Cinema com Rapadura

Colunas   quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Filmes para ficar de olho no Festival de Sundance de Cinema 2019

Evento aposta em diversidade e entrega seleção eclética de 112 filmes.

O Festival de Sundance de Cinema sempre marca o início de um novo ano no cinema, ao mesmo tempo em que a temporada de premiações caminha para um desfecho, com as indicações ao Oscar sendo anunciadas apenas alguns dias antes do início do festival, que este ano acontece entre 24 de janeiro e 3 de fevereiro. Conhecido por valorizar as produções independentes e apostar na diversidade, o evento mais uma vez entrega uma seleção de filmes eclética, composta pelos mais variados temas e países ao redor do mundo.

Dramas sobre pena de morte, imigração e gentrificação, comédias sobre representatividade feminina no mercado de trabalho, filmes de terror com serial killers e pinturas que ganham vida e matam pessoas. Nações como Noruega, Macedônia, Bulgária e Qatar estão inscritas nas mostras competitivas. Isso sem falar dos documentários, o grande atrativo do festival. Os filmes de não-ficção que entram no festival passam a figurar entre os mais comentados durante o ano, ganhando força até mesmo no Oscar, que acontece quase um ano depois. Só para se ter uma ideia, dos cinco filmes indicados ao prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, quatro passaram por Sundance em janeiro de 2018.

Essa é uma característica que também se estende à ficção. A prova disso é “Corra!”, que fez sua estreia mundial na edição de 2017 e deu o que falar o ano todo. Outros exemplos de sucesso são: “Me Chame Pelo Seu Nome”, “Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississipi”, “Whiplash: Em Busca da Perfeição”, “Brooklyn”, “Manchester À Beira-Mar”, “Preciosa” e “Indomável Sonhadora”.

Outro forte de Sundance está no incentivo às vozes sub-representadas e importância dada à inclusão. Dos 112 filmes compondo a programação, 45 são dirigidos por uma ou mais mulheres, 40 por cineastas de cor, e 15 por pessoas que se identificam como LGBTQIA. Esses números se tornam ainda mais expressivos ao levar em conta que, em 2017, o Festival de Cinema de Veneza convidou apenas uma diretora para exibir seu filme na competição, enquanto o Festival de Cannes abriu espaço para três. Este ano, em Sundance, nove dos 17 filmes elegíveis ao prêmio principal são dirigidos por mulheres.

Com tantas informações e filmes para ficar de olho, o Cinema com Rapadura compilou os principais destaques da programação do festival.

Leaving Neverland

Um dos filmes mais aguardados do festival este ano é também um dos mais longos em duração. “Leaving Neverland” investiga ao longo de quatro horas alegações de pedofilia contra Michael Jackson, morto em 2009. Antes mesmo de sua primeira exibição, marcada para 25 de janeiro, o documentário já causou polêmica quando familiares e fãs do Rei do Pop se manifestaram contra o festival e pediram que o filme não fosse exibido. A organização do evento emitiu um comunicado informando que apoia os artistas selecionados, permitindo que eles contem histórias sobre tópicos que podem ser provocativos, e reforçando que o público pode julgar e debater por conta própria o que for apresentado.

A sinopse do filme diz que, para muitas pessoas, Michael Jackson é um ídolo amado, humanitário, e que quando alegações de abuso sexual surgiram, se tornou muito difícil acreditar que ele pudesse ser culpado desses “atos indescritíveis”. O documentário traz entrevistas com James Safechuck e Wade Robson, que alegam ter sido molestados por Jackson quando ainda eram crianças. Ações judiciais movidas por Robson e Safechuck contra o cantor foram rejeitadas por um juiz em Los Angeles, em 2017. Certamente, o filme de Dan Reed (“The Paedophile Hunter”) despertará uma série de controvérsias envolvendo Michael Jackson e temas que dominarão as manchetes da primeira exibição. O filme vai ao ar na HBO, em abril, dividido em duas partes.

Vários outros documentários em Sundance estão mirando em figuras notórias da vida real. “O Intocável”, de Ursula Macfarlane (“One Deadly Weekend in America”), também deve chamar atenção, pois investiga a história do mega-produtor Harvey Weinstein e como ele alavancou seu poder na indústria cinematográfica para se proteger de acusações de assédio e agressão sexual.

The Edge of Democracy

Ainda entre os documentários da programação está o brasileiro “The Edge of Democracy”, da diretora Petra Costa (“Elena”), que terá estreia mundial no festival e faz parte da seleta lista de doze produções que concorrem na mostra competitiva Documentário do Cinema Mundial. Descrito pelo festival como “um conto para esses tempos de democracia em crise”, “The Edge of Democracy” explora um dos períodos mais dramáticos da história do Brasil. Com acesso sem precedentes a Dilma Rousseff e Lula, o longa mostra a ascensão e queda dos dois presidentes, diante de uma nação que até hoje permanece polarizada.

O documentário “Últimos Homens em Aleppo”, indicado ao Oscar em 2018, concorreu nesta mesma categoria em Sundance.

