[LISTA] Filmes que usam a ficção científica espacial como meio para explorar a alma humana
Conheça obras que vão de Kubrick ao cinema soviético, do terror ao drama, do suspense à comédia.
Nesta quinta-feira (26), chega aos cinemas do Brasil o filme “Ad Astra – Rumo às Estrelas”, sci-fi espacial dirigido por James Gray (“Z – A Cidade Perdida”). A obra traz Brad Pitt como um viajante do sistema solar em busca de encontrar o pai desaparecido, um cientista (Tommy Lee Jones) renegado por, supostamente, representar uma ameaça à humanidade.
A ficção científica, por sua vez, apesar de ser um dos gêneros cinematográficos mais longevos da sétima arte, geralmente é bastante subestimada pela indústria, que costuma relegar a importância de suas obras somente às suas qualidades técnicas. Muito desse preconceito pode ser consequência da quantidade absurda de longas que, durante a década de 50, inundara as salas de cinema dos Estados Unidos no contexto da Guerra Fria, quando o medo atômico, um pavor gerado pelo espírito da época, favorecia a exploração de temáticas mais sensacionalistas por parte dos estúdios e em produções geralmente de baixa qualidade em termos narrativos.
Desde a década de 60, porém, muitos cineastas de ficção científica, aproveitando a intensificação da corrida espacial no período, e a fim de desconectarem sua audiência do enorme turbilhão especulativo vigente naqueles anos, passaram a ambientar suas histórias longe do planeta Terra, visando assim que, ao contemplar a imensidão do vazio espacial, ela fosse provocada a uma reflexão de caráter mais intimista. Em um certo sentido, eles propunham ao espectador uma certa desconexão do todo em busca de uma maior conexão consigo mesmo.
Gray, portanto, não é o primeiro cineasta a utilizar o sci-fi espacial como meio para trabalhar questões relacionadas aos anseios humanos. Assim, a experiência emocional proposta pela narrativa de “Ad Astra” encontra ecos em muitas outras obras que há décadas têm utilizado os mistérios do espaço para convidar a plateia a testemunhar solitárias jornadas e se envolver empaticamente com complexos personagens. Dessa forma, a fim de ampliar essa visão, listamos, abaixo, uma relação com algumas dessas preciosidades.
2001 – Uma Odisseia no Espaço (1968), de Stanley Kubrick
Em 1968, o cineasta Stanley Kubrick, ao adaptar parcialmente o conto “The Sentinel” (1951), do escritor inglês Arthur C. Clarke, criou aquele que se tornaria, de imediato, o maior expoente da ficção científica no cinema em todos os tempos: “2001 – Uma Odisseia no Espaço”.
A história de “2001” mostra a nave espacial Discovery partindo rumo ao planeta Júpiter a fim de investigar um monólito capaz de fornecer pistas sobre a origem do universo. A missão, entretanto, é comprometida quando a inteligência artificial que controla a nave, o computador HAL 9000, ao perceber que será desligada, rebela-se contra os tripulantes – o Dr. David Bowman (Keir Dullea) e o Dr. Frank Poole (Gary Lockwood), além de outros três cientistas em estado de hibernação criogênica -, tornando-se uma ameaça mortal àqueles que estão a bordo. Segue-se, então, um verdadeiro jogo de gato e rato, em que a criação (a tecnologia) decide se voltar contra o seu criador (o homem) com intuito de eliminá-lo.
Além de dar grande destaque aos dilemas decorrentes do avanço tecnológico indiscriminado, “2001 – Uma Odisseia no Espaço” aborda outros temas capazes de suscitar interessantes discussões, como evolução humana e existencialismo. A obra também é aclamada, entre outros motivos, pela quase inexistência de diálogos em sua estrutura narrativa, pelo uso em abundância de músicas clássicas como trilha sonora, pela criativa montagem – que, ao sincronizar sofisticadas sinfonias com o elegante movimento dos satélites artificiais, simula uma grande valsa – e pelo notável apuro técnico – cujo pioneirismo lhe rendeu o Oscar de Efeitos Visuais.
O filme é um dos mais influentes da história, e sua importância foi reconhecida pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, que, em 1991, o classificou como “culturalmente, historicamente ou esteticamente significante”, selecionando-o para ser preservado pelo National Film Registry.
