Muito além da ação – 10 filmes que mostram que Keanu Reeves se destaca em qualquer gênero do cinema
Passando pelo drama à comédia e chegando aos longas com temáticas esportivas: 10 filmes que mostram como o talento de Keanu Reeves o faz ser muito mais que um simples brucutu de filmes de ação.
Entre os grandes nomes da Hollywood moderna, o ator Keanu Reeves, das trilogias “Matrix” e “John Wick”, é, sem sombra de dúvidas, um dos poucos que detém o tipo mais notável e significativo de estima cultivado pelo público a um ídolo querido, um imenso e especial carinho que tem se tornado cada vez mais intenso e fiel à medida que a carreira do astro na indústria cinematográfica amadurece.
Reeves, nascido no Líbano e criado no Canadá, há um bom tempo tem sido alvo da consideração de grande parte da opinião pública, que vê nele, a despeito de sua fama, um sujeito extremamente simples e sem maiores ostentações. Esse estilo de vida tem se tornado evidente a cada nova foto circulada com a imagem do ator, frequentemente flagrado pelas lentes das câmeras paparazzi ou pelas telas dos celulares de pessoas comuns que rotineiramente cruzam com ele, registrada em aparentes, e surpreendentes, situações cotidianas, livre das pompas que normalmente são reservadas às ditas celebridades.
A carreira de Keanu Reeves em Hollywood teve início na segunda metade da década de 80, mas foi somente no início dos anos 90 que ele passou a ser identificado como um grande astro de filmes de ação. No período, apesar de participações em sucessos como “Ligações Perigosas” (1988) e “Dracula de Bram Stoker” (1992), foram aventuras como “Point Break – Caçadores de Emoção” (1991) e “Velocidade Máxima” (1994) que despertaram no público um interesse especial em continuar acompanhando o trabalho de Reeves nos longas do gênero. Dessa forma, Keanu Reeves, com seu muito peculiar carisma, acabou tornando-se o queridinho da maioria dos fãs de produções desse segmento.
Entendendo o sinal de aprovação dado pelo público, Keanu logo tratou de aproveitar a maré favorável para surfar uma onda maior que qualquer uma das que seu personagem surfista em “Caçadores de Emoção” conseguiu pegar. Ao aceitar o papel de Neo em “Matrix” (1999), ele conquistou de vez o respeito de todos os cinéfilos de plantão. Sim, é importante ressaltar que a crítica nunca considerou Reeves um dos atores mais expressivos de todos os tempos, mas é inegável que o modo como sua figura exerce apreço e admiração em parte expressiva da audiência é algo poucas vezes vistos na história da sétima arte e, por isso mesmo, digno de reconhecimento. Para muitos, a simples escalação de Keanu Reeves para o elenco de uma produção cinematográfica já é critério mais do que suficiente para se tomar a decisão de assisti-la.
Após duas novas jornadas como Neo, nas continuações “Matrix Revolutions” e “Matrix Reloaded”, ambas de 2003, Keanu Reeves ainda deu vida ao personagem-título em “Constantine” (2005), no papel que adaptou dos quadrinhos para as telonas o famoso exorcista da série “Hellblazer”, publicação da editora DC Comics sob o selo Vertigo. Depois disso, no entanto, o ator acabou passando por um longo período de ostracismo como astro de filmes de ação, até que, em 2014, ao ser escalado como o protagonista de “John Wick: De Volta ao Jogo”, o gigante adormecido despertou e reconquistou seu devido lugar no coração dos fãs. Como consequência do sucesso, vieram ainda “John Wick: Um Novo Dia Para Matar” (2017) e “John Wick 3: Parabellum”, que estreou na última quinta (leia a crítica aqui).
Mas, na marcante galeria de personagens defendidos por Keanu Reeves, há mais coisas escondidas além de socos e pontapés do que supõe uma passada apenas superficial pela extensa e diversificada filmografia do ator. Por isso, listamos abaixo alguns desses momentos reveladores que, apesar de surpreenderem alguns, deixarão uma grande certeza: com Keanu Reeves, nem tudo se resolve na base da porrada.
