Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 02 de fevereiro de 2023

DC Liga dos Superpets (2022): diverte apesar do potencial perdido

Animação tem seus momentos e diverte, mas perde a chance de ser um produto realmente memorável devido a um roteiro desequilibrado e uma dupla de atores principais pouco inspirada.

DC Liga dos Superpets” tem uma abertura magnífica, que pegará os fãs do Superman pelo coração. Há referências ao filme de 1978 que vão desde a trilha sonora majestosa de John Williams até referências visuais como os uniformes kryptonianos e a tecnologia baseada em cristais. Além disso, mostra a singela conexão incondicional entre um garoto e seu cachorro. É um início que eleva a obra a um nível que, infelizmente, não se mantém.

Não que a história precisasse ser épica, estamos falando do cachorro superpoderoso do Superman (John Krasinski), afinal. Krypto (Dwayne Johnson) precisa passar por uma jornada de autorreflexão sobre seus sentimentos ciumentos em relação a Lois Lane (Olivia Wilde), futura esposa do seu melhor amigo.

Isso acontece quando o Superman e toda a Liga da Justiça são aprisionados por Lex Luthor (Marc Maron), que atrai uma kryptonita laranja do espaço na esperança de conseguir poderes. O que ele não esperava é que a pedra não afeta humanos, mas animais. Ao fim das contas, animais para adoção recebem seus dons. O cachorro Ace (Kevin Hart), líder do bando que conta com a porca PB (Vanessa Bayer), o esquilo Chip (Diego Luna), a tartaruga Merton (Natasha Lyonne) e a porquinha da índia calva Lulu (Kate McKinnon), com sentimentos mal resolvidos sobre seu antigo dono.

Um desses tem um passado com Luthor e herda as tendências megalomaníacas do vilão. É aí que Krypto, precisando ajudar o Superman, acaba se deparando com esse inesperado bando de recém-superpoderosos com seus próprios complexos e inseguranças, tudo isso quando o próprio perdeu seus poderes ao ingerir kryptonita verde acidentalmente — uma premissa boba que encaixa bem com a proposta do filme. É divertido ver alguns contrastes como a tartaruga Merlon (dona dos momentos mais engraçados) ganhar poderes de supervelocidade, mas ter dificuldade de lidar com eles pela fraca visão.

Trata-se de uma aventura honesta, que infelizmente perde muito com a falta de talento de Johnson de atuar apenas com a voz. Em “Moana”, ele interpretou Maui, e foi dirigido de tal forma que seu próprio carisma passou para o personagem, e funcionou. Aqui ele parece estar no automático, e falta certa alma em momentos-chave pelos quais Krypto passa. Hart como Ace também é um problema. Seu humor sempre foi exagerado e explosivo, e ao tentar se conter para lidar com os fantasmas do passado de seu personagem, falta uma coesão entre voz e cachorro. Não é nada, de fato, ruim, mas é inevitável perceber o potencial de emoção várias vezes não ser atingido pelo trabalho de voz.

Isso não quer dizer que o filme seja tedioso, pelo contrário, há entretenimento aqui. A animação em si tenta compensar com as expressões faciais dos bichos, além de ótimas sequências de perseguição e ação. Qualquer momento envolvendo o Batman de Keanu Reeves rende risadas (o diálogo dele com Ace é impagável); as reações exageradas de PB perante sua ídola Mulher-Maravilha (Jameela Jamil) causam risos; o extremamente ansioso Chip também consegue suas gargalhadas; e qualquer hora em que Krypto ativa o holograma de seu pai é hilária.

Todavia, muitas piadas se repetem em demasia, e o humor vai perdendo força. Seja em cortes dos cachorros falando uns com os outros, mas latindo quando da perspectiva humana; seja em trilha sonora dramática repentinamente interrompida para gerar comédia, são momentos bem executados, mas que pecam pelo excesso de ocorrências.

O roteiro falha também quando tenta explorar o time de animais. Há tentativas de abordar o passado de Ace, por exemplo, que mais servem para que a trama ande do que para construir um personagem realmente interessante. As subtramas pessoais são rasas e não têm o impacto que precisavam.

Ao subir dos créditos, o saldo é positivo. Mesmo com várias falhas, há o bastante para garantir uma divertida sessão com a criançada. É uma pena que as histórias pessoais dos personagens não encaixem tão bem, e que a dupla de atores principais não estava inspirada. É aí que “DC Liga dos Superpets” tinha a chance de sair do “apenas divertido” para o “marcante e memorável”.

Bruno Passos
@passosnerds

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