Cinema com Rapadura

Colunas   sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Metalinguagem: como o cinema fala sobre a própria arte cinematográfica

Desde os primeiros tempos de cinema, os filmes fazem referências às práticas cinematográficas, estilo dos diretores e cenas memoráveis.

No novo filme de J.J. Abrams, “Super 8” (2011), as ações que servem como base para os acontecimentos da trama estão vinculadas à presença de uma câmera no quadro, ao ato de filmar e produções dos anos 70. No caso, feitas em uma câmera Super 8 – daí o nome do filme. Essas referências diretas do cinema ao próprio cinema não são novidades. Pode-se dizer que uma das coisas que o cinema sempre soube fazer muito bem foi falar de si mesmo.

Mote para o trabalho de muitos cineastas, a metalinguagem está presente em produções ficcionais e documentais. E a variedade de elementos de linguagem do cinema faz com que essa metalinguagem aconteça com bastante frequência. Desde o aparecimento de sets de filmagem na cena até a reprodução de trechos de outros filmes. Não raro, vemos cenas que fazem alusão aos sapatinhos vermelhos de Dorothy em “O Mágico de Oz” (1939), ou às canções de “A Noviça Rebelde” (1965), tem ainda aqueles que trazem para dentro da narrativa trechos como o da despedida de “Casablanca” (1942). Há ainda as incontáveis referências à cena de “E.T. – O Extraterreste” (1982) em que a bicicleta cruza a lua em contra-luz.

Podemos começar falando que desde seus primeiros exercícios, o cinema já se mostrava nas telas, já falava de suas características e singularidades. Já em 1903, em um filme intitulado a “Lanterna Mágica”, Georges Méliès já brincava com um filme dentro de um filme, além da referência aos shows de laterna mágica que aconteciam nos primeiros tempos do cinema. Na cena, dois palhaços montam uma caixa capaz de projetar imagens e materializar personagens.

http://www.youtube.com/watch?v=SXqvSJX6sx4

Há algumas formas de classificar o aparecimento da metalinguagem no cinema. Podemos citar seu aparecimento como um exercício de exposição de elementos do fazer fílmico, o que proporciona reflexões e discussões sobre o filme que se vê, sobre o filme que se acha que vê e sobre o próprio cinema. É o caso da cena clássica de passagem do cinema mudo para o cinema sonoro em “Cantando na Chuva” (1952). Na cena, a atriz não consegue cantar no microfone e a equipe de filmagem tenta contornar o problema.

Pode ainda vir como uma referência ao enredo de uma obra anterior, seja a reprodução quase literal de um trecho, seja uma referência em palavras, um elemento cênico idêntico. Exemplo disso é que, mesmo quem nunca assistiu ao “Encouraçado Potemkin” (1925), de Sergei Eisenstein, conhece a tão famosa cena das escadarias de Odessa. Talvez não com esse nome, mas sabe exatamente ao que me refiro. Vários filmes já reproduziram a cena parcial ou quase integralmente. A mais famosa dessas referências é a que Brian De Palma faz em “Os Intocáveis” (1987).

http://www.youtube.com/watch?v=uyCVzoLVGUc

Há ainda filmes que fizeram sucesso graças a essa autorreferenciação cinematográfica. Para citar um exemplo recente, temos a franquia “Todo Mundo em Pânico” (2000), que se lançou fazendo paródia ao filme “Pânico” (1996) e outros filmes de supense teen que fizeram sucesso nos anos 90. Se olharmos os quatro filmes da franquia, observaremos a reunião de trechos de diversos filmes, desde os de terror, como “O Exorcista” (1973), filmes como “O Sexto Sentido” (1999), até produções de super herois, como as referências a “Superman Returns” (2006).

Os filmes aqui citados são apenas uma pequena mostra das variadas formas que o cinema usa para falar de si, para pensar as características da imagem e suas referenciações. Ao longo desses quase 116 anos de cinema, filmes fizeram referências a outros filmes, a estilos de cineastas, a personagens específicas. Se você lembrar de algum, coloca nos comentários.

Georgia Cruz
@georgiacruz

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