Cinema com Rapadura

Colunas   sexta-feira, 20 de março de 2020

A aprendiz vive: quem é Ahsoka Tano no universo Star Wars?

Ahsoka é uma das personagens mais queridas pelos fãs da saga, mas o que seu retorno significa para o futuro?

Em plena quarentena causada pela pandemia de COVID-19, os fãs de “Star Wars” se viram com um motivo para comemorar: a personagem Ahsoka Tano teria sido confirmada na segunda temporada da série do Disney Plus, “The Mandalorian“, interpretada pela atriz Rosario Dawson. Caso confirmada, essa será a primeira aparição de Ahsoka em uma obra em live-action da franquia.

Ver Ahsoka interpretada por Dawson era uma pedida antiga dos fãs da saga. Até o momento, ela apareceu apenas nas séries de animação “The Clone Wars“, “Star Wars Rebels” e “Forces of Destiny“, além de ter um romance todo dedicado à sua vida após a ascensão do Império – “Ahsoka“, de E.K. Johnston. Sua dubladora, Ashley Eckstein, é uma das figuras mais carismáticas e queridas, chegando até a dar voz à personagem em “A Ascensão Skywalker“, quando Rey ouve as vozes dos Jedi de antigamente no confronto contra Palpatine.

Mas há um problema aí… Ahsoka não era uma Jedi. Já foi, sim. Ela começou como padawan de ninguém menos que Anakin Skywalker, mas nunca chegou a concluir seu treinamento. Para entender quem foi a personagem até o momento em “Star Wars” e qual pode ser seu papel em “The Mandalorian”, o Cinema com Rapadura recapitula agora uma das histórias mais cativantes de toda a franquia. Que a Força esteja conosco!

Ahsoka, a padawan

“Parece que eu cheguei bem a tempo.”

Enquanto personagem, Ahsoka foi criada pelo próprio George Lucas. Dentro da série, no entanto, ela foi descoberta pelo mestre Plo Koon em Shili, planeta originário de sua espécie, os Togruta. Levada ao templo Jedi em Coruscant, ela foi treinada por Yoda enquanto criança, como acontece com todos os iniciantes (“younglings”, no original em inglês). Quando chegou à adolescência, ela foi designada como padawan de Anakin Skywalker. Tida como cabeça quente e impulsiva, o Conselho Jedi via Ahsoka como a aprendiz perfeita para Skywalker, em uma tentativa de dar ao recém ungindo cavaleiro Jedi uma mostra de seu próprio veneno.

Talvez nem fosse preciso dizer que o tiro saiu pela culatra, e Anakin e Ahsoka se deram tão bem, mas tão bem, que logo se tornaram a equipe mais eficaz dos Jedi durante as Guerras Clônicas. Mas muito de seu sucesso vinha de dois elementos fundamentais: a calma e paciência de Obi-Wan Kenobi, que muitas vezes era a voz da razão em meio à euforia da dupla, e à generosidade de ambos para com seus regimentos de clones no exército. Atuando junto a Anakin na 501ª Legião, Ahsoka rapidamente desenvolveu laços fortes de camaradagem com seus subordinados, como o capitão Rex e soldados como Echo, Fives e Hevy.

Outra relação importante de se destacar é a de Ahsoka com Padmé Amidala. Como padawan de Anakin, a jovem Togruta raramente deixava seu mestre em paz, e logo começou a perceber que ele a senadora de Naboo passavam tempo demais juntos. Sua natureza transgressora, no entanto, fez com ela desconfiasse e até tirasse suas próprias conclusões sobre o relacionamento de Anakin e Padmé, mas nunca os dedurar ao Conselho Jedi. Ela própria se tornou amiga de Padmé, que por sua vez passou a requisitar a padawan para algumas de suas missões diplomáticas. Com a senadora de Naboo, Ahsoka aprendeu que a política nem sempre é preto-e-branco, valores que viriam a guiá-la mais tarde.

A personalidade forte de Ahsoka fez com que ela rapidamente se tornasse um exemplo para os aprendizes mais novos e iniciantes dentro da Ordem Jedi. Sua vivência prática junto a Anakin nas linhas de frente da guerra, testemunhando as atrocidades cometidas pelos Separatistas – e até mesmo os excessos e omissões da República em diversos casos – a deram uma boa noção não apenas de estratégia militar. Sua habilidade ao transmitir isso tudo para os mais jovens era admirável, e muitos deles se sentiam mais seguros com ela do que até com mestre Yoda.

