Texto escrito por Júlio Bardini, Louise Alves, e Luís Gustavo.

O streaming Star Plus chegou ao Brasil no último mês de setembro já envolto em polêmica. Entre ser um segundo serviço da Disney e ter o uso do termo “star” questionado na justiça, o início de sua jornada no país não foi dos mais oportunos. Agora, passado já mais de um mês, o público enfim teve tempo para consumir um pouco do que o streaming tem a oferecer – e não é pouca coisa.

O que chama atenção logo de início é, claro, o fato de ser um serviço com a marca Disney por trás. A função primordial do Star Plus, no caso, é acomodar todas as obras que não cabiam no Disney Plus, incluindo propriedades da finada Fox, filmes e séries que integram o catálogo do streaming americano Hulu e a programação esportiva de canais como ESPN. Ou seja, é muito conteúdo. Para te ajudar a navegar por tudo que o streaming oferece sem cair nos clichês e nas dicas que já foram dadas à exaustão, o Cinema Com Rapadura separou oito dicas imperdíveis no Star Plus, entre filmes, séries, documentários e eventos ao vivo. Vamos lá?

American Horror Story (2011-)

Ryan Murphy, mais conhecido como o homem que nunca para de trabalhar, está por trás de diversas séries de renome, como “Nip/Tuck”, “Glee”, a recém-concluída “Pose”, e, claro, “American Horror Story”. Esta pode não ser sua melhor criação, mas certamente é a mais criativa, permitindo posteriormente o desenvolvimento de derivados com o mesmo formato. Não só isso, a produção popularizou o conceito de “antologia” na era atual da televisão, com séries como “Fargo”, “Genius”, e “A Maldição da Residência Hill/da Mansão Bly” vindo depois.

Iniciada em 2011 pela FX, a proposta de “American Horror Story” é contar histórias completas a cada temporada, parcialmente baseadas em eventos reais, e como o próprio título indica, de terror. Embora a trama não seja a mesma a cada ano, grande parte do elenco sempre volta, interpretando novos personagens. Começando com “Murder House”, a série consegue bem estabelecer o clima desejado, com uma história de fantasmas, assassinato, e claro, amor depravado. Nos anos seguintes, as tramas visitaram um asilo, uma casa de bruxas, um circo, um hotel, o que quer que tenha sido Roanoke, um culto, o Apocalipse (naturalmente), e o gênero slasher dos anos 90. Atualmente em sua décima temporada, a trama se divide em vampiros e aliens.

Evan Peters, Sarah Paulson e Lily Rabe são aqueles com mais participações na antologia, estando em nove das dez temporadas – os fãs dizem que eles estão preso no porão de Ryan Murphy, incapazes de dizer não para o convite anual. Jessica Lange foi um grande destaque da série, estando em cinco temporadas, e vencendo dois Emmys, um Globo de Ouro e um SAG Award. Kathy Bates, Angela Basset e até Lady Gaga também já participaram da produção, e atualmente o elenco vai se renovando, trazendo jovens talentos como Billie Lourd e Cody Fern.

Mesmo que nem sempre consiga manter um alto nível ao longo dos episódios, cada temporada sempre tem o que oferecer, principalmente para os fãs do gênero. E a ideia de manter vários dos mesmos atores, apenas com papéis diferentes, cria uma antecipação para saber que tipo de personagem seu ator favorito da série irá interpretar desta vez. “American Horror Story” se manteve fiel ao formato de antologia por grande parte de sua duração, mas em sua oitava temporada, Apocalypse, juntou algumas de suas tramas em uma só, em um crossover ambicioso que, apesar de alguns insistentes erros, deu certo. A produção também lançou seu primeiro spin-off direto, com “American Horror Stories”, em que cada episódio segue uma trama diferente.

Seja com “American Horror Story”, já renovada até décima terceira temporada, com “American Crime Story”, que segue atualmente a história do Impeachment de Bill Clinton, ou qualquer outro tipo de Story que Ryan Murphy queira contar, é certo que este conjunto de antologias ainda vai durar por um bom tempo.

Arquivo X (1993-2018)

“Eu quero acreditar!”

Uma série que tenha ficado no ar por mais de dez anos, gerado dois filmes nos cinemas e um revival na televisão é certamente algo que vale a pena se considerar. É o caso de “Arquivo X”, que, além de ser isso tudo, é também uma das mais influentes do gênero da ficção científica e moldou muito da forma como assistimos e consumimos conteúdo na televisão atualmente.

A série acompanha os detetives Fox Mulder e Dana Scully, interpretados com uma química eletrizante por David Duchovny e Gillian Anderson. Juntos, eles formam a divisão Arquivo X do FBI, que trabalha em casos que investigações convencionais não conseguem explicar. Mulder é um homem que acredita piamente em fenômenos paranormais e nunca descarta esse tipo de explicação, enquanto Scully é cética e uma mulher de ciência. A dinâmica da dupla é a espinha dorsal da série, sempre alternando entre a tensão e o quase romance – a expressão “ship” para tratar da torcida por um relacionamento afetivo, aliás, vem dos fãs da série que torciam por um entre Mulder e Scully, os chamados “relationshipers“.

