Cinema com Rapadura

Colunas   segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

[LISTA] Os 10 melhores filmes de 2019

Em um ano repleto de boas opções no cinema, fizemos nossa seleção de longas que marcaram estes 365 dias.

2019 foi um ano de ouro para o cinema, com a finalização de grandes franquias que se tornaram verdadeiros eventos, o cinema nacional conquistando prêmios ao redor do mundo (mesmo com a profunda crise que assola a Ancine) e com a safra de longas lançados no final do ano não deixando a desejar e fazendo a próxima temporada de premiações ser uma das mais concorridas dos últimos anos. Com o fim de 2019, não poderíamos deixar de fazer um top 10 dos melhores filmes lançados de janeiro a dezembro, com algumas menções honrosas também.

Veja a lista abaixo:

10) “Nós”

Entre tantos remakes e reboots no gênero do terror, o diretor Jordan Peele conseguiu se destacar logo com seu primeiro longa com “Corra!”, em 2017, e cumpriu a façanha de repetir a dose de originalidade e inquietação com “Nós”, dois anos depois. No longa, uma família aparentemente normal tem suas férias interrompidas por clones assustadores que querem tomar seu lugar no mundo.

Com Lupita Nyong’o, Winston Duke, Shahadi Wright Joseph, Elisabeth Moss, Yahya Abdul-Mateen II e Anna Diop, “Nós” mostrou que ainda há muito espaço para contar histórias diferentes, intensas e com críticas contundentes a fazer.

9) “Mente Perversa”

Exibido na 43ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o longa alemão “Mente Perversa” (“Kopfplatzen”), do diretor Savaş Ceviz, ousa ao retratar, com seriedade e muito cuidado, a pedofilia. O longa acompanha Markus, um arquiteto bem sucedido e bonito, que secretamente sente atração por crianças.

Ceviz é corajoso ao conseguir causar a repulsa no público ao explicitar os pensamentos de seu protagonista perturbado, mas de também conseguir tratar a pedofilia com uma abordagem pouco vista fora dos estudos da psicanálise. E Max Riemelt, mais conhecido por seu papel na série “Sense8”, faz um trabalho fenomenal como Markus: sem pudores, mas sem romantizar a condição de seu personagem.

8) “Dor e Glória”

Pedro Almodóvar retornou com seu vigésimo primeiro longa em 2019, mas um pouco diferente desta vez. “Dor e Glória”, um filme que revisita a história de vida de um diretor de cinema caindo no ostracismo, é muito mais íntimo e às vezes até destoante do mundo colorido vivo e cheio de dramas exagerados do cineasta espanhol. Mas há um motivo para isso: o longa é quase autobiográfico, retratando momentos da vida de Almodóvar por meio de seus personagens.

Candidato da Espanha para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2020, “Dor e Glória” conta com Antonio Banderas, Penélope Cruz, Asier Flores, Asier Etxeandia e Leonardo Sbaraglia no elenco. Banderas, inclusive, ganhou o prêmio no Festival de Cannes em 2019 e pode concorrer como melhor ator para o Oscar também.

7) “Fora de Série”

“Fora de Série” marca a estreia da atriz Olivia Wilde no posto de diretora. Apesar do longa ter se envolvido em algumas polêmicas por conta da bilheteria baixa e da retirada de uma cena de sexo lésbico para exibição em voos da companhia aérea Delta, o filme consegue pegar uma trama aparentemente batida e transformar em uma das comédias mais irreverentes dos últimos tempos: Amy e Molly estão no último ano do colégio, se esforçaram muito para passar em faculdades prestigiadas, mas perceberam que elas perderam quatro anos de curtição no processo. Por isso, elas decidem viver tudo de uma vez em uma noite, na festa de um colega da turma.

Kaitlyn Dever e Beanie Feldstein brilham como as protagonistas da história, mostrando que mulheres também têm muito a dizer no gênero de filmes “coming of age”, e que a geração atual é mestre em quebrar os estereótipos inventados sobre sua personalidade e modo de viver.

6) “História de um Casamento”

Noah Baumbach também foi um dos diretores que usou uma situação pessoal como combustível para seu novo trabalho. Baseado em seu divórcio, “História de um Casamento” foi um sucesso de crítica por ser um filme que soube tratar da separação de um casal com muita realidade, mas também com sensibilidade e sem medo de expor as partes mais dolorosas do processo, tudo isso sem deixar de lado a parte mais importante de todas: de que essa situação vai passar e as coisas vão se encaixar.

