Cinema com Rapadura

Colunas   domingo, 25 de novembro de 2018

Sete diretoras que poderiam agitar o cenário de terror da Blumhouse

Após a infeliz declaração de Jason Blum sobre a falta de mulheres dispostas a dirigir um longa de terror, elaboramos uma lista com sete sugestões de mulheres que seriam excelentes aquisições para dirigir filmes de terror da Blumhouse.

Inicialmente uma produtora lado B que se encarregava de filmes de baixo orçamento, hoje, a Blumhouse é referência quando o assunto é terror. Fundada por Jason Blum em 2000, a produtora já emplacou dois de seus filmes na lista dos indicados ao Oscar de Melhor Filme: “Whiplash” e “Corra!“.

Recentemente, durante a divulgação de “Halloween“, novo longa produzido pelo estúdio, Blum foi questionado sobre o motivo pelo qual ainda não há diretoras mulheres trabalhando nos filmes da produtora. Sua resposta não foi muito feliz:

“Não há muitas diretoras mulheres, ponto, e há ainda menos que estejam dispostas a fazer um filme de terror. Eu sou um grande admirador de Jennifer Kent [diretora de ‘Babadook’]. Já ofereci a ela todos os filmes que temos disponíveis. Ela sempre me rejeita.”

Posteriormente, o produtor pediu desculpas pelas declarações. Mas será que, realmente, não há diretoras que trabalhem com o gênero do terror? Seria isso possível?

Alerta de spoiler: ele, de fato, está extremamente equivocado.

Diferente da crença e do estigma de que a maioria das mulheres são delicadas, sensíveis e que não têm estômago para filmes de terror, grande parte dos amantes deste gênero são do sexo feminino. E apesar de não terem o mesmo reconhecimento que os homens, há diversas mulheres incríveis que já dirigem longas de terror.

Pensando nisso, o Cinema Com Rapadura elaborou uma lista com sete sugestões de diretoras que poderiam encabeçar um projeto na Blumhouse. Aperte o play, prepare a pipoca (se tiver estômago!) e boa diversão!

Ana Lily Amirpour

Apesar da pouca experiência em longa metragens, esta diretora inglesa já tem um currículo impressionante. Após sua estreia no aclamado noir vampiresco “Garota Sombria Caminha pela Noite“, Ana Lily Amirpour emplacou “Amores Canibais“, um filme original Netflix que conta no elenco com nomes de peso como Jim Carrey, Jason Momoa e Keanu Reeves. A história se passa em um futuro distópico com um cenário desértico semelhante à “Mad Max“, no qual parte do sul dos Estados Unidos se tornou um “depósito” para pessoas marginalizadas pela sociedade e que ganharam o estigma de “lote estragado”. Abandonadas pelo governo em uma terra sem lei, alguns grupos recorrem ao canibalismo devido à escassez de comida.

O sucesso de seus dois filmes de terror fizeram com que a diretora ficasse à frente de alguns episódios em séries de sucesso como “Castle Rock” e “Legion“. A crueza de seus projetos, associada à sua sensibilidade por trás das câmeras, certamente traria uma aquisição de peso à Blumhouse.

Julia Ducournau

A francesa Julia Ducournau fez sua estreia na direção de longas para o cinema com um dos filmes de terror mais controversos de 2016. “Raw” conta a história de Justine, uma estudante de veterinária vegetariana que como trote de iniciação na faculdade é obrigada a comer carne. Daquele momento em diante, cresce nela um impulso de experimentar carne humana. O filme, que abusa de cenas explícitas de canibalismo, ganhou notoriedade pelos relatos de espectadores que desmaiaram ao assisti-lo nos cinemas.

Na verdade, o filme é uma chocante metáfora para o amadurecimento e o desflorar para a vida adulta. De uma acanhada e insegura adolescente, acompanhamos a transformação de Justine em uma mulher empoderada, que não nega seus desejos ou seus impulsos – por mais terríveis que eles sejam.

A contratação de Ducournau pela Bloomhouse poderia vir para a direção de filmes no estilo gore, nos quais a carnificina impera nas cenas.