“Juventude Assassina” (1986)
Dirigido por Tim Hunter (“Looking Glass”), o drama “Juventude Assassina” é a estreia de Keanu Reeves em Hollywood, e conta em seu elenco com nomes como Crispin Glover, Daniel Roebuck e Dennis Hopper. Na trama, um jovem assassino (Roebuck), após revelar aos colegas de escola que matou uma adolescente, conduz o grupo às margens de um rio para mostrar o corpo da vítima e assim se gabar do ato hediondo. O único a demonstrar pesar pela vida perdida é Matt (Reeves), que passa a enfrentar o dilema entre entregar o criminoso à justiça ou manter a lealdade aos amigos. No processo, ele ainda precisa passar por situações conflituosas como o vício em drogas, as brigas com o padastro e os problemas causados por seu irmão delinquente.
“Juventude Assassina” é baseado na história real de Marcy Conrad, garota que foi estuprada e estrangulada por Antony Jacques Broussand na Califórnia, em 1981. O longa foi um grande sucesso de crítica, sendo considerado um dos mais importantes da década de 80, e Reeves também foi destacado como uma grande revelação.
“Para Sempre na Memória” (1988)
“Para Sempre na Memória”, da diretora Marisa Silver (“Indecência”), à semelhança de “Juventude Assassina”, é mais um drama sobre uma morte trágica e seus efeitos num traumatizado grupo de jovens. Na história, Chris (talvez na melhor atuação da carreira de Reeves) decide homenagear David (Alan Boyce), que cometera suicídio, produzindo um musical para honrar o amigo. O longa brinda seus espectadores com um belíssimo final e uma mensagem profundamente tocante, que certamente ficou e ficará na memória de muita gente por longos anos.
“The Night Before” (1988)
A comédia “The Night Before” (ou “Uma Noite Muito Louca”), dirigida por Thom Eberhardt (“Um Médico Irreverente”), é protagonizada por Keanu Reeves ao lado de Lori Loughlin. Na sinopse, a garota mais popular do colégio, Tara Mitchell (Loughlin), perde uma aposta para as amigas e é obrigada a ir ao Baile de Formatura com o garoto mais nerd do colégio: Winston Connelly (Reeves). Só que Winston erra o caminho e eles vão parar no lado mais barra pesada da cidade. Vestidos para o baile, com um carro esporte e uma carteira recheada, a noite sai bem diferente do que eles esperavam.
Repleto de momentos inusitados, o longa é uma comédia ao melhor estilo Sessão da Tarde, e apresenta Keanu Reeves em uma faceta divertida que, ultimamente, não tem sido muito explorada no cinema. Os nostálgicos curtirão.
“Bill & Ted – Uma Aventura Fantástica” (1989)
E já que estamos falando de comédia, citemos então a mais famosa protagonizada por Keanu Reeves: “Bill & Ted – Uma Aventura Fantástica”, dirigida por Stephen Herek (“101 Dálmatas – O Filme”). Bill Preston (Alex Winter) e Ted Logan (Reeves) são dois adolescentes que sonham em fazer sucesso com sua banda de rock. Só que primeiro eles têm que se formar no colégio, e antes disso, passar de ano. Seu professor de História, Sr. Ryan, lhes dá uma chance: responder a um teste oral sobre como um personagem histórico reagiria aos tempos modernos. Um mensageiro do futuro, Rufus (George Carlin), viajando em uma cabine telefônica – não, não estamos falando de “Doctor Who” -, resolve ajudá-los. Os três vão ao passado a fim de convencer personalidades históricas como Sócrates, Freud e Napoleão a irem com eles realizar o teste oral.
Com um enredo inteligente, o filme mescla comédia aos gêneros aventura e ficção científica, dando início a uma franquia de sucesso protagonizada por personagens que se tornaram ídolos da galerinha teen. Uma continuação foi realizada em 1991, “Bill & Ted – Dois Loucos no Tempo”, e, quase 30 anos depois, uma terceira parte está em fase de produção.
