A carreira de sucesso e a incompreensão do cinema de Spielberg
Cineasta sempre dividiu críticos entre seus filmes de fantasia e realidade.
Há muitos anos, Steven Spielberg tornou-se um dos maiores cineastas da história, principalmente em termos comerciais, lançando produções que lotaram as salas cinema por todo o mundo. Porém, há uma grande dubiedade em relação aos seus temas, divididos entre a total fantasia e a crua realidade.
Spielberg sempre foi alvo dos críticos, logo após seus primeiros sucessos, quando foi marcado como um realizador para as multidões, sem qualquer manifestação artística em seus trabalhos. Outra crítica muito voraz que acompanha a carreira do cineasta é de ele ser habilmente capaz de dirigir cenas, porém falho ao dirigir atores.
O certo é que, deixando a crítica de lado, torna-se fácil perceber que o grande público, seja assistindo no cinema ou nas reprises da televisão, fizeram seu nome ser um dos mais lembrados (talvez o mais lembrado, inclusive), até mesmo por aqueles que não assistem a filmes, o que por si só pode ser considerado um fenômeno impressionante.
Steven Spielberg começou sua carreira com o curta-metragem “The Last Gun”, porém o curta mais marcante se chama “Amblin”, que influenciou sua carreira de tal forma que anos mais tarde emprestaria seu nome à produtora do cineasta. Este pequeno trabalho também lhe garantiu uma oportunidade de direção em alguns episódios de séries de TV, como “Galeria do Terror” e “Columbo”. Até que conseguiu um contrato para um projeto de filmes televisivos, onde toda semana era apresentado um longa-metragem feito especialmente para a telinha. A ideia fez tanto sucesso, que Spielberg foi convidado a acrescentar alguns minutos e lançar o longa nos cinemas. A produção se chama “Encurralado” e demonstra aos fãs, desde o início, o estilo característico do realizador, utilizando como personagem principal um homem comum, sendo perseguido por uma força do mal, que neste caso era representado por um caminhão.
“Encurralado” fez tanto sucesso que levou Spielberg a filmar seu primeiro projeto feito exclusivamente para o cinema “Louca Escapada” que, apesar da fraca bilheteria, recebeu muitos elogios da crítica, o que proporcionou uma nova chance no cinema por parte dos estúdios. Surgia ali o filme que mudaria sua vida e do cinema americano para sempre: “Tubarão”. Naquela época, em 1975, os estúdios americanos evitavam lançar filmes no verão, devido às férias, pois acreditava-se que, com todas as pessoas na praia, ninguém iria ao cinema, o que era verdade até então. Sendo assim, eram lançados nesta estação apenas os filmes “B” e aqueles que não possuíam grandes esperanças de bilheteria.
Depois de “Tubarão”, toda esta teoria mudou, o verão norte-americano passou a ser o grande foco dos lançamentos cinematográficos, motivo este que tem como resultado o fato de que, aqui no Brasil, os blockbusters chegam às salas de cinema no inverno, simultaneamente ao verão nos EUA. “Tubarão” se propagou entre os jovens e as famílias, falava-se tão bem do longa que todos queriam assistir, o que levou a produção (que gastou perto de US$ 7 milhões) a render aproximadamente US$ 471 milhões, sendo US$ 260 milhões apenas nos Estados Unidos.
Com tanto lucro, o próximo trabalho de Spielberg estava garantido, o que foi uma ótima notícia para os amantes do cinema, que foram brindados com “Contatos Imediatos de Terceiro Grau”. Após este longa, o cineasta fez o que é até hoje considerado por muitos o pior filme de sua carreira, o quase desconhecido “1941 – Uma Guerra Muito Louca”. Dois anos mais tarde, ele iria se recuperar, quando se uniu a George Lucas para gravar o primeiro Indiana Jones, chamado “Os Caçadores da Arca Perdida”, o qual foi um sucesso espetacular e marcou a carreira de Harrison Ford, que interpretou o herói.
A produção ganhou tantos fãs que mais duas aventuras foram feitas: “Indiana Jones e o Templo da Perdição” e “Indiana Jones e a Última Cruzada”. Recentemente, foi lançado “Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal”, porém o longa-metragem não agradou muito aos fãs da trilogia. Alguns críticos consideram que este último foi apenas uma provação de Spielberg, demonstrando que ele ainda conseguia fazer dinheiro com este personagem. Se isso é verdade ou não, é difícil afirmar, de qualquer forma, deu certo.
Após ter realizado o primeiro Indiana, ele dirigiu mais um marco da indústria cinematográfica: “E.T. – O Extraterrestre”. Apesar de suas falhas, o filme recebeu uma aprovação de 98% da crítica e agradou o público em geral, ficando na memória de muitas crianças e adolescentes da época. “E.T.” até hoje é considerado um grande sucesso, principalmente após seu relançamento em uma edição especial que comemorou os 20 anos de estreia da produção.
