Cinema com Rapadura

Colunas   quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

As surpresas do Oscar 2019: quem ficou de fora e quem surpreendeu nas indicações

Depois de conhecer os concorrentes aos prêmios máximos do cinema, descubra agora alguns dos que mereciam uma chance de figurar no Oscar 2019.

Após a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos divulgar na última terça-feira (22/01) os indicados ao Oscar 2019, as especulações e críticas já começaram entre os amantes da sétima arte. Muitos dos principais filmes e artistas da temporada receberam suas indicações como era previsto, com filmes como “A Favorita“, “Vice“, “Nasce Uma Estrela” e “Infiltrado na Klan” dominando em número de nomeações.

Mesmo com algumas indicações sendo esperadas, houve quem ficasse de fora – alguns das principais categorias e outros por completo. Dentre as maiores decepções, “O Primeiro Homem” e “Se a Rua Beale Falasse” lideram a lista, ambos ficando de fora das categorias principais e recebendo indicações técnicas – à exceção de Regina King, indicada a Melhor Atriz Coadjuvante. Outra grande decepção foi a falta de mulheres indicadas às categorias principais. Mesmo com 25% de indicações nas categorias de bastidores, a ausência de mulheres entre os indicados à Melhor Direção vem causando críticas à Academia.

Mas e quem vinha tendo destaque nas demais premiações, ou os filmes que receberam boas críticas e bilheteria que não foram indicados? Para todos ficarem em dia com esse debate, o Cinema com Rapadura reuniu as maiores surpresas na corrida pela estatueta dourada.

Melhor Filme

Foram indicados: “Infiltrado na Klan“, “Pantera Negra“, “Bohemian Rhapsody“, “A Favorita“, “Green Book – O Guia“, “Roma“, “Nasce Uma Estrela” e “Vice“.

Ficaram de fora: “O Primeiro Homem“, “Se a Rua Beale Falasse“, “Poderia Me Perdoar?“, “Sem Rastros“, “Você Nunca Esteve Realmente Aqui” e “Boy Erased – Uma Verdade Anulada“.

Sem ter um número fixo de indicações, é difícil prever quantos filmes de fato estarão na categoria de Melhor Filme. Em 2019, a Academia optou por nomear apenas oito, ao contrário dos nove de 2018. A lista mais enxuta causou controvérsia, principalmente com a indicação de “Bohemian Rhapsody” – apesar da vitória no Globo de Ouro, o longa era considerado carta fora do baralho por boa parte da mídia especializada. Em contrapartida, filmes como “O Primeiro Homem” e “Se a Rua Beale Falasse” eram tidos como certos devido ao conjunto de suas obras, mas acabaram de fora. “Poderia Me Perdoar?“, “Sem Rastros” e “Você Nunca Esteve Realmente Aqui” vinham causando bastante impacto nas demais premiações, com os dois últimos sendo fortes na cena mais independente. Ainda assim, não foi o suficiente para lhes dar visibilidade dentro da Academia.

Melhor Direção

Foram indicados: Alfonso Cuarón (“Roma“), Yorgos Lanthimos (“A Favorita“), Spike Lee (“Infiltrado na Klan“), Adam McKay (“Vice“) e Pawel Pawlikowsky (“Guerra Fria“).

Ficaram de fora: Bradley Cooper (“Nasce Uma Estrela“), Paul Schrader (“No Coração da Escuridão“), Ryan Coogler (“Pantera Negra“), Lynne Ramsay (“Você Nunca Esteve Realmente Aqui“), Debra Granik (“Sem Rastros“) e Marielle Heller (“Poderia Me Perdoar?“).

