Cinema com Rapadura

Colunas   sábado, 13 de janeiro de 2018

Mulheres no Oscar: 9 nomes que merecem destaque na lista de indicados em 2018

Da estreante Greta Gerwig ao ícone da Nouvelle Vague Agnès Vardas, conheça algumas das mulheres que podem deixar suas marcas na maior premiação do cinema.

Não é de hoje que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (Ampas), responsável pelo Oscar, vive uma grave crise de imagem. Desde a polêmica do #OscarSoWhite, em 2016, quando a Academia divulgou, pelo segundo ano consecutivo, uma lista sem um único indicado negro nas principais categorias, a falta de representatividade em Hollywood tem estado em pauta nas temporadas de premiação. O debate foi incendiado ainda mais em 2017, após incontáveis acusações de assédio sexual envolvendo grandes nomes da indústria cinematográfica, como Harvey Weinstein, Kevin Spacey, Louis C.K. e James Toback.

Impulsionado por escândalos cada vez mais frequentes e o avanço crescente do ativismo social nas redes sociais, um tardio e aguardado sinal de alerta tomou conta da Academia. Ainda em 2016, a então presidente da Ampas, Cheryl Boones Isaacs, começou a trabalhar na reestruturação do quadro de membros votantes da instituição e prometeu grandes mudanças. A maior delas sendo a de dobrar a quantidade de representantes de minorias até 2020, com a meta de chegar a 48% de mulheres no total (atualmente, elas correspondem a 28%). Apesar das boas intenções da Academia, mudanças significativas na lista de indicados e vencedores devem levar alguns anos para se concretizar, já que o aumento da representatividade entre os votantes é apenas o primeiro passo de um processo que precisa ter como principal objetivo encontrar maneiras de aumentar as oportunidades de trabalho para as minorias da indústria.

De qualquer maneira, é inegável a força que as mulheres de Hollywood têm conquistado nos últimos anos, especialmente ao organizarem iniciativas como o Time’s Up, que tem como um dos principais objetivos criar um fundo de defesa legal que sirva de suporte para que mulheres de diversas indústrias entrem com ações judiciais contra o assédio sexual no local de trabalho. Esse movimento, por si só, chama bastante atenção para a causa feminista já na cerimônia deste ano, ainda mais se levarmos em consideração que os membros da Academia tiveram de 5 a 12 de janeiro para enviar os votos que vão compor a lista de indicados ao Oscar (um período muito próximo ao do lançamento do movimento), programada para ser divulgada no dia 23 de janeiro.

Levando em conta o contexto atual de crescente luta por representatividade em Hollywood, que serve de vitrine para o que acontece em todas as outras indústrias, o Cinema com Rapadura fez uma lista das mulheres que, com todos os méritos, buscam deixar suas marcas na maior premiação do cinema.

Veja agora quem deve garantir uma indicação ao Oscar e pode acabar levando a estatueta dourada para casa.

Greta Gerwig – Melhor diretora, filme e roteiro original

A essa altura da temporada de premiações, não há mais dúvidas de que Greta Gerwig é a mulher com as maiores chances de roubar a cena no Oscar 2018. Isso porque o filme dirigido pela eterna Frances, “Lady Bird: A Hora de Voar”, não só foi sucesso de público como entrou na lista de melhores do ano de praticamente todos os grandes sites especializados em cinema nos Estados Unidos, como The Hollywood Reporter, Variety, Deadline e IndieWire. Outro bom motivo para apostar em Gerwig é que, na última quinta-feira, ela foi indicada ao Directors Guild Awards, o prêmio com maior histórico de prever as indicações ao Oscar nas categorias de melhor filme e melhor diretor.

Não podemos esquecer também que, após vencer o Globo de Ouro de melhor filme de comédia ou musical, “Lady Bird: A Hora de Voar” ganhou fôlego na corrida pela estatueta dourada. Por mais que o Globo de Ouro não seja considerado um termômetro do Oscar, ganhá-lo desperta a atenção da indústria, e consequentemente dos votantes do prêmio da Academia.

Com todos esses indícios, é seguro dizer que Greta Gerwig deve garantir indicações ao Oscar em pelo menos três categorias de destaque no Oscar: melhor filme, melhor diretora e melhor roteiro original. E se fosse para escolher uma, diria que as maiores chances de Gerwig vencer se concentram na de roteiro, mesmo com os prováveis concorrentes de peso, como “Corra!” e “A Forma da Água”. Estaremos todos de olho nessas indicações, principalmente após a mais que apropriada alfinetada de Natalie Portman (“Jackie”), no Globo de Ouro, quanto ao fato de que só homens foram indicados à melhor direção.

