Hans Zimmer: a origem, as trilhas e a consagrada jornada em Hollywood
As obras de Hans Zimmer já atingiram o renome a fim de colocá-lo ao lado de mestres como Ennio Morricone e John Williams?
Grande parte das pessoas fascinadas pelo cinema também possui grande interesse e/ou apreciação pelas trilhas sonoras e por seus compositores. Nomes como John Williams e Ennio Morricone já estão imortalizados no ramo, e depois de trilhas tão icônicas e aclamadas nos últimos anos, o mesmo pode se dizer sobre Hans Zimmer. Aproveitando a semana de estreia de “Dunkirk”, o novo filme do diretor Christopher Nolan, com o qual o compositor alemão já está em sua sexta colaboração, o Cinema Com Rapadura decidiu falar sobre as trilhas mais marcantes de Hans Zimmer, e a relação de suas composições com a história em que elas estão inseridas.
Antes de qualquer coisa, é importante ressaltar que este texto não tem intenção de analisar tecnicalidades, mas sim de tentar passar para o leitor o tipo de emoção que cada trilha citada de Zimmer desperta no espectador. Com isso em mente, foi feita uma playlist no Spotify e no Youtube com as faixas em questão de cada trilha. Tem até RapaduraCast sobre ele! Caso o leitor ache interessante, leia o texto enquanto escuta a seleção, e quem sabe as mesmas emoções despertarão.
Um artista completo
Envolto ao mundo musical desde o berço, Zimmer começou sua carreira tocando em bandas europeias, ganhando fama por sua habilidade com o teclado e principalmente o uso de sintetizadores, algo que teria muita influência em sua carreira hollywoodiana. Apenas 4 anos depois de seu contato com os filmes, caiu em suas mãos o emocionante “Rain Man”, que lhe rendeu sua primeira indicação ao Oscar em 1988.
Zimmer recebeu mais outras 9 indicações, incluindo pelas trilhas dos filmes “Um Anjo Em Minha Vida”, “Melhor É Impossível”, “Além da Linha Vermelha”, “O Príncipe do Egito” e outras que serão mencionados mais a frente. O som produzido pelo compositor se tornou algo tão característico que muitos cineastas já o procuram em busca do pacote completo. Mas Zimmer não trabalha sozinho, muito pelo contrário. Sua companhia, a Remote Control Productions, inclui dezenas de outros compositores muitos dos quais já possuem renome próprio, como o também alemão Ramin Djawadi (“Game of Thrones”), Harry Gregson-Williams (“Perdido Em Marte”), Rupert Gregson-Williams (“Mulher-Maravilha”), e outros com os quais Zimmer sempre trabalha, como Lorne Balfe (“Lego Batman: O Filme”) e Geoff Zanelli (“Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar”).
Hans, no entanto, não somente se consagrou como um compositor de cinema, mas decidiu levar isso a multidões com seu projeto Hans Zimmer Live, no qual o artista e toda sua comitiva embarca em um verdadeiro tour pelo mundo com concertos bem produzidos. Mais detalhes podem ser conferidos no documentário disponibilizado pelo canal do compositor no Youtube:
Vamos às trilhas?
O Rei Leão
A primeira desta lista é a trilha que lhe rendeu sua única vitória (até então) no Oscar, “O Rei Leão”. É curioso pensar que a única obra que lhe concedeu o prêmio foi uma que de início ele estava receoso em aceitar. Ao ser oferecido o trabalho, Zimmer pensou que o filme se tratasse de “uma história sobre animais peludos”, algo besta, que ele não teria interesse em se envolver. E ele afirma que só aceitou para que pudesse levar sua filha pequena em uma de suas premières. Ao começar a produção do filme, no entanto, o compositor logo viu que “O Rei Leão” era muito mais do que a superfície mostrava…
Uma das características mais marcantes da trilha desta animação é seu tema claramente estrangeiro, que remete verdadeiramente às raízes africanas de sua história. Zimmer trabalhou com cantores e grupos africanos e desde o início a trilha foi construída para passar essa autenticidade. Há, porém, um vínculo pessoal entre Zimmer e “O Rei Leão”, o qual pode ser refletido em sua composição. Assim como Simba, Hans perdeu o pai quando criança, e ao compor a faixa “Mufasa Dies”, era isso que ele tinha em mente.
