Cinema com Rapadura

Colunas   terça-feira, 31 de dezembro de 2019

[LISTA] Os 10 melhores filmes da década

Escolhemos 10 filmes que refletem a constante mudança do cinema ao longo de 10 anos, sempre acompanhando as questões sociais e políticas, e trazendo narrativas inovadoras.

Uma década para o cinema é tempo demais. Em 10 anos é possível ver a ascensão e queda de diretores, o estabelecimento de um império do entretenimento e filmes que poderiam ser gigantes, morrendo aos poucos. Olhar para o que a década de 2010 se tornou para o cinema é contemplar a história sendo escrita através de imagens. E, embora seja complicado definir quais foram os principais destaques — é difícil mensurar o que diferencia a qualidade de duas obras de arte —, os últimos anos foram responsáveis por algumas mudanças de paradigmas.

Pudemos acompanhar o desenvolvimento cuidadoso da Marvel. O terror retornou ao seu devido local, com uma nova geração de diretores se dedicando a oferecer filmes realmente relevantes. Também foi a década que as mulheres disseram “basta” ao machismo que imperava em Hollywood com o movimento #MeToo. Foi uma década de mudanças, mas construída com filmes que irão ecoar pela eternidade. 

Montamos uma lista com 10 dos melhores representantes lançados nos últimos 10 anos. Veja abaixo!

10 – A Forma da Água (2018)

Guillermo del Toro é um diretor com um olhar muito nobre para o fantástico. E em “A Forma da Água”, o cineasta provou que é possível enxergar humanidade em monstros, assim como é possível encontrar monstruosidades em humanos. Suas criaturas possuem compaixão e, justamente por isso, seus filmes são capazes de dialogar com diversos públicos.

O longa mostra a paixão entre uma zeladora e uma criatura que está sendo estudada por uma instalação de pesquisa altamente secreta. Embora não seja uma temática inovadora, o olhar de del Toro atualiza um conto de fadas clássico, mostrando que o cinema é uma arte em constante evolução.

9 – Antes da Meia-Noite (2013)

O romance é um gênero que às vezes mais sofre com os clichês do que se beneficia deles. Por isso alguns diretores optam por subverter o gênero ao invés de investir no seguro. Richard Linklater fez isso na Trilogia do Antes, composta por “Antes do Amanhecer”, “Antes do Pôr-do-Sol”, e que foi concluída magistralmente com “Antes da Meia-Noite”. Não apenas pela ousadia técnica — algo que Linklater fez nos três filmes —, mas também pela simplicidade da obra, que torna a experiência de assisti-la muito mais agradável.

Acompanhando um casal de 40 anos que está de férias na Grécia, o público não passa pela expectativa de ver como as coisas vão acontecer para testemunhar o “felizes para sempre”. Afinal, o filme subverte essa ideia da felicidade eterna ao lado de quem se ama, e pega o público desprevenido ao preferir o real enquanto rejeita o óbvio. Uma longa sequência mostrando uma discussão entre Jesse e Celine — e cabe ressaltar que a química entre os protagonistas é fator decisivo para o sucesso do filme — conseguiu fazer mais pelo romance, na última década, do que centenas de cenas de beijos, supostamente apaixonados.

8 – Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016)

O grande estudo de personagem que o cinema nos ofereceu na última década, acompanha a vida de um negro, em três momentos distintos de sua vida. Mas “Moonlight: Sob a Luz do Luar” é muito mais do que isso, embora o filme consiga se limitar a esta trama simplória.

Falar muito através de uma história sem grandes eventos, é apenas um dos méritos de Barry Jenkins neste filme. Com um peso narrativo ele trata com a mesma eficiência da dificuldade de um negro marginalizado, das dores de uma mãe para proteger seu filho, das incertezas sobre a sexualidade em um ambiente naturalmente hostil. É um filme que grita desesperadamente sobre um mundo que raramente é mostrado, seja no cinema, na TV ou em qualquer lugar, mas que aqui é apresentado sem preconceito ou pena, mas como ele realmente é.

7 – Que Horas Ela Volta? (2015)

O cinema nacional também passou por mudanças significativas na última década. Embora as críticas sociais sejam uma constante, novos diretores têm demonstrado como é possível explorar conflitos de diferentes maneiras. Anna Muylaert, por exemplo, mostrou como trazer para um núcleo familiar o muro que as classes privilegiadas constroem para se isolar das camadas mais baixas da sociedade.

“Que Horas Ela Volta?” é um filme tão brasileiro, que soa como se todos já tivessem o assistido fora dos cinemas. É a história de uma doméstica que faz parte de uma família de classe alta, mas que nunca pode experimentar dos mesmos prazeres. É a segunda mãe, que muitos possuem, mas que jamais irão reconhecer. É um retrato muito bonito, embora muito duro, do que o Brasil insiste em ser.

