Atenção: este texto contém spoilers de “The Mandalorian”. Siga por sua conta e risco.

O último episódio de “The Mandalorian“, A Jedi, deixou a comunidade de fãs de “Star Wars” em polvorosa. O motivo principal, obviamente, foi a primeira aparição da adorada personagem Ahsoka Tano no formato live-action, interpretada por Rosario Dawson. Mas não bastasse isso, Dave Filoni, que dirigiu e escreveu o capítulo e comanda a série junto a Jon Favreau, foi um pouco além.

Ao longo do episódio, Ahsoka menciona três coisas distintas que atiçaram ainda mais a curiosidade – e ansiedade – dos fãs. Primeiro, sua recusa em treinar Grogu por seu apego ao Mandaloriano (Pedro Pascal); ela prossegue para explicar que a criança começou seu treinamento no Templo Jedi em Coruscant, interrompido pelo expurgo dos Jedi visto em “A Vingança dos Sith“. No final do episódio, Ahsoka menciona o templo Jedi no planeta Tython, e afirma que lá Grogu poderá se conectar a algum outro Jedi através da Força, alguém que tenha o que é preciso para treiná-lo. Por último, durante o duelo com a Magistrada Morgan Elsbeth (Diana Lee Inosanto), Ahsoka questiona a vilã sobre onde está o Grande Almirante Thrawn, que comandava a operação em Calodan.

Esses três indícios dados por Ahsoka Tano podem ter sido pontos breves durante o episódio, mas carregam em si potencial para influenciar os rumos da série no futuro ou servir como primeiros indícios de novas séries da franquia a caminho no Disney Plus – como, especula-se, um spin-off da animação “Star Wars Rebels“, da qual Ahsoka e Thrawn fizeram parte. Para organizar essas referências, o Cinema Com Rapadura olha agora para o que cada uma delas representa em termos de possibilidade real para a franquia. Seriam esses os caminhos?

Grogu e o Templo Jedi em Coruscant

Na noite do fim das Guerras Clônicas, Darth Vader (Hayden Christensen) invade o Templo Jedi em Coruscant liderando a 501ª Legião do exército imperial e assassina todos presentes, até as crianças. Menos dois.

O pequeno Grogu ter sobrevivido ao ataque promovido por Vader é um verdadeiro milagre. Até o momento, ele é o segundo ser no cânone que conseguiu. O outro é Jocasta Nu, bibliotecária e arquivista da Ordem Jedi. Nos quadrinhos da série “Darth Vader: Dark Lord of the Sith”, de Charles Soule, publicados pela Marvel, Nu sobrevive ao expurgo escondendo-se em câmaras secretas no Arquivo Jedi; seu objetivo era juntar o máximo possível do conhecimento da Ordem para começar uma escola para crianças sensíveis à Força. Mesmo assim, ela acaba falhando, dado que o templo estava ocupado pelo exército do Império e Vader novamente invade o local junto do Grande Inquisidor.

Ao longo de todo o arco da série, nenhum outro sobrevivente é mostrado no Templo Jedi, o que pode ser indício de que Grogu já havia sido resgatado. Surgem então novos questionamentos: quem tirou a criança de lá? Mais aprendizes poderiam ter sido resgatados? Se Grogu é um bebê aos 50 anos, aos 23 (sua idade à época) suas habilidades seriam certamente mais reduzidas mesmo em termos de crescimento biológico. Isso poderia justificar sua sobrevivência caso houvesse um berçário. O Templo Jedi de Coruscant era gigante, e Jocasta Nu era um dos únicos Jedi a conhecerem seus meandros quase inteiros.

“The Mandalorian” vem surpreendendo com a quantidade de novas perguntas feitas, e novas informações sobre Grogu são sempre bem vindas. Mas, novamente, “Star Wars” segue um caminho de ligar tudo aos acontecimentos da Saga Skywalker, de forma direta ou indireta. Em uma galáxia tão grande e sendo a espécie de Grogu tão rara e misteriosa, talvez não houvesse necessidade de dá-lo uma origem tão familiar.

Quais outros Jedi Grogu poderia contatar?

