Cinema com Rapadura

Colunas   quinta-feira, 01 de novembro de 2018

Cinebiografias e filmes sobre o cenário musical: uma preparação para a estreia de Bohemian Rhapsody

Só a junção da sétima arte com a música é capaz de nos entreter e envolver ao mesmo tempo em que nos transporta às nossas memórias pessoais de quando escutamos nossas canções favoritas pela primeira vez.

É inegável que a sétima arte tem o condão de emocionar e entreter seus telespectadores. Mas se há outra arte tão ou mais capaz de provocar reações catárticas e imersivas em seu público, é a música. Ao unir as duas, temos um espetáculo audiovisual emocionante que nos envolve ao mesmo tempo que nos transporta às nossas memórias de quando escutamos nossas canções favoritas pela primeira vez.

A mais nova cinebiografia que retrata a carreira de uma das bandas mais famosas de todos os tempos é “Bohemian Rhapsody“. Dirigido por Dexter Fletcher (“Voando Alto”), o filme mostra o sucesso meteórico da banda Queen por meio de suas músicas icônicas e som revolucionário. O longa retrata ainda a vida do excêntrico vocalista Freddie Mercury (Rami Malek), passando por sua batalha contra o HIV e o comando da banda no show Live Aid, uma das maiores apresentações da história do rock.

Aproveitando a estreia de “Bohemian Rapsody”, o Cinema Com Rapadura elaborou uma lista contendo as maiores cinebiografias e filmes imersos no cenário musical de todos os tempos.

The Doors (1991)

Dirigido por ninguém menos que Oliver Stone (“Snowden: Herói ou Traidor“), este clássico não poderia deixar de figurar na lista. “The Doors” é a cinebiografia inspirada na icônica banda homônima, e acompanha a vida de Jim Morrison (Val Kilmer) desde os anos 60, quando ele era apenas um estudante de cinema na Califórnia, passando pela fundação da banda The Doors em 1965, e a trágica morte do cantor em 1971.

Stone retrata com maestria não apenas os percalços da banda rumo ao sucesso, mas todos os excessos de Morrison que culminaram em sua morte precoce aos 27 anos de idade. Admirados pelos homens e desejados pelas mulheres, Morrison preenchia todos os requisitos do esteriótipo do rock star: era talentoso, extremamente atraente, excêntrico e boêmio. O filme ganha pontos ao expor o lado espiritual e psicodélico de Morrison, que utilizava drogas como uma forma de despertar sua consciência.

O nome da banda, inclusive, faz referência ao título do livro: “The Doors of Perception” (“As Portas da Percepção“, em tradução livre), sobre a utilização de drogas como meio para abrir as portas da percepção. The Doors foi a autora de sucessos como Light My Fire, Love Me Two Times e Break on Through, e faz tanto sucesso entre seus fãs atualmente quanto na época de sua breve formação.

Morrison foi encontrado morto em 3 de julho de 1971, na banheira de seu apartamento em Paris, aos 27 anos de idade.

Aumente o somTodas as cenas dos shows retratam bem a atmosfera pagã e ritualística em que Morrison liderava os concertos de The Doors, mas o destaque fica com a apresentação da cultuada Break on Through.

The Wonders – O Sonho Não Acabou (1996)

Talvez The Wonders seja a maior banda fictícia da história do cinema. Primeiro filme dirigido por Tom Hanks (“Larry Crowne: O Amor Está de Volta“), “The Wonders – O Sonho Não Acabou” é ambientado em 1964, logo depois da beatlemania alcançar os Estados Unidos. Nesse contexto, uma banda tem uma apresentação marcada em um show de calouros, quando seu baterista quebra o braço e coloca em risco a performance do grupo. Para substituí-lo, convidam em substituição um fã de jazz, e juntos acabam criando um hit de sucesso que leva a banda ao topo das paradas musicais.

Em um mundo pré internet, muitos acreditavam que o hit That Thing You Do era fruto de uma banda real. Quem nunca ficou chocado ao descobrir a verdade muitos anos depois, em uma conversa despretensiosa em uma roda de amigos?

