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Colunas   sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Scorsese, Marvel, DC e Oscar: o antes e depois de Coringa

Com base no sucesso do filme da DC, entenda por que Martin Scorsese não considera a Marvel como cinema. E quais as reais chances de "Coringa" no Oscar?

À medida em que as plateias do mundo assistem a “Coringa”, muitas são as pessoas que têm sido fortemente impactadas. O longa do diretor Todd Phillips traz o ator Joaquin Phoenix, em uma performance magistral, na pele do personagem-título do filme solo do arqui-inimigo do Batman. Na produção, que adapta para as telonas um dos personagens mais conhecidos da DC Comics e um dos vilões mais icônicos da cultura pop, o Palhaço do Crime recebe uma origem inédita e não definitiva. E, ao conseguir corresponder à maioria das enormes expectativas do público e da crítica, “Coringa” tem sido reverenciado como uma verdadeira obra de arte, o que, em se tratando de uma história inspirada no universo dos quadrinhos, é um feito e tanto.

Em contrapartida, se, por um lado, “Coringa” foi capaz de agradar até ao ponto de seus espectadores não economizarem nos elogios, por outro lado, outras adaptações de quadrinhos têm sido alvo da reclamação de muitos detratores. Um bom exemplo disso foi dado logo após o lançamento do filme da DC/Warner Bros., quando o cineasta Martin Scorsese, em uma entrevista à revista Empire, fez uma declaração depreciativa a respeito das produções da empresa rival, a Marvel, o que gerou certo desconforto nos fãs e profissionais dessa que é chamada de a Casa das Ideias. De acordo com o diretor de clássicos como “Touro Indomável” (1980) e “Os Bons Companheiros” (1990), o Universo Cinematográfico da Marvel (MCU, na sigla em inglês) “não é cinema”. O motivo da controvérsia é um só: o Marvel Studios, através do MCU, é o estúdio cinematográfico mais dedicado à realização de obras inspiradas nas HQs, pelas quais tem se notabilizado há um bom tempo.

Um possível motivo pelo qual Scorsese direcionou sua metralhadora verbal especialmente à Marvel – claro, não ficaria muito bem ele fazer menção desonrosa à DC justamente no momento em que a editora dedica um de seus filmes para homenageá-lo – é que, ao contrário da Warner Bros., que além dos longas da DC também se dedica à realização de outros tipos de produções, o Marvel Studios é exclusivamente empenhado ao subgênero super-heróis. Não obstante, engana-se quem pensa que, nesta seara, Scorsese estivesse fazendo distinção entre Marvel e DC. Na verdade, o diretor estava se referindo ao subgênero quadrinhos como um todo. Ocorre que, devido aos sucessivos triunfos, a Marvel tem ficado mais em evidência que a DC, e, por isso, seu nome tem servido quase que como um emblemático símbolo para fazer referência ao segmento voltado aos super-heróis.

Scorsese, Marvel e Coringa: afinal, o que é cinema?

A afirmação de Scorsese dá origem a uma pergunta que, a princípio, pode parecer banal, mas cuja resposta, considerando o contexto em que a opinião do cineasta foi expressada, torna-se bastante necessária: afinal, o que é cinema? Entre as muitas definições possíveis, uma delas, mais recorrente, destaca-o como uma forma de arte; portanto, se cinema é arte, qualquer obra produzida sob suas bases, em tese, também é arte. Nesse sentido, um filme concebido pelo Marvel Studios é tão arte quanto quaisquer outros produzidos pelos outros estúdios.

Surge, automaticamente, uma segunda questão: o que é arte? Qualquer tentativa de resposta a essa indagação será sempre influenciada pela subjetividade de quem tente fazê-la. Por isso, para não recorrer a uma designação desnecessariamente complexa, pode-se depreender que arte é, em essência, uma manifestação humana de caráter estético que visa comunicar, por meio de técnicas e habilidades específicas, as sensações e emoções dos indivíduos, causando aos seus apreciadores reações semelhantes (às vezes opostas) a essas mesmas sensações e emoções que tenta transmitir.

