Cinema com Rapadura

Colunas   segunda-feira, 20 de maio de 2019

De Westeros à Velha República – O futuro de David Benioff e D.B. Weiss em Star Wars

Após concluir sua história em Westeros, a dupla D&D volta suas atenções à galáxia muito, muito distante, onde não faltam boas histórias para contar.

Game of Thrones“, uma das maiores séries da história da televisão, enfim acabou. Independente das reações dos fãs sobre o desfecho, a obra sempre será um marco no meio por conta de seu porte – os episódios da última temporada podem facilmente ser comparados a grandes longas-metragens em termos de produção. Tal feito só foi alcançado graças ao comando de sua dupla de showrunners, David Benioff e D.B. Weiss. Agora que este capítulo se concluiu, a dupla D&D assumirá um desafio ainda maior: “Star Wars“.

No início do mês, a Disney divulgou o calendário de suas principais franquias, apontando lançamentos bianuais para “Star Wars” a partir de 2022. Mais tarde, o CEO Bob Iger confirmou que o próximo filme da saga após “A Ascensão Skywalker” será da dupla D&D – ainda que tenha falado apenas em “próximo filme”, usando singular e não plural. Não está claro se todos os três lançamentos de “Star Wars” serão uma trilogia una ou se irão se intercalar com a nova trilogia de Rian Johnson, mas a expectativa dos fãs é que seja uma nova série de filmes.

Com isso, muitos fãs já começam a especular quais rumos a nova empreitada de D&D poderia tomar dentro da galáxia muito, muito distante. Dentre as inúmeras possibilidades, o Cinema Com Rapadura selecionou as duas mais especuladas e aguardadas para analisar qual delas seria a melhor: a era da Velha República e o exílio de Obi-Wan Kenobi em Tatooine.

A Velha República

A Velha República é talvez o período da cronologia de “Star Wars” mais adorado pelos fãs fora o que vemos nos filmes. Ambientada mais de três mil anos antes da Saga Skywalker, esta época começou a ganhar popularidade através dos jogos “Knights of the Old Republic” e “The Old Republic“. Neles, o jogador podia construir seu personagem à medida que avançava, podendo optar por raça, classe, armas… Como um jogo de RPG de mesa. Isso tudo com o diferencial de ser um MMORPG, o que permitia que o jogo ocorresse simultaneamente com diversos outros jogadores.

O estado da galáxia, no entanto, é totalmente diferente daquele ao qual estamos acostumados: a República ainda não é a principal instituição política, e os Jedi dividem o domínio da Força com os Sith. E se nos filmes vemos os Sith obedecendo à Regra de Dois (“um mestre e um aprendiz, nunca mais, nunca menos“), neste momento ela está longe de sequer ser concebida. Há literalmente um Império Sith, com exército e armada próprios, que busca estabelecer sua dominância através de muito sangue, força e violência.

A popularidade deste período é tão grande entre os fãs que alguns dos personagens mais queridos vêm daí. Darth Revan, por exemplo, é um dos Sith mais vistos como cosplay em convenções, e seu visual inspirou os designers a basear nele o visual de outro grande vilão de “Star Wars”, Kylo Ren.

Diversas séries de livros, quadrinhos e mais jogos foram produzidas para suprir a demanda dos fãs, como “Tales of the Jedi” e “The Old Republic“. Mas falta a todos eles algo essencial atualmente: nenhum faz parte do novo cânone estabelecido pela Lucasfilm quando da compra pela Disney em 2012. Todos integram o selo Legends, de obras que não são mais consideradas parte da cronologia oficial. Falta, portanto, que essa era seja contemplada oficialmente…

E é aí que entra a dupla D&D. Se olharmos para seu último projeto, “Game of Thrones” tem diversas similaridades em termos de narrativa se comparada à era da Velha República em “Star Wars”. Vemos diversas facções rivais buscando poder e dominância, histórias sobre predestinação e profecias sobre destruição, elementos fantásticos e sobrenaturais… Tudo que também há em Westeros.

Nos idos de março deste ano, o site Star Wars News Net começou a aventar essa possibilidade a partir do relato de empregados da Lucasfilm que estariam envolvidos no projeto de D&D:

“Não é a trilogia de Rian Johnson, mas o primeiro filme dos caras de ‘Game of Thrones’, e é situado durante a Velha República, já que a Disney quer expandir o universo de ‘Star Wars’ e atrair um público mais alinhado com ‘Game of Thrones’. […] A ambientação é séculos anterior à dos Skywalkers, então pense em algo quase como ‘Star Wars’ encontra ‘O Senhor dos Anéis’.”

Tal descrição se encaixa perfeitamente dentro de tudo que a Velha República pode acrescentar ao universo de “Star Wars” nas telonas, com personagens como os gêmeos Gav e Jori Daragon, a poderosa mas relutante Jedi Nomi Sunrider, o Jedi caído Uliq Qel-Droma e seu mestre Exar Kun. E supriria tranquilamente a demanda daqueles fãs que ficaram órfãos de Jon Snow e Daenerys Targaryen.

