Cinema com Rapadura

Colunas   segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

HQs: Com você tudo fica blue – a cor da descoberta

Mesmo fora do Oscar, “Azul é a Cor Mais Quente” se destacou do resto da paleta em 2013, alcançando grande sucesso em Cannes.

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Os indicados para o Oscar 2014 foram anunciados, mas apresentam um pouco menos de vida desta vez devido à falta de uma cor em específico. E não estamos falando do verde das telas que compõem os efeitos especiais ou do vermelho amplamente presente nos filmes de Quentin Tarantino, mas sim do azul, que como Abdellatif Kechiche mostrou, pode ser, sim, a cor mais quente.

Azul-é-a-cor-mais-quente-1Mesmo com sua adaptação fora da principal premiação cinematográfica do ano, desde que foi publicada em 2010, a HQ que deu origem a “Azul é a Cor Mais Quente” e conseguiu um grande número de troféus, incluindo o prêmio de público do Festival Internacional de Angoulême e o de melhor história em quadrinhos no Festival Internacional de Quadrinhos da Argélia, ambos em 2011. Além disso, outra prova do sucesso arrebatador da história é a quantidade de traduções para diversos idiomas, como inglês, alemão, espanhol, holandês, italiano e, no final de 2013, português.

Um projeto com cinco anos de desenvolvimento, a obra impressa não difere muito de seu longa derivado, à exceção do final e do nome da protagonista, no original Clémentine. Com um traço sofisticado e estilo bastante europeu, acompanhamos a personagem principal, uma adolescente, enfrentando as crises presentes durante esta fase da vida. Entre a insegurança e as novas descobertas, ela conhece Emma que, com seus cabelos azuis, aos poucos a encanta na medida que se estabelece uma relação de amor e aprendizado.

Dentro deste turbilhão de emoções que é a adolescência, as personagens são interessantes e retratadas em diversas dimensões, todas emocionalmente complexas. Mas apesar do clima de realismo, a autora, Julie Maroh, afirma que o enredo é completamente ficcional e não baseado em acontecimentos da sua vida.

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julie-marohAtualmente com 29 anos, a francesa natural do norte do país é formada em Artes com especialização em Artes Visuais e Quadrinhos. Assim como a protagonista de sua história, Maroh também é homossexual e participa ativamente em movimentos em prol dos direitos dos gays. “Azul é a Cor Mais Quente” foi seu primeiro trabalho publicado, mas ela já lançou seu segundo, em 2013, intitulado “Skandalon” (sem previsão de chegada ao Brasil), e já prepara o terceiro.

O filme não foi a escolha da França para representá-la no Oscar, por isso a obra precisou apelar para uma intensa campanha da IFC Films para entrar em outras categorias da premiação. Por alguma razão, a Academia achou que azul não concordava com o tapete vermelho do Oscar. Resta, apenas, nos encantarmos com uma obra prima em quadrinhos a ser lida e relida, por adolescentes assustados com as transformações das cores da vida e por aqueles que, depois dessa fase, conseguem enxergar todo o espectro.

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Mateus Almeida
 é professor de Ciências, mas encontrou seu caminho na sétima arte. Na busca por ele, passou pelo MI6, Terra Média e até por galáxias muito, muito distantes, tudo dentro de uma sala escura. Atualmente, também é estudante de Jornalismo e realizou cursos na área de cinema e crítica cinematográfica.

Mateus Almeida
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