A partir dessa premissa, é preciso lidar com o colossal sucesso do MCU. Ao longo de mais de uma década, o inédito projeto cinematográfico do Marvel Studios foi capaz de produzir um grau significativo de empatia em parte expressiva do público. Seja rindo de descontraídas e divertidas aventuras, ou chorando ao testemunhar comoventes despedidas – como visto, por exemplo, em “Vingadores: Ultimato” (2019) -, o espectador do MCU se viu completamente engajado nas narrativas propostas. Movida por sensações e emoções variadas, a audiência da Marvel, ao ser tomada pelo sentimento de pertencimento à jornada idealizada, demonstrou o elevado potencial de envolvimento que um apreciador pode ter com uma determinada obra. Um efeito poderoso como esse só é causado pelo que se pode chamar de arte.

O cinema, por sua vez, dada sua enorme popularidade, normalmente é visto pelo senso comum como a mais comercial das artes; disso resulta uma segunda definição, que o classifica pura e simplesmente como uma indústria. Então, se partirmos do pressuposto de que cinema é tanto uma coisa quanto outra, as palavras de Scorsese, num primeiro momento, não fazem sentido, afinal, o MCU, um ente integrado à dita indústria cinematográfica, é, notadamente, a franquia mais bem-sucedida da história; e, como arte, consegue despertar reações e emoções genuínas em seu público. Isso posto, Scorsese, como convém a uma das personalidades mais lendárias da chamada sétima arte, sabe muito bem o significado dessas duas designações comumente atribuídas ao cinema, de modo que, ao ressaltar que o MCU “não é cinema”, ele está, na verdade, sugerindo que ele não se encaixa em pelo menos um dos dois tradicionais rótulos. Assim sendo, é possível inferir que, para o cineasta, o MCU não é arte, e sim um produto comercial.

Todavia, se o universo compartilhado da Marvel na tela grande consegue, como visto, extrair de sua audiência emoções suficientes para que suas obras possam ser rotuladas como arte, por que, enfim, Scorsese não as reputa como tal? Na verdade, o diretor considera haver tipos diferentes de arte, ou ao menos propósitos distintos para os quais essa possa ser utilizada, e que são evidenciados por diferentes estilos de linguagem. Algumas dessas linguagens são mais rasas e convencionais, pois visam um envolvimento mais imediato de seu receptor – é nessa vertente que o MCU se encaixa. Enquanto isso, outras linguagens são de natureza mais provocativa e profunda, servindo, em detrimento de uma visão puramente mercantilista, como instrumento de manifestação das emoções humanas com o objetivo de estimular seus apreciadores à prática da reflexão.

Tendo isso em mente, ao analisar a filmografia de Scorsese, fica perceptível que sua obra está, de fato, bem distante do lado mais comercial do cinema. Por isso, com o sucesso de “Coringa”, o simbolismo da afirmação do cineasta ganha maior força, visto que, em muitos aspectos, o filme de Todd Phillips tenta emular suas virtudes – a produção é claramente inspirada em dois trabalhos de Scorsese, “Táxi Driver” (1976) e “O Rei da Comédia” (1982). “Coringa”, então, seria o tipo de arte com potencial para suscitar debates e levantar questionamentos, gerar discussões e propor mensagens capazes de serem perpetuadas no inconsciente coletivo, dando à obra uma perenidade que vai além de seu curto período em cartaz nas salas de exibição. O cinema de que fala Scorsese é, enfim, aquele cuja linguagem artística tem como diferencial a capacidade de impulsionar seu público a refletir sobre questões que transcendem ao próprio cinema como arte ou como indústria. Essa arte é arte no sentido mais comum do termo, aquele no qual o adjetivo artístico é geralmente utilizado para se referir a uma obra rica de significados e, até mesmo, e por que não, dotada de requinte e sofisticação.