Solaris (1972), de Andrei Tarkovski
Baseado no livro homônimo escrito pelo autor polaco Stanisław Lem e publicado em 1961, “Solaris”, lançado em 1972, é um filme russo de ficção científica e drama dirigido por Andrei Tarkovski.
Na trama, o Dr. Kris Kelvin (Donatas Banionis), um psiquiatra, parte em uma missão rumo à estação espacial que orbita o planeta Solaris. Seu objetivo é investigar os estranhos eventos que lá ocorrem e a possibilidade da existência de inteligência extraterrestre. Uma vez nesse enigmático ambiente, ele se junta a outros pesquisadores, e se depara com situações que, surpreendentemente, o remetem ao seu passado na Terra. Solaris, por sua vez, é formado quase em sua totalidade por um oceano inteligente, e essa inteligência “não humana”, como forma de boas-vindas, envia a Kelvin uma inusitada visita: uma réplica de alguém que ele conheceu no passado. Tem-se, então, uma série de reflexões psicológicas e filosóficas cujos principais temas são a solidão, a existência de Deus e a necessidade de comunicação entre a espécie humana.
Em 2002, a obra cinematográfica ganhou um remake americano pelas mãos de Steven Soderbergh, trazendo George Clooney como protagonista. No entanto, essa nova versão não cativou tanto quanto o original soviético, considerado por muitos como um dos maiores clássicos da história do cinema mundial.
Alien: O Oitavo Passageiro (1979), de Ridley Scott
Durante seu retorno à Terra, a nave rebocadora comercial Nostromo, após efetuar a extração de minério em algum ponto remoto do espaço sideral, tem seu curso interrompido depois que seu sistema de controle – uma inteligência artificial denominada Mãe – intercepta um sinal oriundo de um planeta desconhecido. Inadvertidamente, os sete tripulantes permitem a entrada, no veículo, de um organismo que, logo, se transformará em uma ameaça letal à sobrevivência de cada um deles.
É com essa premissa que o diretor Ridley Scott apresenta em “Alien: O Oitavo Passageiro”, a exemplo do que Kubrick fizera em “2001 – Uma Odisseia no Espaço”, uma claustrofóbica história de sobrevivência a bordo de uma nave. Curiosamente, a obra também seria selecionada, em 2002, pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos para figurar no National Film Registry, além de faturar o Oscar de Efeitos Visuais e de se tornar um grande clássico do cinema. A principal diferença de “Alien” para “2001” é que, enquanto Kubrick manteve sua obra calcada nos elementos da ficção científica, Scott inovou ao construir seu produto alicerçado no gênero terror, criando, assim, uma jornada das mais angustiantes.
O estrondoso sucesso de “Alien” deu origem a uma franquia cinematográfica, que rendeu inúmeras sequências, entre elas o ótimo “Aliens: O Resgate” (1986), de James Cameron, mais voltado para a ação do que para o terror. A série de filmes também se notabilizou por colocar em constante oposição a Tenente Ellen Ripley (personagem que alçou a atriz Sigourney Weaver ao estrelato) e a criatura alienígena conhecida como xenomorfo – imortalizada nas telonas, e em outras mídias, graças ao bizarro e original design concebido pelo pintor surrealista suíço H. R. Giger. Além de Weaver, o primeiro filme ainda contou em seu elenco com nomes de peso como Harry Dean Stanton, Ian Holm – na pele do controverso Ash – e John Hurt, protagonista da cena mais famosa do longa, quando seu personagem, Kane, “dá à luz” ao pequeno bebê Alien. A marcante trilha sonora foi assinada por Jerry Goldsmith.
Apollo 13: Do Desastre ao Triunfo (1995), de Ron Howard
A NASA, agência espacial americana, é conhecida pelo êxito na promoção de viagens espaciais. No entanto, nem todos os seus projetos são realmente bem-sucedidos, e, nesse sentido, a Missão Apollo 13 é o seu maior exemplo de insucesso. Em abril de 1970, nove meses depois da primeira chegada do homem à Lua, a sétima missão tripulada do Projeto Apollo sofreu um acidente durante a viagem de ida, o que impediu sua aterrissagem no satélite natural, local de destino. Felizmente, a nave e seus tripulantes conseguiram retornar à Terra após seis dias à deriva no espaço.
