Cinema com Rapadura

Colunas   segunda-feira, 05 de agosto de 2019

Do Assassino do Zodíaco a Ted Bundy – 8 serial killers retratados no cinema

Com o retorno da série "Mindhunter" e um recente filme sobre Ted Bundy, conheça algumas das mentes mais perturbadas que o cinema já recriou.

O cinema sempre teve interesse pelo crime. Talvez por isso seja tão comum nos depararmos com filmes que contam histórias de assassinos em série. Sejam eles inspirados em algum criminoso real ou não, o simples conceito de uma pessoa que tem compulsão por um crime tão bárbaro é uma premissa que sempre rendeu bons filmes. Alfred Hitchcock abraçou a ideia em um de seus primeiros longas, “O Pensionista”, de 1927. Levemente inspirado nos crimes de Jack, o Estripador, o filme definiu a temática principal das obras do mestre do suspense.

Não são raros os casos de assassinos em série que acabam inspirando diretores e roteiristas a criarem as mais tenebrosas narrativas do audiovisual. Com um filme e uma série sobre Ted Bundy sendo lançadas com um curto intervalo de tempo, o Cinema com Rapadura preparou uma lista com alguns serial killers cujos crimes foram levados para o audiovisual.

Ted Bundy

Começando pelo já citado Theodore Robert Bundy, seus primeiros crimes possivelmente ocorreram em 1974. É difícil dizer ao certo se ele já havia cometido algum crime anteriormente, pois diversos casos atribuídos a ele, nunca foram confessados. Suas vítimas eram mulheres sempre com a mesma idade e aparência. Ted Bundy, como era conhecido, tinha um perfil amigável (chegou a trabalhar em um centro de atendimento a suicidas) e estava acima de qualquer suspeita. Seus crimes foram cometidos enquanto esteve casado e sempre demonstrou ser um marido e padrasto exemplar.

Por ter se tornado tão icônico, existem diversos filmes, documentários e séries inspirados em seus crimes. O recente “Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal”, busca abordar o lado mais conhecido daqueles que conviveram com o assassino, mostrando que para cometer crimes bárbaros não é preciso ser um “monstro”. A Netflix também disponibilizou recentemente uma mini-série documental, com diversas entrevistas, imagens do julgamento e detalhes dos crimes cometidos por ele.

Em “Ted Bundy”, de 2002, temos uma história que acompanha o criminoso de maneira menos nada ambígua, acompanhando alguns dos assassinatos cometidos por ele. O filme aborda seus dias como estudante e segue até a sua execução em 1989 ,e teve Michael Reilly Burke no papel do serial killer. Por fim, “The Deliberate Stranger”, de 1986, é uma minissérie que adapta um livro homônimo escrito por Richard W. Larsen.

John Wayne Gacy

John Gacy também não levantava suspeitas entre as pessoas com quem convivia. Embora ele já tivesse sido preso em 1968 por abuso sexual, até que a polícia descobrisse os corpos enterrados em sua casa, em 1977, nenhuma das vítimas de tortura e assassinato puderam ser ligadas a ele. John Gacy era conhecido como um homem caridoso e se fantasiava de Palhaço Pogo para entreter festas beneficentes, o que mais tarde iria lhe render o apelido de Palhaço Assassino. Ele confessou ter cometido 33 assassinatos, embora a polícia acredite que o número total seja maior. 

Em 1992, foi lançado “À Procura de um Assassino”, filme que é bem fiel aos fatos da vida de Gacy, mostrando como a polícia ignorou o perigo, mesmo estando ciente do histórico do serial killer. Em 2003, um filme muito inferior reconta a vida do criminoso. Com o título de “Gacy” e uma abordagem mais apelativa, a obra tem mais interesse em glamourizar os crimes do Palhaço Assassino do que desenvolver uma trama.

João Acácio Pereira da Costa

Embora o cinema nacional não tenha o mesmo interesse que Hollywood por serial killers, não faltam criminosos que cometeram crimes tão cruéis quanto os que vemos nos filmes gringos. Porém, um caso daqui ganhou destaque. João Acácio Pereira da Costa nasceu em São Francisco do Sul (SC) e é responsável por quatro assassinatos, sete tentativas de homicídio, estupros e 77 roubos em São Paulo. Ele foi preso em Curitiba (PR), em 1967.