AC/DC (Antes de Coringa/Depois de Coringa)

Em 2014, “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)”, do diretor mexicano Alejandro González Iñárritu, já havia concedido ao arquétipo do super-herói um tratamento mais artístico. Como resultado, a obra conquistou o Oscar nas categorias de Melhor Filme e Direção. “Birdman”, entretanto, não adaptou nenhum universo quadrinesco em particular, e apresentou um roteiro original – que também levou a estatueta dourada – no qual o protagonista, apesar de rodeado por analogias que o remetiam a uma figura semelhante ao Batman (Michael Keaton, intérprete do Homem-Morcego no passado, não fora escolhido para o papel à toa), não era nenhum personagem conhecido do grande público. “Birdman”, na verdade, foi um drama cômico sem nenhuma relação com o subgênero de super-heróis como o conhecemos.

Já entre os filmes inspirados em personagens de quadrinhos e com pretensões mais artísticas, “Coringa” não é o primeiro a conferir um caráter mais intimista ao seu protagonista, pois “Logan” (2017) já o fizera antes. No entanto, a produção da DC, além de ser a primeira dessa natureza a focar em um vilão, é também um estudo de personagem mais abrangente, que se concentra na única figura razão de ser da obra. Assim, “Coringa” se distancia do tom fantasioso que o longa da Marvel/Fox, dada a contextualização de sua narrativa, viu-se obrigado a preservar.

No mundo dos quadrinhos, há uma vasta e diversificada galeria de personagens; as possibilidades narrativas, consequentemente, são inúmeras. Ainda assim, no que concerne às adaptações desse rico universo para as telonas, e considerando o tratamento que os estúdios cinematográficos têm usualmente reservado a essas produções, tal potencial não tem sido amplamente aproveitado. “Coringa”, em contrapartida, ao estabelecer uma ruptura do modelo padrão – seguido tanto pela Marvel quanto pela própria DC -, destaca-se como um verdadeiro marco; a obra de Todd Phillips é capaz de inspirar realizadores e estúdios, tanto quanto queiram, a adotarem abordagens alternativas que se desprendam da fórmula tradicional. E, para um subgênero cujo engessamento tem sido apontado como motivo de um possível desgaste a longo prazo – afirmação que há tempos tem sido feita, mas que nunca se concretizou de fato -, essa poderia ser, quem sabe, uma solução interessante a fim de lhe garantir sobrevida.

Nesse sentido, a trilogia “O Cavaleiro das Trevas”, dado o seu imenso sucesso, passou a ser encarada pela Warner e pela DC como uma pedra angular a servir como base de edificação do pretenso universo DC; contudo, acabou se tornando uma verdadeira pedra de tropeço. O que se tentou foi seguir o legado de Christopher Nolan em tramas que, para a maior parte do público, não fizeram muito sentido. Dessa forma, Homem de Aço” (2013) e “Batman vs Superman: A Origem da Justiça” (2016) foram divisivos e obtiveram reações mistas, enquanto “Esquadrão Suicida” (2016) e “Liga da Justiça” (2017) decepcionaram completamente.

Na verdade, além da concorrência desfavorável com a Marvel – a tentativa de copiar o modelo de universo compartilhado só serviu para gerar comparações desnecessárias -, a DC nunca teve uma estratégia clara a ser seguida no cinema, e, assim, passou a atirar para todos os lados. Isso contribuiu negativamente para afastar o interesse da audiência. Até que, felizmente, o sucesso de público e crítica de “Mulher-Maravilha” (2017) acendeu uma luz no fim do túnel, indicando que obras isoladas não tinham que apresentar conexões com qualquer outra narrativa que não a sua própria. Como consequência, os lançamentos seguintes, após a devida implementação de mudanças, lograram grande êxito, seja com “Shazam!” (2019) conquistando a simpatia da crítica ou com “Aquaman” (2018) impressionando nas bilheterias.

