Conheça os Monstros da Universal e saiba como o estúdio conseguiu popularizar o terror no cinema
Os monstros retornam ao cinema no chamado Dark Universe: uma homenagem ao passado ou mais uma tentativa de reviver histórias consagradas?
Hollywood sempre optou por apostas certeiras. Adaptações, que geram sequências e formam franquias (além dos reboots, remakes, prequels, etc.) sempre foram vistas com bons olhos pelos produtores, cabendo aos grandes nomes o privilégio do chamado cinema de autor – que garante uma necessária variedade inovadora ao mercado.
Embarcando nessa proposta, a Universal Studios – que já é detentora, por exemplo, da bem sucedida franquia “Velozes e Furiosos ”- decidiu reviver sua primeira franquia de sucesso. Os chamados Monstros da Universal marcam a consagração de criaturas que ainda hoje são extremamente populares, e que popularizaram o terror como um gênero.
“A Múmia”, filme que irá abrir o retorno das criaturas que amedrontaram nossos avós (ou até mesmo bisavós), pretende iniciar o novo universo compartilhado, que já recebeu o nome de Dark Universe. Mas que tal conhecer um pouco mais sobre a origem desses filmes para se preparar para o que vem por aí?
Drácula – 1931
O primeiro filme de terror sobrenatural falado da história tem origem no livro homônimo de Bram Stoker. A obra conta a história do confronto entre conde Drácula, amaldiçoado com a imortalidade e a necessidade de se saciar com sangue humano e Jonathan e Mina Harker, juntos do médico holandês van Helsing, que percebem a real natureza de Drácula e buscam impedi-lo de conseguir novos servos, passando sua maldição adiante. Toda a história é narrada de forma epistolar, a partir de cartas e relatos dos diários do protagonistas.
Em 1931 o cinema falado ainda era uma novidade, o que afetou o filme de diversas formas. Tod Browning (“O Vendedor de Milagres”), diretor do filme, pouco investiu nos diálogos, tornando o filme longo e arrastado. Ao mesmo tempo, o ator romeno Bela Lugosi (“A Torre dos Monstros”) foi capaz de imortalizar o visual vampiresco, seja na forma de falar (o ator tinha um sotaque carregado e falava pausadamente), seja na forma de agir ou se vestir.
Ao contrário do que muitos pensam, o filme acabou sendo uma versão da peça de teatro que estava sendo apresentada na Broadway (e protagonizada pelo próprio Lugosi). O motivo foi a crise de 1929, que ainda afetava os grandes estúdios, tornando uma versão mais fiel ao livro quase que impraticável. Uma versão em espanhol foi produzida simultaneamente para o público latino, uma vez que o processo de dublagem não era realizado na época. Com direção de George Melford (“Jungle Terror”) e tendo o ator espanhol Carlos Villarías (“Deliciosas Noites de Amor”) como protagonista, é considerado por muitos uma obra muito superior tecnicamente que sua versão em inglês.
Frankenstein – 1931
Em partes “Frankenstein”, dirigido por James Whale (“Proibidos de Amar”), pode ser considerado uma consequência do sucesso de “Drácula”. O filme é uma adaptação do livro “Frankenstein ou o Moderno Prometeu” da escritora Mary Shelley, que assim como Drácula, é um dos mais importantes romances góticos da história. Tido como a primeira obra genuína da ficção científica, o livro nos apresenta o jovem Victor Frankenstein (no filme o protagonista é Henry) que, ainda estudante, descobre um forma de dar vida aos mortos, criando assim um monstro capaz dos mais terríveis atos.
Assim como “Drácula”, o “Frankenstein” de Whale não foi a primeira adaptação do livro (enquanto “Nosferatu” antecede o clássico vampiresco, Thomas Edison havia produzido um curta inspirado na obra de Mary Shelley em 1910), como também tinha uma peça de teatro como base para o roteiro. No papel do monstro (que não se chama Frankenstein), temos Boris Karloff (“Invasão Sinistra”), que tornou-se um ícone dessa geração a partir deste papel.
O diretor também teve um cuidado muito maior ao longo da produção. As cenas apresentam planos muito bem montados, dando uma dinâmica e dramaticidade à obra, coisa que não se percebe em “Drácula”. Tanto a fotografia, quanto o cenário – ambos com inspiração no cinema expressionista alemão – influenciam na obra e no envolvimento do público com o filme. Tudo isso, somado à maquiagem icônica criada por Jack Pierce, fizeram de “Frankenstein” um dos mais importantes filmes de terror da história.