Quando o diretor Rogério Sganzerla ficou sabendo do criminoso, não precisou ter muito trabalho para adaptar um roteiro que já possuía em “O Bandido da Luz Vermelha”. O filme é uma versão romantizada dos crimes de João Acácio e o título é uma referência ao apelido que ele recebeu por invadir as casas durante a madrugada com uma lanterna com bocal vermelho, sua principal marca. Este filme acabou se tornando uma das principais obras do Cinema Marginal.

Ed Gein

Edward Theodore Gein teve uma vida muito peculiar e nutria um sentimento perturbado pela mãe. Como em diversos outros casos, era um vizinho exemplar e amigável, embora um pouco recluso. Após ser preso, a polícia encontrou em sua casa um cenário de filme de terror (literalmente), com roupas feitas de pele humana e móveis feitos de ossos. Antes de cometer o primeiro assassinato, Ed Gein começou a desenterrar corpos, sempre procurando em obituários os mais recentes. O primeiro assassinato foi uma tentativa de ter um “corpo mais fresco” para poder confeccionar um traje especial. Ele foi condenado à prisão perpétua por ter cometido dois assassinatos, embora a polícia acredite que ele foi responsável por outros cinco também.

O Ed Gein é um caso à parte nas adaptações de serial killers para o cinema. Embora existam diversos filmes inspirados diretamente nos seus crimes e na sua vida pessoal, ele é mais lembrado por três obras específicas e nenhuma dela o apresenta como personagem. Ao ficar sabendo dos crimes de Gein, o escritor Robert Bloch decidiu escrever um livro vagamente inspirado no caso, focando, principalmente, no fascínio do criminoso pela mãe. Em 1959, ele lançou o livro “Psicose” que foi adaptado para o cinema no ano seguinte por Alfred Hitchcock. Em 1974, Tobe Hooper lança “O Massacre da Serra Elétrica” e na casa da família de canibais, é possível ver uma reconstituição relativamente fiel (ao menos nos móveis) do que a polícia descobriu ao vasculhar a residência de Eddie Gein. Por fim, o livro “O Silêncio dos Inocentes”, de Thomas Harris, inspirou o filme homônimo e tem como vilão o serial killer conhecido como Buffalo Bill, que também costurava roupas com pele humana para vesti-las depois.

Jeffrey Lionel Dahmer

Uma das mentes mais perturbadas dentre os serial killers (o que não é pouca coisa), Jeffrey Dahmer dava indícios da sua sociopatia desde pequeno, quando torturava e matava animais. O mais famoso canibal dos Estados Unidos tinha um ritual sofisticado e cruel, tendo até mesmo aplicado injeções com ácido muriático ou água quente no cérebro de suas vítimas, em uma tentativa de lobotomizá-las para as transformar em escravas sexuais. Suas vítimas eram homens homossexuais que eram atraídos até o seu apartamento, sem ter a menor ideia do terror que os aguardava. 

Sua vida inspirou alguns filmes, mas poucos com alguma qualidade ou que consigam ir além do gore, facilitado pelos seus crimes. Isto pode ser visto em “Dahmer – O Canibal de Milwaukee”, de 1993, e em “Dahmer”, filme mais famoso do assassino, com Jeremy Renner no papel principal. Em “Dahmer vs. Gacy” houve uma tentativa de construir o “assassino perfeito” misturando o DNA desses dois serial killers. Existe também uma minissérie documental de dois episódios, com entrevistas de várias pessoas que conviveram com ele. 

Por fim, em 2017, foi lançado o filme “O Despertar de Um Assassino”, filme que adapta a HQ “Meu Amigo Dahmer”, do quadrinista Derf Backderf. Ele foi colega de escola e amigo próximo de Dahmer e conta como foi seu relacionamento antes dele se tornar um serial killer. Tanto o filme quanto a HQ se destacam das demais obras por não se sustentarem na violência dos crimes, mas na psicologia do criminoso.

