Variantes Loki, caos e multiverso – o MCU terá diferentes conceitos de viagem no tempo?
Embora já apresentada em "Vingadores: Ultimato", viagem no tempo pode não ser tão "simples" quanto os heróis pensaram, e a nova série da Marvel deve explorar novas possibilidades.
Depois que “Vingadores: Ultimato” introduziu oficialmente a viagem no tempo no Universo Cinematográfico da Marvel, começou a batalha sobre como realmente funciona essa complicada ciência na franquia. Embora a trama do filme deixe claro a lógica usada para o chamado “time heist”, a escolha final de Steve Rogers deixou todos exasperados, visto que os diretores e roteiristas tinham ideiam diferentes das consequências dessa decisão. Mas a verdade é que a bagunça temporal ainda está prestes a acontecer. Partindo do mesmo filme, estava o Loki versão 2012, que conseguiu fugir com o Tesseract, causando uma ruptura em sua linha do tempo. Disso vem a nova série da Marvel, que estreia nesta quarta-feira (9) no Disney Plus.
A proposta inicial de “Loki” sempre pareceu cobrir o caos que uma viagem no tempo causaria no universo – ou multiverso – mas saber quem está por trás da série fornece uma ideia melhor do que podemos esperar. Michael Waldron é o roteirista chefe, e ele está bem acostumado com o tema ao trabalhar – e ser premiado com um Emmy – em “Rick e Morty”, que explora bem o conceito de diferentes dimensões e realidades, e o público pode esperar algum tipo de criatividade similar em “Loki”. Em entrevista recente à Vanity Fair, Waldron afirmou que embora a viagem no tempo já tenha sido introduzida no MCU, “esta é a forma que os Vingadores entendem”, e com a série, seria diferente. Ele diz:
“Eu sempre estive extremamente ciente do fato de existir uma semana entre cada episódio, e os fãs farão exatamente o que eu faria, que é analisar tudo. Nós queríamos criar uma lógica de viagem no tempo que fosse tão sem falhas que poderia se sustentar ao longo de seis horas. Existem conceitos de viagem no tempo que estou ansioso para que meus colegas de ‘Rick e Morty’ vejam”.
Um desses colegas, inclusive, também está envolvido com o MCU. Jeff Loveness é o roteirista de “Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania”, e como o título já descreve, o filme também deve envolver aventuras temporais no Reino Quântico. Isso representa o futuro da franquia, junto ao conceito do multiverso, tema da sequência de “Doutor Estranho”. Com o início deste arco em “Vingadores: Ultimato”, “Loki” é que aparentemente abrirá todas essas linhas. Kevin Feige, presidente do Marvel Studios, afirmou à Empire que talvez a série “tenha mais impacto no MCU do que todas as séries até então”. A expectativa é então elevada. O que podemos esperar?
Papel da Autoridade de Variância Temporal e a(s) Variante(s) Loki
Ao roubar o Tesseract em um 2012 visitado pelos Vingadores, Loki não é transportado pelo tempo, afinal esta Joia é a do Espaço. Mas o próprio ato de colocar as mãos no artefato e fugir com ele altera o que conhecemos como a linha do tempo original, criando assim uma linha alternativa. Pelo que vemos nos trailers, Loki é logo capturado pela Autoridade de Variância Temporal (TVA, na sigla em inglês), uma agência com o trabalho de manter a ordem do tempo, em termos gerais, e impedir qualquer eventual tentativa de mudar o que deve acontecer. Em cena vista nos trailers, o agente Mobius M. Mobius (Owen Wilson) aponta para Loki que sua fuga causou rupturas na timeline sagrada, e isso precisa ser consertado.
Mas espera um minuto, por que Loki está sendo capturado enquanto os Vingadores puderam viajar sem consequências através dos anos? Bom, o fato é que as consequências certamente estão a caminho em uma escala maior, e começamos com Loki para então expandir. É verdade que os Vingadores devolveram as Joias do Infinito que roubaram de suas respectivas timelines, impedindo o caos promovido pela ausência de uma delas de cada ponto no tempo. Porém, todas as viagens ocasionaram mudanças, e portanto, linhas do tempo alternativas.
Em 2012, acontece a fuga de Loki, retirando o Tesseract de seu caminho natural – ir para Asgard e permanecer no cofre de Odin até que o próprio Loki o roubasse novamente quando o reino está sendo destruído por Surtur em “Thor: Ragnarok”, e depois cedesse-o a Thanos em “Vingadores: Guerra Infinita”. Em 2013, Thor tem a chance de conversar com a mãe novamente, antes de sua morte nos eventos de “Thor: Mundo Sombrio”, e ela entende que aquele não é o seu filho do presente. Não só isso, o deus do Trovão rouba de si mesmo o Mjolnir. Em 2014, Thanos descobre tudo sobre o futuro ao acessar as memórias da Nebula que participava do assalto do tempo, e então decide viajar à timeline principal de 2023. Isso faz com que aquele ano de 2014 não tivesse Thanos e nem seu exército, já que eles seriam destruídos com o estalo de Tony Stark.
Essas são apenas algumas grandes alterações causadas pelos eventos de “Vingadores: Ultimato”, mas qualquer mínima interferência já seria capaz de criar uma linha do tempo alternativa. Assim, como a presença de seres que não deveriam estar lá já é o suficiente para essa divisão, o simples fato dos Vingadores terem viajado para estes momentos no tempo causou um caos. Retornar as Joias do Infinito a seus pontos de origem não apaga as timelines criadas, só garante que elas não estarão desprotegidas. Quanto a Loki, o mesmo poderia ser feito facilmente com o Tesseract, se este fosse o problema. Mas não é.
