A reinvenção do terror: 7 filmes recentes que inovaram para surpreender o público
Aproveite o Dia das Bruxas para abraçar o medo de forma segura.
Alguns dos momentos mais assustadores na vida de um indivíduo são proporcionados por cenas de filmes de terror. De forma autônoma, uma pessoa opta por sentar duas horas na frente de uma tela para assistir aos seus medos primários se materializarem. Com mais de um século de trajetória, o gênero marcou época protagonizando alguns dos episódios mais notórios da história do cinema. Desde obras sobrenaturais, com temas macabros, até thrillers, ficções científicas e os tradicionais slasher movies.
Passado o perceptível declínio recente, esses filmes vêm se reinventando de maneira magistral ao mixar conceitos e recentemente voltou a presentear o público com bons projetos. Aproveitando a chegada do Halloween (Dias da Bruxas), o Cinema com Rapadura preparou uma lista com filmes de terror lançados nos últimos anos que fogem do tradicional para assustar o público. Desligue-se da realidade, prepare a pipoca e veja a lista:
Raw (2016)
Hannibal Lecter, em “O Silêncio dos Inocentes”, já anunciava que o sabor da carne humana era delicioso. “Raw” corrobora com esta ideia. A história escrita e dirigida pela francesa Julia Ducournau acompanha a jovem Justine em seus primeiros momentos como caloura do curso de veterinária. Em uma jornada de autodescoberta repleta de metáforas, a menina percorre um caminho de drástica transformação que começa no vegetarianismo e deságua no canibalismo.
O grafismo das cenas é potencializado pelos contrastes de cores fortes e marcantes. O uso progressivo de sangue e a agressividade das ações causam um sentimento contraditório de repulsa e fascínio. Quando colocadas em conflito com as características ingênuas e inocentes da protagonista, estas divergências emocionais se tornam ainda mais fortes. Disponível na Netflix, o longa que fez espectadores passarem mal na exibição realizada no Festival de Toronto, usa o terror e o grotesco para abordar feminismo, o ambiente universitário e o drama do amadurecimento.
Um Lugar Silencioso (2018)
É impossível fazer qualquer lista de terror da década sem incluir um dos filmes mais opressores e angustiantes dos últimos anos. “Um Lugar Silencioso” chegou aos cinemas sem fazer muito barulho (haha), mas não demorou para ser descoberto. Elogiado por críticos e aclamado em diversos festivais ao redor do mundo, o longa conta a história de uma família vivendo em um mundo apocalíptico onde qualquer ruído pode significar a morte.
Produzido com orçamento relativamente baixo, o projeto é dirigido e protagonizado pelo carismático John Krasinski (da série “The Office”), e conta com Emily Blunt (“No Limite do Amanhã”) em uma performance incrível. São 90 minutos de agonia, desespero e angústia transmitidos magistralmente para o público, que não consegue respirar direito até os créditos finais. “Um Lugar Silencioso” é uma daquelas obras que já nasce pronta para entrar na história do cinema.
Verdade ou Desafio (2018)
Repetindo o enredo de quase metade dos filmes de terror dos anos 90, um grupo de jovens ricos e bonitos viaja para exibir seus corpos esculturais em praias utópicas, tomar shots de tequila e aproveitar os últimos momentos juntos antes da aguardada formatura. Na última noite da aventura, o grupo é convencido por um estranho a brincar do jogo verdade ou desafio.
Como era de se esperar, a brincadeira tem consequências trágicas. A partir daí, eles devem executar os desafios e falar a verdade para todas as demandas do jogo. Caso não cumpram ou se recusem a jogar, morrerão. A história clichê empolga pela memória afetiva de outras obras, como “Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão Passado” e a franquia “Pânico”, com pitadas de uma comicidade aparentemente não proposital. As circunstâncias que ocasionam as mortes dos personagens lembram agradavelmente as franquias “Premonição” e “Jogos Mortais”.