Mas o fato de The Wonders ser um grupo fictício inventando para o filme torna o longa ainda mais especial. Outro mérito do filme é não se levar a sério, e abusar das analogias e referências aos Beatles. Tudo remete ao grupo de Liverpool: o repentino sucesso, os ternos, o estilo de música, o assédio das fãs, as brigas. É um filme nostálgico, leve e divertido, com uma música chiclete que vai permanecer na sua mente por muito tempo.

Aumente o somA cena mais famosa do longa é indiscutivelmente a apresentação do grupo cantando That Thing You Do. O frenesi das fãs e o estilo da performance é uma clara referência aos meninos de Liverpool.

Quase Famosos (2000)

Nenhuma lista seria completa sem esse que foi um dos sucessos do início do milênio. Em “Quase Famosos”, William (Patrick Fugit) é um adolescente aspirante a jornalista que sonha em escrever para uma revista de sucesso, mas sua mãe teme que o mundo da música o leve às drogas e à perdição. William ganha uma oportunidade quando é convidado para acompanhar uma banda em turnê, e passa a conviver com os músicos e seus fãs.

Dirigido por Cameron Crowe (“Sob o Mesmo Céu“), o filme chamou atenção por tratar da relação que as groupies têm com seus ídolos. Kate Hudson (“Marshall: Igualdade e Justiça“) brilhou como Penny Lane, que sonha em viver livremente acompanhando sua banda favorita. No entanto, o filme mostra seu conflito e as máscaras que utiliza para esconder seus reais sentimentos, já que não existe liberdade absoluta quando estamos apaixonados.

Aumente o somApesar de o filme ter diversos momentos regrados a música, uma de suas cenas mais marcantes ocorre em uma inesperada turbulência durante um voo com integrantes da banda.

Johnny e June (2006)

“Johnny e June” retrata a vida de Johnny Cash (Joaquin Phoenix), um ícone da música country norte-americana, focando em sua relação com June Carter (Reese Witherspoon), que mais tarde se tornaria sua esposa. Pela performance como June, Reese conquistou o Oscar de Melhor Atriz em 2006.

O longa dirigido por James Mangold (“Logan“) explora de forma sensível os vícios de Johnny, e como eles causaram crises em seu relacionamento com June. Viciado em anfetaminas e barbitúricos, Cash chegou a ser preso algumas vezes devido às drogas. Dono de canções como Walk the Line e Ring of Fire, Cash faleceu em 2003, de diabetes, seguindo sua esposa June, que falecera menos de quatro meses antes, de complicações decorrentes de uma cirurgia do coração.

Aumente o somNa época do lançamento do filme, houve uma ampla divulgação sobre como Reese e Joaquin gravaram todas as canções para o longa. Uma das cenas que retrata bem os dotes musicais dos cantores é quando eles fazem o dueto de Times A Wastin.

The Runaways – Garotas do Rock (2010)

Na cinebiografia sobre a banda The Runaways, Kristen Stewart (“A Longa Caminhada de Billy Lynn“) e Dakota Fanning (“Tudo que Quero“) interpretam respectivamente Joan Jett e Cherie Currie, duas adolescentes rebeldes da Califórnia que juntas lideraram o grupo de rock formado exclusivamente por mulheres. Pouco tempo após sua criação, em 1975, The Runaways se tornou um sucesso, tendo emplacado hits como Cherry Bomb e Born to be Bad. No entanto, a relação entre as duas líderes põe em risco o futuro da banda.

Apesar de não ser um filme incrível, “The Runaways – Garotas do Rock” tem um grande diferencial: ele conta a história da banda icônica que tanto abriu caminho para futuras gerações de mulheres no rock. O grupo durou pouco tempo, com seu brusco rompimento em 1979, mas foi o suficiente para construir seu legado e dar voz às mulheres em um ambiente machista e, à época, exclusivamente dominado por homens. Graças a ela, existiram décadas depois Yeah Yeah Yeahs, Evanescence, Nightwish, Juliet and the Licks, The Pretty Reckless, Warpaint, The XX, dentre diversas outras bandas lideradas por mulheres.