“O Tiro Que Não Saiu Pela Culatra” (1989)
Os Buckman formam uma família moderna, que procura educar os filhos no caminho certo. Gil (Steve Martin), o patriarca, luta para manter seu senso de humor único enquanto tenta manter uma carreira de sucesso e ser um marido e pai amoroso ao mesmo tempo. Mas Gil e o resto dos Buckman descobrem que ser uma família perfeita quase sempre quer dizer deixar as “crianças” seguirem seu próprio caminho.
Em “O Tiro Que Não Saiu Pela Culatra”, dirigido por ninguém menos que Ron Howard (“Uma Mente Brilhante”), Keanu Reeves faz o divertidíssimo papel do bobalhão Tod Higgins. No elenco estrelado ainda estão nomes como Mary Steenburgen, Dianne Wiest, Joaquin Phoenix, Rick Moranis e Tom Hulce.
“Garotos de Programa” (1991)
Dirigido por Gus Van Sant (“Gênio Indomável”), “Garotos de Programa”, um drama intenso e bastante controverso, conta a história de dois jovens envolvidos com drogas e prostituição que vivem nas ruas de Portland, no Oregon. Portador de narcolepsia – condição que faz a pessoa dormir profundamente quando sujeita a grande pressão -, Mike (River Phoenix), um andarilho, conhece e se torna amigo de Scott (Reeves), rapaz rico que, em afronta ao pai, decide sair de casa e se prostituir. Com a parceria de Scott, Mike sai em busca do paradeiro da mãe, passando então por uma intensa viagem ao lado do companheiro, por quem é apaixonado.
“Garotos de Programa” conta com a ótima química entre os personagens de Phoenix e Reeves, que flui de maneira perfeita, graças à imensa sintonia mantida entre os atores em cena, o que torna a experiência vendida pelo filme em algo crível e absolutamente verossímil.
“Advogado do Diabo” (1997)
No drama sobrenatural “Advogado do Diabo”, do diretor Taylor Hackford (“A Força do Destino”), Keanu Reeves é Kevin Lomax, um jovem advogado que nunca perdeu um caso em sua vida profissional. Ao receber uma proposta excelente de uma grande firma de advogados, mesmo contra os avisos de sua religiosa mãe (Judith Ivey), ele parte para Nova York acompanhado de sua esposa, a belíssima e dedicada Mary Ann (Charlize Theron).
Misturando horror e mistério, o longa, adaptado da obra literária homônima do autor americano Andrew Neiderman, traz na figura de Lomax um protagonista vaidoso e ambicioso, mas sóbrio e sério o suficiente – e aqui o perfil sisudo de Reeves cai como uma luva para o papel – para manter sua atenção voltada à esposa quando esta começa a passar por terríveis situações ocasionadas por constantes alucinações que parecem associadas à figura de John Milton (Al Pacino), o novo chefe de Lomax.
“Virando o Jogo” (2000)
Dirigido por Howard Deutch (“A Garota de Rosa Shocking”), a história de “Virando o Jogo” é inspirada na greve feita pelos jogadores da Confederação Nacional de Futebol Americano em 1987. Com a greve, a Confederação teve de contratar, às pressas, uma equipe treinada pelo técnico veterano Jimmy McGinty (Gene Hackman) para substituir o time em greve do Washington Sentinel. Apesar de bem diversificada, a equipe de McGinty contava com um bando de jogadores semi-amadores, entre eles o talentoso Shane Falco (Keanu Reeves), que tem um trauma a superar.
Nessa divertida comédia esportiva, a performance de Reeves como quarterback do time local de Washington D.C. foi tão boa que o mesmo chegou a ser convidado pelo Baltimore Ravens – que cedeu seu estádio para as filmagens – a fazer um teste para jogar profissionalmente pelo time de Maryland. Além de muitas cenas engraçadas e uma ótima trilha sonora, o filme também ficou famoso por algumas frases de efeitos, entre elas “dor cura, e garotas adoram cicatrizes. Glória dura para sempre” e “vencedores sempre querem a bola quando o jogo está duro”.