A recusa de Ahsoka Tano à ideia de treinar Grogu nos caminhos da Força surpreendeu não só o Mandaloriano, mas também muitos fãs. Não obstante, ela foi além, indicando um templo em Tython cuja conectividade à Força poderia ajudar Grogu a decidir seu futuro e, quem sabe, contatar algum outro Jedi. Tython também não é nada novo: no cânone atual, o templo do planeta tem uma sintonia forte com a Força e era usado como confessionário pelos Jedi e seus ancestrais. O próprio Darth Vader acaba preso temporariamente no local no quadrinho “Doctor Aphra #40”, de Simon Spurrier.

“É um confessionário. Kyberita pura, meu pai acredita. Ele passou anos procurando por ele. Todos esses séculos de pecadores, sussurrando seus arrependimentos mais profundos ao coração de uma montanha ativa na Força. Bem pesado, aposto, para qualquer um em sintonia.”

O templo de Tython é o lugar ideal para um usuário da Força tentar expandir seu alcance. Já sabemos que Grogu é poderoso, mas a questão aí é outra: quais Jedi poderiam ouvi-lo? Nesse momento, há apenas três Jedi no cânone cujos paradeiros são desconhecidos à época de “The Mandalorian”: Luke Skywalker, Ezra Bridger e Cal Kestis.

Skywalker é o mais conhecido dos três, certamente, e o mais poderoso também. Nesse período, ele percorre a galáxia em busca de conhecimento não apenas sobre os Jedi, mas sobre todo tipo de religião ligada à Força, conforme o livro “The Legends of Luke Skywalker”, de Ken Liu, evidencia. Seu próprio templo Jedi é construído apenas quando seu sobrinho Ben Solo tem idade para ser padawan – à época da série, Solo tem apenas quatro anos. Uma aparição de Luke na série certamente surpreenderia a todos, dada a impossibilidade de Mark Hamill interpretá-lo durante esse período. Contudo, o próprio Hamill já apontou um possível sucessor para o papel na figura de Sebastian Stan. Até apoio dos fãs Stan tem.

Ezra Bridger, por sua vez, foi visto pela última vez junto ao Grande Almirante Thrawn no final de “Rebels“. Ele foi padawan de Kanan Jarrus, outro sobrevivente do expurgo Jedi. A jornada de Kanan e Ezra juntos é uma das mais cativantes de toda a franquia, com ambos crescendo juntos enquanto mestre e aprendiz. Ao final da série, Ezra invoca um cardume de purrgil, seres que viajam pelo hiperespaço, para destruir a frota de Thrawn no planeta Lothal. Os purrgil levam o Star Destroyer Chimaera, com Ezra e Thrawn abordo, para as Regiões Desconhecidas da galáxia, e nunca mais se ouve de ambos. Recentemente, o ator Rahul Kohli, fã de “Star Wars”, tem feito campanha nas redes sociais para interpretar Ezra em live-action – ele já ganhou até arte do artista Bosslogic.

Já Cal Kestis é talvez o mais improvável dos três. Protagonista do jogo “Jedi: Fallen Order”, ele concluiu seu treinamento sob orientação da Jedi Cere Junda, enfrentou a Segunda Irmã dos Inquisidores diversas vezes e é um dos poucos a enfrentar Darth Vader e sobreviver para contar a história. Mas ele não aparece no cânone de “Star Wars” desde o final do jogo, ambientado anos antes de “Uma Nova Esperança“. Ele é interpretado por Cameron Monaghan, que está em idade compatível à que Kestis teria.

Além dessas três possibilidades, há também a questão de quais efeitos tamanha conexão à Força em Tython poderia exercer sobre Grogu. Mas isso, só os próximos episódios podem nos mostrar.

Quem é o Grande Almirante Thrawn?

Junto a Ahsoka Tano, o Grande Almirante Thrawn é possivelmente o personagem mais conhecido e querido de “Star Wars” fora da Saga Skywalker. Criado pelo autor Timothy Zahn no início da década de 1990, as histórias de Thrawn foram o ponto de partida para o chamado Universo Expandido, histórias que hoje são publicadas sob o selo Legends e não compõem mais o cânone da franquia. Mesmo assim, devido a sua popularidade, Thrawn foi recanonizado por Dave Filoni e transformado no antagonista da série “Rebels“.