A Múmia – 1932
Em 1932, a Universal havia embarcado de vez nos filmes de terror de baixo orçamento. Apostando em um público fiel, “A Múmia” foi adaptado de um romance escrito por Nina Putnam e Richard Schayer. Uma história simples e levada ao cinema pelo diretor estreante Karl Freund (“Dr. Gogol – O Médico Louco”), que já havia trabalhado como diretor de fotografia em filmes importantes do cinema expressionista alemão como “Metrópolis” de Fritz Lang (“A Jornada para a Cidade Perdida”).
No filme temos o retorno de Boris Karloff, o maior astro do cinema de horror na época, como um sacerdote do Egito Antigo, que foi mumificado e é ressuscitado acidentalmente por um dos membros de uma expedição arqueológica. Em partes, Freund soube usar sua experiência anterior com o cinema de forma a criar um filme que se adequasse às exigências do estúdio, sem perder em qualidade técnica. Sugerindo, mais que mostrando explicitamente, o diretor foi capaz de criar cena memoráveis, como a da ressurreição da múmia. Mais uma vez, o mundo pode ver Karloff entregar uma personagem que iria se tornar imortal e alcançar um local de destaque no cinema de terror.
O Homem Invisível – 1933
Novamente, a literatura vitoriana ganha espaço no cinema. “O Homem Invisível” de H. G. Wells (o mesmo de “Guerra dos Mundos”) narra o conflito de um homem que se permite ir além de qualquer outro: ao tornar-se invisível, e portanto livre das amarras sociais, qual o limite que sua moralidade lhe poderia impor?
James Whale foi o responsável por levar a obra ao cinema, e com isso acabou por criar um de seus mais incríveis filmes. Num período em que o cinema ainda estava se descobrindo, Whale faz o improvável e cria cenas que, mesmo se vistas aos olhos dos dias presentes, são fascinantes, a exemplo de quando o protagonista, Dr. Jack Griffin (numa incrível atuação de Claude Rains) revela sua “verdadeira face” ao público dentro e fora da tela. Rains ainda seria responsável por criar o famoso riso histérico do cientista maluco, eternizado da mesma forma que os gritos de “It’s alive” de Henry Frankenstein.
A fotografia do filme é igualmente maravilhosa. Assim como os filmes que o antecederam, “O Homem Invisível” tem uma forte influência do cinema expressionista, porém mais do que utilizar do que já havia sido feito no passado, o filme principalmente antecipa a estética do cinema noir, que ainda estava por nascer.
A Noiva de Frankenstein – 1935
Aproveitando o sucesso que seus monstros vinham fazendo, a Universal decidiu seguir na linha da segurança e reinvestir no seu maior sucesso até então. “A Noiva de Frankenstein” é uma sequência direta de “Frankenstein”. A história começa logo após os eventos trágicos deste, com uma introdução que, em homenagem à autora do livro, mostra como ocorreu o processo criativo de Mary Shelley. Desta vez não há uma literatura direta por trás do filme. Henry Frankenstein desiste de seguir seus planos por conta dos acontecimentos do passado, até que se vê convencido pelo insano Dr. Pretorius a dar vida a mais uma criatura.
Boris Karloff retorna com o papel que o consagrou, porém desta vez pode ir além, dando mais humanidade ao monstro. Com um tom mais satírico e irônico, “A Noiva de Frankenstein” nos apresenta uma criatura que desenvolve habilidades e gostos humanos, ao mesmo tempo que retoma a ingenuidade presente em seu antecessor. A atriz Elsa Lanchester (“Mary Poppins”) assume a dupla função com os papéis da escritora e da noiva criatura, apresentando-nos assim uma nova visão sobre criador e criatura. Assim como o monstro no filme anterior era, de certo modo, imagem e semelhança de seu criador (que em determinado momento se considera um deus), neste filme a nova criatura se mostra dona de si, tal qual a autora.
O Lobisomem – 1941
Entrando na década de 1940, com a Segunda Guerra Mundial e seus horrores, a Universal optou por investir em mais uma criatura. Novamente um ser amaldiçoado, incapaz de controlar seus instintos animais. Quem retorna aqui é Bela Lugosi, no papel de um cigano responsável por passar à frente sua maldição. Lon Chaney Jr. (“O Perigo Caminha a Meu Lado”) é o protagonista, Lawrence Talbot, que se vê transformado em um animal incontrolável, capaz de atrocidades inimagináveis (ora sendo o responsável, ora a vítima).