Como não existem unanimidades, nem mesmo as jornadas da princesa amazona, do herdeiro de Atlântida e do garoto que se transformava em um adulto com superpoderes foram suficientes para agradar alguns fãs da linha mais “sombria e realista” da DC. A fim de suprir essa necessidade, o diretor Todd Phillips, famoso pela franquia de comédia “Se Beber, Não Case!”, sugeriu à Warner Bros. a criação de um selo específico (chamado não oficialmente de DC Black) para a realização de produções em que esse lado mais sombrio, acompanhado de certo realismo, fosse abraçado sem pudores. “Coringa”, então, inaugura essa nova era, em que tramas mais soturnas voltaram aos seus dias de glória na chamada Casa das Lendas.

Contudo, em que pese o sucesso de “Coringa”, a DC não deve se manter somente nessa toada, pois, embora o longa do vilão seja uma grande vitória, com um faturamento chegando já a mais de US$ 500 milhões ao redor do mundo, sobretudo considerando o baixo orçamento de US$ 55 milhões, um estúdio do porte da Warner sempre precisa faturar alto, e, nesse sentido, o bom e velho blockbuster ainda é uma aposta confortável. Assim, a companhia, ao mesmo tempo que investirá em obras consideradas mais cult, não deixará de surfar a onda favorável às produções convencionais de super-heróis. Dessa forma, os filmes podem ser divididos em duas esferas distintas de abordagem, sendo uma delas responsável por reaproveitar os elementos positivos de seu universo compartilhado (que, de certa forma, já está sendo gradativamente descontinuado), e a outra a que tem em “Coringa” o seu ponto de partida.

Dessa forma, a DC, aos poucos, vai se encontrando no cinema, mas ainda há duas questões importantes não respondidas. Primeira questão: em relação ao DC Black, quais requisitos um filme deve atender para fazer parte deste selo? Ter uma classificação indicativa para maiores? Apresentar uma proposta considerada mais artística? Fazer parte de um gênero específico? Segunda questão: o que a DC pretende para o Batman de Robert Pattinson? Supõe-se que o mesmo não terá relação alguma com qualquer outro universo compartilhado além do seu próprio. Apesar disso, uma conexão com o Coringa de Joaquin Phoenix é especulada, mas é difícil imaginar alguma interação entre a Gotham realista de Todd Phillips e a Gotham noir de Matt Reeves, em que um homem vestido de morcego e uma mulher fantasiada de gato trocam socos e beijos enquanto saltam pelos telhados de uma cidade cujo principal mafioso tem como arma um arsenal de guarda-chuvas. Sendo assim, é provável que um batverso seja a terceira via pela qual a DC alcançará sua consagração definitiva nas telonas.

Quanto à Marvel, até que ponto a empresa do grupo Disney estaria disposta a seguir o exemplo da concorrência, criando, no sentido scorseseano” do termo, obras mais artísticas? Isso seria algo realmente necessário? Bom, em teoria, a Marvel não é obrigada a seguir essa tendência; porém, o sucesso de “Coringa” pode ser um fator a impulsionar o aumento de críticas negativas por parte de membros da ala mais conservadora e proeminente de Hollywood, o que poderia arranhar um pouco a imagem da companhia junto a seus pares. Sendo assim, quais personagens da Casa das Ideias poderiam se encaixar numa proposta dessas?

Nas HQs, a Marvel, diferente da DC – alicerçada, principalmente, nos atributos semidivinos de seus heróis -, sempre foi considerada mais próxima da dimensão real, sobretudo pela abordagem dada a questões de cunho social. Então, se a DC, cujo panteão é majoritariamente formado por figuras de aspectos mitológicos, conseguiu encontrar, por meio de uma abordagem calcada na verossimilhança com a realidade, um caminho alternativo, será que essa mesma trilha não poderia também ser seguida pela Marvel, e isso, quem sabe, por meio de uma linha cinematográfica paralela ao MCU? “Pantera Negra” (2018), de certa forma, já foi um grande aceno a essa possibilidade. Em suma, o que fica é que, por incrível que possa parecer, o futuro da Marvel no cinema pode estar intimamente relacionado ao sucesso, no presente, da DC.

Coringa no Oscar?

