O Livro de Boba Fett | Terceiro episódio sobe o tom na guerra por Tatooine
Com um ritmo acelerado, As Ruas de Mos Espa começa a dar robustez à estrutura da família criminosa de Fett.
Atenção: este texto contém spoilers até o terceiro episódio de “O Livro de Boba Fett”. Siga por sua conta e risco.
“Por favor, fale livremente.”
Se as areias do Mar de Dunas de Tatooine não são seguras para quem não sabe navegá-las, as ruas de suas cidades tampouco. O terceiro episódio de “O Livro de Boba Fett” já chegou ao Disney Plus e trata justamente disso, enfim estabelecendo o foco da série no que será de Boba Fett (Temuera Morrison) em seu futuro como daimyo em detrimento do tempo que passou vivendo entre os Tusken no deserto. As Ruas de Mos Espa tem um ritmo acelerado e começa a dar corpo à estrutura da família criminosa de Fett.
A ligação entre as linhas do tempo de passado e presente também começam a ficar mais claras. O que há em comum entre elas? O Sindicato Pyke. Trata-se de uma das quadrilhas mais perigosas e melhor estruturadas do universo “Star Wars”, comandando a produção e logística de especiarias a partir do planeta Kessel. Eles já apareceram diversas outras vezes nas séries da franquia, principalmente nas animações “The Clone Wars” e “Rebels“, mas o grande destaque está em “Han Solo: Uma História Star Wars“, que faz a transição dos Pykes da animação ao live-action. Em “Boba Fett”, eles se estabeleceram em Tatooine após a morte de Jabba the Hutt, exemplo perfeito do vácuo de poder que criou-se no planeta após os acontecimentos de “O Retorno de Jedi“.
Aliás, As Ruas de Mos Espa começa com o droide 8D-8 (Matt Berry) explicando a Boba Fett como a cidade é governada pelas famílias Trandoshana, Aqualish e Klatooniana sob olhar do prefeito Ithoriano Mok Shaiz, quando o fazendeiro de umidade (ocupação comum para a produzir água em Tatooine, que Luke Skywalker exercia na fazenda de seus tios em “Uma Nova Esperança“) Lortha Peel (Stephen Root) denuncia que sua produção está sendo roubada por uma gangue de jovens mods (pessoas que modificam seu próprio corpo com partes robóticas e cibernéticas para aumentar suas capacidades pessoais). Ao cobrar o grupo, Fett percebe que o que lhes falta é trabalho para sobreviver sem roubar, e os recruta como escolta. Ao fazendeiro, uma compensação adequada, não o valor inflacionado que cobrava antes.
Corte para o passado. De volta ao tanque de bacta, Boba Fett volta a sonhar com seu tempo entre os Tusken, agora com memórias trágicas. Ele deixa a tribo rumo a Mos Eisley para negociar com o líder dos Pyke. O chefe da quadrilha já paga pela proteção dos Marchadores de Kintan, grupo de motoqueiros Nikto que aterrorizava a população do deserto nos capítulos anteriores. Fett argumenta que Tatooine pertence aos Tusken desde que os oceanos do planeta secaram (e esse parece ser um tema recorrente na série) e que irá resolver a situação. Ao voltar à tribo, destruição: os Marchadores mataram todos no local, e Fett fica órfão novamente. Vale notar que a Guerreira Tusken, que o ensinara a lutar à moda Tusken, não aparece entre os mortos.
As memórias são interrompidas abruptamente por Krrsantan Negro, que invadiu o castelo de Fett para matá-lo. O wookiee dá trabalho, mas acaba subjugado e aprisionado no poço abaixo da sala do trono, que estava vazio desde que Luke Skywalker matara o Rancor que lá morava em “O Retorno de Jedi“. A cena de ação é extremamente bem dirigida por Robert Rodriguez, e é necessário que Fett, Fennec Shand (Ming-Na Wen), mods e guardas gamorreanos trabalhem juntos para derrotar Krrsantan.