Karyn Kusama

Karyn Kusama é uma experiente e versátil diretora de Hollywood. A americana já dirigiu dramas como “Boas de Briga“, aventura como “Aeon Flux” e até mesmo longas de “terrir” (junção entre terror e comédia) trash como “Garota Infernal“.

Mas foi com o sucesso de crítica de seu thriller de terror “O Convite” (2015) que Kusama se solidificou como uma aclamada diretora. O filme  foi indicado a prêmios em diversos festivais dedicados ao terror, como iHorror Awards e Fright Meter Awards. No longa, Will (Logan Marshall-Green) recebe um convite para uma festa na casa que antes dividia com sua ex-mulher. Pouco a pouco, o que parecia uma simples confraternização entre amigos vai se transformando em um evento macabro, quando segredos e tragédias do passado são revelados.

O triunfo de Kusama consiste na tensão e no mistério que a diretora consegue passar para a plateia, que vai desvendando os enigmas junto com o protagonista. “O Convite” é chocante e instigante, e a tensão mantém o espectador vidrado durante todo o longa.

Após o sucesso de “O Convite“, Kusama já dirigiu alguns episódios de séries famosas como “Masters of Sex“, “The Man in the High Castle” e “Billions“. Na Blumhouse, a diretora poderia ficar a cargo de thrillers como “Fragmentado“.

Mary Harron

O segundo longa-metragem dirigido por esta diretora canadense foi nada menos que “Psicopata Americano” (2000), adaptação do livro homônimo de Bret Easton Ellis e um clássico instantâneo para os amantes do gênero. No longa, Patrick Bateman (Christian Bale) aparenta ser apenas mais um rico e esnobe executivo de Wall Street, em Nova York. Mas na verdade, Patrick luta para esconder sua psicopatia, quando sua sede de sangue fica cada vez mais pulsante e incontrolável.

Um diferencial de Harron dentre as demais diretoras desta lista é que ela, em “Psicopata Americano“, ficou à frente de uma obra na qual, além de não haver protagonistas mulheres, o sexo feminino é maltratado e desprezado o tempo inteiro. Normalmente, pela falta de representatividade usual na indústria cinematográfica, as diretoras procuram obras que tratam de emponderamento, com protagonistas femininas, ou de alguma outra temática relacionada ao universo feminino. “Psicopata Americano“, entretanto, é uma crítica sobre como o individualismo, a soberba e, eventualmente, os transtornos antissociais são comportamentos incentivados e recompensados em nossa sociedade, já que são quase pré-requisitos para a ocupação de cargos de liderança em diversas empresas e corporações. Para passar essa mensagem, o filme utiliza-se de um homem branco misógino que menospreza e agride as mulheres.

Mas isso não é algo ruim. Harron mostra com o longa que mulheres não precisam ficar estigmatizadas a dirigir tramas exclusivamente com protagonistas femininas ou contendo metáforas sobre o universo feminino. Da mesma forma que os homens podem contar histórias que dizem respeito mais ao sexo feminino, as mulheres são igualmente capazes de dirigir qualquer tipo de narrativa, seja ela sobre emponderamento ou sobre misoginia.

Depois de ficar um tempo fora dos holofotes, Harron voltou em 2017 com a instigante “Alias Grace“, uma minissérie da Netflix sobre uma mulher do século XIX que é acusada de matar seu patrão a sangue frio.

Se trabalhasse para a Blumhouse, a canadense poderia se envolver em projetos com pano de fundo de crítica social, como “Uma Noite de Crime“.

Jennifer Kent

Nenhuma lista estaria completa sem aquela diretora que o próprio Jason Blum disse admirar. Jennifer Kent iniciou sua carreira com atriz. Após perder o interesse na atuação, a australiana se voltou para o trabalho por trás das câmeras. Seu primeiro longa-metragem, “O Babadook“, foi um sucesso de público e crítica, tendo alcançado a nota 86 no Metascore.

Neste filme assustador e angustiante, Amelia (Essie Davis) é uma mãe solteira que cuida de seu filho, Samuel (Noah Wiseman), sozinha após a morte de seu marido. Amelia tem o hábito de ler uma história infantil para Samuel sobre uma criatura intitulada Babadook. Entretanto, o bicho papão ganha vida e começa a aterrorizar os dois.