A principal surpresa foi a ausência de Bradley Cooper entre os indicados. Mesmo estreante, seu trabalho em “Nasce Uma Estrela” foi consistente, angariando bastante apoio do público. Há quem diga também que Ryan Coogler e Paul Schrader mereceriam indicações por seus trabalhos, mas com uma lista limitada, alguns favoritos certamente teriam que ficar de fora. A grande questão nesta categoria é, no entanto, a ausência de mulheres. Após a indicação de Greta Gerwig em 2018, esperava-se que a Academia fosse pelo menos manter uma diretora na lista. E não foi por falta de candidatas, dado que a temporada teve forte presença feminina com filmes de altíssima qualidade, como Debra Granik em “Sem Rastros“, Lynne Ramsay em “Você Nunca Esteve Realmente Aqui” e Marielle Heller em “Poderia Me Perdoar?“. Mais uma vez a Academia deixa a desejar em termos de igualdade de gênero.

Melhor Ator

Foram indicados: Christian Bale (“Vice“), Bradley Cooper (“Nasce Uma Estrela“), Rami Malek (“Bohemian Rhapsody“), Viggo Mortensen (“Green Book – O Guia“) e Willem Dafoe (“At Eternity’s Gate“).

Ficaram de fora: John David Washington (“Infiltrado na Klan“), Ben Foster (“Sem Rastros“), Ethan Hawke (“No Coração da Escuridão“), Joaquin Phoenix (“Você Nunca Esteve Realmente Aqui“) e Lucas Hedges (“Boy Erased – Uma Verdade Anulada“).

Talvez a categoria com mais nomes deixados de fora, sendo possível até mesmo preencher uma nova lista inteira. Com o número limitado de indicações, naturalmente contemplar todos seria impossível. Ainda assim, a ausência de John David Washington surpreende, dado que ele entregou performances dignas em “Infiltrado na Klan“, vendo, inclusive, seu coadjuvante ser indicado, mas ele não. Ben Foster e Ethan Hawke vinham recebendo elogios durante as premiações independentes, havendo quem considerasse suas atuações as melhores das respectivas carreiras. Nesse sentido, a indicação de Rami Malek e de Willem Dafoe surpreendem, pois corriam por fora na disputa.

Melhor Atriz

Foram indicados: Yalitza Aparicio (“Roma“), Glenn Close (“A Esposa“), Olivia Colman (“A Favorita“), Lady Gaga (“Nasce Uma Estrela“) e Melissa McCarthy (“Poderia Me Perdoar?“).

Ficaram de fora: Toni Collette (“Hereditário“), Elsie Fisher (“Oitava Série“) e Emily Blunt (“O Retorno de Mary Poppins“).

Em um ano sem Meryl Streep concorrendo, a competição tende sempre a ser mais acirrada. Com Yalitza Aparicio, Olivia Colman, Lady Gaga e Glenn Close com vagas praticamente garantidas na indicação, o difícil era prever quem poderia ficar com o quinto posto. Muitos especulavam que Toni Collette mereceria uma indicação por “Hereditário“, terror que tem em sua atuação um dos pontos altos. Ainda assim, a novata Elsie Fisher, excelente no papel de uma pré-adolescente em “Oitava Série“, e Emily Blunt, muito elogiada por sua performance em “O Retorno de Mary Poppins“, também estavam fortes na briga. A vaga acabou indo para Melissa McCarthy, que se distanciou um pouco da comédia e entregou uma atuação dramática consistente em “Poderia Me Perdoar?“.

Melhor Ator Coadjuvante

Foram indicados: Mahershala Ali (“Green Book – O Guia“), Adam Driver (“Infiltrado na Klan“), Sam Elliott (“Nasce Uma Estrela“), Richard E. Grant (“Poderia Me Perdoar?“) e Sam Rockwell (“Vice“).

Ficaram de fora: Timothée Chalamet (“Querido Menino“) e Michael B. Jordan (“Pantera Negra“).

A ausência de Timothée Chalamet causou fúria nas redes sociais durante o anúncio, e até agora causa surpresa. Sua presença nas demais premiações o tornava figura quase certa no Oscar, principalmente em vista de sua performance poderosa em “Querido Menino“. Outro que perto de surpreender foi Michael B. Jordan. Com “Pantera Negra” indicado a Melhor Filme, indicações para elenco não seriam estranhas. Para muitos, o Erik Killmonger de Jordan vem como o melhor vilão de um filme do gênero desde o Coringa de Heath Ledger em “O Cavaleiro das Trevas“, de 2008.

