Cinema com Rapadura

Colunas   sexta-feira, 23 de abril de 2010

Existe algum limite para adaptar um livro para o cinema?

Aparentemente, tudo é possível.

O cinema vive um exagerado momento de adaptações de tudo para as telonas. Livros, quadrinhos, contos, séries, enfim. Tudo que pode ser adaptado para a Sétima Arte e, supostamente, pode arrecadar grana segue este caminho. Até aí, nenhum problema, até porque a literatura, por exemplo, possui obras maravilhosas e deliciosas possíveis de  invadir o cinema (“Harry Potter” e “O Senhor dos Anéis” são exemplos).

Quem tem o hábito de ver muito filme constantemente pode notar que, quase sempre, as produções tem um “based” antes de começar. Quando o assunto é adaptação, livros infantis/juvenis e HQs são os mais recorrentes. A franquia “Harry Potter” se instalou como uma das mais lucrativas e interessantes dos últimos anos, e até hoje os estúdios ainda procuram alguma outra série que possa causar o mesmo frisson e amor quando o “Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte II” for lançado. Não deu certo com “As Crônicas de Nárnia”, nem com “Eragon”, nem com “A Bússola de Ouro”, nem com “Percy Jackson” e quase dá certo com “Crepúsculo”. Eu digo “quase” porque o público é basicamente outro.

Assim, quando eu leio um livro que já foi ou vai aos cinemas, eu vivo uma situação que me incomoda: ao ler, penso diretamente nas imagens no cinema. Parece que boa parte da magia da literatura se perde e se associa ao que é possível ser feito no cinema. Não sei vocês, mas quando eu leio qualquer livro eu cogito atores, diretores, planos e linguagem adequados para o que está em texto. Dessa forma, me distancio um pouco do prazer de ler apenas por ler.

O problema maior das adaptações não é nem a liberdade criativa de mudar a versão cinematográfica, mas o condicionamento levado à indústria. Faltam roteiros originais para abrilhantar o cinema. Parece até preguiça. Alguns textos originais são injustamente prejudicados por estúdios que apostam apenas em explosões e retorno financeiro garantido, enquanto o cinema alternativo realiza obras maravilhosas quase nunca reconhecidas.

Mas não adianta reclamar. A tendência é continuar adaptando tudo ao cinema. Por um lado, é maravilhoso transportar o universo da literatura ou dos quadrinhos às telonas, mas por outro nos dá a sensação de que esse processo é inacabável e que a cabeça dos cineastas funciona apenas para se basear no pré-existente. E nem sempre funciona!

+ MAIS

[Mostra] A Mostra Cineastas e Imagens do Povo começa este mês no Rio de Janeiro, trazendo para as salas de exibição do CCBB-Rio curtas, médias e longas-metragens do gênero produzidos no Brasil, dos anos 60 aos 80. É a primeira vez que será reunida grande parte dos filmes citados pelo renomado crítico de cinema, Jean-Claude Bernardet, em seu livro homônimo. Escrito em 1985, “Cineastas e Imagens do Povo” é considerado uma bíblia para os estudiosos e amantes da sétima arte. Até 9 de maio poderão ser apreciados títulos raríssimos às novas gerações que não vivenciaram a efervescência dessa linguagem décadas atrás.

[Itinerante] A termelétrica Endesa Fortaleza anuncia o lançamento do programa “Cine Endesa Fortaleza – Cinema Itinerante Nordeste”. O programa contará com 420 exibições este ano nos municípios de Caucaia, Fortaleza e São Gonçalo do Amarante e tem como objetivo difundir o cinema nacional, levando cultura e educação para os moradores destas regiões. Entre outros projetos da termelétrica, o  “Cine Endesa Fortaleza” visa à criação de um circuito alternativo exibidor de filmes nacionais em escolas estaduais e municipais e praças da Zona Metropolitana de Fortaleza. O diferencial está na capacitação de professores para trabalhar o conteúdo cinematográfico de forma didática fazendo ligação com o conteúdo que as crianças vêem em sala de aula.

[Documentário] Principal evento dedicado à cultura do documentário na América Latina, o “É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários” divulgou na noite do sábado (17) os vencedores de sua 15ª edição. Na competição internacional de longas e médias-metragens, os premiados foram “La Danse, O Balé da Ópera de Paris”, de Frederick Wiseman (EUA/França), e “O Homem Mais Perigoso da América: Daniel Ellsberg e os Documentos do Pentágono”, de Rick Goldsmith e Judith Ehrlich (EUA). Na competição internacional de melhor filme curtas-metragens foi escolhido “A Escuridão do Dia”, de Jay Rosenblatt (EUA).

[Fera] Semana passada, a jornalista e poderosa formadora de opinião Ana Maria Bahiana esteve no Brasil para uma turnê do curso “Como Ver um Filme’. Em Fortaleza (CE), uma turma heterogênea (de jornalistas a médicos e advogados) consumiu com euforia todo o conhecimento teórico e de experiência de cinema que ela tem em Los Angeles os três dias de curso, que foi realizado na Cecomil MegaStore. Como representante do Cinema com Rapadura, tive o prazer de me tornar, durante três dias, aluno desta carismática jornalista. Fortaleza já sente saudades e espera que volte logo.

– RÁPIDAS

[Produção Nacional] Começam esta semana as filmagens de “LB Persona”, a história da saga da realização do clássico “O Cangaceiro”, através da vida do seu diretor, Lima Barreto. Dirigido por Galileu Garcia e produzido pela Cinematográfica Vera Cruz, em co-produção com a Digital Films & Toon, “LB Persona” promete levantar histórias inacreditáveis sobre um dos períodos mais intensos do cinema brasileiro. Fazia 33 anos que a Vera Cruz não produzia um longa.

[Workshop] Caio Gullane realiza o workshop “O Mercado Cinematográfico Brasileiro – Engrenagens e Mecanismos de Inserção”, que orientará o aluno para o seu possível ingresso no mercado de trabalho do cinema brasileiro, com a visão completa e atual deste, compreendendo suas exigências, demandas e pré-requisitos, além de conhecer o trabalho e perfil dos principais profissionais e produtoras do país. O curso acontece dias 26, 28 e 29 de abril e 04 e 05 de maio no Centro Cultural B_Arco, em Pinheiros (SP). Informações: (11) 3081-6986. Update: As datas do curso foram alteradas para 21 a 25 de junho.

[Animação] O Avião Vermelho, personagem que dá título ao longa-metragem de animação “As Aventuras do Avião Vermelho”, dos diretores gaúchos Frederico Pinto e José Maia, vai ganhar voz nos próximos dias. O ator escalado para essa missão é o veterano Milton Gonçalves, que gravará a voz do personagem nos próximos dias 23 e 24 de abril, no Rio de Janeiro.

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Diego Benevides
@DiegoBenevides

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