Em 1985, Spielberg chegou aos cinemas com uma excelente história, a qual tudo indicava que lhe renderia seu primeiro Oscar. O nome do filme era “A Cor Púrpura”, um drama que emocionou plateias em todo o mundo, onde começou a aparecer o “cinema-verdade” de diretor. Claro, há inúmeras falhas e exageros no enredo e na direção, o que proporcionou seu completo fracasso no Oscar, sem receber sequer um prêmio, mesmo com onze indicações (sendo dois para melhor atriz coadjuvante). Muito fãs do trabalho deste cineasta acreditam que naquele momento estava se iniciando uma “intolerância” da Academia para com ele.
Logo depois, outro longa no estilo “cinema-verdade” seria produzido: “Império do Sol”, onde foi possível perceber a visão de Spielberg sobre a violência, sua tendência a exibi-la de uma forma tão sutil que mexe com os sentimentos, como se a crueldade fosse uma sensação cotidiana do qual queremos nos livrar. A amalgama de sentimentos é provocada pelas mortes e torturas, vistas de modo cru em seus filmes. A experiência de “Império do Sol” seria o primeiro passo para que Steven filmasse “A Lista de Schindler”, belíssimo filme que praticamente obrigou a academia a premiá-lo. Sendo assim, Spielberg finalmente receberia seu primeiro Oscar na categoria Melhor Diretor, já que seus trabalhos anteriores recebiam prêmios apenas nas categorias técnicas.
Mais uma prova de que Spielberg sempre foi dividido entre agradar o público em massa e demonstrar a realidade do mundo foi vista no de 1993, quando simultaneamente com “A Lista de Schindler”, ele lançou seu maior sucesso de bilheteria, o fenômeno chamado “Jurassic Park – O Parque dos Dinossauros”, que além de levar um surpreendente número de pessoas às salas de cinema, criou uma grande franquia, que quatro anos mais tarde seria dirigida por seu criador novamente em “O Mundo Perdido”. “Jurassic Park” rendeu impressionantes US$ 915 milhões. Naquele momento, o nome do diretor já estava marcado, ninguém mais o esqueceria.
Um ano após o lançamento de “O Mundo Perdido”, o realizador estreia um longa-metragem que mostra os horrores da Segunda Guerra, por meio de um grupo de militares na busca de um soldado perdido, em “O Resgate do Soldado Ryan”, filme que lhe concedeu o segundo Oscar de Melhor Direção. Enfim, a Academia teria de admitir que o sucesso de “A Lista de Schindler” não fora sorte e sim uma obra que demonstrava o grande talento de seu diretor.
Em 2001, Steven lança um longa cujo enredo havia sido deixado por Stanley Kubrick, antes de seu falecimento: “A.I. – Inteligência Artificial”. O final do roteiro não estava escrito e ficou nas mãos do diretor, o que para muitos foi o grande problema do filme, que custou cerca de US$ 100 milhões e faturou US$ 236 milhões, não sendo muito bem recebido pela crítica.
Em 2002, novamente o cineasta se reparte entre fantasia e realidade, quando lança no mesmo ano a ficção científica “Minority Report: A Nova Lei” e a adaptação de uma história real “Prenda-me se for Capaz”, protagonizado por Tom Hanks e Leonardo DiCaprio. Talvez esteja neste último, uma amostra que Spielberg é um bom diretor de atores, pois o filme possui atuações excelentes.
A dubiedade volta a surgir em 2005, com as estreias de “Guerra dos Mundos” e “Munique”, dois filmes completamente distintos entre suas temáticas. Há de se dizer que em todos estes anos, Spielberg foi produtor de diversos sucessos, como “Os Goonies”, “Transformers”, entre tantos outros que ele não dirigiu. Agora, quase sete anos depois, essa relação volta a aparecer, quando entraram em cartaz, com pouquíssimo tempo de diferença, o drama “Cavalo de Guerra” e a animação “As Aventuras de Tintim”. Mais uma vez, Steven Spielberg ficou de fora da disputa pelo Oscar, enquanto “Cavalo de Guerra” concorre como Melhor Filme.
O certo é que, com críticas, ausências (ou esquecimentos) no Oscar, grandes públicos e bilheterias avassaladoras, o renomado cineasta sempre consegue inserir fantasia no enredo de seus filmes sobre realidade, ao mesmo tempo que sempre mostra de uma maneira extremamente verdadeira suas histórias de ficção, o que provavelmente faz de seu nome o mais lembrado quando se diz respeito a cinema.
Que saber sobre o diretor? Ouça o RapaduraCast sobre ele.