Baseando-se no livro “Lost Moon: The Perilous Voyage of Apollo 13″, de Jim Lovell e Jeffrey Kluger, o diretor Ron Howard adaptou esses eventos para o cinema no filme “Apollo 13: Do Desastre ao Triunfo”, de 1995. Na trama, os três astronautas que estiveram presentes na missão são vividos por Tom Hanks, Kevin Bacon e Bill Paxton. A produção mostra a intensa luta pela sobrevivência desses náufragos do espaço, bem como o intenso apoio e os desmedidos esforços empreendidos pela equipe da NASA, em Terra, diante de tão dramática situação. O longa, que ainda traz em seu elenco Ed Harris, foi um grande sucesso e contou com trilha sonora de James Horner.
Cowboys do Espaço (2000), de Clint Eastwood
Em 2000, Clint Eastwood provou, mais uma vez, sua grande versatilidade como cineasta ao comandar, e também protagonizar, uma das melhores ficções científicas espaciais da sétima arte. O drama, também estrelado por Tommy Lee Jones, Donald Sutherland e James Garner, traz uma equipe formada por quatro veteranos ex-pilotos de testes que é enviada ao espaço para consertar um antigo satélite soviético. Só o que eles não sabem é que esse satélite está armado com mísseis nucleares.
Sunshine (2007), de Danny Boyle
Em um futuro não muito distante, a humanidade se encontra diante de um verdadeiro ultimato: o Sol está prestes a desaparecer. Mas ainda existe uma esperança: uma bomba atômica pode ser o fator de revitalização do astro. Para isso, o artefato terá que ser conduzido pela nave Icarus II a um determinado ponto da estratosfera. No entanto, durante a missão, os oito tripulantes recebem um sinal de socorro de outra nave, que desaparecera sete anos antes ao tentar alcançar o mesmo objetivo. Receosos de seu destino final, os viajantes começam a ponderar se devem ou não seguir o plano original ou desviar sua trajetória a fim de descobrir o mistério que envolve o sumiço da primeira nave, além, é claro, de considerar utilizar a primeira bomba.
Com um belíssimo visual e ação de extrema qualidade, o diretor Danny Boyle lança mão do sci-fi para construir em “Sunshine” uma trama de suspense psicológico que promove uma verdadeira viagem à mente humana. Nesse intuito, ele ainda se vale de um elenco competente, com nomes como Cillian Murphy, Chris Evans, Rose Byrne, Benedict Wong e Mark Strong.
Lunar (2009), de Duncan Jones
Duncan Jones fez sua estreia na direção de um longa-metragem com o instigante drama de ficção científica “Lunar”, sobre um homem (Sam Rockwell) que passa por uma crise pessoal quando está prestes a chegar ao final de uma missão de três anos no lado oculto da Lua, tendo em sua companhia apenas o robô GERTY (voz de Kevin Spacey). Devido ao isolamento por tanto tempo, o protagonista, ansioso por reencontrar a família, começa a demonstrar um comportamento paranoico. A situação se agrava quando ele, ao sofrer um acidente na superfície lunar, descobre a existência de um clone seu.
Gravidade (2013), de Alfonso Cuarón
Em 2013, o diretor mexicano Alfonso Cuarón fascinou as plateias do mundo todo com a imensa qualidade de “Gravidade”, que lhe rendeu o Oscar de Melhor Diretor. Muito do sucesso da obra advém da habilidade do cineasta em mesclar suspense, aventura e drama em uma jornada realmente cativante. Como consequência, a produção foi indicada a outros nove Oscars, tendo vencido sete estatuetas, incluindo Melhor Trilha Sonora para Steven Prince, Fotografia para Emmanuel Lubezki e Efeitos Visuais.
A trama traz Sandra Bullock – cuja excelente performance lhe rendeu uma indicação ao prêmio da Academia de Melhor Atriz – como uma engenheira médica, e George Clooney como um veterano astronauta. Após um desastre envolvendo o ônibus espacial Explorer, enviado para realizar reparos no telescópio Hubble, os dois passam a lutar pela sobrevivência em meio à imensidão espacial. Em uma provável referência a “Apollo 13: Do Desastre ao Triunfo”, Ed Harris também integra o elenco, interpretando o responsável pela Missão em Houston, no Texas.