Um alien da espécie Chiss, Mitth’raw’nuruodo se juntou à Frota Imperial e rapidamente subiu na hierarquia ao ponto de Grande Almirante. Por não ser humano, ele sofria bastante preconceito de seus colegas, mas nunca deixou que isso o impedisse de apadrinhar certos oficiais, como Eli Vanto e Karyn Faro. Thrawn possui uma das mentes mais brilhantes de todo o universo de “Star Wars”, sendo um exímio estrategista militar, apesar de sua falta de tino para política. Ele é um grande apreciador de arte e consegue produzir leituras precisas sobre um povo apenas analisando a forma com que este se expressa artisticamente.

No novo cânone, ele é o protagonista de duas trilogias literárias, ambas escritas por Timothy Zahn. A primeira mostra sua ascensão na hierarquia imperial com o jovem cadete Eli Vanto como seu protegido – posteriormente, Vanto viria a deixar o Império e juntar-se à Ascendência Chiss a pedido de Thrawn -, além de aprofundar sua relação com o imperador Palpatine e Darth Vader, com quem tinha uma relação de profundo respeito mútuo (Thrawn, inclusive, era um dos únicos no Império que sabia que Vader havia sido o lendário Jedi Anakin Skywalker). Sua última aparição foi em “Rebels“, quando sua obsessão por eliminar a célula rebelde de Hera Syndulla e Ezra Bridger acabou levando ao seu desaparecimento nas mãos do jovem Jedi.

“The Mandalorian” reintroduziu Thrawn ao universo e já indicou que o personagem está forte o suficiente a ponto de ter seus protegidos trabalhando em material bélico, como Morgan Elsbeth em Corvus. Não há um fã de “Star Wars” que não almeje vê-lo em live-action, mas caso sua presença em “The Mandalorian” tome forma definitiva, ele certamente ofuscaria muitos dos demais personagens, incluindo o vilão da série até agora, moff Gideon (Giancarlo Esposito). Esposito, aliás, já deu indícios de que Gideon estará na terceira temporada da série (via Entertainment Weekly):

“Tenho a impressão que vocês me verão mais na próxima temporada. Bem provável que vocês vejam muito mais de moff Gideon. Não tenho certeza, mas [a série] parece uma jornada icônica que eles querem que você sinta. Acho que vocês verão outras histórias começarem a aparecer. Quando começaremos a perceber que há uma conexão profunda entre a história da série e a do resto da galáxia e o que está realmente acontecendo. […] Aliás, por que moff Gideon sabe tudo sobre o que está acontecendo em todos os lugares? Ele tem um tipo de fonte de inteligência incrível.”

Indícios de spin-offs

“The Mandalorian” vem servindo como uma espécie de “termômetro” para a Lucasfilm definir seus próximos passos. Enquanto o desempenho de “A Ascensão Skywalker” nos cinemas foi pífio em termos de crítica, o streaming vem se consolidando como o caminho ideal. Já há três novas séries em desenvolvimento: uma sobre o espião rebelde Cassian Andor (Diego Luna), uma sobre Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor) e a animação “Star Wars: Bad Batch“, spin-off de “The Clone Wars“. Mais recentemente, o podcast Kessel Run Transmissions vem afirmando também que um spin-off de “Star Wars Rebels” estaria em produção.

O confronto entre Ahsoka Tano e Morgan Elsbeth no último episódio de “The Mandalorian” pode muito bem ter sido um indício de potenciais spin-offs, incluindo já uma possibilidade de um para “Rebels“. Contudo, a sensação que vem sendo passada nos últimos episódios é de que, na verdade, a história de “The Mandalorian” é que estaria inserida em um contexto maior, e não o contrário.

Apesar de sempre ser bom que novas histórias sejam contadas, a série de Jon Favreau vem funcionando muito bem em seu formato atual, com o Mandaloriano e a Crian… Ou melhor, Grogu, vagando pela galáxia episódio a episódio. Mas se, no final, tudo estiver conectado e a dupla fizer parte de uma história maior… Então seria “The Mandalorian” o spin-off, ou um prequel?

==

O próximo episódio de “The Mandalorian” irá ao ar na sexta, 4 de dezembro, no Disney Plus. Para entender melhor o passado de Ahsoka Tano, leia nosso artigo.