Mesmo após o fim de The Runaways, Cherie Currie e Joan Jett seguiram no mundo da música, mas foi esta última que conseguiu com sua carreira solo um sucesso e reconhecimento maiores do que sua banda original. Jett ficou conhecida como a Rainha do Rock, tendo sido nomeada pela revista Rolling Stone a 67ª melhor guitarrista de todos os tempos. Há apenas outra mulher nesta lista.

Aumente o somSem dúvidas, a cena mais memorável do longa é quando a banda apresenta no palco seu maior hit, Cherry Bomb.

Amy (2015)

No documentário “Amy”, o premiado diretor Asif Kapadia (“Senna”) utiliza imagens de arquivo para retratar as diversas fases da vida da cantora Amy Winehouse, e os eventos que culminaram em sua morte. Sem narrador, o longa é um triste  compilado de filmagens com relatos de amigos, empresários e familiares.

Em um dos momentos do longa, antes de todo o sucesso, Amy confessa que não achava que conseguiria lidar com o fato de ser famosa, e que provavelmente isso a levaria à loucura. Infelizmente, ela estava certa. A doce, tímida, divertida e inteligente Amy tinha muitas questões, principalmente com seu pai, e não estava preparada para a pressão de ser uma estrela mundialmente conhecida. Em 2011, a bulimia, o vício em heroína introduzido por seu futuro marido, e o abuso de álcool e outras drogas interromperam para sempre a estrela em ascensão, que veio a falecer de intoxicação alcoólica em 23 de julho de 2011. Ela tinha 27 anos, mesma idade de Jim Morrison, Kurt Kobain, Janis Joplin, Jimi Hendrix, dentre outros talentosos artistas que fazem parte do triste “clube dos 27”.

“Amy” é um cru e intimista documentário que mostra a “velha alma presa em um corpo jovem”, como se referiu seu antigo empresário à estrela. É desconcertante e triste acompanhar o crescimento de seus demônios, já sabendo o desfecho da trama. Seu destino já estava traçado. E como plateia, tudo o que podemos fazer é assistir.

“Amy” ganhou o Oscar de Melhor Documentário em 2016.

Aumente o somO auge do documentário é a súbita fama advinda com o CD Back to Black, e seu single, Rehab.

Ray (2004)

Esta poderosa cinebiografia é um retrato da vida do grade artista Ray Charles (Jamie Foxx), desde a sua infância, quando se tornou deficiente visual, até o auge de sua carreira, como cantor e pianista de soul, blues e jazz. Assombrado por seus demônios, Ray cedeu ao vício das drogas, principalmente a heroína. O longa mostra a batalha de Ray para seguir com sua carreira ao mesmo tempo em que tenta se livrar de seus vícios.

Para aprovar o longa, o próprio Charles recebeu seu roteiro em braile, fazendo algumas objeções pontuais, dentre elas, a insinuação de que ele teria ensinado a artista Margie Hendricks (Regina King), uma de suas Raelettes (suas vocais de apoio) e com quem teve um filho, a injetar heroína.

Dono de sucessos como Hit the Road Jack, I Got a Woman, e Georgia On My Mind, Charles faleceu em 10 de junho de 2004, devido a uma doença hepática aguda. Seu último álbum póstumo, Genious Loves Company, foi lançado meses depois.

Por seu brilhante trabalho como Ray Charles, Foxx ganhou o Oscar de Melhor Ator em 2005.

Aumente o somUma das cenas mais marcantes do filme se inicia nos bastidores da criação do que seria um dos seus maiores hits, Hit the Road Jack, com a eventual performance da música carregada de sentimentos por parte Margie. Neste contexto, vemos um Ray pragmático, que usava os outros para criar e dar sentimento às suas canções.

Boo Mesquita
@boomesquita

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