Alfred Hitchcock como você nunca viu: conheça a carreira do cineasta
Preparamos um paliativo para aqueles que não podem visitar a Mostra Hitchcock, em São Paulo e no Rio.
Alfred Hitchcock é muito mais que a famosa cena em que Janet Leigh é esfaqueada ao som dos violinos friccionados de Bernard Herrmann. Hitchcock é mais que oitenta minutos de filme disfarçados com quatro ou cinco cortes quase imperceptíveis. É muito mais que o “Hitchcock zoom”, usado para transmitir ao espectador a sensação acentuada de vertigem de James Stewart. Para divulgar os trabalhos menos conhecidos de um dos maiores expoentes do cinema de suspense do século passado, o Centro Cultural Banco do Brasil promove, entre os dias 15 de junho e 24 de julho, em São Paulo, e até 14 de julho, no Rio, a Mostra Hitchcock.
São 54 longas, três curtas e 127 episódios de séries produzidas para a TV. Para aqueles que vivem longe das duas capitais escolhidas para a instalação da Mostra, e para aqueles que não se contentam em assistir aos títulos mais famosos de sua filmografia, as indicações abaixo podem suprir uma necessidade imediata por mais informações sobre o diretor.
Primeiros passos
Falecido em abril de 1980, há 31 anos, Alfred Hitchcock dirigiu obras primas do cinema de suspense, como “Psicose”, “Os Pássaros”, “Um Corpo que Cai” e “Janela Indiscreta”. Começou a trabalhar aos 14 anos, quando abandonou a escola e conseguiu uma vaga em uma empresa fabricante de cabos elétricos. Seu primeiro contato com o cinema aconteceu em 1920, ocasião em que foi contratado para fazer as telas de texto que representavam os diálogos nos filmes mudos da Paramount Pictures. Seu entrosamento com a produção e a facilidade na elaboração de roteiros trouxe para Hitchcock a possibilidade de assumir o papel de cenógrafo e assistente de direção, e em 1925 o rapaz dirigiu seu primeiro filme, “The Pleasure Garden”, um romance melodramático com 75 minutos de duração.
Hitchcock começaria a dar sinais de seu potencial como mestre do suspense no ano seguinte, quando lançou “O Inquilino”, baseado livremente na história de algumas vítimas de Jack, o estripador. O filme alcançou relativo sucesso junto ao público da época, embora mais tarde tenha sido deixado de lado, quando analisado junto aos principais títulos do cineasta. Com exibição agendada nas duas capitais agraciadas pela Mostra, o filme também pode ser conferido, na íntegra, no link abaixo. Enquanto estiver assistindo ao vídeo, repare na apropriação que Hitchcock fez das principais características do expressionismo alemão, cujo auge ocorre justamente na década de 20: são cenários urbanos sombrios, imagens distorcidas e sombras agressivas que permeiam a atuação teatral de seu elenco.
http://www.youtube.com/watch?v=tbeld6sN8yY
Hitchcock em francês
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), mais precisamente no ano de 1944, Hitchcock estava na Europa, contratado pelo Ministério da Informação Britânico para filmar algo que homenageasse o movimento de resistência à ocupação nazista da França. Dois curtas, também exibidos na Mostra, são o resultado dessa tarefa: “Aventure Malgache” e “Bon Voyage”. Por serem considerados potencialmente perigosos, os filmes ganharam poucas exibições: o primeiro conta a história de um rapaz que se envolve na transmissão de mensagens de resistência por meio de uma rádio clandestina, e o segundo acompanha um escocês interrogado por autoridades francesas sobre sua fuga do território ocupado pelos inimigos. No links abaixo você pode acompanhar a primeira parte de “Aventure Malgache”. As demais cenas aparecem como vídeos relacionados no YouTube.
http://www.youtube.com/watch?v=Er-LiFyH7N0
Humor negro na televisão
Pouca gente conhece a série “Hitchcock Apresenta”, realizada pelo cineasta para a CBS americana a partir de 1955. Reunindo crime e mistério, o programa foi escolhido pela Revista Time como um dos 100 melhores produtos televisivos de todos os tempos. A sutil abertura da série tornou-se lendária: um desenho da silhueta rechonchuda do cineasta, rabiscado pelo próprio Hitchcock depois de um complicado processo de aceitação de seu sobrepeso, aparece ao fundo, enquanto o diretor caminha da direta para o centro da tela e se sobrepõe aos traços.
No primeiro episódio de sua primeira temporada, “Revenge”, como você pode acompanhar no link abaixo, devidamente legendado, Hitchcock explica, com sua ironia e humor discreto, do que se trata o programa. Em menos de um minuto, o cineasta fala sobre suas constantes participações em seus vídeos, sobre a dificuldade de entendimento por parte de alguns espectadores, sobre o atraso dos atores na preparação das filmagens e ainda brinca ao convocar a entrada dos comerciais. As demais partes do vídeo podem ser encontradas no YouTube.
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Jáder Santana é crítico no CCR desde 2009 e estudante de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Experimentou duas outras graduações antes da atual até perceber que 2 + 2 pode ser igual a 5. Agora, prefere perder seu tempo com teorias inúteis sobre a chatice do cinema 3D.