A despeito das polêmicas em que se viu envolvido, “Coringa” foi alvo de intensa ovação no Festival de Veneza – foram cerca de oito minutos de aplausos da plateia em pé após sua exibição – e é a única obra do universo dos quadrinhos a ostentar o Leão de Ouro, honraria máxima concedida por esse que é o mais antigo e um dos mais prestigiados festivais do mundo. Entretanto, apesar da contundente vitória na Europa, é de Los Angeles que o principal prêmio pode vir. Mas ganhar o Oscar não será tarefa fácil; isso porque, quanto à inclusão de filmes inspirados em personagens de HQs nas categorias principais, ainda há muita resistência por parte da Academia.

É fato que “Pantera Negra” entrou para a história ao ser a primeira produção inspirada na nona arte a ser indicada à estatueta de Melhor Filme. No entanto, não são poucos os formadores de opinião a apontar que o longa da Marvel nunca foi considerado pela Academia como um real postulante à vitória; para esses, sua indicação, ainda que merecida, serviria apenas como um simples prêmio de consolação.

“Coringa”, por sua vez, sofreu fortes ataques por parte da crítica americana devido à abordagem que o filme adotou em relação a temas como violência. O longa foi acusado, entre outras coisas, de ser tóxico e irresponsável. Mas até que ponto essas polêmicas, independentemente se justas ou não, poderiam ser usadas como desculpas para que a Academia pudesse recorrer a elas como justificativa para mascarar seu velado preconceito contra produções inspiradas nos quadrinhos, deixando assim de lado todos os aspectos técnicos e narrativos que credenciam “Coringa” a ser reconhecido como uma obra de arte? Seria impossível que parte dos votantes, como forma de esconder um certo constrangimento quanto à possibilidade de admitir que uma obra como “Coringa” pudesse ser melhor (ou ao menos mais relevante) artisticamente que outras convencionalmente mais adequadas aos sofisticados parâmetros da premiação, recorressem aos alegados motivos para desconsiderarem “Coringa” como um forte candidato à estatueta dourada?

Dito isso, é muito provável que “Coringa” seja indicado ao prêmio de Melhor Filme, afinal de contas, não se pode ignorar sua relevante conquista em Veneza, e muito menos o enorme impacto cultural que gerou. A obra, se não é a melhor de 2019, certamente é a mais marcante do ano – pelo menos entre aquelas com pretensões artísticas. No entanto, dadas as reações prévias de alguns membros da Academia, é possível que “Coringa”, como a obra popular que é, conste na lista apenas de forma protocolar, simplesmente atendendo à necessidade da instituição em angariar uma grande torcida do público, o que renderia um provável aumento da audiência televisiva da cerimônia – em declínio há anos -, sem que, efetivamente, o filme, assim como “Pantera Negra”, seja considerado um real postulante à vitória. Nesse sentido, a também provável indicação de Joaquin Phoenix ao prêmio de Melhor Ator, além de atender a um clamor popular, teria o potencial de aplacar uma possível derrota do filme, na medida em que serviria como uma estratégia para que a Academia se sentisse desobrigada da necessidade de premiar o longa.

Enfim, a verdade é que, se a Academia tiver coragem suficiente para premiar “Coringa” na principal categoria, essa decisão, além de melhorar a imagem do Oscar junto às plateias cinéfilas e não cinéfilas, poderá servir como fator-chave para a desistência definitiva da controversa e famigerada ideia de criar a categoria de Melhor Filme Popular, alvo de muitas críticas em 2018, quando passou a ser arquitetada. Uma vitória de “Coringa” seria o melhor incentivo que a Academia poderia dar a fim de que os estúdios se dedicassem à realização de projetos cada vez mais ousados em se tratando de filmes inspirados em personagens de quadrinhos. Em suma, uma vitória de “Coringa” seria uma vitória da DC e da Warner, mas também seria uma vitória dos fãs, uma vitória do público, uma vitória dos quadrinhos, uma vitória do cinema, uma vitória da Marvel, uma vitória de Hollywood, uma vitória de Scorsese e uma vitória da arte.

Fernando Gomes
@rapadura

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