A história de Ahsoka na Ordem Jedi, entretanto, não teve um final feliz. Já no final da guerra, uma atentado a bomba no templo Jedi em Coruscant colocou em risco a vida de todos no lugar. A responsável foi a melhor amiga de Ahsoka, a padawan Barriss Offee, que, decepcionada com o envolvimento dos Jedi nas Guerras Clônicas, orquestrou todo o plano de modo a apontar a Togruta como culpada. Enquanto Anakin, certo da inocência de sua padawan, se desdobrava em sua investigação, o Conselho Jedi rapidamente colocou a jovem em julgamento, declarando-a culpada. A verdade veio à tona em seguida e Ahsoka acabou absolvida, mas o mal já estava feito. Mesmo com o arrependimento do Conselho e os pedidos de Anakin para que ela reconsiderasse, a jovem decidiu deixar a Ordem Jedi por conta própria.

Seu envolvimento nas Guerras Clônicas, contudo, não acabou por aí. A sétima temporada de “The Clone Wars” está atualmente em exibição, com episódios indo ao ar semanalmente via Disney Plus. O retorno de Ahsoka foi antecipado pelos trailers, e ela terá seu próprio regimento de clones. Sua zona de combate é uma muito familiar aos fãs: Mandalore. Lá ela tentará derrubar o antigo lorde Sith Maul e restaurar a autoridade local ao poder após o assassinato da chefe de Estado mandaloriana, a duquesa Satine Kryze. Espera-se também ver como, exatamente, Ahsoka sobreviveu à Ordem 66, já que está não é a última vez que a vemos na cronologia…

Ahsoka, a fugitiva

A Ordem 66 exterminou os Jedi. O templo em Coruscant foi transformado no Palácio Imperial de Palpatine, em uma demonstração clara do poder dos Sith para que todos vissem. Os Jedi que sobreviveram logo seriam caçados e eliminados por Darth Vader (cuja real identidade quase ninguém conhecia) e sua ordem de Inquisidores. Mas não só os Jedi eram as vítimas: todos os seres sensíveis à Força deveriam ser mapeados e registrados pelo Império, e, dependendo de como estas etapas se dessem, até eliminados.

Ahsoka já não era mais uma Jedi fazia tempo, mas isso não significa que ela não tenha sentido profundamente os efeitos de seu extermínio. Ao meditar, ela tentava sentir alguma conexão, qualquer ponto de luz na Força, por menor que fosse… Mas nada. Completamente sozinha na galáxia, seu objetivo era apenas sobreviver. Ela se desfez de seus sabres de luz em uma tentativa de forjar sua própria morte, salvou os clones que serviam com ela e todos concordaram em seguir caminhos opostos.

Mas a sombra do Lado Negro se movia rápido, e logo alcançou a jovem Togruta. Sua fuga constante a levou eventualmente aos planetas Thabeska e Raada, onde, em meio ao seu trabalho como mecânica para uma família rica com negócios em ambos planetas, ela descobriu que também havia Luz remanescente. Um antigo amigo dos Jedi, o senador Bail Organa de Alderaan, rastreou Tano, apresentando-a uma alternativa à vida de refugiada. Ele estava organizando um movimento de resistência e rebelião contra o Império, ainda em estágios muito iniciais. Apreensiva, Ahsoka informou que não poderia retornar à vida militar, o que foi prontamente entendido por Organa. Seu envolvimento teria que se dar de outra forma: informante.

Enquanto tentava se enquadrar nessa nova atribuição, Ahsoka acabou encontrando um grande contratempo. Uma das jovens da família para a qual trabalhava começava a demonstrar habilidades na Força, e não demorou para ser rastreada pelos Inquisidores. Sem armas para proteger a criança, Ahsoka fez o que pôde, e fez uso de toda sua habilidade como combatente para superar o Sexto Irmão, Inquisidor enviado a Thabeska para raptar a criança. Com o Sexto Irmão derrotado, Ahsoka pegou para si o sabre de luz duplo do vilão, com a ideia de torná-lo algo próprio. Os cristais vermelhos, que adquirem essa cor ao serem “sangrados” pelo Lado Sombrio, foram “curados” por ela e postos em duas guardas separadas, adequando-se ao seu estilo de combate preferido, com dois sabres de cor branca.

