Disney Gallery: The Mandalorian – Bastidores do retorno épico de Luke Skywalker
Nostalgia, rejuvenescimento, um retorno inesperado: chegou a hora de descobrir o processo por trás do retorno de um dos maiores heróis da cultura pop.
Na manhã de 18 de dezembro de 2020, o mundo assistia apreensivo a O Resgate, o final da segunda temporada de “The Mandalorian“. Com Grogu preso abordo do cruzador imperial de Moff Gideon (Giancarlo Esposito), o Mandaloriano (Pedro Pascal) liderou a missão de resgate épica que juntou diversos personagens icônicos do universo de “Star Wars” – Boba Fett (Temuera Morrison), Bo-Katan Kryze (Katee Sackhoff), Fennec Shand (Ming-Na Wen), Cara Dune (Gina Carano) e Koska Reeves (Sasha Banks).
Por si só, essa equipe já era a realização de um sonho para os fãs da franquia. Mas quando tudo parecia perdido com a intervenção dos dark troopers imperiais, uma X-Wing solitária apareceu nos radares do cruzador. E a partir daí, todos os fãs de “Star Wars” viraram criança de novo, assistindo ao retorno épico de Luke Skywalker (Mark Hamill), o maior herói da saga, algo que ninguém imaginava que voltaria a ver. Pelo menos não da forma que foi.
Após a conclusão de cada temporada de “The Mandalorian”, o Disney Plus lança a série de bastidores “Disney Gallery“, que aborda aspectos chave da produção da série de Jon Favreau e Dave Filoni. O especial da segunda temporada foi ao ar em 25 de dezembro de 2020, mas não fez menção à aparição de Luke. Talvez para guardar o segredo para quem ainda fosse assistir à série, o streaming lançou apenas no último dia 25 de agosto um episódio extra tratando apenas do retorno de Skywalker, e como ele foi possível por meio da magia do cinema e da televisão.
Por que trazê-lo de volta?
Novas histórias oficiais sobre Luke Skywalker após “O Retorno de Jedi” eram uma pedida dos fãs desde a aquisição da Lucasfilm pela Disney, em 2012, e o papel do mestre Jedi na Trilogia Sequel não foi suficiente para satisfazer essa sede, principalmente pela falta de uma linha narrativa coesa entre os três filmes. Ainda que ele tenha aparecido em livros e quadrinhos, seu lugar é nas telas.
Mas há um problema: a presença de Luke em qualquer história de “Star Wars”, e em qualquer mídia, é algo avassalador. Não há como não prestar atenção nele, e todos esperam grandes feitos desse herói. Com isso, era muito fácil que ele ofuscasse a história principal do final da temporada de “The Mandalorian”, que era a despedida entre o Mandaloriano e Grogu. Para lançar mão desse recurso, era preciso muito cuidado e delicadeza.
No contexto da série, o Mandaloriano buscava um Jedi que pudesse treinar Grogu nos caminhos da Força após a negativa de Ahsoka Tano (Rosario Dawson). Mas, à época retratada na cronologia da franquia, não haviam muitos Jedi que pudessem assumir essa responsabilidade. Chegamos até a especular quem poderia, mas, no fundo, a única resposta plausível era mesmo Skywalker. Até porque, como bem lembrou Mark Hamill, ele era o único personagem que saberia reconhecer a espécie de Grogu, já que foi pupilo do mestre Yoda.
Como foi feito
O que surpreende, no caso de Luke, é justamente terem trazido Mark Hamill de volta. O ator já está em idade avançada e não tem mais o porte que tinha à época de “O Retorno de Jedi“. Por mais que compreenda o personagem como poucos após tê-lo interpretado por mais de 40 anos, não conseguiria reproduzir muito do que seria esperado de Skywalker. Ele próprio acreditava que o papel seria reescalado com um ator mais jovem.
E, de certa forma, até foi, com Max Lloyd-Jones realizando as cenas de combate e emprestando seu porte físico e gestual para a cena na sala de comando. Hamill gravou a cena, reproduzindo o melhor que pôde o jovem Luke e servindo como modelo para que Lloyd-Jones reproduzisse, para em seguida ter suas feições substituídas digitalmente pelas de Hamill.
Essa substituição, no caso, é algo que acontece naturalmente no mundo atual, quase. A disseminação de tecnologias de deep fake tornou comum esquetes com personalidades famosas fazendo coisas impossíveis, e há até youtubers usando o recurso para recriar cenas de filmes com outros atores. É o caso, por exemplo, de Shamook, contratado pela Lucasfilm após usar deep fake na cena de Luke em “The Mandalorian” e obter um resultado bem diferente.