Melhor Atriz Coadjuvante

Foram indicados: Amy Adams (“Vice“), Regina King (“Se a Rua Beale Falasse“), Emma Stone (“A Favorita“), Rachel Weisz (“A Favorita“) e Marina de Tavira (“Roma“).

Ficaram de fora: Claire Foy (“O Primeiro Homem“) e Nicole Kidman (“Boy Erased – Uma Verdade Anulada“).

A atriz Claire Foy vem conquistando cada vez mais espaço na indústria do entretenimento nos últimos anos. Mais conhecida por interpretar a rainha Elizabeth II na série “The Crown“, seu salto para o cinema em “O Primeiro Homem” lhe rendeu logo de cara elogios da crítica e dos fãs, além de indicações para os diversos prêmios da temporada. Mas isso não se repetiu no Oscar, com ela perdendo a indicação para Marina de Tavira, por “Roma“. Nicole Kidman corria por fora por seu papel em “Boy Erased – Uma Verdade Anulada“, o que se confirmou na lista.

Melhor Roteiro Original

Foram indicados: “A Favorita“, “Green Book – O Guia“, “Roma“, “Vice” e “No Coração da Escuridão“.

Ficaram de fora: “Oitava Série” e “Um Lugar Silencioso“.

Nesta categoria, a Academia preferiu indicar sem surpresas a se arriscar com roteiros mais inventivos e inovadores. “Oitava Série” e “Um Lugar Silencioso” tiveram ambos críticas muito positivas; o primeiro marca a estreia do youtuber Bo Burnham como roteirista e diretor, e conta a história de uma jovem tentando navegar em uma pré-adolescência solitária na era da internet e das redes sociais. Já o segundo foi também um grande sucesso comercial, apresentando um roteiro criativo e inovador para o gênero do terror.

Melhor Roteiro Adaptado

Foram indicados: “Infiltrado na Klan“, “Poderia Me Perdoar?“, “Se a Rua Beale Falasse“, “Nasce Uma Estrela” e “The Ballad of Buster Scruggs“.

Ficaram de fora: “Pantera Negra” e “O Primeiro Homem“.

Quando uma obra é indicada é indicada a Melhor Filme, é de se esperar que ela receba também indicações de direção, elenco e roteiro. Não foi o caso de “Pantera Negra“, entretanto. Apesar de ser o único filme de super-heróis indicado ao prêmio máximo, não figurar entre os indicados a Roteiro Adaptado é no mínimo estranho. “O Primeiro Homem” decepciona, ficando de fora de todas as categorias principais apesar do olhar introspectivo que imprime sobre um dos personagens mais emblemáticos da história americana no século XX, Neil Armstrong.

Filme Estrangeiro

Foram indicados: “Cafarnaum” (Líbano), “Guerra Fria” (Polônia), “Roma” (México), “Assunto de Família” (Japão) e “Nunca Deixe de Lembrar” (Alemanha).

Ficaram de fora: “Em Chamas” (Coréia do Sul)

A Coreia do Sul tem uma tradição cinematográfica forte, com diversos filmes alcançando sucesso comercial e de crítica nas Américas e na Europa, mas nunca teve um filme indicado ao Oscar de Filme Estrangeiro. Tudo estava alinhado para mudar em 2019 com a indicação de “Em Chamas“, que manteve essa tradição de sucesso. O longa conta até com um astro conhecido do público americano, Steve Yeun (da série “The Walking Dead“), mas nada disso contou a seu favor, e a obra acabou não recebendo a indicação que todos esperavam.

Melhor Fotografia

Foram indicados: Lukasz Zal (“Guerra Fria“), Robbie Ryan (“A Favorita“), Alfonso Cuarón (“Roma“), Caleb Deschanel (“Nunca Deixe de Lembrar“) e Matthew Libatique (“Nasce Uma Estrela“).

Ficaram de fora: Linus Sandgren (“O Primeiro Homem“) e James Laxton (“Se a Rua Beale Falasse“).

