Atenção: este texto contém spoilers do quinto episódio da segunda temporada de “The Mandalorian”. Siga por sua conta e risco.

A comunidade de fãs de “Star Wars” é uma das mais heterogêneas da cultura pop, dado que trata-se de uma franquia em atividade desde a década de 1970 e com produtos em diversas mídias. Há quem tenha se tornado fã pela trilogia original, há quem tenha começado a gostar pelas prequels, pela nova trilogia… E até pelas séries de animação. “The Mandalorian” tem algo para todos, como mostra Dave Filoni, herdeiro natural de George Lucas, no episódio A Jedi.

O episódio começa satisfazendo a ansiedade dos fãs logo de imediato. Uma cidade está sob cerco e se prepara para batalha, mas logo vemos que a ameaça não é bem uma ameaça. Conforme seu par de lâminas brancas dança pela névoa de um planeta em cinzas, um vulto elimina um a um os soldados que protegem a cidade, aparecendo e desaparecendo como um fantasma. Nos portões, ela confronta a Magistrada local (Diana Lee Inosanto) e demanda saber onde está seu mestre. Sem resposta, o vulto retorna à névoa e desaparece. O planeta é Corvus, a cidade é Calodan e o vulto com os sabres brancos é Ahsoka Tano (Rosario Dawson).

Pouco depois, o Mandaloriano (Pedro Pascal) chega a Corvus com a Criança e logo parte para Calodan, onde Bo-Katan Kryze havia lhe dito que encontraria uma Jedi. Na cidade, sente-se logo o clima de medo, ficando claro que o lugar é comandado por uma líder autoritária. O chefe da segurança local, Lang (Michael Biehn) encaminha Mando à residência da Magistrada, um oásis de verde e paz em meio às cinzas de um planeta destruído. A Magistrada oferece ao protagonista uma lança de aço beskar puro para que ele elimine a Jedi que atormenta a cidade. Ele concorda, mas sabemos qual é seu real objetivo.

De volta às cinzas da floresta, o Mandaloriano logo identifica Ahsoka após um curto duelo, interrompido quando a antiga Jedi vê a Criança. Mando explica sua missão e os poderes da Criança e, ao longo da noite que segue, Ahsoka e o bebê participam de um diálogo sem palavras onde muito se revela. A Criança é sobrevivente do ataque ao Templo Jedi em Coruscant (visto em “A Vingança dos Sith“) e passou sua vida escondida e com medo, sem que as pessoas soubessem sequer seu nome: Grogu. Tudo isso mudou quando ela foi encontrada pelo Mandaloriano.

Ahsoka então explica ao Mandaloriano o que é a Força e testa Grogu, que prontamente atende toda vez que seu nome é usado. A criança é forte na Força, mas não usa suas habilidades por medo. Grogu não responde à tentativa de Ahsoka de testá-la levitando uma pedra, mas obedece quando Mando usa a bolinha do acelerador da Razor Crest, com a qual a criança gosta de brincar. Para Ahsoka, isso é o suficiente: ela não pode treinar Grogu. A criança tem um apego muito forte ao Mandaloriano, e ela lembra o que esse tipo de relacionamento faz a quem se propõe a seguir o caminho dos Jedi mencionando, sem usar nomes, a tragédia de Anakin Skywalker, seu antigo mestre e “o melhor de nós“. Ela chega a falar até que o melhor é deixar as habilidades de Grogu desaparecerem com o tempo.

Desnorteado com a negativa, o Mandaloriano aceita ajudar Ahsoka a libertar Calodan se ela repensar sua decisão, e a dupla parte para a cidade. A heroína explica que a Magistrada é Morgan Elsbeth, uma antiga fornecedora de armas para o Império e especialista em destruir mundos inteiros – Corvus, no caso, está quase lá. Ao que tudo indica, ela continua no ramo, dado que há fábricas ao redor e atrás da residência da tirana na cidade.

Com uma Jedi e um mandaloriano trabalhando juntos, o ataque a Calodan é rápido e coordenado. Enquanto Ahsoka elimina os guardas da cidade nas muralhas e entre os becos, o Mandaloriano orienta a população a retornar a suas casas, onde estarão protegidas. Quando ela se encaminha para a casa da Magistrada para o confronto final, ele permanece do lado de fora, confrontando Lang. O duelo entre Ahsoka e Elsbeth é emocionante – sabres de luz contra aço beskar (que aguentam golpes da arma Jedi) -, mas logo chega ao fim. Antes, Ahsoka surpreende o público novamente ao perguntar à vilã onde está seu mestre. Quando todos esperavam ouvir o nome de Moff Gideon, Ahsoka fala o do Grande Almirante Thrawn, desaparecido desde o final da série “Star Wars Rebels“.

