Cinema com Rapadura

Colunas   sexta-feira, 11 de junho de 2021

Luca é uma viagem de volta à infância – primeiras impressões e curiosidades sobre a animação da Pixar

O Cinema Com Rapadura teve a chance de assistir ao filme, que será lançado na próxima sexta no Disney Plus.

Os fãs da Pixar tiveram uma boa sequência de animações em 2020, com “Dois Irmãos – Uma Jornada Fantástica” e “Soul”, e o estúdio continua a jornada de acertos com “Luca”, que estreia na próxima sexta-feira (18) no Disney Plus. O Cinema Com Rapadura teve a chance de assistir ao filme, e participar de uma masterclass virutal com o diretor Enrico Casarosa, e a seguir listamos nossas impressões sem spoilers da animação, além de curiosidades descobertas no evento.

Origem italiana

Tudo sobre “Luca” grita “Itália!”, e isso é um reflexo não só das origens do diretor, mas também de uma extensa pesquisa e comprometimento com a cultura que seria representada na animação. Casarosa nasceu em Gênova, na região da Ligúria, onde está localizado o conjunto de vilas chamado Cinque Terre, diretamente transportado para as telas na vila de Portorosso, onde os monstros marinhos disfarçados Luca e Alberto se aventuram em meio aos humanos.

A equipe do filme viajou para esta região para capturar perfeitamente os detalhes do cenário, das pessoas e da cultura local. Um pouco disso pode ser visto brevemente no segundo episódio da série de bastidores “Por Dentro da Pixar” (disponível no Disney Plus), em que Deanna Marsigliese, diretora de arte de personagem, detalha seu processo de trabalho. As semelhanças são realmente incríveis, porque não ficam apenas nos elementos mais óbvios, mas vão para roupas nos varais, crianças brincando na rua, e idosos conversando nas cadeiras do lado de fora. Também era muito importante que as comidas fossem bem representadas – afinal é a Itália -, e a equipe teve a “árdua” tarefa de experimentar diversos pratos diferentes, de gelatos a diferentes receitas de macarrão.

Inspiração por trás da história

“Luca” é acima de tudo um filme sobre amizade. A infância de Casarosa é a inspiração direta para a história, pois além de passar os verões em lugares belíssimos como os registrados no filme, ele não o fazia sozinho, e sim ao lado de amigos como Alberto. Este, inclusive, é o nome não só do personagem amigo de Luca, mas também do amigo de Casarosa, que teve sua personalidade e seu nome transpostos para a animação. Enquanto Luca é mais tímido e resguardado, Alberto é aventureiro e tem talento para arranjar problemas, e o mesmo era válido para Casarosa e o seu Alberto. E segundo o diretor, foi seu amigo que o ajudou a sair de sua zona de conforto.

O elemento fantástico de “Luca” envolve monstros marinhos, que vêm diretamente de lendas presentes na infância de Casarosa. Os mapas antigos da região vinham ilustrados com criaturas assustadoras, cujo perigo era alertado pelos pescadores que na verdade só queriam impedir que outros descobrissem locais para boa pesca. Em “Luca”, o personagem título é um jovem monstro marinho que vive debaixo d’água e nunca foi à superfície, pois seus pais sempre o avisaram que ele certamente morreria se fosse. Mas quando Luca encontra Alberto, outro jovem monstro marinho, ele é atraído para a superfície e descobre que na verdade não é tão ruim assim. Os dois logo se tornam bons amigos, e decidem dar um passo a mais, saindo da ilha inabitada para a vila dos humanos. É lá onde eles encontram Giulia, uma garota humana, e os três passam a aproveitar o verão juntos.

No elenco de vozes original, Jacob Tremblay é Luca, Jack Dylan Grazer é Alberto, e a novata Emma Berman é Giulia. Casarosa explica que para Luca, precisava-se de uma voz inocente, que refletisse sua descoberta de um novo mundo, e uma nova vida, e Tremblay, já conhecido principalmente por seus papéis em “O Quarto de Jack” e “Extraordinário”, foi perfeito para o papel. Já para Alberto, a ideia era alguém charmoso e engraçado, que conseguisse convencer você a fazer qualquer coisa. Grazer chamou atenção tanto em “It – A Coisa” quanto em “Shazam!”, e aqui não é diferente. O ator caiu como uma luva no papel, e é certamente um dos destaques do filme. Berman foi uma das várias atrizes que fez teste para o papel de Giulia, e Casarosa descreve a energia dela como o diferencial. Ela já chegou falando com ele bem entusiasticamente, dando o tom para o que Giulia seria. O trio tem uma ótima química.

Um detalhe interessante é que as gravações para o filme tiveram de ser feitas em casa, por conta da pandemia. Os atores improvisaram estúdios em seus armários, e todo tipo de acidentes acontecia. Grazer principalmente, sempre se batia nas coisas quando ficava animado dublando, conta Casarosa. Toda a equipe teve de fazer seu melhor para finalizar o longa em suas casas, e o resultado final não decepciona.

O que esperar do filme?

Usando exemplos da casa Pixar, “Luca” se assemelha em tom a “O Bom Dinossauro”. Muitos classificam essa animação como um dos pontos fracos do estúdio, mas a obra inegavelmente tem coração, em uma história simples. O mesmo pode ser dito sobre “Luca”, que apesar do elemento fantástico, é focada em uma simples aventura de verão e na amizade dos protagonistas. Em meio a isso, existe a questão da aceitação, visto que a vila dos humanos caça monstros marinhos, e tê-los em sua sociedade seria impensável. Mas esta parte não é tão bem explorada quanto talvez pudesse ser.

Ainda dentro da própria Pixar, temos a inspiração em “La Luna”, curta dirigido e escrito por Casarosa. Pode-se sentir a evolução visual do diretor vindo do curta até “Luca”. Inclusive, ele usou o mesmo ator digital de Papà de “La Luna” para Massimo Marcovaldo, pai de Giulia.

Outra lembrança durante o filme foi “A Vida Secreta de Walter Mitty”, em sequências de devaneios que Luca costuma ter. O jovem nunca passou por muitas aventuras, e quando seu mundo começa a se abrir, ele começa a imaginar o pode fazer em uma vida sem limites. As cenas bem visualmente criativas evoca o que acontece com Walter no filme de Ben Stiller, em que seus devaneios tomam conta do mundo real como se estivessem acontecendo de verdade. “Luca” também deixa o realismo de lado em alguns momentos, como o funcionamento da água ou da gravidade, para sustentar mais a ideia do imaginação das crianças.

Casarosa não esconde seu amor pelo trabalho de Hayao Miyazaki, mas também revela que os filmes do estúdio Aardman, como “Wallace e Gromit”, foram inspirações. A equipe também assistiu a diversos filmes italianos para serem o mais autêntico possível. Nada pode ser dito contra a parte técnica, que mais uma vez prova por que a Pixar é número 1 no que faz. E com “Luca”, Casarosa quis dar a chance ao público de se desconectar do mundo por um tempo, e apenas se divertir.

Nesse sentido, a animação é simples em sua história, mas conquista pelo coração. Todos que já tiveram uma grande amizade na vida conseguem se conectar à relação de Luca e Alberto, e isso é o suficiente para investir no filme até o fim. Para aqueles que estão tão presos à vida adulta, ter a chance de revisitar a infância é algo que merece ser aproveitado.

“Luca” estreia para todos os assinantes do Disney Plus na próxima sexta (18). A crítica do Cinema Com Rapadura será lançada na quarta (16).

Assista ao trailer:

Louise Alves
@louisemtm

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