Valerian e Star Wars: descubra as possíveis ligações entre as duas óperas espaciais
Apesar das fortes especulações por parte dos fãs e criadores da HQ, George Lucas não admite influência das tirinhas francesas.
Em 1977, o diretor George Lucas surpreendeu o mundo ao apresentar o primeiro filme daquela que, em alguns anos, se tornaria a maior e mais amada ópera espacial da história do cinema. Em “Star Wars Episódio IV: Uma Nova Esperança“, fomos introduzidos a um mundo, até então, desconhecido, original e recheado de aventuras intergalácticas, que marcou a renovação do cinema americano de ficção científica.
Quatro décadas depois, “Valerian e a Cidade dos Mil Planetas”, dirigido por Luc Besson (“Lucy“), é lançado nos cinemas. Em uma olhada rápida no trailer do filme, é possível identificarmos vários dos elementos visuais que consagraram “Star Wars”. Assistindo ao longa, então, as semelhanças se tornam ainda mais evidentes. O que algumas pessoas talvez não saibam é que, ao contrário do que possa parecer, o mais provável é que “Star Wars” tenha sido fortemente influenciado por “Valerian”, e não o contrário.
Isso porque o filme de Besson é uma adaptação da aclamada HQ francesa “Valerian e Laureline”, lançada, pela primeira vez, em 1967. Ou seja, dez anos antes de “Uma Nova Esperança“. Buscando ‘aquecer’ a realidade tediosa e conformista da França da década de 1960, Pierre Christin e Jean-Claude Mézières se uniram para criar a história que, hoje, é considerada um clássico da 9ª arte. O Valerian da adaptação cinematográfica pode ser visto como um personagem simples, nos dias de hoje, sem muito a acrescentar ao extenso catálogo de super-heróis reinventados pelo cinema, mas a verdade é que, em 1967, as histórias de Christin e Mézière sobre o viajante do espaço-tempo foram pioneiras.
Isso quer dizer que “Star Wars” copiou “Valerian e Laureline”? Não, longe disso, mas também não quer dizer que as semelhanças entre os dois são pura coincidência. Por se tratar de uma HQ que circulou em grande escala, sendo, inclusive, traduzida para dezenas de idiomas, é de se imaginar que os desenhistas contratados para criar o mundo de “Star Wars” tenham sido influenciados, direta ou indiretamente, pelos conceitos visuais de “Valerian”. Isso fica mais claro ao lembrarmos que é prática comum de quem trabalha com criação fazer pesquisas e reunir o maior número de referências disponível.
Confira, agora, algumas das semelhanças entre “Valerian” (tanto HQ quanto filme) e “Star Wars”.
Igon Siruss e Jabba
Em “Valerian e a Cidade dos Mil Planetas”, Igon Siruss é um dos criminosos mais procurados e temidos da galáxia. O personagem aparece no filme de Besson como vilão da primeira missão de Valerian e Laureline. Uma rápida pesquisa em ferramentas de busca revela que, na falta de um termo melhor, vários sites internacionais e brasileiros têm se referido a Siruss como um “vilão ao estilo Jabba”. Em “Star Wars”, Jabba, O Hutt, é um gângster alienígena conhecido por ser credor de Han Solo e por sequestrar a Princesa Leia, em “O Retorno de Jedi”.
Intruder (ou XB982) e Millenium Falcon
Tanto em “Star Wars” quanto em “Valerian” existe uma espaçonave de grande valor sentimental para os personagens que a pilotam. E as semelhanças não param por aí. As duas naves aparentam ser uma evolução do clássico modelo “disco voador”, muito usado nos filmes de sci-fi da década de 50. De fato, o próprio Joe Johnston, designer da Millenium Falcon, diz em seu site oficial que George Lucas pediu que ele pensasse em um disco voador quando fosse desenhar a nave de Han Solo.
O interessante é que, ao olharmos mais atentamente, vemos ainda que a janela traseira da nave Intruder se parece muito com os propulsores da Millenium Falcon. Coincidência ou inspiração?
Doghan Daguis e Watto
Com suas asas e tromba alongada, Watto, o astuto e rude proprietário de um ferro velho em Mos Espa, de “Star Wars Episódio I: A Ameaça Fantasma“, tem fortes semelhanças com a raça dos Doghan Daguis, de “Valerian e a Cidade dos Mil Planetas”. Nos desenhos de “O Embaixador das Sombras” da HQ, os traços são ainda mais parecidos. E para quem ainda não está convencido, aí vai uma informação curiosa: Watto foi desenhado por Doug Chiang, um artista que, segundo o próprio Mézières, é um fã declarado das tiras francesas.
Valerian e Han Solo
Alguns fãs veem não uma, mas diversas semelhanças entre os dois heróis. Desde o corte de cabelo até características específicas da personalidade de cada um, como o humor. Mas se existe algo difícil de ignorar, é o fato de ambos terem ficado presos em uma “chapa” de formato retangular, em suas respectivas histórias. De um lado, temos Valerian imerso em um líquido plástico, em “Império de Milhares de Planetas” (1971). Do outro, Han Solo preso em carbonite, em “O Império Contra-Ataca” (1980). Como se isso não bastasse, os dois personagens ficam presos em posições praticamente idênticas.
O exército de clones
No volume 7 da HQ, lançado em 1977, um exército de clones do agente Valerian é criado para uma missão. Aqui, é importante ressaltar que, em “Star Wars”, o conceito de uma guerra de clones é mencionado pela primeira vez no filme “Uma Nova Esperança”, também de 1977. Por isso, é improvável que a ideia inicial em si tenha sido uma influência de Christin e Mézière. No entanto, a natureza da guerra só é revelada completamente em “O Ataque dos Clones” (2002). Ou seja, nada impede que o visual do exército tenha sido emprestado do quadrinho francês.
A verdade é que, por mais convencidos que os criadores Christin e Mézières estejam, George Lucas nunca confirmou publicamente a relação entre as duas obras. O mesmo vale para a equipe que trabalhou nos filmes. De qualquer maneira, Christin deixou claro, em uma famosa entrevista ao jornal alemão Die Welt, que se sentiu empolgado ao assistir à “Star Wars” pela primeira vez. Como um apaixonado por ficção científica, ele acredita que o gênero se desenvolve a partir de influências e adaptações de conceitos já usados em outros trabalhos.
“Eu me senti instantaneamente conectado a Star Wars, por conta do número de interseções e paralelos com nossas tiras de quadrinhos. George Lucas criou mundos complexos, assim como nós. Da minha parte, isso vem do meu fascínio por romances de ficção científica de autores como Isaac Asimov e Ray Bradbury. Estou certo de que George Lucas também leu Asimov. É assim que acontece na ficção científica: trata-se de copiar um ao outro. Ou, em outros termos: você pega uma ideia emprestada de outra pessoa e desenvolve-a ainda mais“, disse Christin.
“Interessante encontrar vocês por aqui!”
“Ah, nós já estávamos por aqui faz bom um tempo!”
E você, o que acha da relação entre “Valerian” e “Star Wars”?