Os sabres brancos de Ahsoka estão até hoje entre os favoritos dos fãs, e estão entre os mais procurados no parque Galaxy’s Edge, nos complexos da Disney na California e na Flórida. Sua origem era algo muito especulado por quem havia assistido o retorno de Ahsoka em “Star Wars Rebels“, bem como ela teria sobrevivido à Ordem 66 e iniciado suas atividades na célula rebelde de Bail Organa. Apesar de não ter mais funções militares, a Togruta criou uma nova linha especializada de espiões e informantes denominada Fulcrum. Dentre eles, um dos destaques viria a ser Cassian Andor, protagonista de “Rogue One: Uma História Star Wars“.

Ahsoka, espiã rebelde

Quatro anos antes da Batalha de Yavin (vista em “Star Wars: Uma Nova Esperança“), a Rebelião ainda não era o movimento que veio a ser conhecido como Aliança Rebelde. O que havia eram várias células rebeldes, que trabalhavam em sincronia graças ao fluxo de informações coordenado pela célula principal, comandada por Mon Mothma, Bail Organa e sua filha, Leia. A aquisição e redirecionamento destas informações era atribuição dos agentes Fulcrum.

Uma das células rebeldes mais eficazes era a célula do planeta Lothal, comandada pela tripulação do cargueiro Ghost. A nave em si é famosa, tendo aparecido durante a Batalha de Scarif em “Rogue One” e durante a Batalha de Exegol em “A Ascensão Skywalker“. O que interessa aqui é a quem essa nave pertence: a piloto e general twi’lek Hera Syndulla. Com ela atuavam o Jedi Kanan Jarrus, o padawan Ezra Bridger, o guerreiro lasat Zeb Orrelius, a mandaloriana renegada Sabine Wren e o droide Chopper. Juntos, o comando imperial sobre Lothal sofreu muito, e eles chamaram atenção do alto comando da Rebelião.

Pela existência de dois Jedi nessa célula, a própria líder dos agentes Fulcrum assumiu a dianteira e passou a coordenar as ações do grupo. Nesse período, Ahsoka serviu como uma mentora para Kanan, que não chegou a terminar seu treinamento quando a Ordem Jedi existia, e uma irmã mais velha para Ezra, que tinha o fardo de treinar como Jedi em uma época em que não haviam Jedi. Ela também teve oportunidade de reencontrar um velho amigo, o clone e ex-capitão da 501ª Legião Rex, com quem Ahsoka serviu durante as Guerras Clônicas.

Tudo ia bem, até que, em uma missão do grupo, a identidade de Ahsoka foi descoberta… Por ninguém menos que Darth Vader. Determinado a reencontrar sua antiga aprendiz e, quem sabe, recrutá-la, Vader colocou a sobrevivência da célula Ghost em risco por diversas oportunidades. Ahsoka por muito tempo se negou a aceitar quem estava por trás da máscara de Vader, sempre revendo os holos que Anakin havia gravado para ela durante seu tempo como padawan. Até que uma das missões do grupo os colocou em busca de um antigo holocron Sith, levando ao planeta Malachor V.

Lar de um templo dos Sith, Malachor V é um planeta amaldiçoado. Milênios atrás, uma grande batalha entre os Jedi e seus inimigos resultou na petrificação de todos os seus combatentes. Ao chegarem no planeta, Ahsoka, Kanan e Ezra logo entendem que não estão lá por acaso. Em meio à exploração do lugar, acabam trombando com um ser estranho, um velho ermitão que já fora Darth, mas que agora atende apenas por… Maul. Também perseguido pelo Império, Maul concorda em ajudar o grupo quando três Inquisidores chegam a Malachor atrás deles. Sua palavra, no entanto, vale muito pouco, e ele ataca seu próprio grupo, deixando Kanan cego. Ahsoka se vê forçada a proteger seu grupo dos Inquisidores e de Maul.