Um fato curioso: dentre os filmes indicados a Melhor Fotografia, três são estrangeiros (“Guerra Fria“, “Roma” e “Nunca Deixe de Lembrar“). Chama atenção o fato de a Academia, uma entidade norte-americana, ir buscar em referências estrangeiras seus indicados. A indicação de Alfonso Cuarón por “Roma” era tida como certa pelo trabalho impecável e controle que a função lhe permitiu exercer sobre o filme. Mas as indicações de Caleb Deschanel e Lukasz Zal acarretaram na ausência de Linus Sandgren, de “O Primeiro Homem“, e James Laxton, de “Se a Rua Beale Falasse“, ambos reconhecidos pela excelência de seus trabalhos – em duas produções americanas, diga-se de passagem.

Melhor Trilha Sonora

Foram indicados: Terence Blanchard (“Infiltrado na Klan“), Ludwig Göransson (“Pantera Negra“), Nicholas Britell (“Se a Rua Beale Falasse“), Alexandre Desplat (“Ilha de Cachorros“) e Marc Shaiman (“O Retorno de Mary Poppins“).

Ficaram de fora: Justin Hurwitz (“O Primeiro Homem“).

Vencer o Globo de Ouro nem sempre é um bom presságio para alguém que quer disputar o Oscar, como foi o caso de Justin Hurwitz em “O Primeiro Homem“. Apesar de ter sido amplamente elogiado por seu trabalho, com a trilha sonora sendo certamente um dos pontos altos, sua não indicação talvez tenha sido a maior decepção relativa ao filme nesta edição.

Melhores Efeitos Visuais

Foram indicados: “O Primeiro Homem“, “Vingadores: Guerra Infinita“, “Christopher Robin – Um Reencontro Inesquecível“, “Jogador Nº1” e “Han Solo: Uma História Star Wars“.

Ficaram de fora: “Pantera Negra“.

A categoria mais destoante das demais em termos de indicações, mas nem por isso se desmerecem os candidatos. Dois dos filmes fazem largo uso de captura de movimentos, como “Vingadores: Guerra Infinita” e “Jogador Nº1“. Um criou personagens novos que interagem com os humanos como se fossem de verdade (“Christopher Robin – Um Reencontro Inesquecível“) e outro manteve toda a reputação de excelência da saga “Star Wars” em termos de efeitos especiais, ainda que fosse um filme fraco nos demais quesitos (“Han Solo: Uma História Star Wars“). Apenas “O Primeiro Homem” fez uso mais comedido de seus efeitos, mas não menos certeiros. Largamente contemplado nas demais categorias técnicas, “Pantera Negra” fica de fora em Efeitos Visuais, perdendo para seu colega de Marvel Studios.

Melhor Documentário

Foram indicados: “Free Solo“, “Minding the Gap“, “RBG“, “Sobre Pais e Filhos” e “Hale County This Morning, This Evening“.

Ficaram de fora: “Won’t You Be My Neighbor?“.

A afirmação pode causar espanto, mas a maior surpresa deste Oscar foi a não indicação de “Won’t You Be My Neighbor?” na categoria Melhor Documentário. Tido pela esmagadora maioria da crítica como um dos melhores filmes do ano, ele figurou em praticamente todas as listas de premiações das quais fez parte. Trazendo o retrato de um dos maiores ícones da televisão norte-americana, o apresentador Fred Rogers (mais conhecido apenas como “Mr. Rogers”), a obra mandou seu público de volta à infância e aos programas matinais que ele apresentava. Até mesmo o ex-presidente americano Barack Obama destacou o filme em sua lista anual de melhores do ano. Há ainda uma cinebiografia do apresentador em produção, com ninguém menos que Tom Hanks no papel principal, o que certamente colaboraria para chamar atenção ao documentário. Mas nada disso pareceu atingir a Academia, que o ignorou sumariamente.

A cerimônia de entrega do Oscar ocorrerá no dia 24 de fevereiro, no Teatro Dolby em Los Angeles, Califórnia. O Cinema com Rapadura tem preparada uma cobertura especial para este ano, então fique ligado!

Julio Bardini
@juliob09

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