A TVA tem o dever de garantir que aquilo que deve acontecer, aconteça, e quando várias linhas do tempo alternativas são criadas e começam a seguir rumos totalmente diferentes do que deveriam, isso não é bom. E é possível que muitos desses problemas tenham o dedo de Loki, e diferentes versões suas. Isso justifica a necessidade de pedir ajuda da Variante que foi capturada, a fim de acessar a mente de um Loki e talvez entender como funcionam os outros.
Especula-se que esta misteriosa personagem seja a Lady Loki:
E este seja um Loki que finalmente conseguiu algum tipo de reinado:
Há também a chance de que Richard E. Grant, ainda sem papel revelado, seja uma versão mais velha de Loki, e um Loki criança também pode estar presente na série.
Outra possibilidade divertida é a de Loki ter de assumir o papel dele mesmo em momentos diferentes do tempo, para garantir que um certo evento predestinado venha a acontecer. Como por exemplo, voltar à torre dos Vingadores e ser capturado novamente. Nos trailers, é possível ouvir sua clássica frase “Eu sou Loki e tenho uma missão com um glorioso propósito”, mas em todas as vezes em que ela é falada, é apenas sua voz que aparece, podendo ser algum tipo de recreação de seu momento tentando dominar a Terra.
Mas e o que é esse papo de predestinação? Já que a TVA preserva a “linha do tempo sagrada”, existe uma sucessão de eventos classificados como os certos, os que devem acontecer para manter o fluxo correto do tempo. Algo similar foi abordado muito recentemente na série da Netflix “The Umbrella Academy”, que apresenta a Comissão, com o mesmo dever de garantir a ordem temporal, mandando seus agentes em viagens para diferentes pontos no tempo sempre que uma alteração é sinalizada como iminente. Na história, Five, um viajante do tempo que acaba se tornando um agente da Comissão, desiste do posto e volta para sua família para tentar impedir o Apocalipse. A questão é: o Apocalipse não deve ser impedido. E assim a Comissão atrapalha os esforços de Five para que o fluxo do tempo possa seguir normalmente.
O curioso da comparação entre as séries é que os espaços de trabalho da TVA e da Comissão estão com a mesma atmosfera de escritório e burocracia, com Loki e Five tendo reações similares ao “absurdo” da ideia. Ainda assim, este é um conceito comum, e talvez seja até mais familiar ao público do que o apresentado em “Vingadores: Ultimato”. O filme brinca com os conceitos de “De Volta para o Futuro” e “O Exterminador do Futuro”, em que mudanças no passado afetam diretamente o futuro, mas como bem aponta Rhodes, é isso que entendemos como viagem no tempo.
Assim, voltamos ao grande embate de diretores e roteiristas. Steve criou uma linha do tempo alternativa, ou sempre esteve presente na linha do tempo principal, escondido? Os irmãos Russo estão com a primeira opção, enquanto Christopher Markus e Stephen McFeely estão com a segunda. Baseando-se nas regras de “Ultimato”, os roteiristas estariam errados, mas quem sabe a lógica possa ser aplicada no mesmo universo? Steve foi viver sua vida com Peggy, sem grandes alterações, fazendo com que sua timeline não fugisse do que deve acontecer como um todo. Claro que ele já ter criado uma nova linha se configura como uma alteração, mas talvez sua vida comum não tenha sido catastrófica o suficiente para que ele recebesse uma visita da TVA – ou eles estão a caminho prestes a derrubar a porta de sua casa.
O futuro pertence ao Tempo
Em primeiro momento, pode-se pensar que Loki é a grande causa de toda a destruição que o multiverso está sofrendo. Mas segundo o agente Mobius, “alguém está mudando o fluxo do tempo apropriado”, e isso não parece ser o interesse do Loki que conhecemos. Seria uma de suas variantes a responsável? Quão longe um Loki que finalmente conquistasse o poder tão desejado poderia ir para mantê-lo? E quais seriam as consequências?
O fluxo do tempo pode também estar sendo mudado por conta das interferências severas dos Vingadores. Estamos como em uma calmaria antes da tempestade que será a Fase 4 do MCU, com seu multiverso e expansão cósmica. Um bom lembrete é a participação já confirmada de Kang, o Conquistador em “Homem-Formiga e a Vespa”, interpretado por Jonathan Majors. O viajante do tempo que nos quadrinhos possui várias versões de si pode ser o próximo grande vilão da franquia, trazendo ligações com o Quarteto Fantástico e quem sabe até os X-Men (é, eu sei, não isso de novo…).
Mas a vindoura presença de Kang, e as possíveis referências a ele feitas em “Loki”, reforça o ponto de Michael Waldron quanto à lógica perfeita do conceito de viagem no tempo que pode ser apresentado na série. Para entender as várias versões de Kang, podemos primeiro entender as várias versões de Loki. Além disso, saímos da visão de viagem do tempo dos Vingadores, e começaremos a entender como o fluxo do tempo de fato funciona na escala do multiverso. Deixaremos de olhar apenas para a timeline principal, e olharemos para a bagunça temporal que possui o mesmo potencial para agradáveis surpresas ou amargas decepções. E sim, “Agents of SHIELD” também abordou o tema, porém a série não é exatamente… canônica. Mas será que esta (e outras produções) podem vir a ser? Com o multiverso, tudo é possível. E como dizem por aí, a Marvel pode tudo.
“Loki” estreia nesta quarta-feira (9) no Disney Plus, e terá seus seguintes cinco episódios exibidos todas as quartas.
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