Tudo piora quando o próprio Darth Vader chega ao templo Sith, que começa ruir. Após derrotar os Inquisidores e afugentar Maul, Ahsoka precisa enfrentar Vader para salvar Kanan e Ezra. Não há como descrever o duelo, o melhor a fazer é assisti-lo:

Após a magistral revelação de que Anakin Skywalker se tornou Darth Vader – com esta sendo a primeira vez que Anakin e Vader são retratados de fato como uma única pessoa e entidade -, Ahsoka é salva por Ezra, que a transporta para um lugar místico chamado Mundo Entre Mundos. Como Ezra, que aqui está anos no futuro, chegou lá é uma história para outro dia, já o que eles enfrentam lá… O Mundo Entre Mundos é uma dimensão à parte na Força, que conecta todos os momentos no espaço e no tempo. Quando estão lá, Ahsoka e Ezra escutam vozes do passado e do futuro, de longe e de perto. Mas acabam encontrando um portal aberto por uma magia oculta e forte no Lado Negro. Uma porta aberta pelo próprio Imperador Palpatine. Ciente da existência de ambos pelos relatos de Vader, Darth Sidious os encurrala no Mundo Entre Mundos, e quase os captura, não fosse a astúcia da dupla, que se separa e retorna para seus respectivos lugares no tempo e espaço.

Ahsoka some a partir daí, sendo vista pela última vez adentrando as ruínas do templo Sith em Malachor V após a destruição do lugar e a fuga de Vader e Maul. Ela viria a reaparecer anos depois, após o final da Guerra Civil Galática com a vitória da Aliança Rebelde sobre o Império e a consolidação da Nova República. Em Lothal, que agora é um planeta livre e próspero, Sabine Wren está em busca de Ezra, que desapareceu após seu confronto final contra o Grande Almirante Thrawn pouco antes do início da guerra. De alguma forma, Sabine contata Ahsoka, agora uma anciã. Juntas, ambas partem em busca de Ezra, onde quer que ele esteja na galáxia…

Mas e Ahsoka em “The Mandalorian”?

Agora Ahsoka sai do campo da animação para finalmente, para a alegria dos fãs galáxia afora, passar para o live-action. A essa altura, sua inserção na segunda temporada de “The Mandalorian” pode significar desde o início do fim do arco da personagem até uma mudança definitiva no que a franquia pode explorar dentro do universo de “Star Wars”. Por que “início do fim”? Oras, porque dada a ambientação da série, sabemos que Ahsoka sobrevive já que ela aparece no final de “Rebels“. E por que “mudança definitiva”? Por que “The Mandalorian” já trouxe elementos novos em sua primeira temporada, como o prospecto de usuários da Força não afiliados aos Jedi ou Sith na figura da Criança (ou nosso querido Baby Yoda) e o prolongamento da guerra civil contra facções imperiais infiltradas pela galáxia.

O fato é que Ahsoka Tano tem muita história para contar ainda. Seu envolvimento em “The Mandalorian” pode se resumir a um episódio, tal qual Fennec Shand (Ming-Na Wen) na primeira temporada, ou pode ser pretexto para todo um arco expandido ao longo do segundo ano. Ahsoka liderou o cerco a Mandalore durante as Guerras Clônicas, quando lutou junto à líder mandaloriana Bo-Katan Kryze, irmã da duquesa Satine e última líder mandaloriana antes da retomada da ocupação imperial. Ela também atuou junto a Sabine Wren durante o prelúdio da Guerra Civil. Se há algo que a Togruta tem, é experiência com mandalorianos.

O elemento que pode suscitar mais questões sobre o futuro da série é a Criança. Caso Ahsoka entre em contato com Din Djarin (Pedro Pascal), será difícil esconder uma criaturinha tão simpática e poderosa como ela. Mesmo não sendo uma Jedi, Ahsoka teve treinamento com a Força e segue um código de conduta próprio, pautado na maioria dos preceitos da velha religião. Caso o contato ocorra, será interessante ver para qual lado a Criança penderá, qual será a postura de Ahsoka e se Djarrin estará disposto a entregar seu filho adotivo, membro do seu clã, para que ele seja treinado nos caminhos da Força. Sorte a nossa que a resposta a essa pergunta cabe a Jon Favreau e a Dave Filoni, que certamente farão um bom trabalho ao contar essa história.

A segunda temporada de “The Mandalorian” está prevista para estrear em outubro deste ano.

Julio Bardini
@juliob09

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