Atenção: este texto contém spoilers do quarto episódio da segunda temporada de “The Mandalorian”. Siga por sua conta e risco.

Poucas coisas são tão boas quanto reunir os amigos e colocar fascistas para correr. Nesse espírito, é exatamente o que acontece em O Cerco, quarto episódio da segunda temporada de “The Mandalorian“. O capítulo marca a estreia de Carl Weathers como diretor, com roteiro denso e regado à ação e revelações escrito por Jon Favreau. Mais que isso, serve para expandir o universo de “Star Wars” após os eventos de “O Retorno de Jedi” de uma forma à qual poucas outras obras se propuseram – ou conseguiram.

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Após conseguir a localização de uma Jedi no capítulo anterior, o Mandaloriano (Pedro Pascal) e a Criança tentam consertar a Razor Crest a caminho do planeta Corvus. Os reparos, como é de se esperar, não vão bem, dado que um dos envolvidos é um bebê com nenhuma noção de mecânica e elétrica. A conclusão óbvia é parar em um lugar seguro para conduzir os reparos, e o lugar mais próximo e confiável para isso é Nevarro, planeta onde boa parte da primeira temporada da série ocorreu. Greef Karga (Weathers) e Cara Dune (Gina Carano) administram a parte livre do planeta, e a dupla de protagonistas certamente terá a ajuda que precisa.

A chegada em Nevarro ocorre como um retorno à família depois de um período de ausências. O local passou por mudanças drásticas, e a qualidade de vida aumentou visivelmente. Antes um antro de escória e vilania, a parte livre do planeta agora é lar de famílias e tem um comércio que começa a chamar atenção. Greef Karga tornou-se a principal autoridade e é chamado de “magistrado” pelo povo, e Cara Dune assumiu o posto de xerife. Há até uma estátua em homenagem ao droide IG-11 e uma escola funcionando no mesmo lugar onde antes era a cantina que quase fora destruída por moff Gideon (Giancarlo Esposito) no final da temporada anterior. Antes de tratar de negócios com o Mandaloriano, Karga consegue até convencê-lo a deixar a Criança na escola, onde ela assiste uma aula sobre vias de hiperespaço (trajetos centrais pelos quais grande parte das naves da galáxia se desloca) e rouba macarons de seus coleguinhas.

O Mandaloriano não tinha intenção de fazer nenhum serviço em Nevarro, mas a presença do Império ainda é forte no planeta. Karga explica o perigo que uma base imperial representa para sua cidade e o pistoleiro aceita participar de uma missão para destruir o local. A equipe? Ele, Karga, Cara Dune e o Mithrol – que é a primeira recompensa que vemos o Mandaloriano conquistar na série, e que agora trabalha para Karga para pagar sua dívida.

A base imperial não é grande, mas é equipada com uma guarnição completa de stormtroopers, um tanque, quatro TIE Fighters e muitos segredos. As sequências de ação ambientadas no local se distinguem das ocorridas na saga Skywalker nos cinemas e se aproximam mais às de “Rogue One“, onde tiroteios têm a mesma importância que o tempo restante para a destruição do local e as surpresas que ele guarda.

Uma descoberta particularmente macabra feita pelos protagonistas é um laboratório repleto de tanques, onde estão seres inanimados parecidos com o Líder Supremo Snoke (Andy Serkis em “O Despertar da Força” e “Os Últimos Jedi“). Lá, uma gravação deixada pelo dr. Pershing (Omid Abtahi) para moff Gideon (que os protagonistas acreditavam estar morto) dá dicas do que está acontecendo: clonagem para fabricação de seres sensíveis à Força. O sucesso do experimento, no entanto, depende de uma cobaia poderosa, que Pershing revela ser a Criança. O Mandaloriano imediatamente retorna à cidade para buscar a criança e sua nave para poder deixar o planeta, enquanto Karga, Dune e o Mithrol destroem a base, a frota de TIEs e ainda ficam com um tanque.