Piratas do Caribe
Zimmer foi responsável pela composição dos 4 primeiros filmes da franquia de “Piratas do Caribe”, tendo no segundo e terceiro filmes uma maior expansão dos temas, e no quarto uma inovação diante daquilo que já havia sido apresentado, através da parceria com os violonistas Rodrigo y Gabriela.
Hans foi abordado pela Disney para produzir a trilha sonora do primeiro “Piratas do Caribe” quando já estava envolvido com a trilha de “O Último Samurai” e não podia largá-la. O estúdio insistiu e o compositor disse que produziria temas para o filme e então passaria o trabalho para Klaus Badelt. E em um espaço de uma noite, foi o que ele fez. A trilha do primeiro filme não é muito marcante, possuindo até algumas semelhanças com outros trabalhos de Hans, mas acompanha bem a história de piratas.
Com “Piratas do Caribe: O Baú do Morte” a história muda, e Zimmer entra para compor a trilha inteira, e então as coisas começam a ficar interessantes. Jack Sparrow ganha um tema mais divertido, as cenas de aventuras ganham um balanço maior, e muito do desenvolvimento do próprio vilão Davy Jones é indissociável de seu tema musical (ouvir “The Heart of Davy Jones”).
Há, no entanto, uma faixa, que é inclusa em um dos discos especiais da trilha sonora de “Piratas do Caribe: No Fim do Mundo”, que merece um destaque. “Marry Me Suite” possui 11 minutos e 37 segundos de música que misturam vários temas do segundo e terceiro filme. É neste terceiro filme que Will e Elizabeth ganham um tema mais elaborado, tanto como um casal, quanto em relação à narrativa pessoal de cada um. Will, com sua missão de libertar seu pai e saber que fazendo isso pode perder Elizabeth, e Elizabeth encontrando seu lugar no mundo, e tendo de lidar com a ideia de perder Will. O tema dos dois é doce e romântico, e a dor (05:20) que se soma a tudo isso ao longo da narrativa também se mistura ao tema ao desta faixa de forma magnífica.
Batman
Foi com o início da trilogia Batman que Hans Zimmer começou sua parceria com o diretor Christopher Nolan. Mas ele não entrou na história do Homem-Morcego sozinho. Ao aceitar o dever de compor, chamou seu amigo James Newton Howard (“Animais Fantásticas e Onde Habitam”) para dividir a tarefa, pois segundo Zimmer, “eu consigo ser o cara sombrio, mas não sei ser o cara elegante”. Assim, Hans focou mais nas cenas de ação enquanto Howard focou no drama. Zimmer descreve o trabalho nesta trilha como um “amálgama de orquestra e música eletrônica”, dando temas condizentes com os personagens.
Os dois compositores trabalharam juntos em “Batman Begins” e “O Cavaleiro das Trevas”, mas no terceiro filme, Howard decidiu deixar o projeto, afirmando:
“Eu sempre senti que Hans era a mente brilhante dessa trilha. A música soa do jeito que soa por causa dele”.
A trilha sonora realmente ajudou a moldar a trilogia Batman de Nolan como uma das maiores e melhores adaptações de quadrinhos feita para o cinema.
A Origem
A trilha de um dos maiores filmes de Nolan foi gravada simultaneamente com as gravações do próprio filme. De acordo com Zimmer, essa estratégia funciona porque compositor e diretor conversam bastante sobre o filme e isso encoraja a independência da trilha. O objetivo de Hans era fazer com que uma orquestra reproduzisse o som dos seus já conhecidos sintetizadores. A trilha também contém um som de influência de Ennio Morricone, e tocada pelo ex-guitarrista do The Smiths, Johnny Marr. A trilha sonora de “A Origem” rendeu a Hans mais uma indicação ao Oscar.
Interestelar
Com este épico espacial, Zimmer queria se distanciar do que havia feito com “Batman” e “A Origem”. Na verdade, para compor o que seria o tema do longa, Nolan apenas entregou a Hans uma página de roteiro do filme, sem dizer sobre o que ele seria. A página focava apenas na questão da paternidade abordada na história, e em torno disso que a trilha girou. Nolan acompanhou todo o processo de composição de perto, e ao descrever sua construção, Hans afirmou que ela representa a busca pela nossa origem, tendo, por isso, “sons cósmicos” produzidos em um órgão de igreja.