A arte é capaz de reproduzir as mais incríveis analogias. O roteirista (judeu) Curt Siodmak, viu em “O Lobisomem” a oportunidade de expressar o terror que a vida real impôs com o nazismo, no terror que o cinema é capaz de produzir. A figura do cigano, a condição não escolhida e que se torna uma maldição, o pentagrama, são algumas das referências que Siodmak conseguiu usar no filme. Ao final é impossível ficarmos indiferentes à condição de Talbot.
Como seus antecessores, “O Lobisomem” definiu a forma como compreendemos este ser. Toda a temática que envolve a figura do lobisomem, criatura que já fazia parte do folclore em diversas cultura, foi consagrada com este filme.
O Fantasma da Ópera – 1943
Antes do cinema apresentar “Drácula” e “Frankenstein” ao mundo, “O Fantasma da Ópera” já aterrorizava as pessoas. Foi em 1925 que o diretor Rupert Julian (“Meia Noite em Ponto”) dirigiu a primeira versão do tétrico romance de Gaston Leroux. Na época, o filme tornou-se uma marco para o cinema, com cenas do ator Lon Chaney no famigerado papel de Erik, o Fantasma e sua sinistra maquiagem. Na trama, durante uma briga por causa de uma de suas músicas, o compositor tímido sofre um acidente que desfigura seu rosto. Amargurado, passa a viver escondido nos subterrâneos da Ópera de Paris e planeja vingar-se daqueles que ousaram desdenhar de sua criação.
A versão de Julian foi tão impactante, que durante a Segunda Guerra, quando a busca pelo cinema sofreu uma considerável queda, a Universal decidiu recontar a macabra história. O objetivo era utilizar as possibilidades estéticas do Technicolor para criar uma versão colorida do filme, um apelo estético que o estúdio apostou como sucesso. Apesar de belo, as cores diminuíram uma parte significativa do sinistro no fantasma. Claude Rains é mais uma vez o protagonista. E entrega um Erik atormentado, cheio de angústias. Porém o diretor Arthur Lubin (“Ali Babá e os Quarenta Ladrões”), responsável por esta versão do filme, não investe no terror, optando por alívios cômicos e sátiras que tornam o filme menos soturno (talvez um alívio ao público que já vivia momentos soturnos com a Guerra). Contudo, as cenas no palco podem ser consideradas um deleite para os olhos e para os ouvidos.
O Monstro da Lagoa Negra – 1954
Na década de 1950 parece que a Universal já havia esgotado sua criatividade na tentativa de criar filmes baratos com criaturas monstruosas. Uma série de longas não trouxeram bons resultados e o estúdio se via no desespero de juntar criaturas para tentar atingir o público de duas décadas atrás. Nesse último respiro de desespero, uma ideia agradou alguns produtores e nasce assim o último dos monstros de sucesso criados pelo estúdio: “O Monstro da Lagoa Negra”.
Longe da criatividade de seus antecessores, o mérito aqui não é a narrativa, mas a técnica. O monstro criado, apesar do visual tosco para os padrões atuais, merece destaque e elogios. Não obstante, grandes diretores o tomaram como referência nos anos 70 e 80 para criar figuras como Alien, Predador, entre outros. Ao diretor Jack Arnold (“O Incrível Homem que Encolheu”) coube a difícil missão de comandar um filme com uma história cheia de clichês: uma expedição entra no rio Amazonas para investigar o fóssil de uma criatura primitiva. Os cientistas acreditam que o achado pode revelar uma espécie de elo perdido entre mamíferos e anfíbios. É claro, ainda existe um exemplar da espécie vivo que irá aterrorizar a todos.
Mesmo com a falta de criatividade do roteiro, não é possível negar seus pontos fortes. Além do já destacado visual do monstro, a fotografia acerta e nos entrega cenas belíssimas, com destaque às cenas subaquáticas.
Esses são os principais filmes dessa geração que popularizou o gênero de terror no cinema. Outros como “O Corcunda de Notre Dame”, “O Médico e o Monstro” e “O Filho de Frankenstein” também fizeram parte dessa geração, porém sem o mesmo destaque e inovação. Trazer essas criaturas para os dias atuais é ao mesmo tempo respeitá-las, mostrando o quanto foram eternas, como também representa o padrão dos grandes investimentos de Hollywood, ao preferir apostar em mais do mesmo. Ainda assim, cada um desses filmes tem lugar marcado na história do cinema.
E você, já conhecia todos eles? Qual você acha que vai ser o melhor na série de reboots do Dark Universe? Escreva nos comentários.