Cinema com Rapadura

Colunas   terça-feira, 16 de novembro de 2010

Temple Grandin e You Don’t Know Jack, exemplos de bons telefilmes

Duas histórias de vida retratadas em telefilmes inesquecíveis.

O Emmy Awards desse ano revelou dois dos melhores filmes exibidos em 2010. As biografias “Temple Grandin” e “You Don’t Know Jack” arrebataram 15 estatuetas cada e se destacaram entre as obras produzidas da HBO Films até hoje. Eles entram para o rol dos filmes imperdíveis que não são lançados no cinema, mas que facilmente estão à frente de várias outras produções pouco inspiradas que chegam às telonas todos os anos.

Não é difícil compreender por que tais filmes possuem tanta qualidade e são exibidos apenas na televisão.  A movimentação das produções televisivas é intensa para que o público receba em casa filmes tão competentes quanto as obras que concorrem ao Oscar, por exemplo. Além disso, o retorno para a emissora é direto, baseado em audiência e não em bilheteria, o que funciona também com os seriados, que facilmente viram febres mundiais.

Em “Temple Grandin”, Claire Danes tem a melhor performance de sua carreira até agora. Ela vive a personagem que dá nome ao filme, uma garota autista do interior que é incrivelmente inteligente. O roteiro foca a vida de Temple e suas dificuldades e avanços durante os anos, desde quando foi desacreditada por especialistas de que pudesse começar a falar ou ser uma criança “normal”, até o seu reconhecimento por suas contribuições ao sistema de cuidado de gado e à conscientização de que o autismo não necessariamente limita as pessoas.

Dirigido por Mick Jackson, o longa opta por recursos visuais curiosos, baseando-se no fato de que, como a protagonista diz, ela enxerga tudo em imagens. O diretor brinca com caracteres em tela, além de contar com uma edição ágil que rende sequências interessantíssimas. Danes recria Temple com perfeição, impressionando em todas as cenas, sem parecer caricata. O elenco de apoio engrandece o telefilme, com participações de Julia Ormond, Catherine O’Hara e David Strathairn.

“You Don’t Know Jack” aborda um outro polêmico tema: o suicídio assistido. Baseado na obra que conta a vida do Dr. Jack Kervokian, o filme ultrapassa duas horas de duração para mostrar o lado humano e duvidoso do médico, que permite a morte de pacientes terminais. Sua relação com o Estado e as críticas da população se contrapõem aos depoimentos emocionantes dos pacientes que pedem para morrer.

Ainda que não queira se posicionar completamente a favor do suicídio assistido, o roteiro do filme põe em discussão novamente a temática e deixa para o público julgar até onde o médico está certo ou errado. Al Pacino, que há um bom tempo não faz um personagem marcante no cinema, desenvolveu um elo incrível em Kervokian, ou Dr. Morte, adotando trejeitos e uma carga dramática intensa. Pacino também é auxiliado por um elenco de apoio maravilhoso, composto por Susan Sarandon e John Goodman.

Com duas atuações inesquecíveis, de Danes e Pacino, inclusive rendendo troféu do Emmy para ambos, tanto “Temple Grandin” quanto “You Don’t Know Jack” entram para as ótimas opções da emissora fechada, mostrando que o talento dos produtores televisivos não é restrito e que eles criam obras tão maravilhosas (e às vezes melhores) quanto as o que estamos acostumados a ver nos cinemas. Recomendados!

+ MAIS

[Adeus] O primeiro adeus se aproxima. Esta semana, estreia nos cinemas mundiais a primeira parte do final da franquia “Harry Potter”. Depois de muito tempo de espera, os fãs se despedem da maior sensação cinematográfica dos últimos anos, não somente em público, mas principalmente pela qualidade dos filmes levados às telonas. A franquia bilionária de J.K. Rowling se estabelece como o evento de uma geração que, não importa quanto tempo passe, sempre será lembrada.

[Comédia] O cineasta cearense Halder Gomes alcança um dos sonhos de sua carreira. Seu premiado curta metragem “Cine Holliúdy” chegará aos cinemas no segundo semestre do próximo ano como um longa. As filmagens começaram em outubro, com a participação de grande elenco que inclui Angeles Woo, filha do cineasta John Woo e grande admiradora do filme original.

[Ficção Científica] Depois das constantes filmagens da ficção científica “Área Q”, nada mais se falou sobre o resultado do filme. Halder Gomes, que também roteirizou a película, conversou com o Cinema com Rapadura que a estreia está prevista também para 2011 e que o resultado final está incrível. O longa é estrelado por Isaiah Washington, que ganhou fama após participar do seriado “Grey’s Anatomy”.

[Do Twitter] Em uma madrugada dessas, a crítica de cinema Ana Maria Bahiana estava twittando sobre assuntos diversos quando e a questionei se ela já havia assistido ao novo filme de John Cameron Mitchell, “Rabbit Hole”, estrelado por Nicole Kidman e Aaron Eckhart. Ela disse que não, mas confirmou o que eu temia. Segundo Ana, “os que assistiram [nos Estados Unidos] gastaram todo o estoque de lenços de papel”. Acredito nisso toda vez que vejo o trailer.

– RÁPIDAS

[Curso 1] O bom cinéfilo tem uma ótima opção para as férias de janeiro. A Academia Internacional de Cinema (AIC) está com inscrições abertas para o curso de férias que contempla todas as etapas da realização de um filme. Mais detalhes no site.

[Curso 2] A educadora Ivana Grehs inicia no dia 19 de novembro a oficina de Stop Motion com Pixelation, técnica que utiliza o corpo humano como objeto animado. Inscrições e outras informações no site.

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Sugestões de Pauta: [email protected]

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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