O Babadook” é uma metáfora sensível e visceral sobre temas que importam às mulheres, como depressão pós parto, solidão e crises na maternidade. O fato de ter sido dirigido por uma mulher fez toda a diferença na forma sensível como a mãe Amelia foi retratada e na abordagem de temáticas tão relevantes e pouco discutidas no cinema.

No estúdio, Kent poderia dirigir obras de terror que servem como metáfora para outros temas mais profundos, como “Corra!“, ou longas de terror psicológico.

Leigh Janiak

A estreia de Janiak na direção foi em um filme sobre uma bizarra lua-de-mel. Em “Honeymoon“, Bea (Rose Leslie, eterna Ygritte de “Game of Thrones“) e Paul (Harry Treadaway) formam um feliz casal que decide passar sua lua-de-mel em um chalé no meio da mata pertencente à família de Bea. No entanto, o que pareciam dias românticos se tornam um pesadelo quando Bea começa a agir de forma cada vez mais estranha.

Honeymoon” consegue manter a curiosidade e a atenção do espectador, na medida em que preserva o suspense por trás da condição de Bea. Estaria ela possuída ou haveria algum outro motivo para o comportamento da jovem?

A cineasta também dirigiu alguns episódios da série de terror “Pânico“, da Netflix, e ficará a cargo do remake do longa homônimo de 1996. Se fosse contratada pela produtora de Jason Blum, Janiak poderia dirigir thrillers ou slashers (subgênero do terror que envolve psicopatas e serial killers que matam aleatoriamente) como “Halloween“, “Verdade ou Consequência” ou “A Morte Te Dá Parabéns“.

Lynne Ramsay

Esta é a diretora que provavelmente teria menor interesse em trabalhar na Blumhouse. Seus filmes, por mais macabros que sejam, não são enquadrados no gênero do terror.

O primeiro longa de sucesso da escocesa foi o chocante “Precisamos Falar Sobre o Kevin“. Inspirado no livro homônimo de Lionel Shriver, o filme foca inicialmente na relação de Kevin (Ezra Miller) com sua mãe Eva (Tilda Swinton). Em uma narrativa não linear, aos poucos são apresentadas ao espectador as pistas da fatalidade que mudou para sempre a vida dos dois.

Ao assistir o filme, muitas dúvidas surgem quanto às motivações de Kevin. Teria o rapaz nascido com algum transtorno antissocial, ou seria este fruto do desafeto de sua mãe?

Após anos longe das câmeras, a cineasta nos presenteou com “Você Nunca Esteve Realmente Aqui“. Na história, Joe (Joaquin Phoenix) é um veterano de guerra traumatizado que trabalha encontrando meninas desaparecidas. Em um de seus casos, Joe se depara com uma perturbadora e revoltante realidade.

Assim como Jennifer Kent, Ramsay trabalha com temas difíceis e relevantes em suas obras, tendo tratado também de depressão pós-parto em “Precisamos Falar Sobre o Kevin“. A abordagem crua com a qual Ramsay tratou do assunto fez com que o espectador tivesse empatia ora com Eva e ora com o pequeno Kevin, apesar de todo o seu lado manipulador.

Apesar de não ter dirigido longas de terror, suas obras conseguem impactar mais que muitos filmes do gênero. O abuso de câmeras em movimento e poucos diálogos combinariam muito bem com filmes de terror psicológico.

Ao se retratar, Blum expôs que falou sem propriedade e que seu erro o apontou para uma quantidade enorme de mulheres que querem trabalhar com ele. Considerando que 55% do público de seus filmes é composto por mulheres, e que boa parte de suas franquias, como “Halloween” e “A Morte Te Dá Parabéns“, é encabeçada por protagonistas femininas, não faria mal conceder maior representatividade às mulheres por trás das câmeras também.

E para você, qual é a sua diretora de longas de terror favorita? Acha que ela deveria ter uma chance dentro do estúdio? Deixe sua opinião nos comentários!

Boo Mesquita
@boomesquita

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