The Farewell

Embora os documentários tenham dominado Sundance nos últimos anos, as categorias de ficção têm desempenhado um papel importante em identificar novos talentos, como Desiree Akhavan (“Creep 2”), Damien Chazelle (“La La Land: Cantando Estações”), Robert Eggers (“A Bruxa”), Ryan Coogler (“Pantera Negra”) e Benh Zeitlin (“Indomável Sonhadora”). Muitos dos nomes escolhidos para compor esta seção do festival são artistas jovens e promissores, que dirigiram apenas um ou dois filmes.

Em 2019, o burburinho tem sido em torno da diretora chinesa Lulu Wang e seu segundo filme, “The Farewell”. O filme é estrelado por Awkwafina (“Podres de Ricos”) no papel de uma mulher chinesa-americana que retorna à China depois que sua avó é diagnosticada com uma doença terminal, um fato que é mantido em segredo da matriarca. Wang baseou o filme em uma história de sua própria família, compartilhada originalmente em um podcast semanal chamado “This American Life”. Para a diretora, era importante usar “The Farewell” para explorar as nuances intergeracionais nas famílias.

Divino Amor

Outro drama aguardado em Sundance é o brasileiro “Divino Amor”, de Gabriel Mascaro (“Boi Neon”), que compete na mostra Drama do Cinema Mundial. A trama apresenta um Brasil em 2027. Joana é uma mulher profundamente religiosa, que usa sua função de escrivã em um cartório para impedir que casais com dificuldades no relacionamento se divorciem. Ela faz de tudo para levar os clientes a participarem de uma terapia religiosa de reconciliação no grupo Divino Amor. Enquanto espera por um sinal divino em reconhecimento aos seus esforços, ela se depara com uma crise em seu próprio casamento, que acaba por aproximá-la de Deus. O elenco conta com Dira Paes (“Redemoinho”), Julio Machado (“A Sombra do Pai”) e Emílio de Mello (“Fala Comigo”). O filme é uma coprodução entre Brasil, Uruguai, Chile, Dinamarca e Noruega.

Além de “Divino Amor” e “The Edge of Democracy”, “Abe“, filme brasileiro de Fernando Grostein Andrade (“Quebrando o Tabu”), fará sua estreia mundial na mostra Kids, voltada para o público jovem do festival. O elenco conta com Noah Schnapp, da série “Stranger Things”, e Seu Jorge (“Paraíso Perdido”).

Extremely Wicked, Shockingly Evil and Vile

Algumas das estreias recentes mais memoráveis ​​de Sundance foram obras de terror e suspense, incluindo “Hereditário” e “A Bruxa“. Entre os filmes em competição, um dos mais aguardados deste ano é “Share”, da diretora estreante Pippa Bianco, em que Mandy, uma adolescente de dezesseis anos, descobre um vídeo perturbador de uma noite da qual não se lembra e precisa lidar com as consequências de seus atos.

Mesmo fora de competição, “Velvet Buzzsaw“, de Dan Gilroy (“Roman J. Israel”), e “Extremely Wicked, Shockingly Evil and Vile”, de Joe Berlinger (“Raising Hell: The Visions of Clive Barker”), estão entre os filmes mais badalados desta edição. O primeiro tem Jake Gyllenhaal, parceiro de Gilroy em “Nightcrawler”, no papel de um negociante de arte, que começa a comprar pinturas que ganham vida e matam pessoas. O filme vai estrear na Netflix uma semana após o início de Sundance.

Já no longa de Berlinger, Zac Efron (“O Rei do Show”) interpreta Ted Bundy, em uma narrativa apresentada pelo ponto de vista de Elizabeth Kloepfer (Lily Collins, de “Okja”), a namorada de longa data do famoso serial killer, que por anos se recusou a acreditar na verdade sobre ele.

Late Night

Na comédia, o grande destaque vai para “Late Night”, da diretora Nisha Ganatra (da série “Eu Tu e Ela”), filme que acompanha a trajetória de uma lendária apresentadora de talk show, cujo programa corre o risco de ser suspenso quando ela decide contratar a primeira roteirista feminina para a atração. A decisão da apresentadora, originalmente tomada com intuito de amenizar as preocupações com a diversidade, gera consequências inesperadamente hilárias quando as duas mulheres, separadas por cultura e geração, se unem em prol do amor em comum pela comédia. O elenco conta com Emma Thompson (“Johnny English 3.0”), Mindy Kaling (“Oito Mulheres e um Segredo”) e John Lithgow (“A Escolha Perfeita 3”).

Outro filme bastante aguardado do gênero é “Big Time Adolescence“, do diretor estreante Jason Orley, estrelando o comediante Pete Davidson, de “Saturday Night Live”, no papel de um carismático universitário que larga a faculdade e se torna uma influência destrutiva para um adolescente do subúrbio.

Está na expectativa para algum filme do festival? Deixe sua lista nos comentários!

Sarah Lyra
@sarahlyra

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