Anos-luz distante da qualidade cinematográfica dos clássicos e longe até mesmo dos bons filmes do gênero, esse é um daqueles filmes para assistir em uma noite de sexta com os amigos. O jogo da vez? Tentar adivinhar quem será a próxima vítima.
Ao Cair da Noite (2017)
Uma família sobrevive em um misterioso mundo pós-apocalíptico morando em uma casa no meio da floresta e sem ter contato com ninguém de fora dali. Certo dia, um homem misterioso chega ao local e transforma a vida de todos.
De maneira intensa e provocadora, “Ao Cair da Noite” explora as complexidades das emoções humanas. Até onde o ser humano é capaz de ir para proteger quem ele ama? Não assista ao filme esperando muito sangue, violência e cenas nítidas. Pelo contrário, a obra explora a obsessão e transmite paranoia sem apelar para os recursos habituais de roteiro e horror explícito. Se possível, nem veja o trailer (ele já entrega muita coisa). Mas daremos a opção mesmo assim, caso queira assistir:
A Morte Te Dá Parabéns (2017)
“A Morte Te Dá Parabéns” é a versão sombria e nonsense do divertidíssimo “Dia da Marmota” (os personagens até o referenciam). O enredo acompanha uma estudante universitária que revive em looping o dia do seu aniversário para tentar descobrir a identidade da pessoa quem está tentando (e conseguindo) lhe matar. Com pitadas de humor adolescente, a trama é boba e sem nenhuma pretensão, talvez, por isto, agrade.
Em diversos momentos, o terror fica em segundo plano para dar lugar aos aspectos cômicos e aventureiros. Não espere atuações primorosas, narrativa complexa ou seriedade. Embarque nesta jornada sem expectativas, apenas pelo entretenimento e pelas gargalhadas. É um daqueles longas de terror que poderiam passar tranquilamente no finado sessão da tarde. E aproveita que já anunciaram a continuação para 2019!
O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017)
O último filme do diretor grego Yorgos Lanthimos foi o elogiado, polêmico e primoroso “A Lagosta”. Gerou-se bastante expectativa da crítica e dos fãs sobre seu próximo projeto, e ele surpreendeu com uma das obras mais perturbadoras dos últimos tempos. “O Sacrifício do Cervo Sagrado” apresenta ambiente contemplativo, diálogos intensos, atuações esplêndidas e uma trilha sonora atordoante para compor o clima claustrofóbico do terror psicológico e angustiante.
Colin Farrell (“Animais Fantásticos e Onde Habitam”) e Nicole Kidman (“Os Outros”) vivem um casal invejável. Ricos, médicos, apaixonados e com dois filhos. A definição do estilo de vida americana perfeito. Até que surge na vida deles um personagem que vai mudar tudo.
Quanto menos coisas você souber deste filme antes de assistir, melhor. Porém, já adianto: assim como o controverso “Mãe!”, de Darren Aronofsky, fique atento porque nem sempre as coisas são como estão apresentadas na tela.
The Belko Experiment (2016)
Apenas mais um dia comum de trabalho nas Indústria Belko. Tudo corria bem até que os funcionários da empresa descobrem que estão participando de um experimento. Seguindo as ordens de uma voz misteriosa, eles devem se matar até que apenas um sobreviva. Roteirizado por James Gunn (“Guardiões da Galáxia”), o terror cômico coloca os personagens em uma situação limite e funciona bem como um paralelo para o ambiente competitivo e nocivo do mercado de trabalho (tem coisa mais aterrorizante que isso?).
Neste momento de mudança pelo qual o terror está passando, o apego às convenções do gênero parecem se deteriorar gradativamente. Ao invés de tentar evocar medo apelando aos conceitos característicos, alguns projetos se mesclam a obras de outros segmentos para ir além, tentando passar uma mensagem guardada nas entrelinhas. Aproveite o Dia das Bruxas e o feriado do Dia de Finados (ou Dia dos Mortos rs) para conhecer as novas faces da assombração e do susto. Depois conta aqui pra gente o que achou e diz qual filme você sentiu falta nesta lista.