comediantes Jason Sudeikis e Adam Pally – a mesma que havia matado o ugnaught Kuill (Nick Nolte) e capturado a Criança no final do episódio anterior. Para quem esperava ação desde o começo, o diálogo da dupla é um bálsamo de humor, com críticas a moff Gideon (Giancarlo Esposito), treino de pontaria (no qual ambos falham miseravelmente, mas culpam seus blasters) e reclamações sobre o comportamento da Criança. Infelizmente para ambos, IG-11 (interpretado pelo próprio Waititi) logo os alcança, elimina ambos e retoma a guarda da Criança, partindo então ao resgate do restante da equipe na cantina em Nevarro.

Na cantina, a situação não vai nada bem. O Mandaloriano (Pedro Pascal), Cara Dune (Gina Carano) e Greef Carga (Carl Weathers) continuam encurralados pelas tropas de moff Gideon, que passa a ameaçá-los pessoalmente. Ele provoca Dune com um canhão blaster de repetição, mencionando o passado dela como soldado pela Rebelião, e Carga ele ameaça falando de sua reputação como chefe da Guilda de Caçadores de Recompensa. Mas para o Mandaloriano, Gideon tem algo especial e revela o nome do pistoleiro: Din Djarin. A provocação continua com o chefão imperial falando sobre o Cerco a Mandalore, quando centenas de mandalorianos foram mortos pelo Império na chamada A Noite das Mil Lágrimas.

Desesperados, o trio passa a buscar alternativas para fugir da cantina, e conclui que os esgotos – onde os mandalorianos se escondiam no começo da temporada – seriam a melhor opção. O problema é que a grade que há na cantina não abre. Só um milagre os salvaria. E eis que acontece um, na figura de IG-11. O droide, junto com a Criança, aparece abordo da speederbike e causa um alvoroço imenso entre as tropas imperiais. Os três até conseguem sair um pouco da cantina em meio ao tiroteio que segue, mas são logo forçados a voltar quando o Mandalorian (ou já se pode chamá-lo de Din) acaba pego numa explosão quando tenta manejar o canhão blaster.

Não tem jeito, o único caminho para fugir é pelo esgoto, cuja passagem IG-11 enfim consegue abrir. Com um trooper prestes a incendiar a cantina, todos se encaminham para a abertura… Exceto Din. Com um ferimento da cabeça, ele sente que sua hora chegou, e ordena que todos prossigam sem ele. Relutantes, Dune e Carga levam a Criança, que acabara de jogar as chamas contra o próprio trooper usando a Força. IG-11 tenta tirar o capacete do Mandaloriano, que ameaça atirar no droide de novo caso ele o faça. “Nenhuma criatura viva me viu sem capacete desde que fiz meu juramento”, diz Din. Mas um droide não é vivo, e isso já basta para que o juramento mandaloriano permaneça em efeito, e assim vemos pela primeira vez o rosto de Pedro Pascal na série. Agora um droide-enfermeiro (e guarda-costas também, justiça seja feita), IG-11 usa bacta para tratar o ferimento do Mandaloriano, que felizmente se recupera. A dupla parte então para os esgotos e logo alcançam Dune, Carga e a Criança.

Dentro dos túneis, Din leva todos para o esconderijo dos mandalorianos, mas tem uma surpresa desagradável: diversas armaduras empilhadas. Certo de que seus colegas de credo foram mortos o protagonista se desespera mais uma vez, até ser acalmado pela aparição da Ferreira (Emily Swallow). A líder da colônia mandaloriana em Nevarro acalma Din, e conta que muitos mandalorianos se revelaram para sobreviver. Din conta a história da Criança para ela, que prepara então o símbolo que o personagem recusara no terceiro episódio. Afinal, se agora ele protege a Criança e eles derrotaram juntos o mudhorn em Arvala-7, então agora eles formam um clã mandaloriano. O símbolo é o próprio mudhorn, aplicado à armadura de Din Djarin. Ele ainda recebe da Ferreira um jetpack (que ele tanto queria) e a responsabilidade de cuidar e treinar a Criança até que ela cresça – ou a devolver a sua espécie original, que até agora ninguém conhece. Afinal, a pequena criatura é uma foundling, assim como Din fora após ser resgatado por mandalorianos do clã Vizsla.