6 – Corra! (2017)

Quando se presta atenção para o que o cinema produziu nos últimos 10 anos, é possível ver como o terror foi o gênero que mais foi beneficiado. Uma geração de novos e bons diretores trouxeram de volta o peso social, que sempre foi uma característica importante dos filmes, mas com histórias que se destacaram por apresentarem uma novidade, tanto narrativa quanto na direção.

“Corra!” foi um dos melhores exemplos neste sentido. O filme de estreia de Jordan Peele mostra o final de semana de um casal, que termina da pior maneira possível. Não bastasse a qualidade técnica que Peele demonstra no seu longa, o teor social e como ele é desenvolvido, fazem deste uma das melhores obras de terror do século 21.

5 – Toy Story 3 (2010)

“Toy Story 3” fez gerações de fãs retornarem à infância e ver um dos filmes mais emocionantes e simbólicos dos últimos anos. A Pixar, especialista em fazer os pais chorarem no cinema com suas animações, tem aqui uma das suas melhores produções, provando que desenhos devem ser levados a sério, mesmo que suas histórias não sejam necessariamente sérias.

O filme mostra o que poderia ser a jornada final dos brinquedos e a luta para que eles sobrevivam ao envelhecimento do seu amado dono. A beleza na maneira como “Toy Story 3” fala sobre desapego e sobre o fim de uma jornada, acabou sendo mais efetiva do que muitos live-actions tentaram, mais uma vez, se beneficiando de características inerentes à animação.

4 – A Chegada (2016)

Ficção científica é um gênero que costuma atingir um nicho muito específico de pessoas que gostam de um tipo de narrativa e buscam por certos elementos visuais. “A Chegada” talvez tenha sido o filme mais bem-sucedido deste formato na última década. Não pela bilheteria, mas pelo olhar que o diretor Denis Villeneuve lançou ao gênero. Com isso, ele conseguiu fazer uma das ficções científicas mais relevantes do cinema, o que não é pouca coisa.

A trama segue uma linguista que precisa aprender a se comunicar com alienígenas e descobrir o que eles pretendem fazer na Terra. A adaptação do conto de Ted Chiang fala sobre a importância de aprendermos a ouvir outras vozes e de darmos mais valor ao diálogo. Simbólico no seu conceito, este é um filme que não apenas se destaca das outras produções da última década, como poderia resumir muito sobre como foram os últimos 10 anos da humanidade.

3 – O Babadook (2014)

O grande filme de terror da última década ter sido dirigido e roteirizado por uma mulher já carrega um grande simbolismo. “O Babadook” tem inúmeros méritos, e muito disso vem da visão feminina que ele lança à maternidade e aos traumas que ela pode oferecer a uma mulher. Outra joia do terror que nasce das mãos de uma diretora estreante, mostrando como o gênero estava sedento por novidades.

Na trama, uma mãe viúva precisa cuidar sozinha de seu filho, mas após ler um livro de terror, ambos passam a ser ameaçados por um estranho ser. E, embora o filme fale muito sobre maternidade, ver o Babadook se apresentando como um homem para a protagonista é mais um forte simbolismo do longa. Além disso, ver um monstro como a depressão sendo retratado como uma criatura que não pode ser derrotada, mas que precisa ser enfrentada, reforça o peso da narrativa, tanto para o terror, quanto para o cinema.

2 – Parasita (2019)

Um longa sul-coreano que mostra uma família de classe baixa se infiltrando na vida de uma família de classe alta não parece o plot para um dos melhores filmes da última década. Mas o cinema tem dessas, e por vezes é um privilégio ser surpreendido por uma obra que extrapola expectativas.

Bong Joon Ho conduz seu filme como um maestro conduz uma orquestra. Ele sincroniza os sentimentos do público, de modo que as risadas surgem quando ele quer. E tão rápido ele as faz surgir, ele as cala com sequências que são construídas com uma tensão que jamais poderia ter sido antecipada. Não há nada de óbvio ou previsível em “Parasita”, assim como não há nada que soe prepotente, o que deixa o filme mais agradável.

1 – Mad Max: Estrada da Fúria (2015)

O que George Miller conseguiu fazer com “Mad Max: Estrada da Fúria” foi presentear os amantes do cinema com uma das melhores experiências audiovisuais da história. Um filme que merece ser contemplado — e que foi concebido para isso —, mas que em momento algum soa pedante. Muito pelo contrário, a obra se mostra do começo ao fim como uma catarse estética e narrativa.

O longa acompanha Max, que se vê ao lado de uma mulher que se rebela contra um governante tirânico em busca de sua terra natal. A trama é simples na sua essência, servindo para o propósito de Miller, que se preocupa em oferecer ao público um espetáculo cinematográfico único. Em tempos de filmes com sequências megalomaníacas de ação, todas gravadas em estúdios confortáveis e climatizados, com atores na frente de telas verdes, “Mad Max: Estrada da Fúria” foi a anarquia que o cinema precisava.

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E você, quais filmes você acredita que são os maiores destaques da última década?

Robinson Samulak Alves
@rsamulakalves

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