Superman não é mais americano ou foram eles que o abandonaram?
A renúncia do Superman à sua cidadania estadunidense revoltou alguns setores da população americana. Mas será que essas pessoas compreendem o herói?
Em abril último, a revista Action Comics atingiu a impressionante marca de 900 edições. Para quem não sabe, foi nesta revista, lá em sua primeira edição, que nasceu o Superman, em meados de 1938. Publicada ininterruptamente desde então pela National Comics (atual DC Comics), tal publicação já deveria ser histórica per si.
No entanto, para comemorar a marca nonacentesimal, a DC Comics chamou um grupo de escritores para roteirizarem histórias curtas envolvendo o Superman. Um deles foi David S. Goyer, um dos responsáveis pelo script de “Batman Begins”, co-plotista de “Batman – O Cavaleiro das Trevas” e que prepara o texto do novo longa do Homem de Aço ao lado de Christopher Nolan.
Goyer colocou o Superman em uma situação inusitada. Ele não enfrentou conquistadores cósmicos, invasões alienígenas ou a última maquinação de Lex Luthor. Ele assistiu a um ato de desobediência civil contra o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Sem levantar um dedo ou discursar, Kal-El defendeu a multidão que estava presente à Praça Azadi com sua mera presença, ficando ao lado dos manifestantes por 24 horas, apenas demonstrando apoio à causa dos iranianos, ansiando por liberdades e direitos civis.
Tal ato gerou uma confusão, cujas proporções alcançaram o mundo real. Farto de ser visto como um instrumento da política americana, o último filho de Krypton renunciou à sua cidadania americana e disse crer que defender a “Verdade, Justiça e o Estilo de Vida Americano” talvez não seja mais o bastante. No entanto, tais ações não descaracterizam o personagem de maneira nenhuma. Pelo contrário, elas demonstraram que o Superman é um herói global, não apenas dos EUA, algo que vem sendo reforçado há tempos pela DC Comics e pela Warner Bros., dona dos direitos da franquia e indicam exatamente a direção que o vindouro longa do herói deverá tomar.
A postura retratada é condizente com a personalidade do Superman, defensor de qualquer um que esteja precisando, independente de etnia, religião, situação econômica ou orientação sexual. Ao contrário da descrição do personagem feita pela Fox News, Superman não é um guerreiro dos ideais americanos, mas sim um defensor daqueles que precisam de ajuda.
Um dos grandes adversários recentes do personagem nos quadrinhos foi justamente uma facção xenofóbica que, no século XXXI, pretendia eliminar qualquer imigrante alienígena da Terra, em uma clara alegoria a um movimento anti-imigrantes que vem ganhando força junto aos partidários republicanos, representantes da direita nos Estados Unidos.
A renúncia do herói à sua cidadania estadunidense revoltou justamente esse segmento da população e da mídia dos EUA. A comentarista Angie Meyer, em entrevista à FOX411 declarou o seguinte: “Além de uma flagrante falta de patriotismo e respeito por nosso país, os criadores atuais [sic] do Superman estão desprestigiando os Estados Unidos como um todo. Ao renunciar à sua cidadania, Superman se torna uma estranha metáfora para a atual situação econômica e para o status de poder que nosso país atualmente detém no mundo“.
Ora, Kal-El é um líder carismático, atuando como um guerreiro apenas quando necessário. Ele representa mais do que só isso: é um imigrante pacifista, um defensor que negocia até o último segundo possível antes de entrar em combate. Superman respeita aqueles soldados que lutam pelo que é certo, mas jamais se utiliza de força letal. Acredita em justiça, não em vingança.
Após a morte de Osama Bin Laden, anunciada pelo Presidente Barack Obama na madrugada de 2 de maio último, o que se viu por parte de alguns americanos foi uma celebração de vingança. Em estádios, torcedores pararam de animar seus times para comemorar a morte do líder terrorista. Uma multidão se dirigiu à Casa Branca festejando como se a ação militar fosse a conquista de algum evento esportivo, gritando “USA!”.
A questão aqui é: Superman renunciou ao “modo de vida americano” ou foram certas parcelas da população estadunidense que renunciaram a ele?
Leitura Recomendada:
– “Superman e a Legião dos Super-Heróis” (Arco de histórias escrito por Geoff Johns e ilustrado por Gary Frank e Jon Sibal – Publicada no Brasil pela Panini Comics nas edições 74 à 76 da revista Superman);
– “Superman: Origem Secreta” (Arco de histórias escrito por Geoff Johns e ilustrado por Gary Frank e Jon Sibal – Publicada no Brasil pela Panini Comics nas edições 90 à 95 da revista Superman);
– “Superman – Paz na Terra” (História escrita por Paul Dini e ilustrada por Alex Ross. Publicada no Brasil pela Panini Comics como parte integrante do álbum Os Maiores Super-Heróis do Mundo);
– “Grandes Astros – Superman” (Minissérie em 12 edições escrita por Grant Morrison e ilustrada por Frank Quitely e Jamie Grant. Publicada no brasil pela Panini Comics);
– “The Incident” (História escrita por David S. Goyer e ilustrada por Miguel Sepulveda e Paul Monts. Publicada pela DC Comics na edição 900 da revista Action Comics).