Tanto Adam Driver quanto Scarlett Johansson e Laura Dern estão sendo reconhecidos em premiações por suas atuações, e com toda justiça. Tudo indica que, em 2020, “História de um Casamento” vai conquistar muito mais que o público e a crítica.

5) “Rocketman”

Nem só de nostalgia e canções famosas vive uma cinebiografia de um ícone da música. Enquanto “Bohemian Rhapsody” ignorou isso para contar uma versão recatada da história do Queen e de seu inesquecível líder Freddie Mercury, “Rocketman” colocou o cantor Elton John sob os holofotes nu. E o resultado não poderia ser mais satisfatório: o longa não tem medo de mostrar como John quase se afundou por completo nas drogas, os problemas que ele tinha com sua família e até mesmo seu próprio medo de se aceitar enquanto homem gay.

Taron Egerton não mimetiza Elton John, ele faz questão de mostrar o humano por trás das plumas, do glamour e das lantejoulas. E o diretor Dexter Fletcher não pôde corrigir os erros do biopic do Queen por ter assumido a produção quase no fim das gravações, mas conseguiu se redimir com maestria ao contar, de forma fantasiosa porém não menos verdadeira, a história de um dos cantores ingleses mais amados do mundo.

4) “Bacurau”

Vencedor do Prêmio do Júri no Festival de Cannes, “Bacurau” é o tipo de filme que é melhor assistir sabendo o mínimo possível de sua história. O básico para os curiosos: uma cidade do sertão nordestino chamada Bacurau está praticamente sumindo do mapa. Uma jovem que vai à cidade precisa lidar com a falta de mantimentos e uma crescente de assassinatos.

Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles misturam diversos gêneros do cinema para retratar, em “Bacurau”, o Brasil profundo, muitas vezes carente de atenção e com um sentimento de revolta totalmente justificado que exige o direito de existir e de resistir às opressões constantes.

3) “As Golpistas”

Baseado em uma história real absurda, “As Golpistas” relembrou o público de que Jennifer Lopez, apesar de ter feito muitos filmes ruins, é uma ótima atriz, e aqui ela brilha como nunca. O longa de Lorene Scafaria reconta como a crise econômica de 2008 afetou especialmente pessoas que já viviam marginalizadas, como as trabalhadoras sexuais, e como um grupo de strippers criou um elaborado esquema para se vingar de seus clientes ricos abusivos.

Além de Lopez, Constance Wu, Keke Palmer e Lili Reinhart também divertem, sofrem juntas e entregam performances marcantes e honestas. O que poderia se tornar uma galhofa repleta de estereótipos virou um filme divertido e honesto sobre como as crises mexem com nosso instinto de sobrevivência.

2) “O Farol”

Estranho, sombrio e muitas vezes driblando a linha tênue entre a violência e o sexual, “O Farol” é a nova empreitada do diretor Robert Eggers, que já havia causado um impacto com “A Bruxa” em 2015. Com uma premissa simples, o longa acompanha dois homens que tomam conta de um farol em uma ilha isolada. Thomas (Willem Dafoe) contratou Ephraim (Robert Pattinson) para ser seu ajudante nas tarefas, mas enquanto os dois homens se conhecem, coisas estranhas começam a acontecer.

Premiado em Cannes e exibido no Brasil nos festivais de São Paulo e no Rio de Janeiro, “O Farol” instiga e assombra não só com sua estética (o longa é totalmente filmado em preto e branco), mas também com a constante sensação claustrofóbica que passa e o desconforto de acompanhar a relação entre seus protagonistas – o tipo de situação que não dá para desviar o olhar.

Menções honrosas

Outros filmes que merecem uma menção de melhores de 2019 foram “O Irlandês”, de Martin Scorsese; “Honey Boy” (que por enquanto só foi lançado em festivais no exterior), de Alma Har’el; e “Midsommar – O Mal Não Espera a Noite”, de Ari Aster.

1) “Parasita”

Vencedor da Palma de Ouro em Cannes, o longa sul-coreano “Parasita” dominou o cenário cinematográfico em 2019, não sem razão. Assim como “Bacurau”, é mais interessante ainda assistir ao filme sem saber muitos detalhes sobre sua trama, que acompanha uma família pobre que consegue se embrenhar pela alta sociedade de sua região.

Com tantos filmes falando sobre disparidades de classe em 2019, o filme do diretor Bong Joon Ho é uma obra-prima que aborda a hipocrisia, a ironia, a comédia e até mesmo o suspense para criticar as mazelas do capitalismo com maestria.

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E aí, concorda com nossa lista? Ficou algo de fora? Que 2020 possa ser um ano tão frutífero nos cinemas quanto esse ano que fica para trás.

Jacqueline Elise

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