No dia seguinte, Boba Fett recebe a visita inesperada dos Gêmeos. A dupla de Hutts está de malas prontas para seu planeta natal de Nal Hutta pois, segundo eles, os Pykes estão dispostos a tomar Tatooine para eles com ajuda do prefeito Mok Shaiz. A cena toda evidencia as mudanças na balança do submundo do crime na galáxia, com os Pykes avançando rapidamente sobre um dos grandes centros de poder do Cartel dos Hutts. Se antes um Hutt não abandonaria sua terra tão rápido, agora talvez seja melhor ficar na contenção de danos, mesmo.
Antes de ir embora, os Gêmeos deixam dois presentes para Fett: Krrsantan e um novo Rancor para o poço. Fett e Krrsantan já trabalharam juntos e sabem que negócios são apenas negócios, então o wookiee acaba liberto. Já o Rancor rapidamente se torna a alegria do daimyo, que quer aprender, inclusive, a montá-lo. Vale apontar, aliás, que o treinador da fera é ninguém menos que Danny Trejo, colaborador constante do diretor Robert Rodríguez e um dos atores mais carismáticos de Hollywood.
O episódio termina com Fett, Shand e os mods, visitando a prefeitura de Mos Espa para tirar satisfação com Mok Shaiz. O mordomo do prefeito (Dave Pasquesi) os enrola o suficiente para que todos possam fugir, mas acaba capturado por Drash (Sophie Thatcher), a líder dos mods. Enquanto isso, no porto espacial da cidade, mais e mais Pykes desembarcam. Vai se criando um clima terrível, e a guerra por Tatooine se aproxima.
Curiosidades
– Das famílias que comandam Mos Espa, já vimos os líderes da Aqualish e Trandoshana no primeiro episódio da série. Faltam os Klatoonianos, que apareceram em “The Mandalorian” – são eles que tentam roubar a mochila a jato de Din Djarin na primeira temporada.
– O droide 8D-8 se refere à morte de Jabba como “o desastre da barcaça”. Para os Hutts, é muito melhor que o episódio seja tratado dessa forma, mantendo em segredo o fato de que, na verdade, um de seus figurões morreu durante a operação de resgate de um general da Aliança Rebelde.
– Os mods são uma adição interessante a “Star Wars”, pois remetem em praticamente tudo que os mods do mundo real defendiam nos anos 60. Eles se vestem e pilotam motos coloridas da mesma forma que os xarás reais faziam. Isso tudo, inclusive, já serviu de influência para George Lucas conceber “American Graffiti” e o “Star Wars” original nos anos 70. E, claro, “mod” vem do verbo “modificar” em inglês, também fazendo referência às modificações cibernéticas que fazem em seus corpos.
– Durante sua visão do passado, Fett vai a Mos Eisley negociar com o líder dos Pykes. No caminho, vemos referências ao episódio O Pistoleiro de “The Mandalorian“, com os capacetes de stormtroopers sendo empalados e até Peli Motto (Amy Sedaris) passando ao fundo com seus droides.
– A natureza amigável e leal dos Rancores é algo que foi tema de um dos episódios da animação “The Bad Batch“, quando o grupo de clones resgata um filhote de traficantes Zyguerianos.
– O treinador do Rancor (Danny Trejo) menciona que as Irmãs de Dathomir costumavam montar as criaturas. Elas são um grupo de bruxas da Força pelo Lado Sombrio, tendo treinado, inclusive, Darth Maul. Infelizmente, elas já não existem mais, pois foram vítimas de um genocídio promovido pelo General Grievous em “The Clone Wars“. A única remanescente é Merryn, que aparece no jogo “Jedi: Fallen Order“.
– Fett sugere dar uma carcaça de Ronto para alimentar seu novo Rancor. Animais típicos de Tatooine, você pode comer lanches feitos com Rontos em Galaxy’s Edge, setor de “Star Wars” nos parques da Disney. Ou, se viajar ainda estiver difícil, mas mesmo assim você quiser comer como um Rancor, pode tentar seguir o livro de receitas oficial.
– O painel destruído na rua durante a perseguição final do episódio é, na verdade, uma arte conceitual de Ralph McQuarrie para “O Retorno de Jedi“, retratando o confronto entre Luke Skywalker e Jabba the Hutt no filme.