Outro atrativo da série é a vasta gama de casos investigados, que podiam variar desde detalhes que ninguém havia percebido antes até contatos imediatos com entidades extraterrestres. Para acomodar tantas possibilidades, “Arquivo X” se baseava em casos diferentes a cada semana, dando origem a outro tropo televisivo super comum, o formato de “monstro da semana”. Via de regra os casos acabavam amarrados cedo ou tarde, mas a diversão reside justamente em se permitir surpreender por cada caso.

Futurama (1999-2013)

“Parem de agir feito idiotas!”

Claro que a produção mais reconhecida da dupla Matt Groening e David X. Cohen é “Os Simpsons”, mas os criadores também contam com outra genial animação no seu portfólio: “Futurama”.

A história é centrada em Fry, um entregador de pizza que é acidentalmente congelado em 1999 e desperta na véspera do Ano Novo de 2999. Nesse novo mundo, ele deve aprender a lidar com a sociedade do futuro, recheada de robôs, aventuras e um humor ácido.

Com excelentes ideias e conceitos de ficção científica, “Futurama” é uma mistura brilhante entre humor e emoção, capaz de fazer rir e chorar em um único episódio – quem assistiu à Jurassic Bark sabe muito bem disso. Junta-se a isso a ótima capacidade de propor questões e dilemas que tiram o público da zona de conforto, tornando toda a experiência mais enriquecedora.

Coroam a produção o prazer em perceber a evolução dos personagens e de suas relações ao longo dos anos, mesmo que a obra tenha uma raiz de sitcom. Assim, “Futurama” entrega muito mais do que se espera, tornando-se inesquecível para os espectadores.

Homeland (2011-2020)

Há dez anos estreava a primeira temporada de “Homeland”, série de espionagem que se esticou por mais outras sete temporadas, e entre altos e baixos, ainda conseguiu se encerrar satisfatoriamente, sendo fiel à essência de sua protagonista. Na trama, Claire Danes interpreta Carrie Mathison, agente da CIA que descobre a importante informação de que um militar americano mudou de lado na “guerra ao terror”. Ao mesmo tempo, o sargento Nicholas Brody (Damian Lewis) é resgatado depois de oito anos como prisioneiro de guerra, despertando a suspeita de Mathison. O ano inicial da série é focado na investigação independente da agente, e nos conflitos internos de Brody, resultando numa excelente produção de drama, suspense e espionagem.

Embora possa ser algo desencorajador a se dizer, não se pode negar que esta primeira temporada de “Homeland” foi a melhor. Mas a série ainda teve muito a oferecer nos anos seguintes. Um prato cheio para quem gosta do gênero de espiões, a obra também lidou com conflitos políticos, sempre atual nesse sentido justamente pelo ótimo trabalho de pesquisa de sua equipe. Claire Danes tirou Carrie do papel extraordinariamente, garantindo que a personagem não fosse apenas uma heroína ao defender seu país – na verdade, na maior parte das vezes, ela é mais uma anti-heroína, cujas ações são tão inquietantes que ajudam a motivar as discussões sobre o papel dos Estados Unidos em questões internacionais.

A segunda temporada ainda mantém um bom ritmo se comparada a primeira, mas a terceira falha. Por sorte, o quarto ano traz novo fôlego à serie, investindo um pouco mais na ação, junto a um maior protagonismo de Peter Quinn (Rupert Friend), que viria a ser um trunfo da produção. Depois das terríveis quinta e sexta temporadas, as últimas duas retomam aquilo que fez de “Homeland” um sucesso em primeiro lugar. Saul Berenson (Mandy Patinkin) e Carrie Mathison, mestre e aprendiz, finalizam a história reconhecendo os erros da série, mas garantindo que os fãs que passaram por tudo isso juntos tivessem a conclusão que mereciam. Assistir oito temporadas agora pode parecer um investimento árduo, mas para os fãs do gênero, certamente vale a pena.

>> Crítica | Homeland (2011-2020): não há limites para Carrie Mathison

Legion (2017-2019)

No ano de estreia das séries produzidas pela Marvel Studios, fãs assíduos ainda se agarram às suas produções favoritas da finada Marvel Television, esperando, talvez, que um dia possam ver seus queridos personagens de séries como “Agents of Shield” e “Demolidor” de volta no multiverso canônico da Marvel. No entanto, a melhor obra desta era que já se foi é uma que rejeita conexões com universos compartilhados, e em três temporadas contou uma história fechada, completa, e excelente.

Criada por Noah Hawley, que também é a mente por trás da série “Fargo”, “Legion” foi ao ar pela FX entre 2017 e 2019, contando a história de David Haller, conhecido nos quadrinhos como Legião. Interpretado por Dan Stevens, o personagem começa sua jornada em uma clínica psiquiátrica, certo de que passou sua vida doente de esquizofrenia. No entanto, ele logo descobre que é um mutante poderoso, e deve aprender a controlar seus poderes enquanto se junta a um grupo dedicado a manter a sobrevivência da espécie. Embora lide com o termo “mutante” e tenha referências ao pai de David – o Professor Xavier -, “Legion” não se relaciona com nada de “X-Men” nos cinemas e na TV. Não só isso, a história é muito menos sobre o espetáculo dos poderes dos mutantes, e mais sobre o conflito de David sobre sua saúde mental e sobre quem ele realmente é.