De volta à cidade e já após o Mandaloriano deixar Nevarro, Carson Teva (Paul Sun-Hyung Lee), um dos pilotos das X-Wings da Nova República, interroga Greef Karga e Cara Dune. Durante esse momento, fica clara a desconfiança da população local para com o novo regime, com Karga rapidamente despachando o oficial. Antes de ir embora, porém, ele conversa com Cara Dune sobre Alderaan, a Rebelião e a necessidade do apoio local para lutar contra as ameaças que rondam a Orla Exterior.

Enquanto isso, em um cruzador Arquitens imperial, moff Gideon conduz testes em uma sala repleta do que aparentam ser trajes especiais. Até o momento há quem especule serem trajes de Purge Troopers (exterminadores de Jedi que já apareceram no jogo “Jedi: Fallen Order“) ou os droides Dark Troopers (do jogo “Dark Forces“). É quando ele recebe a notícia que um rastreador fora implantado na Razor Crest por um dos mecânicos de Greef Karga.

As cenas finais do episódio são tão reveladoras quanto a descoberta do experimento na base imperial. A conversa entre o piloto da Nova República Carson Teva e Cara Dune é reveladora sobre a situação política da galáxia. Como visto nos livros da trilogia “Marcas da Guerra“, o novo regime rapidamente desmontou a estrutura militar da Aliança Rebelde para evitar os crimes e abusos cometidos pelo Império, o que deixou os poucos pilotos e soldados relegados a trabalhos de patrulha. Como disse Greef Karga no começo do episódio, se o Império não conseguiu domar a Orla Exterior, nessas condições a Nova República dificilmente conseguirá.

Mesmo assim, os patrulheiros conseguem identificar que há uma ameaça à espreita, mas lhes falta a capacidade de outrora para lidar com isso. A desconfiança da população, a insuficiência militar e a obsessão da Nova República com sua própria burocracia irá formar o ambiente perfeito para, das cinzas do Império, surgir um novo regime fascista e autoritário: a Primeira Ordem (que já é até referenciada entre os imperiais, como a oficial do cruzador de Gideon que promete recompensas ao mecânico de Greef Karga “na nova era”).

Por trás das câmeras, O Cerco dá continuidade à tradição de “The Mandalorian” de dar visibilidade a novos talentos na direção. Carl Weathers consegue entregar um episódio denso em construção de mundo, sabendo dosar o impacto e a sutileza de cada uma das revelações que o roteiro traz. Não obstante, ele também se dá bem coordenando as sequências de ação, com destaque para a perseguição entre os TIE Fighters e o tanque roubado por Cara Dune, Greef Karga e o Mithrol, além do resgate da Razor Crest logo em seguida.

O próximo episódio será, segundo fontes, intitulado A Jedi, e terá roteiro e direção de Dave Filoni, indicativos de que revelações, emoção e reencontros nos aguardam.

Curiosidades

– Os seres que saqueavam o espaço da antiga colônia mandaloriana em Nevarro são Aqualish, mesma espécie de Ponda Baba, que tenta arrumar confusão com Luke Skywalker na cantina em Tatooine em “Uma Nova Esperança“.

– Quando os protagonistas encontram o experimento na base imperial, a trilha sonora de Ludwig Göransson (na faixa Experiment) adota o mesmo tom e melodia das músicas que caracterizam Palpatine e Snoke nas trilogias cinematográficas.

– A contagem-Midi mencionada pelo dr. Pershing faz referência aos famigerados midichlorians, micro-organismos que, segundo Qui-Gon Jinn em “A Ameaça Fantasma“, garantiriam sensibilidade à Força aos seres vivos – o que torna a Criança o alvo perfeito para Gideon.

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Os novos episódios de “The Mandalorian” são lançados às sextas-feiras. Fique ligado no Cinema Com Rapadura e não perca nenhum detalhe. É como deve ser.