Ainda a respeito de “Gravidade”, James Cameron chegou a classificá-lo como o melhor filme de espaço já feito.
Interestelar (2014), de Christopher Nolan
Depois do encerramento da aclamada trilogia “O Cavaleiro das Trevas”, o diretor Christopher Nolan resolveu se aventurar na seara da ficção científica espacial. Em “Interestelar”, cuja trama é ambientada em um futuro incerto, uma equipe de astronautas viaja através de um buraco de minhoca, depois que as reservas naturais da Terra entram em processo de esgotamento, no intuito de encontrar um novo habitat para a espécie humana. A missão é liderada por Cooper (Matthew McConaughey), que sofre por saber que poderá nunca mais ver sua filha.
Com muitas surpresas e reviravoltas, “Interestelar” abarca uma quantidade impressionante de temas a serem discutidos: capacidade empreendedora da espécie humana, desperdício, solidão, necessidade de um lar, papel do homem no universo, etc. O longa oferece ao seu espectador momentos de reflexão, contemplação, emoção e muita ação. Além disso, os efeitos visuais, ganhadores do Oscar, são de primeira qualidade, assim como a trilha sonora de Hans Zimmer. Tudo isso capitaneado por um elenco do mais alto nível: além de McConaughey, tem Anne Hathaway, Jessica Chastain, Mackenzie Foy, John Lithgow, Michael Caine, Casey Affleck, Timothée Chalamet, Matt Damon e Ellen Burstyn.
The Last Man on the Moon (2014), de Mark Craig
Dirigido por Mark Craig, o documentário histórico “The Last Man on the Moon” traz o relato do astronauta Eugene Cernan, último homem a pisar na Lua, quarenta anos depois de deixar sua marca e as iniciais de sua filha no solo lunar em dezembro de 1972, durante sua participação na Missão Apollo.
Perdido em Marte (2015), de Ridley Scott
Em 2015, Ridley Scott, que já havia dirigido “Alien: O Oitavo Passageiro”, retornou, com qualidade, a explorar as desventuras do ser humano a esmo no espaço. Dessa vez, com “Perdido em Marte”, ele apostou até mesmo em elementos cômicos para conseguir cativar a plateia. E, felizmente, conseguiu. A obra foi aclamada por público e crítica, tornando-se o trabalho mais rentável da carreira de Scott.
Baseado no romance “The Martian”, de Andy Weir, “Perdido em Marte” mostra a incômoda situação a que é submetido o astronauta Mark Watney (Matt Damon, indicado ao Oscar por seu excelente desempenho), deixado no planeta vermelho por sua equipe logo após um acidente que a fez acreditar que ele estivesse morto. A partir de então, ele passa a registrar seu cotidiano no inóspito ambiente por meio de vídeos. Como meio de sobreviver, ele recorre à ciência, utilizando seus conhecimentos de botânica das maneiras mais inusitadas possíveis.
O Primeiro Homem (2018), de Damien Chazelle
Dirigido por Damien Chazelle, “O Primeiro Homem” é um filme biográfico baseado no livro homônimo escrito por James R. Hansen. A narrativa conta a história de Neil Armstrong (Ryan Gosling), primeiro homem a pisar na lua, e da missão da NASA que lhe proporcionou essa experiência, ocorrida em 1969.
O curioso é que, embora a chegada à Lua seja o objetivo, a trama de “O Primeiro Homem” não se resume a isso, focando também em como foram empreendidos os múltiplos esforços para a realização da jornada, desde a sua preparação até a sua conclusão. Diferente da maioria dos exemplares sobre corrida espacial, o foco está direcionado a cenas internas, situadas dentro dos foguetes espaciais. Dessa forma, os principais temas abordados são a enorme quantidade de riscos que envolvem uma empreitada dessa natureza, e a loucura que uma missão desse tamanho pode gerar em seus envolvidos.
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Não nos faltam opções quando o assunto é filmes no espaço, mas os maiores destaques sempre acabam sendo os diferentes temas que tais produções abordam. “Ad Astra – Rumo às Estrelas” já está em cartaz no Brasil. Assista ao trailer e leia nossa crítica.