A Ferreira opta por ficar para trás enquanto o grupo prossegue para o rio de lava de Nevarro, por onde conseguirão escapar até chegar à Razor Crest. A travessia corre bem, abordo de uma speeder que tem como condutor um droide R2 modificado com quatro braços e pernas. Apesar de estranharem (que não estranharia, não é mesmo?), o grupo continua, já que esse é o caminho. Na saída do rio dos túneis do esgoto para a superfície, no entanto, há uma guarnição de stormtroopers à espera.

Sem ter para onde ir e rodeados de lava, não há saída. E é aí que IG-11 se oferece para salvar o dia mais uma vez. Seu protocolo de fábrica o impede de ser capturado, ordenando autodestruição se for esse o caso. Sua nova configuração como enfermeiro da Criança o obriga a garantir a segurança do pequeno ser. Em paz por saber que o Mandaloriano cuidará dela, IG-11 desce da speeder em pleno rio de lava, segue até a abertura do túnel e se autodestrói, eliminando todo o contingente imperial em um sacrifício emocionante.

Mas falta um obstáculo para a liberdade: moff Gideon. O imperial surge abordo de seu TIE Fighter para atacar o grupo por cima. Sem conseguir revidar usando apenas blasters – e com a Criança incapaz de ajudar por estar cansada demais após impedir o incêndio da cantina com a Força -, o Mandaloriano resolve inaugurar seu jetpack, e consegue se agarrar à nave de Gideon. Ele planta uma bomba em uma das asas, e o veículo cai em um morro distante. Enfim, a tormenta acabou.

Dune e Carga decidem permanecer em Nevarro, agora que os imperiais foram derrotados e o planeta pode novamente ser a base da Guilda de Caçadores de Recompensas. Ele oferece salvo-conduto para Din retornar ao seu antigo emprego. O Mandaloriano, no entanto, precisa decidir o que fazer com a Criança; encontrar o planeta de onde ela veio ou treiná-la na doutrina mandaloriana. O recém-formado clã de dois segue para a Razor Crest, ficando subentendido que o rumo é Mandalore após Din ver a Criança brincando com um pingente mandaloriano. Ao que tudo indica, o treinamento dela deve começar em breve.

“Vamos fazer o bebê usar aquele truque mágico com a mão.”

Antes do fim do episódio, retornamos ao TIE Fighter abatido de moff Gideon. Um grupo de jawas está prestes a depenar a nave, até que uma lâmina preta rompe a fuselagem e abre um furo, afugentando os pequenos aliens. De lá sai Gideon, empunhando um sabre de luz preto que os fãs de “Star Wars” conhecem muito bem: o darksaber.

Não está claro como Gideon conseguiu a arma, que é o maior expoente da cultura mandaloriana. Quem a tiver é tido como Mand’alor, o líder do credo. Quando visto pela última vez, o darksaber pertencia a Bo-Katan Kryze no final da animação “Star Wars Rebels“, e fora usado para unificar os povos mandalorianos na luta contra a ocupação imperial. Agora, após as novas informações dadas por Gideon, sabe-se que o esforço foi breve, e que Mandalore acabou sucumbindo novamente ao poder do Império.

Redemption” trouxe, além da redenção do protagonista antecipada pelo título, uma expansão grande da mitologia mandaloriana no universo de “Star Wars“. Com tantos eventos, personagens e culturas diferentes, é fácil se perder entre as referências e acabar as entregando de forma burocrática. Nada disso ocorre no season finale dirigido por Taika Waititi. Com roteiro do criador da série Jon Favreau, o episódio tem a marca registrada do diretor neozelandês. As referências importantes, ao invés de simplesmente reveladas (como acontece, por exemplo, em “A Ascensão Skywalker“), são incorporadas à própria trama do episódio e usadas contra os personagens. Muitos fãs já haviam desistido de ver o rosto do protagonista de Pedro Pascal ou mesmo saber seu nome, por exemplo, e tudo isso acabou usado não apenas para compor a narrativa, mas também sim para levá-la adiante. Falta agora, saber mais sobre a Criança, mas para isso teremos que esperar mais um pouco.

“The Mandalorian” teve sua segunda temporada confirmada, que deve ir ao ar via Disney Plus no segundo semestre de 2020. As filmagens já começaram, e a ao que tudo indica terá estrutura similar ao que foi visto neste primeiro ano da série. Carl Weathers, que interpreta Greef Carga, já está escalado para dirigir um episódio, com mais anúncios e confirmações de elenco e equipe ainda por vir.

Para compreender melhor a mitologia mandaloriana em “Star Wars“, leia nossa coluna acerca aqui.

Julio Bardini
@juliob09

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