Dee Rees – Melhor roteiro adaptado

Ovacionado desde que fez sua estreia mundial no Festival de Sundance, em janeiro de 2017, “Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi”, escrito e dirigido por Dee Rees, fez um sucesso tão grande entre os críticos, que de cara se credenciou para a disputa do Oscar de 2018. De lá para cá, outras produções acabaram ganhando mais destaque, o que deixou o longa de Rees em segundo plano para uma possível indicação a melhor filme ou melhor diretora.

Ainda assim, Dee Rees é um nome forte para integrar os indicados a melhor roteiro adaptado, e possui chances reais de levar a estatueta para casa. O principal concorrente de Rees na categoria provavelmente será James Ivory (“Me Chame Pelo Seu Nome”). Os roteiristas Scott Neustadter e Michael H. Weber (“O Artista do Desastre”) também eram favoritos na disputa, mas após as acusações de assédio envolvendo o diretor James Franco, é provável que o filme, de maneira geral, perca força na premiação. Em caso de vitória de Dee Rees, ela será a primeira mulher negra da história a ganhar a estatueta de melhor roteiro adaptado.

Embora tenham bem menos chances do que Dee Rees, Angelina Jolie e Loung Ung também estão na briga por uma indicação, pelo roteiro do filme “First They Killed My Father”. A cineasta Sofia Coppola, de “O Estranho que Nós Amamos”, corre por fora nessa disputa.

Rachel Morrison – Melhor fotografia

E não é só Dee Rees que pode fazer história em 2018 com “Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi”. A diretora de fotografia da produção, Rachel Morrison, é uma das grandes favoritas a uma indicação ao Oscar nesta categoria, que, se confirmada, será a primeira para uma mulher em 90 anos de premiação. Juntas, Rees e Morrison trabalharam na construção de uma linguagem visual que mostrasse a realidade cruel do racismo no estado do Mississippi, na década de 1940.

Na trama, dois homens retornam da Segunda Guerra Mundial e passam a trabalhar em uma fazenda, no sul dos EUA, onde eles lutam para se adaptar à vida pós-guerra. Vamos ter que esperar até 15 de fevereiro para conferir “Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi” no Brasil, mas os críticos norte-americanos garantem que o trabalho de Morrison está entre os cinco melhores do ano na indústria, e que uma indicação não só é merecida, como é necessária.

Os prováveis concorrentes de Morrison na categoria são: Hoyte Van Hoytema (“Dunkirk”), Dan Laustsen (“A Forma da Água”), Roger Deakins (“Blade Runner 2049”) e Bruno Delbonnel (“O Destino de uma Nação”).

Frances McDormand – Melhor atriz

Embora a categoria de melhor atriz seja uma das mais difíceis de prever deste ano, a indicação de Frances McDormand por “Três Anúncios Para um Crime” é praticamente certa. Além de ter vencido o Globo de Ouro no último fim de semana, a atriz também integra a lista de cinco indicadas ao Screen Actors Guild Awards, o prêmio do sindicato dos atores de Hollywood. E, quando se trata das categorias de atuação, não há termômetro melhor que o SAG Awards, já que grande parte dos votantes nessa premiação também integra a Ampas.

No momento atual, McDormand é a favorita para levar a estatueta, mas ainda tem chão pela frente e muita coisa pode mudar. Não podemos esquecer também que as prováveis (e fortíssimas) concorrentes de McDormand na categoria serão Judi Dench (“Victoria e Abdul: O Confidente da Rainha”), Sally Hawkins (“A Forma da Água”), Margot Robbie (“Eu, Tonya”) e Saoirse Ronan (“Lady Bird: A Hora de Voar”). Isso para não falar de Meryl Streep, por “The Post: A Guerra Secreta”, e Jessica Chastain, por “A Grande Jogada”, que não são grandes favoritas, mas podem aparecer na lista.

Patty Jenkins – Melhor filme

Infelizmente, Patty Jenkins não chegou com a força que os fãs de “Mulher-Maravilha” esperavam na temporada de premiações e seu nome dificilmente vai integrar a lista de indicados a melhor direção. Ainda assim, é difícil, até mesmo para a Academia, ignorar o fato de que o longa focado na guerreira Diana Prince teve uma das maiores bilheterias do ano e a maior da história entre os filmes dirigidos por mulheres, além de ter sido uma das produções mais elogiadas pela crítica especializada ao longo de 2017.

Sua qualidade técnica e relevância sociocultural aliadas ao poderoso faturamento talvez sejam o suficiente para “Mulher-Maravilha” conseguir uma indicação a melhor filme, por mais que não tenha força suficiente para vencer na disputada categoria. É bom lembrar também que, no último dia 8 de janeiro, o longa foi indicado pelo Producers Guild of America (PGA) a melhor filme do ano, o que aumenta suas chances para o Oscar. Há ainda a possibilidade de vermos o filme de Patty Jenkins ser indicado a melhor edição de som e melhor mixagem de som.