Obi-Wan Kenobi em Tatooine

Obi-Wan Kenobi é um dos personagens favoritos dos fãs. O mestre Jedi treinou Anakin Skywalker, viu seu pupilo se render ao lado sombrio da Força e teve que partir para o exílio no planeta desértico Tatooine, onde tomaria conta de Luke, filho de Anakin e maior esperança para restaurar paz e justiça à galáxia. Lá, Kenobi aguardou pacientemente por 19 anos o momento em que o menino pudesse começar seu treinamento – isso no espaço cronológico entre os longas “A Vingança dos Sith” (2005) e “Uma Nova Esperança” (1977).

O período em que Obi-Wan passou treinando em Tatooine e protegendo Luke à distância foi retratado em diversos momentos do universo de “Star Wars”, mas sempre através de recortes, seja nos quadrinhos (série “Star Wars“, publicada pela Marvel), contos (no livro “From a Certain Point Of View“) ou séries de animação (“Star Wars Rebels“). Falta ao novo cânone uma obra que traga um olhar mais profundo sobre o personagem, bem como suas reflexões, dramas e aventuras durante sua solitude no deserto.

Apesar de simples à primeira vista, Tatooine possui uma série de fatores que podem dar origem a diversas linhas narrativas, algo que D&D demonstraram gostar em “Game of Thrones“. Há espaço para escória e vilania em cidades como Mos Eisley, fazendeiros de umidade como a família Lars espalhados pelo deserto, os Tusken buscando sobreviver sem perder seu modo de vida cheio de violência e tradições, a crescente presença do Império, entre muitas outras ideias.

A especulação sobre essa possibilidade existe desde que o jornal Belfast Telegraph noticiou uma visita de ninguém menos que George Lucas à capital da Irlanda do Norte em fevereiro de 2018, sob o suposto pretexto de buscar locações para um filme solo de Obi-Wan Kenobi. Belfast, coincidência ou não, é justamente onde as gravações principais de “Game of Thrones” ocorreram – Lucas chegou até a visitar o set da série e ver as preparações para a Batalha de Winterfell, além de conversar bastante com D&D.

Por mais que George Lucas já não tenha mais tanta influência sobre as decisões da Lucasfilm e venha atuando apenas como consultor, essa visita não deixa de levantar suspeitas. Desde então, muita água passou por baixo da ponte da produtora, com a ideia de filmes solo sendo posta de lado. Mas uma coisa não mudou: o apreço dos fãs por Obi-Wan Kenobi e seu intérprete Ewan McGregor e o desejo de ver esta história ser contada.

Perfil da dupla

Apesar de terem ficado marcados por seu trabalho como roteiristas e showrunners em “Game of Thrones“, Benioff e Weiss têm carreiras consolidadas além do trabalho em Westeros, com créditos incluindo os roteiros de filmes como “Tróia” (2004), “A Passagem” (2005), “O Caçador de Pipas” (2007), “Entre Irmãos” (2009) e outros, além de uma nova série anunciada pela HBO, “Confederate“. A partir disso, já é possível perceber algumas características básicas no trabalho da dupla: o gosto pela fantasia e a preferência por narrativas complexas, muitas vezes com múltiplos arcos correndo paralelamente.

Mas “Star Wars” está em outro patamar em termos de exigência, um comparável apenas àquele visto em “Game of Thrones“. Uma das principais críticas à temporada final da série foi a afobação do roteiro, deixando de lado partes importantes do desenvolvimento dos personagens. Algo que não ocorria nas primeiras temporadas, que ainda estavam atreladas de forma direta à obra original de George R. R. Martin, “As Crônicas de Gelo e Fogo“. Havendo um bom material base, a dupla se sai bem independente da complexidade da trama.

Em “Star Wars”, independente da época ou recorte temporal que se escolha, na maioria das vezes haverá uma base sólida em cima da qual é possível trabalhar. Um longa da franquia geralmente tem características marcantes, mas Rian Johnson já mostrou que é possível conciliar todos os elementos favorecidos por D&D em “Os Últimos Jedi” (2017) sem descaracterizar a saga.

Enquanto os fãs aguardavam algum anúncio ou posicionamento da Lucasfilm acerca dos novos projetos na Star Wars Celebration, a confirmação sobre datas veio apenas recentemente. Mas com o fim de “Game of Thrones“, Benioff e Weiss devem começar a trabalhar nessa nova empreitada muito em breve, com especulações de que as gravações poderiam começar já no outono do hemisfério norte.

Enquanto maiores confirmações e anúncios não ocorrem, o jeito é aguardar. Para não perder nada, fique ligado no Cinema Com Rapadura, e que a Força esteja com todos!

Julio Bardini
@juliob09

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