Cinema com Rapadura

Colunas   quarta-feira, 04 de maio de 2011

Aniversário de 10 anos de Moulin Rouge e uma legião de fãs apaixonados

Produção de Baz Lurhmann representou a volta dos musicais ao cinema e continua atual a cada ano que passa.

Em 24 de agosto de 2001, estreava nos cinemas brasileiros o musical que viria a dar novo gás ao gênero. “Moulin Rouge – Amor em Vermelho” completa 10 anos de lançamento sem perder sua juventude, ensinando às novas gerações que uma história de amor é sempre repleta de magia e, ao mesmo tempo, de desgraças. O diretor Baz Luhrmann, após seu belo “Romeu e Julieta” moderno, transformaria a famosa casa noturna de Paris em palco de uma comédia romântica com um visual requintado e apaixonante.

Antes do lançamento de “Moulin Rouge”, a produção musical no cinema estava defasada e pouca ou nenhuma película conseguia retomar o poderoso e glorioso referencial dos musicais no cinema, que tiveram seu ápice entre as décadas de 40 e 60, período histórico complicado para os Estados Unidos (a Crise Econômica estava na lista) em que as produções traziam temáticas leves e positivistas, e recuperavam o bolso de alguns investidores. Com grande influência das montagens teatrais da Broadway, tais produções envolviam atores dos palcos e era comum a prática de dublagem durante os números.

Nesta época, nenhum filme se igualava a “O Cantor de Jazz”, “Sinfonia de Paris”, “Cantando na Chuva”, “A Noviça Rebelde”, “O Mágico de Oz”, “Amor, Sublime Amor”, “My Fair Lady”, “Gigi” e “Grease”, para citar alguns. O contexto para tais filmes parecia ter sido perdido, além dos grandes e arriscados investimentos que os produtores precisavam fazer. A fase desgastada dos musicais, assim como de qualquer outro gênero cinematográfico, veio a partir de uma evolução social em que foi preciso mudar o foco de suas tramas, voltadas agora para situações mais delicadas do mundo e denúncias sociais, como temos em “Hair”.

Pare recuperar o fôlego e trazer uma nova tendência na Sétima Arte, Baz Luhrmann ousou não só nos seu apuro estético em “Moulin Rouge”, mas principalmente nas peculiaridades de seus personagens, nas canções escolhidas, nas intensas cores, na edição que dá grande ritmo à trama e, principalmente, deu voz a Nicole Kidman e Ewan McGregor, e seu elenco fantástico de coadjuvantes. Foi quase um tiro no pé filmar “Moulin Rouge” completamente em estúdio, abusar os efeitos especiais que o tornam quase kitsch e o principal: abordar uma história de amor que não acaba bem. Aliás, o espectador sabe, desde a primeira cena, a situação instalada para os dois personagens, mas não deixa de acreditar que eles possam ficar juntos de alguma forma.

A trilha sonora pop, mesclando hits como “Like a Virgin” e “Your Song”, e até mesmo “The Sound of Music” com a clássica inédita “Come What May”, arrebatou corações apaixonados (e não apaixonados também), ensinando a simples tarefa de que o essencial nessa vida é amar e ser amado de volta. Nicole Kidman mostrou sua voz sensível e potente na pele de Satine, se desligando inteiramente de um passado duvidoso em relação ao seu potencial dramático. Ewan McGregor, que já havia tido destaque em produções como “Trainspotting” e “O Livro de Cabeceira”, apareceu como o novo queridinho dos cineastas na pele do sonhador Christian. John Leguizamo, Jim Broadbent e Richard Roxburgh mostram talento em seus personagens peculiares, caricatos ao extremo, mas que não prejudicam o resultado final.

http://www.youtube.com/watch?v=H_AQ0Y8vSjU

O figurino, a fotografia e a direção de arte são impecáveis, enchendo os olhos dos espectadores. Não à toa, o lançamento de “Moulin Rouge” foi arrebatador também para a crítica cinematográfica, rendendo mais de 80 indicações a prêmios importantes, dos quais 66 foram vencidos. Só no Oscar foram oito indicações, das quais apenas duas estatuetas foram conseguidas (melhor direção de arte e melhor figurino). Aqui aparece um leve paradoxo do reconhecimento da Academia, talvez um pouco desconfiada por ter um filme deste gênero entre seus maiores concorrentes e temerosa em reconhecer um filme que logo se tornaria um advento no cinema.

As inspirações em “Moulin Rouge”, que por sua vez não deixa de ter suas referências ao período de glória dos musicais, continuam. A partir de 2001, foram realizados musicais de sucesso, como “Chicago” (mais reconhecido pela Academia, não justamente), “Sweeney Todd”, “Dreamgirls” e o recente “Burlesque”, que ainda bebem da fonte da produção de Luhrmann. E outros tantos continuarão bebendo. O gênero ainda é um pouco incompreendido e sofre com uma parcela do público que não entende o motivo de um personagem “sair cantando e dançando” por aí. Certamente a nossa vida seria mais linda se cada um pudesse cantar e dançar por aí, como se ninguém estivesse olhando.

+ MAIS

[Especial] Ainda sobre “Moulin Rouge”, a MTV americana veiculou essa semana o especial “Moulin Rouge At 10: A Spectacular Spectacular MTV News Event”, apresentado por John Leguizamo e que prestou homenagem para o longa. Para o evento, a MTV preparou entrevistas com os astros, participações especiais e discussões sobre o grande sucesso da película.

[Festival 1] O Festival de Cinema Brasileiro de Paris chega este ano à 13ª edição e se consolida como o evento audiovisual brasileiro de maior prestígio no exterior. A mostra acontecerá entre 4 e 17 de maio no cinema Le Nouveau Latina, no Marais, e homenageará Jorge Amado, com cinco longas inspirados na obra do escritor baiano, e o cineasta Nelson Pereira dos Santos, que já confirmou presença em Paris e terá sete de seus filmes exibidos. A expectativa de público é de 6 mil pessoas nos 14 dias de evento, que apresentará 30 longas-metragens.

[Festival 2] O CineEsquemaNovo 2011 – Festival de Cinema de Porto Alegre anunciou os vencedores da sua sétima edição. O melhor longa-metragem escolhido pelo júri de premiação foi o filme “Pacific” (PE), de Marcelo Pedroso, e o vencedor entre os curtas e médias foi “O Sarcófago” (BA), de Daniel Lisboa. Também receberam prêmios os longas “Luz nas Trevas – A Volta do Bandido da Luz Vermelha” (SP), de Helena Ignez e Ícaro Martins (melhor direção); “Chantal Akerman, de Cá” (RJ), de Gustavo Beck e Leonardo Luiz Ferreira (troféu melhor dispositivo) e “Álbum de Família” (BA), de Wallace Nogueira, que recebeu o prêmio especial do júri. Entre os curtas, além de “O Sarcófago”, foram premiados também “As Corujas” (CE), de Fred Benevides; “My Way” (PE), de Camilo Cavalcante, e “Raimundo dosQueijos” (CE), de Victor Furtado.

– RÁPIDAS

[Encontro] O ex-capitão do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) e inspiração dos filmes “Tropa de Elite”, Paulo Storani, é o convidado especial da sexta edição do Experience Day, que será realizado gratuitamente no campus Dunas da Fanor, em Fortaleza (CE), a partir das 20 horas do dia 26 de maio.

[Reconhecimento] O filme cearense “As Mães de Chico Xavier” foi exibido no último final de semana na 4ª edição do Festival de Filmes Brasileiros em Los Angeles. O Festival premiou Tainá Muller, que interpreta a personagem Lara, como melhor atriz coadjuvante.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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