Com Calodan liberta, é hora de definir o que será da Criança – ou melhor, de Grogu. Ahsoka mantém que o laço entre o Mandaloriano e a criança é forte demais e que quebrá-lo nesse ponto é perigoso, então orienta a dupla a seguir para o planeta Tython. Lá, um antigo templo Jedi pode estimular a conexão de Grogu com a Força e ele poder decidir por si próprio, além de algum outro Jedi poder senti-lo e procurar por ele. A essa altura, duas são as possibilidades: Luke Skywalker, que tenta reconstruir a Ordem Jedi, ou Ezra Bridger, que desapareceu junto a Thrawn no final de “Rebels“.

Para os fãs, é fácil se deixar mesmerizar pela figura de Ahsoka Tano, retratada em live-action pela primeira vez. Rosario Dawson deixa transparecer claramente estar se divertindo no papel e entrega a mesma Ahsoka que vemos em “The Clone Wars” e “Rebels“, que, apesar de mais madura, continua se maravilhando com as coisas novas que a Força lhe mostra. Apesar de ser estranho não ter a voz de Ashley Eckstein (dubladora original da personagem), Dawson é claramente a escolha ideal para interpretar Ahsoka.

Mas o ponto alto do episódio não reside em Ahsoka por si só. Sem uma mão hábil e conhecedora por trás, seria fácil cair na armadilha de ver Ahsoka aceitar treinar a Criança, o grupo seguir para derrotar Moff Gideon e todos viverem felizes para sempre. Mas Dave Filoni mostra que os Jedi, como os conhecíamos, precisavam de fato acabar ao fazer Ahsoka recusar Grogu como aluno, assim como Luke Skywalker recusa Rey em “Os Últimos Jedi“.

Isso não está de acordo apenas com a narrativa principal da Força (que Filoni domina e compreende melhor do que ninguém), mas também com a narrativa da série em si, mantendo a estrutura episódica de pequenos contos que começam e terminam em si mesmos, como um conto de samurais. Aliás, a atmosfera idealizada por George Lucas, inspirada nos filmes de Akira Kurosawa, está presente ao longo do episódio inteiro, desde a história de uma vila sob domínio de um tirano até o fato de os combatentes retirarem seus robes antes de um duelo (que acabou virando marca registrada dos Jedi de tanto isso ocorrer nas prequels). Filoni sabe o que faz, e suas habilidades como diretor afloram quando ele conhece os personagens que dirige (em contraponto a outro episódio que ele comandou, O Pistoleiro, na primeira temporada). Em suas mãos, o futuro de “Star Wars” é luminoso.

Curiosidades

– A cidade de Calodan tem design inspirado em artes conceituais da Saga Skywalker. Primeiro, o sino está sob um arco inicialmente desenhado por Ralph McQuarrie para a entrada de Mos Eisley em Tatooine em “Uma Nova Esperança“; o mesmo desenho aparece no entreposto Niima em Jakku, em “O Despertar da Força“. Já a residência da magistrada tem inspiração nas artes conceituais do que seria o templo Jedi em Ahch-To, onde Luke Skywalker se exilou em “Os Últimos Jedi“.

– Enquanto procura por Ahsoka nas cinzas da floresta de Corvus, o Mandaloriano é observado pelo convor Morai, pássaro utilizado por ela como batedor.

– Ao explicar para o Mandaloriano o que é a Força, Ahsoka usa as mesmas palavras de Obi-Wan Kenobi a Luke Skywalker em “Uma Nova Esperança“: “é um campo de energia criado por todas as coisas vivas“.

– Durante o ataque do Mandaloriano e Ahsoka à cidade, lothcats são vistos correndo pelos becos da cidade. Eles já apareceram na primeira temporada no episódio Santuário e são recorrentes na série “Star Wars Rebels“.

– Em diversos momentos Ludwig Göransson utiliza o tema criado por Kevin Kiner para Ahsoka, ouvido tanto em “The Clone Wars“, quanto em “Rebels“. Quando Ahsoka menciona Yoda, o tema do personagem, escrito por John Williams, pode ser ouvido também.

==

O próximo episódio de “The Mandalorian” irá ao ar no próximo dia 4 de dezembro no Disney Plus. Para entender melhor o passado de Ahsoka Tano, leia nosso artigo.