“Hardball – O Jogo da Vida” (2001)
Pouco tempo depois de “Virando o Jogo”, Keanu Reeves fez mais um filme voltado à temática esportiva: o drama “Hardball – O Jogo da Vida”, do diretor Brian Robbins (“Norbit”). Na trama, Conor O’Neill (Reeves), um homem sem propósito de vida, que não consegue parar de jogar, beber e fazer operações ilegais, precisa arranjar uma grande quantia para pagar seu hábito de jogar. Ele consegue quem lhe empreste o dinheiro, mas o pagamento de O’Neill deve ser treinando o time de beisebol de garotos para participarem da liga infantil. O’Neill aceita a oferta e aos poucos sua experiência com os garotos vai mudando seu próprio estilo de vida.
Baseado no livro “Hardball: A Season in the Projects”, do escritor americano Daniel Coyle, a produção ainda traz em seu elenco nomes como Diane Lane, John Hawkes e Michael B. Jordan. O filme encanta com uma história simples e completamente envolvente. É altamente recomendável que o espectador mantenha, durante toda a projeção, um lencinho ao alcance da mão, pois pode precisar.
“Versões de um Crime” (2016)
Uma espécie de versão moderna do clássico “12 Homens e uma Sentença” (1957) – só que passada fora da sala do júri -, “Versões de um Crime”, um drama de tribunal realizado pela cineasta Courtney Hunt (“Rio Congelado”), apresenta como enredo a história de um advogado, Richard Ramsey (Keanu Reeves), encarregado de defender um adolescente, Mike (Gabriel Basso), acusado de assassinar o pai rico, Boone Lassiter (Jim Belushi), e revelar a verdade por trás do crime. À medida que investiga, Ramsey descobre que a mãe do garoto, Loretta (Renée Zellweger), está ocultando diversos fatos essenciais ao caso.
Com muitas reviravoltas e um surpreendente final, “Versões de um Crime” traz Keanu Reeves em um desempenho contido, mas com o bônus dos bons discursos de seu personagem ao se dirigir à Corte, bem como os interessantes e provocativos diálogos mantidos nos embates com sua assistente Janelle (Gugu Mbatha-Raw). Definitivamente, é aqui que Keanu Reeves tenta purgar os pecados cometidos por seu advogado anterior, aquele de “Advogado do Diabo”.
No fim das contas, analisando mais detalhadamente a bem-sucedida carreira de Keanu Reeves no cinema, seja interpretando um nerd, um advogado, um jogador de futebol americano ou um treinador de beisebol, é possível constatar que o ator é, ao contrário do que enfatizam alguns, muito mais do que um simples brucutu de filmes de ação – ainda que, de forma bem sutil, figuras como Neo e John Wick sejam, nas entrelinhas, e guardadas as devidas proporções, portadores de maiores nuances que a fama de bad boy que os precede possa sugerir – fama essa que oculta um grande poder de superação em ambos.
Esse poder encontra um paralelo na vida real do próprio intérprete dos referidos personagens, que após passar por situações trágicas e extremamente difíceis na vida pessoal, conseguiu quebrar a barreira que separava o artista do público, a barreira que separava gente de gente. E Keanu Reeves conseguiu isso da maneira mais singela e sensível possível, por meio de gestos comuns do dia a dia, como o simples ceder de um assento no metrô, ou aparecendo de surpresa na festa de casamento de um casal de anônimos, ou fazendo um lanchinho no banco da praça, ou, enfim, sendo quem ele realmente é, o Keanu Reeves das massas, o Keanu Reeves que adora ser… gente como a gente.
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É fã de Keanu Reeves como astro de ação? Não tem problema, pois no canal do Cinema Com Rapadura fizemos uma lista com as 10 melhores cenas da carreira do ator. Veja abaixo!