Nora Twomey – Melhor filme de animação

Não é segredo que “Viva: A Vida é uma Festa” é o favorito absoluto ao Oscar de melhor longa de animação, mesmo antes das indicações sequer serem divulgadas, o que acaba ofuscando alguns dos possíveis e ótimos candidatos a essa categoria. Um desses concorrentes é a animação canadense dirigida por Nora Twomey, “The Breadwinner”, que foi indicada ao Globo de Ouro e deve garantir presença no Oscar.

Roteirizado por Anita Doron e baseado na obra homônima de Deborah Ellis, “The Breadwinner” conta a história de Parvana (Saara Chaudry), uma jovem que vive em um Afeganistão governado pelas forças do Talibã. Quando seu pai é preso de maneira injusta, ela precisa se disfarçar como um menino para trabalhar e garantir o sustento de sua família. Mesmo sem grandes chances de vencer, a presença de “The Breadwinner” seria uma vitória, principalmente, por enaltecer o nome das mulheres envolvidas na produção do longa e impulsionar as discussões sobre representatividade, já que a protagonista também é de origem afegã.

Allison Janney – Melhor atriz coadjuvante

Assim como a categoria de melhor atriz, a de atriz coadjuvante será uma das mais disputadas no Oscar 2018, embora Allison Janney pareça ser a grande favorita a levar o prêmio para casa, pelo seu trabalho em “Eu, Tonya”. A veterana levou o Globo de Ouro e o Critics’ Choice Awards, o que tem gerado bastante atenção para sua performance. Além disso, Janney está indicada ao BAFTA (o Oscar britânico) e ao Screen Actors Guild Awards, que, como mencionado anteriormente, é o maior termômetro para as categorias de atuação.

Por mais forte que seja o favoritismo de Janney, não podemos esquecer das concorrentes de peso que também devem garantir uma indicação, a começar por Laurie Metcalf, por “Lady Bird: A Hora de Voar”, que também integra a categoria ao lado de Janney no SAG Awards. Outras possíveis concorrentes são: Mary J. Blige (“Mudbound”), Octavia Spencer (“A Forma da Água”) e Holly Hunter (“Doentes de Amor”). Se confirmada a indicação, essa será a primeira de Janney ao prêmio da Academia.

Agnès Varda – Melhor documentário de longa-metragem

As categorias de melhor documentário, normalmente, são aquelas em que as mulheres costumam ter mais chances de brilhar. Isso acontece porque o gênero é mais receptivo às diretoras do que a ficção, por exemplo. Então, como era de se esperar, alguns dos melhores documentários do ano foram dirigidos por mulheres, a começar pelo badalado “Faces Places”, da cineasta pioneira da Nouvelle Vague Agnès Varda, em parceria com o artista JR. O filme é um dos favoritos a levar a estatueta e já tem no currículo o prêmio do júri de melhor documentário, no Festival de Cannes, e o prêmio do público, no Festival de Toronto. Varda também deve ser ovacionada durante a cerimônia do Oscar por ter se tornado, em novembro de 2017, a primeira mulher a ganhar um Oscar honorário pelo conjunto da obra.

Outras mulheres com chances de entrar para a lista de indicados a melhor documentário de longa-metragem são: Heidi Ewing e Rachel Grady, por “One of Us”, Bonni Cohen, por “Uma Verdade Mais Inconveniente”, e Jennifer Brea, por “Unrest”.

Emily V. Gordon – Melhor roteiro original

A categoria de melhor roteiro original também promete ser de destaque para as mulheres. Além de Emily V. Gordon, que co-roteirizou o aclamado “Doentes de Amor”, Vanessa Taylor (“A Forma da Água”) e Greta Gerwig (“Lady Bird: A Hora de Voar”) também estão entre as favoritas a uma indicação. A co-roteirista de “The Post: A Guerra Secreta”, Liz Hannah, corre por fora na briga, mas pode surpreender e aparecer na lista final.

Gordon pode até não vencer, já que a concorrência de Jordan Peele, por “Corra!”, e Gerwig, é forte, mas tem a indicação praticamente garantida. Além do sucesso de crítica do filme, Gordon venceu o Critics’ Choice Awards de melhor comédia do ano e está indicada ao Writers Guild of America, o prêmio do sindicato dos roteiristas e maior termômetro da categoria.

Sentiu falta de alguém? Deixe nos comentários o nome de outras mulheres que merecem destaque no Oscar 2018, e fique de olho nas indicações, que serão divulgadas no dia 23 de janeiro.

Sarah Lyra
@sarahlyra

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