Aileen Carol Wuornos

Mulheres representam menos de 10% do total de serial killers conhecidos. Porém uma delas ganhou notoriedade por seus crimes (e por ter recebido uma adaptação ao cinema). Aileen Wuornos foi presa em 1991 e condenada à morte pelo assassinato de seis homens (a sétima vítima nunca foi encontrada, embora ela tenha confessado o crime). Como boa parte dos serial killers, na sua infância ela sofreu diversos tipos de violência e abusos. Aileen começou a se prostituir cedo e seus crimes foram cometidos com homens que, inicialmente, disse terem agredido ela (posteriormente ela mudou este depoimento).

Em 2003, um ano após sua execução, Patty Jenkins dirigiu e roteirizou sua cinebiografia, “Monster – Desejo Assassino”. A obra passa por alguns dos momentos chaves da sua vida e teve Charlize Theron no papel principal. A atuação rendeu à atriz uma estatueta do Oscar no ano seguinte.

Andrei Romanovich Chikatilo

Saindo novamente dos Estados Unidos, houve outro serial killer conhecido pela violência extrema. Andrei Chikatilo, conhecido também como o Açougueiro de Rostov, foi responsável pelo assassinato de 53 pessoas na União Soviética. Seguindo o perfil de boa parte dos serial killers, tinha uma vida exemplar, era bom marido, pai e profissional. Diplomado em artes liberais, literatura russa e engenharia, Chikatilo era um intelectual que, embora tenha sido preso abordando mulheres e de posse de uma mala com uma corda, vaselina e uma faca afiada, foi solto por nunca ter sido associado aos crimes cometidos. Este erro custou a vida de dezenas de crianças e jovens mulheres por mais de uma década. Seus métodos eram tão extremos que o sexo de uma das vítimas só foi descoberto depois de um exame detalhado. Em outro caso a polícia acreditou ter sido um acidente em que a vítima teria sido atropelada por uma máquina agrícola.

Seus crimes deram origem a dois filmes. O primeiro, lançado em 1995, é “Cidadão X” e adapta o livro homônimo de Robert Cullen. A obra acompanha as investigações para encontrar o criminoso ao mesmo tempo que mostra detalhes perturbadores da sua vida íntima. Em 2004, foi a vez de “Evilenko”, com Malcolm McDowell no papel principal.

Zodíaco 

O caso do Zodíaco se tornou famoso devido ao sucesso do assassino em enganar a polícia. Além de não possuir um “método” como é comum em serial killers, o Zodíaco tinha o costume de enviar cartas aos jornais, relatando detalhe dos seus crimes. Ele também ligava para a polícia para revelar o local do assassinato. Uma dessas ligações foi feita de um telefone público na frente da delegacia para onde estava ligando. Em outro caso, após ter assassinado um taxista, enquanto os policiais faziam buscas pela região, acredita-se que uma das pessoas que foram abordadas tenha sido o próprio Zodíaco. Seus crimes foram cometidos em vésperas de (ou durante) feriados. Diversos suspeitos foram investigados, todos com várias evidências mas nenhuma prova concreta que os relacionasse aos crimes.

Diversos filmes foram inspirados em seus crimes, como “The Zodiac Killer”, de 1971, “Fúria Assassina”, de 1996, “O Zodíaco” e “Assassino do Zodíaco”, ambos de 2005. Porém, o filme de maior destaque é “Zodíaco”, lançado em 2007, com direção de David Fincher e com Jake Gyllenhaal, Robert Downey Jr. e Mark Ruffalo no elenco, sendo relativamente fiel aos acontecimentos que envolvem o assassino.

Existem ainda outras obras que são inspiradas em criminosos reais. Documentários, filmes e séries abordam as mais variadas possibilidades, incluindo serial killers fictícios, como em “Seven – Os Sete Crimes Capitais”, também de David Fincher. O cineasta também é responsável pela produção de “Mindhunter”, série em que dois agentes do FBI trabalham na Unidade de Ciência Comportamental entrevistando serial killers notórios para resolver casos em andamento. A segunda temporada chega ao catálogo da Netflix no dia 16 de agosto.

Robinson Samulak Alves
@rsamulakalves

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