Favreau revelou que a produção utilizou deep fake até certo ponto, empregando todo o acervo de imagens e gravações de Hamill quando jovem para recriar suas feições. Se tivesse optado por manter o resultado, talvez a cena pudesse ter ficado melhor ou pior, mas a produção optou por reconstruir o semblante do ator digitalmente. Rejuvenescer atores em filmes não é nada novo no cinema ou na televisão. “Star Wars” mesmo já usou esse recurso com Peter Cushing e Carrie Fisher em “Rogue One: Uma História Star Wars“. A diferença foi o uso de um estúdio específico conhecido como The Egg (“o ovo”, em tradução literal), que utiliza placas de LED para capturar um rosto sob diferentes iluminações. Tanto Hamill, quanto Lloyd-Jones tiveram que passar pela ferramenta para que a empreitada funcionasse.
Outro aspecto importante é a reconstrução da voz de Mark Hamill para Luke Skywalker. O ator é conhecido por seu trabalho de voz como o Coringa na série animada do Batman de Bruce Timm, e fez inúmeras pontas em “Star Wars” dessa forma. Mas por mais experiente que seja no ramo, sua voz também já não é mais a mesma. Para que funcionasse, Favreau mencionou a utilização de softwares conhecidos de reconstrução vocal, tornando as falas de Luke Skywalker 100% artificiais e computadorizadas em “The Mandalorian”, mas tão impactantes quanto se fosse o próprio Hamill por trás.
Grandes poderes e grandes responsabilidades
Lidar com Luke Skywalker é uma grande responsabilidade. Desde 1977, ele integra o imaginário popular como um dos maiores heróis do nosso tempo, e a sua é uma das maiores histórias já contadas. Levá-lo a “The Mandalorian” iria requerer muito mais do que apenas trazer de volta seu intérprete e usar tecnologia para rejuvenescê-lo ou encontrar outro ator.
Uma analogia interessante que Jon Favreau faz ao longo do especial de “Disney Gallery” é com Mickey na animação “Fantasia“. Lá, o protagonista é um aprendiz de feiticeiro que usa o livro de feitiços de seu chefe – sem ele saber, que fique claro – para facilitar seu trabalho. Aqui, Favreau traça o paralelo entre o livro de feitiços e a tecnologia empregada para recriar Luke Skywalker. Todas as técnicas empregadas pela Industrial Light and Magic estão disponíveis para uso cotidiano, tanto deep fake, quanto a de reconstrução vocal. Utilizá-las, portanto, implica em um dilema ético, já que sua popularização também poderia ter como consequência seu uso imoral pela internet. Talvez até por isso a ILM e a produção de “The Mandalorian” tenham optado pela reconstrução digital.
Mas outro aspecto essencial é o segredo. Quando Ahsoka Tano apareceu na série, a internet toda já sabia uma semana antes. A participação de Luke não ter vazado é praticamente um milagre. Era necessário apenas que uma pessoa vazasse, ou comentasse com um terceiro. Para evitar esse tipo de risco, a produção do episódio ocorreu simultaneamente à de A Tragédia, episódio da série gravado em locação no Simi Valley, na Califórnia. Pouquíssimas pessoas sabiam das gravações que ocorreriam nos estúdios da Lucasfilm nesse meio tempo. E mesmo caso alguém descobrisse que algo estava acontecendo, não seria sobre Skywalker, já que Favreau e Filoni substituíram o nome do personagem nos roteiros pelo de Plo Koon – que, por ser o Jedi favorito de Filoni, faria sentido de imediato para qualquer fã. Até artes conceituais foram criadas e sua cabeça inserida digitalmente na cena para que, se algo vazasse, fosse essa artimanha.
Por fim, outro ponto importante destacado no especial é que a participação de Luke só ocorreria com uma condição: que todos os envolvidos estivessem a bordo. Se mesmo uma única pessoa não sentisse que aquilo era o ideal ou que o momento não era o certo, o final de O Resgate seria diferente. Por sorte, todos da produção concordaram e o compliance da Lucasfilm é afiado. Afinal, quem não gostaria de participar do retorno de Luke Skywalker, não é mesmo?
Todos os especiais do “Disney Gallery” estão disponíveis no Disney Plus, assim como as duas temporadas de “The Mandalorian”.
>> Relembre o retorno de Luke Skywalker em “The Mandalorian” em nosso recap!