Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 31 de outubro de 2020

A Casa do Terror (2019): pode entrar que vale a pena

Dos mesmos criadores de "Um Lugar Silencioso", esta obra parte de uma proposta clássica e genérica, mas entrega boas sequências que justificam sua existência.

Em época de Halloween, qualquer parque temático que se preze monta sua própria casa assombrada. Dos grandes eventos anuais da Universal Orlando até o pomposo museu Casa Loma, muitos oferecem as suas, pois são atrações sempre populares para quem busca diversão por aquela adrenalina extra que o terror dá. Mesmo para os que não toleram a sensação de medo, sobram até vídeos de comédia no YouTube, que fazem graça com os corajosos que atravessam os escuros corredores ornados enquanto tentam não levar sustos. Já para os aficionados, disponível na Amazon Prime Video está “A Casa do Terror“.

O nome de Eli Roth na produção cria expectativa automática. O responsável por filmes como “O Albergue” e “Canibais” não é exatamente um cineasta exemplar, mas seu respeito ao gênero e toda sua trajetória no cinema é notável. Além disso, na autoria está a dupla por trás do roteiro de “Um Lugar Silencioso“, Scott Beck e Bryan Woods. Por outro lado, a temática não é novidade e pelo menos duas obras contemporâneas (Parque do Inferno e Festival Sangrento), abordaram o assunto já com toques de homenagens e mesmices. Antes de ver este projeto mais recente fica então a dúvida sobre o que esta história pode fazer que outros já não fizeram.

Para começar, má notícia: o grupo principal de jovens é genérico, com pouco carisma e atores medianos, alguns aparentando serem mais velhos do que a caracterização tenta vender. A tentativa de criar uma história de fundo para a protagonista, Harper (Katie Stevens), é corrida e confusa, prejudicada pela montagem. Outras questões técnicas, como uma precária substituição de diálogos, são perceptíveis. Porém, dado o objetivo da obra, a apresentação é similar a de um prato de jantar, cujo gosto não depende da beleza. Chegar à proposta que dá título ao filme é o mais importante.

Harper e seus amigos curtem uma noite de festa e resolvem entrar numa promissora nova atração que encontraram à beira da estrada: a tal casa do terror. Recepcionados por uma figura mascarada e silenciosa, o grupo é convidado a entregar seus celulares e assinar um termo de responsabilidade antes de entrar. Atitude super segura e inteligente, mas aí sim a produção pode começar. Chegam então as esperadas sequências de suspense, gore e ação, bem encadeadas e até mesmo iluminadas. Para uma obra de horror, a limpeza da direção de arte e da fotografia traz um aspecto visual bastante interessante que não compromete a atmosfera.

Não há exagero no design da residência em si. Ela é exatamente como seria uma “faça você mesmo a sua” casa mal-assombrada, só que por alguém meticuloso nos detalhes e fã de “escape rooms” A trama não é sobrenatural e não deve ser surpresa que violência e morte sejam esperadas, como num slasher clássico. A motivação dos terroristas também não precisa ser complexa, desde que eles sejam assustadores. E são. O local é habitado por pessoas com máscaras e fantasias terríveis, certamente escolhidas a dedo para aumentar o pavor do público.

Não satisfeitos, os realizadores ainda trabalharam no que há debaixo das máscaras e deram certa personalidade a cada um dos hostis anfitriões. Nada exatamente original, visto que “O Massacre da Serra Elétrica” e “Quadrilha de Sádicos“, por exemplo, já são quarentões do cinema. Porém, é uma bela surpresa ver cenas construídas com calma e eficácia (fãs vão até notar algo em comum com “Um Lugar Silencioso”). Um contraste com o início e, infelizmente, também com o desfecho do filme. A maneira pela qual a história é contada permite boas viradas e bons momentos para os personagens, mas não um clímax evidente. Além disso, cria-se uma expectativa de um arco de vingança que não é entregue de maneira satisfatória, deixando a desejar num final com gosto de “Esqueceram de Mim” para maiores de idade.

Para uma proposta simples e conhecida no gênero, “A Casa do Terror” é bem acima da média na sua execução, o que leva à sensação de que poderiam acreditar mais no desenvolvimento do roteiro. Se por um lado aceitaram trabalhar com o genérico e com o clichê, capricharam na parte que mais importa para os fãs do horror. Uma coisa é ter coragem de atravessar as casas dos parques de diversão, outra coisa é encarar os quartos da residência deste filme.

William Sousa
@williamsousa

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