Nos quadrinhos, o Legião é um conhecido vilão, e a série debate sobre o que isso significa para o personagem. Um vilão nasce assim? É influenciado pelo meio ou por outros? É uma escolha? A série discute sobre traumas, relacionamentos amorosos e paternais, e usa de toda criatividade possível para ilustrar a ilusão que rodeia David. É ele, um narrador não confiável, quem acompanhamos desde o início, e por isso temos a tendência de acreditar no que ele vê. Mas tudo fica mais interessante quando a série começa a nos alertar para a verdade. “Legion” é uma série inigualável, um milagre único em meio a tantos universos compartilhados, e é algo que dificilmente conseguirá ser replicado. Que sorte então para aqueles que ainda não assistiram a série, ter a chance de entrar neste mundo pela primeira vez. “Este é o começo. O fim. O Começo.”

>> A Narrativa da Ilusão – como Legion abriu o caminho para WandaVision

McCartney 3, 2, 1

“Aí está a magia de novo.”

Paul McCartney é um dos poucos artistas atualmente que pode ser considerado uma unanimidade. Você pode até não conhecê-lo a fundo, mas sua ampla carreira musical lhe garante um status de lenda viva que é praticamente impossível de contestar. Estamos falando de uma das principais forças criativas dos Beatles, veja bem.

Em “McCartney 3, 2, 1”, o próprio senta com o produtor Rick Rubin (que já trabalhou com Red Hot Chili Peppers, Weezer, Run DMC e até Johnny Cash, entre outros) e fala dos bastidores de suas principais músicas. Entre as diversas obras já feitas sobre a carreira dos Beatles, essa certamente é a mais honesta e abrangente. Algumas das histórias são conhecidas – como a aventura dos Fab Four em um retiro na Índia ou o assalto em Lagos, na Nigéria, que fez sumir a versão original do clássico Band on the Run -, mas ouvi-las da boca do próprio Macca acrescenta uma aura de magia indescritível.

Ao explicar boa parte das inovações que moldaram a música popular como a conhecemos hoje, é difícil não se impressionar com a simplicidade do pensamento de Paul e seus colegas, seja nos Beatles, nos Wings ou mesmo em carreira solo. Nunca pudemos ver Leonardo da Vinci ou Shakespeare explicando suas obras, por exemplo. Por sorte, podemos ver Paul McCartney.

Ricardo Darín

“Esse país está indo à m****.”

Um dos grandes trunfos do Star Plus é sua programação regional focada na América Latina. Boa parte disso é concentrada em conteúdo original, mas há também pérolas do cinema latino a serem descobertas. E para quem gosta de um bom filme liderado por atuações marcantes, a solução tem nome e sobrenome: Ricardo Darín.

Um dos maiores atores do continente neste século, o que encanta no trabalho de Darín é a versatilidade e naturalidade com que interpreta papéis dos mais variados tipos e gêneros. Ele é mais conhecido por ter estrelado o vencedor do Oscar “O Segredo de Seus Olhos“. Este, no caso, não está no catálogo do streaming, mas há seis outros filmes que suprem muito bem a demanda por qualquer gênero.

Se você busca um filme de roubo carregado de comédia e diálogos rápidos, “Nove Rainhas” (2000) é o filme. Comédias leves e tocantes? Vá de “Um Conto Chinês” (2011) e “Um Amor Inesperado” (2018) sem medo de errar. Dramas políticos? “Kóblic” (2016) conta a história de um piloto de avião que se viu forçado a conduzir os chamados “voos da morte”, nos quais opositores da ditadura militar argentina eram exterminados. E para dramas mais convencionais, “Abutres” (2010) e “Elefante Branco” (2012) são as pedidas.

Combo esportivo

Por fim, um dos grandes diferenciais do Star Plus é a sua recheada programação esportiva, que promete ser um dos carros-chefes do streaming. Os fãs de futebol encontram uma diversidade de campeonatos que garantem bola rolando em todos os dias da semana, como Premier League, La Liga, Ligue 1, Serie A Italiana, Campeonato Holândes, Português e Argentino, além da Copa Libertadores da América, Liga Europa e Eliminatórias Asiáticas e da CONCACAF para a Copa do Mundo de 2022.

Mas há espaço para outros esportes. Um deles é a NFL, liga de futebol norte-americano, que começou a nova temporada recentemente que se estenderá até o Super Bowl LVI, em fevereiro de 2022. Já a NBA, a liga de basquete mais conhecida do mundo, tem início da sua nova temperada em 19 de outubro, estendendo-se até junho de 2022.

O cardápio de esportes ainda é completado pela transmissão de torneios de tênis, ciclismo, NASCAR, rúgbi, beisebol e hóquei no gelo, além de documentários e outras produções originais da ESPN.