Criticada por alguns e amada por outros (assim como o próprio filme), a trilha de “Interestelar” certamente passa a mensagem que pretende, e até mesmo os momentos em que soa mais alta do que devia, ela na verdade está falando com a história. Por seu trabalhar neste filme, Zimmer foi indicado mais uma vez ao Oscar.
Homem de Aço
E chegou o momento em que Hans Zimmer retorna para o mundo dos super-heróis, agora com outro personagem da DC. A trilha de “Homem de Aço” é bastante curiosa em sua produção, pois o compositor contatou um fabricador de instrumentos únicos, com sons bem peculiares, e chamou os melhores percussionistas que conhecia para ajudar a compor esta obra.
Com um precedente de tema do Superman composto por ninguém menos que John Williams, Hans teria que tomar um caminho diferente para criar algo próprio e impactante, e foi o que conseguiu. A música segue os passos do Homem de Aço, acompanhando seu crescimento e desenvolvimento como o herói que todos conhecemos de uma forma que fala com o público atual, sem tirar o quê de clássico que o Superman possui.
Batman vs Superman: A Origem da Justiça
Continuando seu trabalho na DC, Zimmer foi chamado para mais um filme onde o tema do Homem de Aço era necessário. Desta vez, no entanto, uma questão se apresenta: como compor o tema de outro Batman, depois de três filmes do Batman de Nolan? Hans não achou que conseguiria fazer isso sozinho e convocou seu amigo de longa data Tom Holkenborg, também conhecido como Junkie XL (“Mad Max: Estrada da Fúria”) para ajudar.
A convocação de Holkenborg, porém, não quer dizer que o trabalho foi dividido em “Hans faz Superman e Junkie faz Batman”. Zimmer trabalhou em muito dos temas do Batman, afirmando que levou seu tema para um lado ainda mais obscuro do que o de Nolan. Ele focou nessa parte mais emocional, tendo composto inclusive “Beautiful Lie” (e as notas do piano que tocam no tema do Batman), enquanto Junkie focou mais na parte da ação. O tema da Mulher-Maravilha apresentado no filme na faixa “Is She With You?” também foi feito por Zimmer, com a ajuda da inspiração de sua amiga e parceira de concertos, Tina Guo, que o ajudou com seu cello elétrico.
Kung Fu Panda
Talvez uma de suas trilhas menos reconhecidas ou não tão notadas devido a obras maiores, o trabalho em “Kung Fu Panda” traz de volta o desejo de ir até as raízes chinesas que a história sugere, com instrumentistas vindos direto da China para contribuir com seus sons. Zimmer também não trabalhou sozinho desta vez. A pedido do estúdio, John Powell (“Como Treinar Seu Dragão”), aprendiz de Hans e com quem já havia trabalhado em “O Caminho Para El Dorado”, dividiu a tarefa.
A trilha de toda a trilogia “Kung Fu Panda” mistura ação e emoção de forma bem orgânica e divertida, própria para o público do filme. Uma das faixas mais bonitas, se não a mais, é “Oogway Ascends”, que faz o público se envolver logo de cara com a animação.
A lista chega ao fim, mas ainda temos as menções honrosas. A trilha de “Gladiador”, pela qual Hans também foi indicado ao Oscar, certamente é um das melhores aspectos do filme. “Thelma & Louise” representa suas origens musicais, e “Sherlock Holmes” trabalha com sons experimentais. Há também a talvez não tão conhecida trilha de “Missão Impossível 2”, a qual até entrega ao filme uma profundidade que ele nem possui, de tão bem feita, e por fim, a abertura da série “The Crown”, que dá o tema para o resto da trilha sonora de fato digna da realeza.
Essas são apenas algumas das trilhas do grande Hans Zimmer, mas nesta quinta (27) “Dunkirk” estreia e uma trilha certamente cheia de emoção virá às telonas. O álbum do filme já foi disponibilizado na internet, e caso você queira ter um gostinho do que está por vir mesmo antes de ver o filme, aí está:
E aí, qual sua trilha favorita de Hans Zimmer? Acha que ele já está marcado como um grande nome das trilhas sonoras? Escreva nos comentários!