Cinema com Rapadura

Colunas   segunda-feira, 26 de outubro de 2020

[LISTA] 6 filmes de terror brasileiros que merecem ser assistidos

Preparamos uma lista com filmes de terror brasileiros para conhecer um pouco mais sobre como o país também oferece ótimos títulos do gênero.

Chega o mês de outubro e listas de filmes de terror são recomendadas pensando no Halloween no dia 31. Além de nós, brasileiros, pegarmos emprestado o hábito de assistir a mais filmes de terror nesse período do ano, geralmente citamos produções norte-americanas. Mas, e se aproveitássemos o mês para lembrarmos e conhecermos exemplares nacionais do gênero? Por que não desbravarmos o cinema brasileiro e suas experiências na nobre arte de assustar e arrepiar os nervos?

Seguindo essa proposta, preparamos uma lista com 6 filmes de terror brasileiros para você aproveitar. De períodos mais recentes ou não, o Brasil também produziu títulos que podem ocupar seus próximos dias.

As Boas Maneiras (2017)

Clara (Isabél Zuaa) é uma solitária enfermeira que vive na periferia de São Paulo até ser contratada pela rica e misteriosa Ana (Marjorie Estiano) como babá de seu filho ainda não nascido. Conforme a gravidez avança, Ana passa a se comportar de maneira cada vez mais estranha com hábitos noturnos que afetam diretamente Clara.

Dividindo-se em duas metades, a narrativa de “As Boas Maneiras” combina muitos elementos distintos: estudo de personagens, comentário social sobre as diferenças de classe, discussões acerca de identidade e maternidade e uma abordagem sobrenatural. Essa diversidade é muito bem trabalhada pelos diretores e roteiristas Juliana Rojas e Marco Dutra, que criam uma fábula repleta de um estilo visual marcante e personagens carismáticos para se identificar.

A Sombra do Pai (2018)

Após a morte de sua mãe, Dalva (Nina Medeiros) se torna responsável por sua casa precocemente aos nove anos de idade. Isso porque a tia Cristina (Luciana Paes) se casou e se mudou e seu pai Jorge (Julio Machado) adoeceu. A partir daí, a menina deixa de lado sua infância para cuidar do pai, enquanto busca preservar as memórias da mãe ou até mesmo encontrar um meio de revê-la.

Ao longo de sua carreira como roteirista e realizadora de curtas metragens, Gabriela Amaral Almeida se envolveu bastante com o terror. Em “A Sombra do Pai”, a diretora propõe uma experiência sensorial sugestiva e intimista a partir da ideia de que pessoas vivas podem estar mortas por dentro. Através da estética discretamente opressiva e das atuações de Nina Medeiros e Júlio Machado, o filme nos deixa inquietos imaginando e sentindo aquele cenário de luto mal trabalhado e incomunicabilidade familiar.

Morto Não Fala (2018)

Stênio (Daniel de Oliveira) é um plantonista de necrotério que possui um “dom”: pode se comunicar com os mortos que são levados até o IML onde trabalha. Ele está acostumado a ouvir os relatos vindos do além em todas as noites de trabalho, até sua habilidade se voltar contra ele. Quando usa essas conversas para resolver um problema pessoal, uma maldição recai sobre ele e todos a sua volta.

A estreia de Dennison Ramalho na direção de longas metragens trabalha com muitos méritos o conto escrito por Marco de Castro. “Morto Não Fala” sabe ocupar seu lugar entre os filmes de terror que transitam entre o estranho e o angustiante, entre o gore e o sobrenatural, passeando organicamente por estilos e convenções variadas do gênero. Muito disso também se deve ao protagonista Stênio interpretado por Daniel de Oliveira, um homem imperfeito e falho que é atormentado por essa maldição ao cometer erros sucessivos para satisfazer seus impulsos.

A Mata Negra (2018)

Em uma floresta do interior do Brasil, a jovem Clara (Carol Aragão) vê sua vida se transformar terrivelmente quando encontra o Livro Perdido de Cipriano. Ela tenta usar a Magia Sombria contida nele para salvar um jovem por quem se apaixonou, mas o resultado é totalmente outro. Os rituais existentes no livro liberam um mal, que persegue Clara e qualquer pessoa que cruza seu caminho.

Rodrigo Aragão é uma das referências no cinema brasileiro de terror contemporâneo, superando com criatividade limitações de financiamento ou de distribuição. O autor oferece em “A Mata Negra” uma bela demonstração de seu amor pelo gênero e pelo cinema em geral: efeitos práticos, uso preciso do trash, combinação de estilos diversificados, abordagens cômicas e progressão intensa da trama. Além disso, cria um universo autoral de grande brasilidade a partir de lendas regionais e elementos da cultura popular brasileira.

Canto dos Ossos (2020) 

Em uma cidade litorânea do Nordeste, duas vampiras se reencontram após algum tempo separadas. Cada uma delas seguiu rumos diferentes em suas vidas: uma se tornou professora de Ensino Médio, enquanto a outra vive caçando presas à noite. Esse é o ponto de partida para uma narrativa que se divide em subtramas sempre com um tom de mistério fantástico.

“Canto dos Ossos” vem gerando muitos debates no circuito de festivais por onde passou, sendo exibido na Mostra Tiradentes de Minas Gerais e no Olhar de Cinema de Curitiba em 2020. O filme cearense dirigido por Jorge Polos e Petrus de Bairros demonstra a criatividade do cinema brasileiro independente em contar uma história de terror cheia de experimentações: no campo estético experimenta com decisões ousadas de fotografia, som e montagem; no campo temático trabalha o erotismo de forma bastante expressiva e simbólica.

À Meia Noite Levarei Sua Alma (1964)

Zé do Caixão (José Mojica Marins) é um sádico e cruel coveiro que pretende gerar um filho perfeito para dar continuidade ao seu sangue. Porém, sua mulher não consegue engravidar e ele violenta a mulher do seu melhor amigo. A moça violentada quer se suicidar para voltar do mundo dos mortos e levar a alma do coveiro.

Uma lista de recomendações de filmes de terror não estaria completa se o pai do gênero no país não aparecesse. José Mojica Marins criou o icônico Zé do Caixão, lidando muito bem com limitações técnicas e falta de educação cinematográfica formal. “À Meia Noite Levarei Sua Alma” se sustenta até hoje como um marco, por conta da ousa oposição entre individualismo exacerbado e religiosidade coletivista e de escolhas estéticas de muito bom gosto. Apesar de ter sido feito décadas atrás, o filme mantém sua ambientação sombria até hoje com seus efeitos práticos e sua fotografia soturna.

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Esses seis filmes exemplificam como o cinema brasileiro de terror pode ser original e capaz de representar nossas diversas realidades regionais. Tamanha diversidade se acentua cada vez mais nos últimos anos e pode ser conferida na Mostra MacaBro – Horror Brasileiro Contemporâneo – produzido pela BLG Entretenimento com patrocínio do Banco do Brasil. De 28 de outubro a 23 de novembro, 44 produções de terror serão exibidas pela plataforma Darkflix a todos os interessados pelo gênero. Um evento para seguir conhecendo e se assustando com o ótimo terror nacional.

Ygor Pires
@YgorPiresM

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